O L I V R O
D E M I Q U É I A S
O Livro
de Miquéias é o sexto livro dos doze profetas
menores da Bíblia hebraica e cristã, vem depois do Livro de
Jonas e antes do Livro de Naum. Este pequeno livro profético do
Antigo Testamento se caracteriza pela condenação dos ricos por explorarem os
pobres. Denuncia os governantes, chefes e ricos das cidades de Jerusalém e
Samaria. Estes estavam roubando o povo através da língua enganosa, com
armadilhas, exigiam presentes e subornos. Miquéias também denunciou a cobiça,
os ganhos imorais, a maldade planejada, a balança desonesta e o crime
organizado. O conteúdo deste livro apesar de ter quase 2700 anos é bem atual.
Miquéias nasceu
em Morasti (Moréshet), uma vila no interior do reino de Judá, a
oeste de Hebron. Por sua origem camponesa se assemelha à Amós, com
quem compartilha uma aversão às grandes cidades e uma linguagem concreta e
franca, nas comparações breves e nos jogos de palavras. Ele exerceu sua
atividade entre os reinados de Jotão (Iotâm), Acaz, Ezequias e Manassés,
isto é entre 750 e 680 AC ,
antes e depois da tomada de Samaria pelos assírios em 721 AC , tendo sido
contemporâneo de Oséias e de Isaías.
AUTORIA
Miqueias profetizou
durante os dias do Rei Ezequias de Judá. O versículos de
Jeremias 26:18 contém praticamente tudo o que sabemos do próprio profeta.
Alguns estudiosos discutem sobre a autoria do livro ser do próprio Miqueias.
Tradicionalmente se aceita que os capítulos 1-3 são de fato de Miqueias
(excluindo 2:12-13). Os trechos restantes são vistos por algumas como redações.
No entanto,
alguns estudiosos do Antigo Testamento, por exemplo, o Bruce
Waltke defende ser Miqueias o autor de todo o livro.
DATA
Miquéias era
ativo em Judá, desde antes da queda de Samaria (1:2-7), em 722 a.C., viveu sob
o rei Acaz (735-715 a.C.) e do rei Ezequias (715-687 a.C.), e
(aparentemente) experimentou a devastação causada pela invasão
de Senacherib em Judá (701 a.C.). O título do livro (1:1) também
adiciona o nome do rei Jotão (742-735 a.C.). Isto faria Miqueias
ativo de 742 a.C a 701 a.C.. A mensagem de Miqueias 1:2-9 foi dada antes da
destruição de Samaria em 721 a.C.. O apelo de Jeremias a adeptos da profecia de
Miqueias confirma sua ligação com Ezequias: "Levantaram-se alguns dos
anciãos da terra, e falaram a toda a assembléia do povo: Miquéias, o morastita,
profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá; e falou a todo o povo de Judá:
Assim diz Jeová dos exércitos: Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se
tornará em montões, e o monte da casa em altos cobertos de bosque. "
(Jeremias 26: 17-18).
AMBIENTE
Durante os
reinados de Uzias, rei de Judá, e Jeroboão II, rei de Israel, um
período de relativa paz e prosperidade começou a minguar. Isso foi em parte
devido ao aumento da nação Assíria que após um período de quiescência,
tornou-se uma potente força política no Médio Oriente. Com a ascensão da
Assíria, veio um aumento da pressão militar sobre os reinos de Judá e de
Israel.
Ao mesmo
tempo em que o comércio era crescente, grandes proprietários estavam cobiçando
e se apoderando dos terrenos e casas de famílias mais pobres. Miqueias refutou
essas práticas que violaram os direitos dos pequenos agricultores e resultaram
em ganhos econômicos para os grandes proprietários.
Miquéias, e
os outros profetas menores, também se manifestaram contra a falta de obediência
da aliança. Muitos aspectos da aliança haviam sido abandonados em favor do
culto a Baal e de outras práticas pagãs. A esta luz, Samaria,
um dos líderes desta apostasia, está condenada à destruição.
O período da
atividade de Miquéias também se sobrepõe a de Isaías, é possível que os
dois fossem contemporâneos, muitas vezes confundidos um com o outro. Jeremias
26:18-20 fala do efeito de Miqueias sobre o rei, e que ele e o rei não foram
capazes de atender, mas que a mensagem de Miqueias foi capaz de trazer o rei
para o arrependimento. No entanto, alguns estudiosos consideram que pode ser
mais provável que Isaías tenha causado o arrependimento do rei, pois ele tinha
acesso ao rei, era muito mais provável de influenciar as decisões do rei.
CONTEÚDO
Mesmo sendo
o livro de Miquéias relativamente curto, contém uma ampla variedade de
conteúdo. A macro-estrutura do livro é composta por três partes:
I . A
previsão do Juízo - 1.1-3.12 II. A previsão da Restauração - 4.1-5.15 III. O
apelo ao Arrependimento - 6.1-7.20
Miquéias
também é conhecido como o defensor dos oprimidos. Ele condena os ricos
latifundiários por tirarem a terra dos pobres (2.2). Também ataca os
comerciantes desonestos por usarem balanças fraudulentas, subornarem os juízes
e cobrarem juros extorsivos. Até mesmo os sacerdotes e profetas tinham-se
deixado levar pela onda de ganância e desonestidade que varria o país. Miquéias
fala de forma extremamente dura com aquele povo, que está mais preocupado em
seguir rituais do que em viver retamente: "Ele te declarou, ó homem, o que
é bom e que é que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a
misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus" (6.8). Esta é uma das
passagens mais importantes do Antigo Testamento, pois expressa o princípio
imutável de que a autêntica adoração consiste em fazer a vontade de Deus e
tratar os outros com justiça.
Miquéias
denuncia uma situação mais perversa do que a própria guerra em andamento: a
cobiça e injustiças sociais, onde ele vê a causa principal da ira de Deus
(2:8). Após descrever os estragos da guerra (1:8-16), o profeta nos conduz à
capital, onde ele se defronta com os ricos e com os dirigentes políticos e
religiosos. Vindo da roça, Miqueias acusa-os de roubar casas e campos para se
tornarem latifundiários (2:1-2) e os condena por mandar matar até mulheres e
crianças para se apoderarem das terras (2:9). Com o poder nas mãos, eles dançam
ao ritmo do dinheiro, falseando o peso das mercadorias (6:10-12). Miqueias
mostra que a riqueza deles se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a
carne e o sangue do povo (7:1-4). Eles, porém, insistem, com a Bíblia na mão,
em provar que são justos (2:6-7) e que Deus está com eles (3:11); procuram
combinar religião com opressão aos fracos
Miquéias
denuncia tal perversão, uma situação na qual os cultos são celebrados com
fausto, mas não implicam conversão do coração, como atitude idolátrica (1:5);
por isso, é taxativo: eles, juntamente com a luxuosa capital e o
próprio Templo, serão destruídos (3:9-12).
No livro de
Miquéias existem também promessas e esperanças. Entre elas se destaca o anúncio
do surgimento do Messias na pequena cidade de Belém (5:1-3). A precisão deste
versículo messiânico é impressionante, pois fornece o nome da cidade onde o
Messias iria nascer, cerca de 700 anos antes. O Novo
Testamento retomará essa profecia e o atribuirá ao nascimento
de Jesus (cf. Mt 2:6).
PRINCIPAIS
DENÚNCIAS
1:7 - Todos
os seus ganhos imorais serão consumidos pelo fogo; 2:1 - Aí daqueles que
planejam maldade, dos que tramam o mal em suas camas e no alvorecer o executam.
2:2 - Cobiçam terrenos e se apoderam deles; cobiçam casas e as tomam. Fazem
violência ao homem e à sua família; a ele e aos seus herdeiros. 2:8 - Mas
ultimamente como inimigos vocês atacam o meu povo. Além da túnica, arrancam a
capa deles. 3:1 - Ouçam, vocês que são chefes e governantes da nação. Vocês
deveriam conhecer a justiça. Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do
meu povo e a carne dos seus ossos. 6:9-13 - A voz do Senhor está clamando à
cidade; é sensato temer o seu nome. Ouçam: Não há na casa do ímpio, o tesouro
da impiedade e a medida falsificada, que é maldita? Poderia alguém ser puro com
balanças desonestas e pesos falsos? Os ricos que vivem entre vocês são
violentos; o seu povo é mentiroso e as suas línguas falam enganosamente. Por
isso, eu mesmo os farei sofrer, e os arruinarei por causa dos seus pecados. 7:2
- Os piedosos desapareceram do país; não há um justo sequer. Todos estão à
espreita para derramar sangue; cada um caça seu irmão com uma armadilha. 7:3 -
Com as mãos prontas para fazer o mal o governante exige presentes, o juiz
aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto.
RECAPITILANDO...
Introdução ao Livro
de Miqueias – Injustiça pouca é bobagem
Miqueias viveu na mesma época do
profeta Isaías e é mencionado em Jeremias (26:18-19) acerca da destruição de
Jerusalém cem anos depois. Esta citação aponta para o prestígio que Miqueias
ainda tinha como profeta do Senhor e o cuidado dos hebreus na preservação
destes registros. A mensagem de Miqueias, em termos de contundência, pode ser
comparada à de Amós.
A introdução do livro deixa claro que o
período que Miqueias pronunciou seus oráculos foi de aproximadamente quarenta
anos na segunda metade do século VIII a.C., antes de 722 a.C. quando Samaria
(Reino do Norte) foi aniquilada pela Assíria.
Tanto Miqueias quanto Isaías sabiam do
destino de Judá em virtude de sua injustiça, opressão e idolatria; e, embora
tenham tratado sobre a acusação e julgamento de Javé, escreveram acerca da
esperança de restauração para o povo da Aliança.
Os profetas Miqueias e Isaías formam um
contraste interessante, pois um era camponês de uma pequena vila a quarenta
quilômetros de Belém; o outro era aristocrata e membro da corte real. A
despeito de suas diferenças sociais, ambos os profetas defenderam a Aliança e
abordaram a fé histórica de Israel. A origem social de Miqueias talvez explique
sua preocupação com os pobres e explorados pela realeza.
Provavelmente Miqueias não fosse um
profeta profissional e denuncia os sacerdotes e profetas que agem por interesse
financeiro (3:11) ou proclamam mensagens favoráveis de acordo com o pagamento
recebido (3:5). Miqueias se fundamenta no Espírito do Senhor para anunciar seus
oráculos morais contra Israel, ratificando, desta forma, o seu chamado
profético (3:8).
O ministério de Miqueias aconteceu
durante a ameaça assíria. Nesta época as nações do leste estavam temerosas da
crueldade dos assírios, famosos pelo tratamento cruel e desumano que
dispensavam aos seus prisioneiros. A Assíria, em diversas ocasiões, sitiara e
invadira Judá, servindo de contexto para algumas profecias. O mais famoso cerco
assírio foi durante o reinado de Senaqueribe que chegou até em Jerusalém,
capital do Reino do Sul. Oseias pôde até mesmo assistir a destruição e o
cativeiro que a Assíria impôs ao Reino do Norte, Israel.
Todos esses elementos produziram um
ambiente de instabilidade política e social, embora a campanha militar do rei
Uzias (ou Azarias), na primeira metade do século VIII a.C., tenha trazido
prosperidade econômica para alguns poucos privilegiados. Este progresso
econômico gerou uma classe de comerciantes prósperos em Israel, e novos
estratos sociais. Os pequenos proprietários de terras ficaram muito dependentes
desses ricos comerciantes que agora contavam com o apoio do rei.
Este foi o cenário no qual Miqueias
pronunciou seus oráculos contra a injustiça social e a hipocrisia religiosa,
que se apoiava em rituais de manipulação para a obtenção do favor de Deus.
Estrutura de Miqueias
O livro de
Miqueias, de acordo com seu conteúdo, pode ser estruturado da seguinte forma:
Introdução –
1:1
Acusação,
julgamento e esperança para o povo – 1:2 – 2:11
Acusação,
julgamento, esperança e restauração dos líderes – 3:1 – 5:15
Acusação,
julgamento e esperança para a nação – 6:1 – 7:20
As três
seções de acusação começam com a chamada para ouvir a Palavra do Senhor. Cada
um desses trechos é composto por oráculos de acusação dos pecados de Israel
ressaltando as suas consequências em virtude do julgamento de Javé. No final de
cada um desses oráculos há a mudança do tema da acusação para a esperança e
restauração.
A estrutura
da primeira e da última seção é semelhante em virtude do uso de uma linguagem
jurídica, que coloca Javé como relator dos pecados do povo (1:2) passando
depois para o papel de promotor de acusação (6:2). A seção do meio (3:1 – 5:15)
é diferente e um pouco mais complexa que as demais por não usar nenhuma
terminologia jurídica ou legal.
A seção do
meio é composta por palavras duras remetendo à grande injustiça social às quais
os líderes de Israel submetiam o povo (3:2-11). Além dessas acusações a seção
intermediária altera o seu teor para um elemento de restauração, apontando para
o futuro, que se inicia com a expressão “naquele dia” (4:1-6). A seção se
altera novamente, dessa vez para o apontamento da crise atual, quando o profeta
diz “agora” (4:9; 5:1). Como em todos os oráculos proféticos, a crise é
solucionada pela intervenção divina (5:2-9), resultando na restauração e
purificação de Israel (5:10-15).
Propósito e conteúdo
Miqueias
aborda os seguintes temas em seu livro:
· Acusações contra injustiça
· Rituais que objetivam manipular a
divindade não diminuem a ira de Deus
· Messias davídico
· Livramento da Assíria
Miqueias
deixou seu objetivo muito claro quando disse que, por meio do Espírito do
Senhor, acusaria todas as transgressões e pecados de Israel (3:8). Imbuído de
coragem pronunciou seus oráculos de acusação, principalmente contra a classe
rica e abastada de Judá, apontando toda a injustiça sobre a qual sua riqueza
descansava. O resultado seria o cativeiro e a destruição. A referência aos do
Reino do Norte Onri e Acabe (6:16) indicam que Judá praticava as mesmas coisas
que levaram à destruição de Israel poucos anos antes.
Miqueias
divide sua crítica e acusação em cinco julgamentos:
· Julgamento religioso com uso de
linguagem cósmica que lembra muito a apocalíptica (1:3-7; 3:12).
· Julgamento social e cativeiro
(1:10-16)
· Julgamento de pessoas específicas
(2:3-5)
· Julgamento contra os falsos profetas
(3:6-7)
· Julgamento econômico (6:13-16)
Ao mesclar
entre os oráculos de julgamento promessas de esperança e restauração, Javé
dizia ao povo da Aliança que o castigo jamais seria a última palavra dele
dirigida a seu povo escolhido.
O Salvador
Miqueias em
seu texto aborda em dois momentos um salvador para seu povo. Este tema está
presente nos trechos 2:13 e 5:2-9.
Em 2:13 o
rei que vai adiante do povo é comparado ao Senhor, e isso levou alguns
intérpretes a associar este rei ao próprio Deus. Outros dizem que este rei está
sob o comando de Javé. O versículo 2:12 trata sobre os sobreviventes
(remanescentes) salvos em um aprisco, enquanto o capítulo 1 descreve a
destruição de Jerusalém; portanto, este trecho de 2:12-13 pode indicar os
sobreviventes do massacre assírio sobre Judá em 701 a.C. e o livramento de Javé
em resposta ao pedido do rei Ezequias.
No trecho de
5:2-9 o salvador não é um rei, mas um governante. A expressão Messias não foi
usada por nenhum profeta do período pré-exílico, uma vez que este conceito
floresceu durante o exílio babilônico. O seu aparecimento em Belém sugere uma
quebra de continuidade real, já que os herdeiros do trono de Judá nasciam em
Jerusalém. Este governante traria a liberdade aos sobreviventes ou
remanescentes.
Está claro
que Miqueias tratou sobre o rei davídico ideal, mas não há qualquer evidência
no texto de que ele tenha tido um vislumbre do que costumamos considerar como
messiânico no sentido estrito do termo, afinal ele estava muito mais preocupado
com a questão da quebra da Aliança que se traduziu na injustiça social e
apostasia religiosa.
Os autores
no NT, guiados pelo Espírito Santo, entenderam que este governante, nascido em
Belém, foi Jesus, o novo Davi. Isso nos dá segurança em crer que Deus é o autor
da salvação que foi preparada durante toda a história.
A exigência do Senhor
Frequentemente
o verso 6:8 de Miqueias é tido como a exigência mais abrangente daquilo que
Deus requer do seu povo. Mas, para uma interpretação mais apurada, devemos
analisar o contexto no qual estas palavras foram escritas.
O verso 8
foi escrito para contrastar com as práticas ritualistas dos versos 6 e 7, que
se propunham a manipular a Deus com o objetivo de aplacar a sua ira. Os
israelitas estavam sempre inclinados a apaziguar a ira do Senhor por meio de
rituais religiosos, mas não se propunham a abandonar suas práticas injustas e
idólatras.
Miqueias
então lhes explica que a questão não era evitar a ira de Deus por meio de
sacrifícios ou ofertas, mas sim corrigir o relacionamento do povo da aliança
com Javé. Portanto, o verso 6:8 não se trata de uma exigência em termos da
responsabilidade do povo perante Deus, mas sim o que Israel deveria fazer para
renovar e restaurar o relacionamento da Aliança. Em outros termos, a obediência
era muito mais importante do que o sacrifício (1 Sm. 15:22).
Uma
exigência mais completa sobre a responsabilidade humana diante do Senhor está
expressa em Dt. 10:12-13: “E agora, ó Israel, que é que o Senhor seu Deus pede
de você, senão que tema o Senhor, o seu Deus, que ande em todos os seus
caminhos, que o ame e que sirva ao Senhor, ao seu Deus, de todo o seu coração e
de toda a sua alma,
e que
obedeça aos mandamentos e aos decretos do Senhor, que hoje lhe dou para o seu
próprio bem?”.
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