quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

L A M E N T A Ç Õ E S

LIVRO DE LAMENTAÇÕES

Lamentações é um poema fúnebre relatando as misérias e desolações de Jerusalém, resultantes de seu estado de sítio e posterior destruição.  
Lamentações obteve seu título na Vulgata. A posição do livro após Jeremias no cânon reflete a influência do Antigo Testamento grego, a Septuaginta, que no primeiro versículo atribui a poesia a Jeremias. O título hebraico, ekah, é derivado da primeira palavra dos capítulos 1, 2 e 4. A palavra ekah geralmente é traduzida por “como” e era usada com frequência no verso inicial dos cantos fúnebres israelitas. Por exemplo, no lamento de Davi pela morte de Jônatas, encontra-se: “Como caíram os guerreiros! ” (2Sm 1.19), e no cântico de zombaria contra o rei da Babilônia: “Como você caiu dos céus” (Is 14.12). 
O livro de Lamentações está incluído na terceira divisão do cânon hebraico, “os Escritos”. O livro é o terceiro dos cinco livros que compõem as megilloth ou “rolo das festas” que são: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester, usados em determinadas festas judaicas. Lamentações deve ser lido anualmente no nono dia do mês de Av (julho), dia de lamento pela destruição de Jerusalém pelos babilônios em 587 a.C. e pelos romanos em 70 d.C. 
Lamentações ocupa no Antigo Testamento lugar entre o de Jeremias e o de Ezequiel. Nas Escrituras hebraicas, estava incorporado na divisão dos Livros Sagrados, ou Hagiógrafo, entre o livro de Rute e o de Eclesiastes. 
O livro de Lamentações é completamente poético. Os cinco poemas equivalem aos cinco capítulos.  Poema bem estruturado levando em conta o alfabeto hebraico.  As estrofes ou versos contemplam o número de letras do alfabeto. Esse é outro livro da Bíblia de invulgar beleza poética. Não contém só tristeza; acima das nuvens de lamento do poeta pelos pecados de seu povo, brilha a luz de Deus. Em 3.22-27, a luz rompe através das nuvens para formar um luminoso arco-íris.
Os judeus cantam este livro todas às sextas-feiras junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, e o leem nas sinagogas, em jejum no nono dia de Av (julho), o dia destinado à lamentação das grandes calamidades que sobrevieram à nação.

AUTOR
Embora Lamentações não cite o nome do autor e não possamos ter certeza de quem escreveu o livro, a tradição judaica e o consenso entre a maioria dos biblistas da atualidade atribui sua autoria ao profeta Jeremias. 
A Septuaginta declara tal atribuição desde o segundo século (250 a.C.), e a Vulgata Latina desde o quarto século a.C. Argumentos convincentes baseados na tradição judeu-cristã, sobre a autoria de Jeremias, têm sido apresentados. A ideia de Jeremias como autor do livro pode ter sido estimulada com base no que está escrito em 2Cr 35.25, onde se lê que Jeremias compôs lamentações para o rei Josias. No livro propriamente dito, não há indícios diretos de que o profeta Jeremias tenha sido o seu autor, embora algumas passagens do livro lembrem nitidamente as características e estilo desse profeta, especialmente no capítulo 3 (3.48-51 com Jr 14.17). 
O cabeçalho do livro na Septuaginta e na Vulgata Latina apresenta o seguinte comentário: “Jeremias se assentou a chorar e compôs este poema de lamento por Jerusalém”. 
Além disso, como o profeta Jeremias foi testemunha ocular do juízo divino contra Jerusalém em 586 a.C., é razoável supor que fosse o autor do livro que tão vividamente retrata o acontecimento. Lamentações compartilha, de modo pungente, o senso avassalador de perda que acompanhou a destruição da cidade, do templo e do ritual, bem como o exilo dos habitantes de Judá. 
Aceitando-se a autoria de Jeremias, o livro de Lamentações se torna um suplemento do livro de Jeremias, que tão frequentemente prediz uma catástrofe tal como aquela que é descrita em Lamentações. Porém, as lamentações de Jeremias são inteiramente isentas daquela atitude mental que diz “Eu avisei”. Ele apenas preocupa-se tão somente em lamentar as aflições de Jerusalém, e em pleitear perante Deus que não a rejeite para sempre.

DATA
Essa coleção de lamentos por Jerusalém, provavelmente foi composta entre a queda da cidade, em 587/586 a.C., e a libertação do rei Joaquim da prisão na Babilônia (562 a.C.). O tom desesperador do pedido de renovação nacional, nos versos finais do último poema (5.19-22), indica o desconhecimento aparente do autor da libertação de Joaquim e de suas implicações para o cumprimento das profecias de Jeremias sobre a restauração de Israel (Jr 30 – 33).

CONTEXTO HISTÓRICO DE LAMENTAÇÕES
O livro é uma resposta à destruição de Jerusalém e suas consequências pelos exércitos babilônicos do rei Nabucodonosor em 587 a.C. Os registros bíblicos da invasão de Judá e a queda de Jerusalém se encontram em 2Reis 24 e 25 e 2Crônicas 36. 
Os profetas advertiram Judá da catástrofe iminente durante dois séculos (2Rs 21.12; 24.3). Infelizmente a repetição da ameaça de juízo divino não fazia sentido para o povo e criou uma barreira contra a ideia de arrependimento. Além disso, a demora na vinda do juízo de Javé gerou um falso senso de segurança na nação (Jr 6.13,14; Jr 7.1-4). O livro lamenta o dia previsto pelos profetas, em que Javé se tornou “como inimigo” que destruiu Israel sem piedade (2.2,5).

TEMAS E TEOLOGIA
Lamentações não é o único livro do Antigo Testamento que contem lamentações individuais ou comunitárias. Muitos dos Salmos são poemas de lamento, e todos os livros proféticos, exceto Ageu, trazem um ou mais exemplos do gênero das lamentações. No entanto, esse livro bíblico é o único que consiste somente em lamentações. 
A fidelidade de Deus. Na mais extrema angústia e esmagadora derrota, sem haver absolutamente esperança de conforto de alguma fonte humana, o profeta aguarda a salvação da mão do grande Senhor do universo. Lamentações deve gerar em todos os verdadeiros adoradores a obediência e integridade, dando ao mesmo tempo aviso temível concernente àqueles que desconsideram a revelação de Deus por meio de sua Palavra. Não há registro na história de outra cidade arruinada que tenha sido lamentada em tal linguagem poética e comovente. É, certamente, proveitoso em descrever a severidade de Deus para com os que continuam a ser rebeldes, obstinados e impenitentes. 
Lamentações é tudo, menos um texto de resignação passiva. A ira de Deus é aceita, mas não sem grande carga de resistência emocional. Poderia Deus agir como inimigo do seu próprio povo e levá-lo a terrores que são penosos até de se descreverem (2.4-5, 20-22)? Embora o escritor compreenda a justiça de Deus, a agonia e perplexidade do acontecimento podem ser livremente expressas. O livro é uma mensagem poderosa em tempos de angústia. 
No meio do livro, a teologia compartilhada mediante as lamentações do profeta, chega ao seu clímax ao focalizar a bondade incondicional de Deus, o Senhor Deus. Ele é o Eterno, o Altíssimo de toda a esperança (3.21,24,24); do amor (3.22), da fidelidade (3.23), da salvação (3.26). Apesar de toda prova em contrário, porquanto as suas misericórdias são inegociáveis. Renovam-se a cada manhã; interminável é a sua fidelidade (3.22,23).

PROPÓSITO E MENSAGEM
O propósito de Lamentações não pode ser definido em uma única palavra. De certa forma, a sua produção foi em si mesmo uma forma de lidar com a questão da destruição de Sião. O centro da gravidade da ira de Deus contra seu povo. A ira de Deus é considerada justa. Judá pecou, e os profetas transmitiram o aviso de Deus. Amós, há muito tempo, havia falado sobre um dia do Senhor contra seu povo (Am 5.18), dia este que agora havia chegado (1.12). Lamentações não expressa uma total perplexidade, como às vezes, parece acontecer em Jó. Ao invés disso, ele justifica a punição de Judá e oferece uma defesa dos profetas que a predisseram. 
Ao contrário de 2Reis 24 e 25, que registram os fatos históricos da queda de Jerusalém, Lamentações apreende a emoção da mudança trágica na experiência de Israel com o Senhor. Os poemas preservam a reação dos hebreus ao inimaginável e inexpressível, a destruição total da Sião de Davi, a ruína do templo do Deus e o abandono divino dos “eleitos” de Jeová. Embora a tragédia confirmasse a mensagem profética e vindicasse a interpretação profética do relacionamento entre estipulações e maldições com base na aliança, isso não servia de consolo para os sobreviventes abalados com o ataque babilônico. 
Lamentações registra o “Dia do Senhor” para Judá vindo com toda a fúria. A ameaça de maldição da aliança tornou-se uma realidade terrível e um pesadelo inesquecível. As admoestações de Moisés de que as violações da aliança colocavam em risco a presença de Israel na terra de Canaã provou ser muito mais que um discurso teológico vazio. Javé finalmente impusera o castigo pelas transgressões de Judá. O povo de Deus foi “vomitado” da terra da promessa divina (Lv 18.24-30). O único consolo para Jerusalém era saber que um dia as nações ao seu redor também beberiam do cálice da ira de Deus (4.21,22; 3.55-66). 
 Lamentações é tudo, menos um texto de resignação passiva. A ira de Deus é aceita, mas não sem uma grande carga de resistência emocional. 
Como cânticos fúnebres, os poemas de Lamentações foram criados para oferecer uma purificação aos sobreviventes da calamidade de Judá. Esta expressão de tristeza e extravasamento de emoções jamais responderia por completo as perguntas sobre a soberania do Senhor ao castigar seu povo, mas permitiu que os hebreus sofredores lidassem sinceramente com sua tristeza para aliviar o trauma de serem abandonados por Deus. 
 O poeta revelou a alma à nação penitente, prostrada de vergonha, e reconheceu as muitas transgressões e a grande rebeldia (1.4,22). A purificação do pecado e da culpa permitiu que a “viúva” de Sião reconhecesse a justiça de Deus em seu juízo contra a infidelidade de Jerusalém à aliança (1.18). 
Somente essa resposta de confissão e arrependimento poderia dar sentido e substância às palavras de esperança futura do capítulo 3. A própria ira de Deus indicava seu amor, fundamentado na aliança, por Israel. O pai que ama deve castigar o filho desobediente. O chamado para esperar no Senhor e na sua misericórdia infalível imprimiu esperança da futura restauração de Israel, pois a história da nação demonstrava que Javé não o rejeitará para sempre (3.21-29). 
O autor de Lamentações compreende com clareza que os babilônios eram meros agentes do castigo divino, e que o próprio Deus destruíra sua cidade e seu templo (1.12-15; 2.1-8, 17,22; 4.11). Não foi, no entanto, arbitrária a atuação de Deus; o pecado desavergonhado que desafiava ao Senhor e a rebeldia que violava a aliança foram as causas principais do infortúnio do povo (1.5,8,9; 4.13; 5.7,16). Embora fosse de esperar o choro (1.16; 2.11,18; 3.48-51) e fosse natural o clamor por punição contra o inimigo (1.22; 3.59-66), o modo certo de reagir ao juízo de Deus é o arrependimento sincero, de todo o coração (3.40-42). O livro que começa com uma lamentação (1.1,2) termina acertadamente com arrependimento (5.21-22).

AS DIVISÕES DO LIVRO
Nas Escrituras hebraicas os capítulos 1,2, 4 e 5 têm cada um vinte e dois versos, e cada verso começa com cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico em ordem. 
No capítulo 3 os primeiros três versos começam com a letra alef, os segundos três com a letra bet, e assim sucessivamente. 
O capítulo 5 tem vinte e dois versos, mas não estão em forma de acróstico. 
Cada um dos cinco capítulos, é um lamento poético:
- Capítulo 1. Jerusalém como uma viúva chorando. Uma elegia poética, acrostica, cada versículo começando com uma as 22 letras do alfabeto hebraico.
- Capítulo 2. Jerusalém como uma mulher velada em luto, chorando no meio das ruínas. Um poema fúnebre, como o primeiro e também acróstico.
- Capítulo 3. Jerusalém como e pelo profeta em luto chorando ante Jeová o Juiz. Outro poema que encerra tristeza profunda como os dois primeiros.
- Capítulo 4. Jerusalém como ouro embaçado, mudado e degradado. Outro canto fúnebre e acróstico como os dois primeiros.
- Capítulo 5. Jerusalém como suplicante rogando ao Senhor. Outro poema fúnebre, de 22 versículos, mas não em ordem alfabética.

CARACTERÍSTICAS
Lamentações é a mais clara evidencia para a existência da métrica na poesia hebraica que parece utilizar um verso de cinco sílabas métricas divididas em três e dois. Essa métrica é chamada de qinah, derivada do nome hebraico para Lamentações e é encontrada com frequência na poesia de caráter melancólico como Lamentações. 
Uma segunda forma poética encontrada em Lamentações é o acróstico, em que os versos ou conjuntos de versos são dispostos de acordo com as vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Cada novo verso ou grupo de versos inicia com uma letra subsequente. Esse método talvez indique que o poeta está tratando o assunto de forma completa. O acróstico consiste também de uma forma para a expressão literária do pesar, permitindo ao seu autor tratar de temas que são tão profundos para serem expressos por palavras.

FESTAS DE PEREGRINAÇÃO (1.4)
Havia três festas de peregrinação no calendário israelita: a festa do pão sem fermento, a festa das semanas e a festa dos tabernáculos. Em circunstâncias normais, nessas ocasiões as estradas estariam cheias de peregrinos em viagem para Jerusalém. Eram momentos de alegria e celebração. Em tempos de dificuldades, poucos corriam o risco e agora não havia cidade nem templo para onde dirigir-se.

PAGÃOS NO SANTUÁRIO (1.10)
Havia regras rígidas para o acesso a não israelitas aos recintos do templo (Dt 23). Apenas os sacerdotes tinham acesso ao santuário, e ainda assim era um acesso limitado. O cuidado em preservar a santidade da morada de Deus fora frustrado por causa da profanação.

ESBOÇO DE LAMENTAÇÕES
I.                   Lamentação pela miséria e deserção de Jerusalém (1)
II.                 Lamentação pela cidade de Sião derrubada na ira de Javé (2)
III.              Tristeza e esperança do poeta (3)
IV.              O Horror do cerco (4)
V.                Recordação da desgraça de Sião; pedido de restauração (5).



LIVRO DAS LAMENTAÇÕES

O Livro das Lamentações ( איכה ʾēḫā(h), Eikha ou Eiká, cuja tradução literal é "Como!", ou ainda "Oh!") é um livro que faz parte da subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Maiores, na Bíblia vem depois do Livro de Jeremias e antes do Livro de Ezequiel ou depois do Livro de Baruque nas Bíblias utilizadas das Igrejas Católicas e Ortodoxas.
Livro cuja autoria é tradicionalmente atribuída ao Profeta Jeremias, quando com os próprios olhos via a destruição da cidade de Jerusalém por Nabucodonosor, rei de Babilônia, por volta do ano 589 a.C.
São cantos fúnebres que descrevem, de modo doloroso e poético, a destruição de Jerusalém pelos Babilônicos em 586 a.C., e os acontecimentos que se sucederam a essa catástrofe nacional: fome, sede, matanças, incêndios, saques e exílio forçado (cf. 2Rs 24-25).
As Lamentações são usadas na Liturgia da igreja Católica por ocasião da Semana Santa para lembrar o sofrimento de Jesus. A tradição popular conservou, durante a procissão da Sexta Feira Santa, no canto de Verônica, em que Verônica canta um trecho das Lamentações, posto na boca de Jesus: "Vocês todos que passam pelo caminho, olhem e prestem atenção: haverá dor semelhante à minha dor?" (1,12).
Os judeus recitam o livro no grande jejum que lembra a destruição do Templo de Jerusalém, no dia 9 do quinto mês do Calendário Judaico.

ESTILO LITERÁRIO
Os caps. 1, 2 e 4 são cantos fúnebres, semelhantes a 2Sm 1,17ss, o cap. 3 é uma lamentação individual e o cap. 5 é uma lamentação coletiva, também conhecida como Oração de Jeremias.
Os quatro primeiros poemas são alfabéticos, ou seja, as primeiras letras dos 22 versículos correspondem às 22 letras do Alfabeto Hebraico colocadas em ordem, havendo uma pequena diferença na ordem do alfabeto observada no primeiro capítulo e a ordem observada nos três capítulos seguintes. Merecendo destaque o fato de que no terceiro poema, o alfabetismo é tríplice, ou seja, a letra correspondente a cada verso é empregada no início das três primeiras palavras de cada verso. .

AUTORIA
A atribuição da autoria à Jeremias é questionada, pois Jeremias, tal como é conhecido por seus oráculos autênticos, não poderia ter dito que a inspiração profética tinha se esgotado (2,9), nem louvar Sedecias (4,20 x Jr 24,8), nem esperar auxílio do Egito (4,17 x Jr 37,5-7), nem apoiar a doutrina da dívida pelos pecados dos pais (5,7 x Jr 31,29-30; 5,6 x Jr 2,18) além disso seu gênio espontâneo é incompatível com o estilo erudito dos poemas que estão no Livro das Lamentações,, havendo quem sustente que foram escritas por adversários de Jeremias..









LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS – ISRAEL CHORA


O nome Lamentações vem da tradução da Bíblia para o latim: a Vulgata. O título hebraico é ‘ekah, derivado das primeiras palavras dos capítulos 1, 2 e 4. Este termo era usado nas canções fúnebres e significa “como”. Podemos verificar seu uso em 2 Sm. 1:19, quando Davi chora a morte de Jônatas dizendo: “Como caíram os guerreiros!
O livro está em forma poética, organizado em um acróstico alfabético. Os cinco capítulos equivalem aos cinco poemas.
Lamentações deve ser lido todos os anos no nono dia do m6es de Abe, como recordação da destruição do Templo de Jerusalém por Nabucodonosor em 587 a.C. e por Tito em 70 d.C.
 Foi composto provavelmente entre a destruição do Templo em 587 a.C. e a libertação do rei Joaquim da prisão na Babilônia em 562 a.C. (2 Rs. 25:27-30). O desespero demonstrado nos versos finais do livro (5:19-22) parecem indicar que o autor não tinha conhecimento sobre a libertação de Joaquim e o cumprimento das profecias de Jeremias acerca da restauração de Israel (Jr. 30-33).
 O livro é uma reação da alma sobre a destruição de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C. O registro histórico dessa destruição está em 2 Rs. 24 e 25 e 2 Cr. 36. Durante dois séculos os profetas procuraram alertar a nação de Israel sobre o julgamento iminente, entretanto os ouvidos do povo se acostumaram com as ameaças e seu coração endureceu-se. Em virtude da demora no julgamento, o povo ficou com uma falsa impressão de segurança (Jr. 6:13-14; Jr. 7:1-4). O livro mostra de maneira poética o horror que a invasão babilônica representou para o povo hebreu e como Javé tornou-se como um inimigo de Israel (Lm. 2:2-5).

 Estrutura de Lamentações de Jeremias
 O livro de Lamentações de Jeremias está estruturado da seguinte forma:
·         Pranto pela cidade fantasma – 1
·         Pranto pela ira da Javé manifestada em Jerusalém – 2
·         Um canto de esperança – 3
·         O caos de Jerusalém – 4
·         A desgraça e a restauração – 5
Conforme a lista acima Lamentações é composto de cinco poemas. Os poemas contidos nos capítulos 1, 2 e 4 são canções fúnebres que começam com a interjeição “como” (‘ekah). Os outros dois capítulos são poemas de pranto individual e coletivo, os capítulos 3 e 5 respectivamente.
 Conforme exposto anteriormente, os poemas em Lamentações são acrósticos alfabéticos, seguindo as vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Há ao menos três benefícios para disposição dos lamentos no formato acróstico:
·         Facilita a memorização da catástrofe que se abateu em Jerusalém. O povo hebreu tinha uma forte tradição oral, e este método ajuda no processo de disseminação do conteúdo.
·         Os poemas acrósticos simbolizam de forma completa toda tristeza pela lamentação de Jerusalém.
·         A forma acróstica obrigava o poeta a pensar em todas as faces de um mesmo tema, atingindo a completude.
O primeiro poema personifica a cidade de Jerusalém como uma mulher orgulhosa, brutalmente estuprada e abandonada, enfatizando a solidão, a decadência e o abandono (Lm. 1:2,9,16,17).
O segundo trata sobre a força da ira de Javé contra Jerusalém e o quarto mostra as terríveis consequências do julgamento divino. O único consolo de Jerusalém é saber que seu castigo terminará (Lm. 4:22).
O terceiro poema acróstico é o mais longo e bem construído do livro com três versos para cada letra do alfabeto. Só perde em complexidade para o Salmo 119, que possui sete versos para cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. É o centro de toda composição da obra, tanto no viés literário quanto no teológico. Este trecho contém:
·         sofrimento pessoal do poeta, que também expressa o sentimento da nação (3:1-20)
·         oração por consolo e esperança (3:21-29)
·         oração de arrependimento (3:40-54)
·         pedido de vingança (3:55-66)
·          
Propósito e conteúdo
O livro de Lamentações de Jeremias aborda os seguintes assuntos:
·         Javé castiga o pecado
·         O sofrimento é um meio de aprendizado
·         O julgamento de Javé reflete sua justiça
·         Apesar do sofrimento há esperança
Na narrativa de 2 Reis 24 e 25 lemos o registro histórico, embora do ponto de vista teológico, da tomada e destruição de Jerusalém pela Babilônia. Em Lamentações, Jeremias capta o estado de espírito dos hebreus àquilo que eles consideravam impossível: a queda de Jerusalém e a ruína do Templo. Apesar de constantemente advertidos sobre esta tragédia, resultado da quebra da Aliança deuteronômica, os sobreviventes estavam inconsoláveis.
A ameaça de expulsão da Terra da Promessa não era uma simples cláusula nos termos da Aliança moisaica. O povo finalmente havia experimentado a concretização das ameaças contidas na Lei e foram vomitados da terra (Lv. 18:24-30). Agora, a única fonte de consolação era saber que haveria a restauração para Jerusalém e também o julgamento das nações ao seu redor (Lm. 4:21-22; 3:55-66).
Embora não respondesse questionamentos “como” e “por quê”, o pranto registrado em Lamentações servia uma catarse, um extravasamento do turbilhão de emoções que os judeus sentiam diante da destruição de sua cidade e abandono por Javé. Em meio à dor e sofrimento, tentando lidar sinceramente com este trauma, o texto de Lamentações revela que o povo reconheceu sua culpa, rebeldia e infidelidade (Lm. 1:14-22).
Essa confissão de arrependimento pôde dar um sentido na esperança da restauração para o futuro conforme o capítulo três. A ira de Javé indicava seu amor pelo povo escolhido, tal qual um pai castiga um filho que o desobedece. Esta ira estava indicada como um dos itens da Aliança que o Senhor havia feito com os hebreus. O livro ainda mostra que a misericórdia de Deus é infinita e ele não rejeitará seu povo para sempre (Lm. 3:21-29).
O sofrimento humano
O sofrimento humano é inevitável, pois é uma consequência do afastamento da humanidade de Deus (Gn. 3). Ao se afastar do Senhor, a humanidade fez somente o que era mal (Sl. 14:1-4) e tornaram-se corruptos.
Javé, embora longânimo (Na. 1:3), em virtude de sua santidade e justiça, não deixará os culpados sem castigo. O Antigo Testamento fornece oito sugestões para o entendimento do sofrimento humano (de acordo com R.B.Y. Scott).
1. Retributivo
castigo justo pelo pecado
Jó 4:7-9; 8:20
2. Disciplinador
aflição corretiva
Dt. 8:3; Pv. 3:11-12
3. Probatório
teste divino do coração
Dt. 8:2; Jó 1:6-12; 2:10
4. Temporário
comparado com a boa ou má sorte dos outros
Jó 5:18; 8:20-21; Sl. 73
5. Inevitável
resultado da queda
Jó 5:6-7; Sl. 14:1-4
6. Misterioso
caráter e plano de Deus não são plenamente conhecidos
Jó 11:7; Ec. 3:11
7. Fortuito e sem sentido moral
tempo e acaso afetam a todos
Jó 21:23-26; Ec. 9:11-12
8. Vicário
um sofre por outro ou por muitos
Dt. 4:21; Sl. 106:23; Is. 53:3,9,12
Judá reconheceu merecer o castigo como execução da justiça da Javé (Lm. 1:5,14,22; 4:13)
O abandono divino
Uma das consequências do julgamento de Javé foi seu abandono de Judá. Este assunto do abandono divino de seu templo e povo foi registrado também pelos povos mesopotâmicos. Nesta literatura a divindade deixa o templo em razão da destruição da cidade porque foi incapaz de corrigir a situação.
Entretanto, o abandono de Javé foi devido à falta do cumprimento da Aliança pelo povo e não pela incapacidade do Senhor. Por causa disso Deus removeu sua glória do Templo.
Na literatura mesopotâmica, o abandono da divindade provocava clamor para seu retorno e a confissão de pecados. Em Judá, o efeito foi justamente o contrário, pois, aproveitando a ausência do Senhor se rebelaram e 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

J E R E M I A S

O LIVRO DO PROFETA JEREMIAS

Deus chamou Jeremias para ser profeta do Reino Sul e Judá. Seu ministério abrangeu os últimos quarenta anos da nação, inclusive os dias que precederam a destruição de Jerusalém e a deportação do povo de Deus a Babilônia (627-586 a.C.).
Ministrou durante os reinados de Josias, de Joacaz, de Jeoaquim, de Joaquim e de Zedequias.  Durante esse período, a nação manteve-se rebelde contra Deus que confiava nas alianças políticas para conseguir livrar-se dos inimigos.  Jeremias conclamou o povo a arrepender-se dos seus pecados e os advertiu que não escapariam do castigo por rejeitarem a Deus e à sua lei.  Por causa da sua mensagem de julgamento e da sua devoção ao Senhor, Jeremias enfrentou muita oposição e sofrimento.
Depois da morte de Josias, o reino de Judá foi conduzido ao seu fim, pelo cativeiro babilônico e Jeremias ficou na terra ministrando ao pobre restante citado em 2 Rs 24.14 .
O Profeta Isaías tinha falecido há vários anos e o bom rei Ezequias fora sucedido pelo seu malvado filho Manassés, e durante 40 anos do reino dele não se ouvira nenhuma vos profética.
Então se levantou Naum, e profetizou durante os últimos dez anos do reinado de Manassés, no tempo de Amon e por uns oito anos do reinado de Josias. Foi justamente quando o ministério de Naum cessou que Sofonias e Jeremias começaram a profetizar, para serem seguidos mais tarde por Habacuque, e depois por Daniel, e em seguida por Ezequiel.
Em outras palavras, Jeremias profetizou por mais de 40 anos , durante os reinados de Josias, Joaquim (primeiro), Joaquim (segundo) e Zedequias (Jr 1.2,3).


OS PROPÓSITOS DOS PROFETAS
Os profetas eram enviados por Deus em 3 propósitos:
1- Entregar a mensagem divina de advertência da última oportunidade a um povo rebelde, cujo pecado e indiferença os conduziam a perdição, julgamento e ira de Deus. Às vezes, as mensagens dos profetas eram atendidas pelo povo e o julgamento divino era suspenso.  Outras vezes, o coração do povo se endurecia contra Deus, com a mensagem dos profetas.  Por isso, Deus permitiu Israel ser levado para o exílio babilônico.
2- Os profetas eram enviados para suplementar o ensino negligenciado pelo sacerdócio.  No Velho Testamento o cargo de sacerdote era passado de pais para filhos, contudo muitas vezes aqueles eram investidos nessa função, sem terem um relacionamento sadio com Deus, e sem desejo de servi-lo (Jr 2.8).  Naturalmente, o estado espiritual do povo se degenerou devido à falta de ensino (Os 4.6).  A fim de suprir a falha dos sacerdotes, Deus enviou seus profetas, para pregar e ensinar a lei divina.
3- Os profetas eram enviados para fazer o povo ver o plano completo de Deus para suas vidas.  Aqueles que foram levados ao cativeiro, naturalmente sentiram que Deus os tinha abandonado.  Os profetas bradaram com veemência que nada disso era verdade; lembravam ao povo que Deus permanecia onipotente como sempre, permitindo o cativeiro a fim de levá-los ao arrependimento.


JEREMIAS, SUA VIDA E MENSAGEM
O livro de Jeremias revela no profeta, o perfil de um homem de caráter extremamente firme, mas de coração muito sensível.  Ele chorou abertamente os pecados do seu povo e o julgamento que pairava sobre o mesmo.  A esse respeito ele se assemelhou a Cristo que também chorou pela cidade de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Devido à hipocrisia e impiedade que prevaleciam naquela época, Jeremias foi instruído por Deus a pregar uma mensagem de repreensão e de julgamento iminente sobre a nação.  Essa mensagem era desagradável ao povo, e Jeremias, o mensageiro se tornou cada vez mais impopular.  Sem dúvida Jeremias era um profeta odiado de Judá e o de menor sucesso, de acordo com os padrões humanos.  A rejeição e a perseguição constantes que ele suportou levaram-no a ter, às vezes, crises de depressão.
Em certa ocasião ele ameaçou abandonar completamente o ministério porque a perseguição era intensa demais.  Porém, descobriu que o fogo dentro da sua alma era ainda mais intenso e assim não podia reter a mensagem de Deus dentro do seu coração, mas proclamá-la.
Muito embora Jeremias tivesse implorado ao povo que se voltasse de todo o coração a Deus, sua mensagem foi ignorada, sofrendo ele mesmo grande perseguição por isso.
Assim que Josias morreu, a nação mais uma vez entrou num declínio espiritual muito grande; a idolatria retornou e o pecado predominou tanto quanto nos dias de Manassés.  Uma vez que o povo não quis se arrepender, Deus não teve outra escolha a não ser privá-lo de suas bênçãos e proteção até que ele buscasse de novo perdão e libertação.


O CHAMADO DE JEREMIAS
O verso 5 do capítulo 1 de Jeremias conta-nos que o plano divino para o seu ministério já existia muito tempo antes do momento de seu chamado:
" Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta. " Este versículo assegura que Deus tem um plano para cada um de seus filhos, mesmo antes deles nascerem.
Não se entra no exercício desse plano automaticamente.  Ao contrário, isso requer aceitação e cooperação da pessoa chamada.  Deus avisou a Jeremias que se ele ficasse com seu coração voltado para as coisas vis (inúteis) dos seus dias, a oportunidade de servi-lo como seu profeta seria cancelada, mas se permanecesse fiel às doutrinas do Senhor se afastando de toda aparência do mal, seria com ele para guardá-lo e livrá-lo das mãos dos malignos e das mãos dos cruéis.
Enquanto Isaías livremente se dispôs a ser profeta de Deus, Jeremias usou de resistência.  Sua resistência a esse ministério era baseada em profundos sentimentos de incapacidade.  Ele alegou que era ignorante e jovem demais para tão grande missão.  Em vez de concentrar-se em Deus, que o tinha chamado e que era suficiente para capacitá-lo para a tarefa a que o chamava, precisou ser despertado e encorajado a aceitar essa honra pelo próprio Deus.
Observe a predominância da palavra "eu" nas desculpas de Jeremias, contrastadas com o "Eu" de Deus:
JEREMIAS / DEUS
" Eu não sei falar " (Jr 1.6) / " Eu ponho na tua boca as minhas palavras "(Jr. 1.9)
" Eu sou uma criança" (Jr 1.6) / " Eu sou contigo" (Jr 1.19)
Durante a evolução da apostasia de Judá, muito embora parecesse que Deus estava dormindo e desinteressado no seu povo, a verdade é que Ele estava atentamente observando tudo o que eles faziam e que no devido tempo traria juízo e faria justiça quanto a eles.
Um pensamento paralelo encontramos em 2 Pe 3.9, que diz:
" O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânime para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. "
Jeremias pareceria até mesmo um traidor do seu povo, recomendando, durante certo tempo, que se rendessem à Babilônia.  O conhecimento de tão grande desafio enche Jeremias de incerteza, mas Deus lhe deu promessas encorajadoras.  Deus prometeu que fortaleceria o homem interior de Jeremias, para suportar a rejeição e a oposição do povo e que Sua presença nunca deixaria o profeta.  Jeremias nunca estaria completamente só (Jr 1.18-19).


O LIVRO DE JEREMIAS

O Livro de Jeremias é o segundo livro dos principais profetas da Bíblia, vem depois do Livro de Isaias e antes do Livro das Lamentações.  Os capítulos 1 a 24 registram muitas das suas profecias.  Os capítulos 24 a 44 relatam suas experiências.  Os remanescentes contêm Profecias contra as nações.  É provável que seu auxiliar, Baruque, tenha reunido e organizado grande parte do livro.  Na história de Babel, foi usado o método Atbash de criptografia.
Jeremias (em hebraico: יִרְמְיָהוּ, Yirməyāhū) foi um profeta hebreu conhecido por sua integridade e discursos duros contra o pecado.
Filho do sacerdote Hilquias (ou Helcias), da Tribo de Benjamim, nasceu entre 650 e 640 a.C em Anadote, um pequeno povoado a nordeste de Jerusalém, e morreu no Egito, em 580 a.C.  Foi sacerdote do povoado de Anadote e previu, segundo a Bíblia entre outras coisas, a invasão Babilônica.  Nabucodonosor atacou Israel em 597 a.C, e novamente em 586 a.C (ou 607 a.C, segundo a cronologia das Testemunhas de Jeová), quando os caldeus destruíram Jerusalém e queimaram o Templo.
O significado do nome é incerto, existindo três teses aceitáveis: "Yehowah exalta", "Yehowah é sublime" ou "Yehowah abre (=faz nascer)", era um nome bastante comum nos tempos bíblicos, são conhecidos pelo menos sete personagens com este nome que é empregado 158 vezes na Bíblia.
Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oséias, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miquéias, ele pertence ao mundo camponês.  De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país.


ATIVIDADE
Acredita-se que o livro tenha começado a ser escrito por volta de 605 a.C., quando Jeremias, preso, começa a ditá-lo a seu secretário Baruc (36:1. 2.4), no quarto ano do reinado de Jeoaquim, quando se iniciou efetivamente o ministério do profeta, e Deus teria lhe ordenado que escrevesse suas experiências num rolo.  Contudo, a obra só foi completada após a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, sendo que os acontecimentos narrados não se acham em ordem cronológica no livro.
Por outro lado, a Edição Pastoral da Bíblia sustenta que a atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC (1:2; 25:3), quando ele ainda era jovem (1:6) e prosseguiu até 586 AC, e pode ser dividida em quatro períodos:
Primeiro período: durante o reinado de Josias (627 a 609 AC).  Com apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a camada rural da sociedade.  No início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a Jeová e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baliam.
No âmbito internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência da época, se enfraquece cada vez mais.  Josias, já maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o território que antes era do Reino de Israel Sentencial e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722 AC.
Josias deixa de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (cf. 2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer novo relacionamento social centrado na Lei.  Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa.
Foi um período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre Josias (Jr 22,15-16).
Foram escritos neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37.
Segundo período: durante o reinado de Joaquim (609 a 598 AC)
Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 AC), outros povos entram no cenário: citas medos, babilônios e também os egípcios que tentam ressurgir depois de um período decadente.  Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares.  Josias morre em Meguido, em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Neco, que procura deter o avanço da Babilônia.
Neco depõe Joacaz, que sucedera a Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Joaquim.  O povo detestava Joaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19).  É dessa época o famoso Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta.
O Discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24.  O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso.  Ocorreu entre setembro de 609 e abril de 608 AC, quando Jeremias colocou-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaísta no Templo de Jeová como falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora acontecera com Siló.
Na opinião dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia: falara em nome de Jeová e falara contra a casa de Jeová.  Jeremias confirmou suas palavras perante o tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta Miquéias, que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada sofrera.
No começo de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois, Judá estava obrigada a pagar tributos ao Egito.  Jeremias denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não conhece Jeová".
A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor.  Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17).  Possivelmente por volta de 605 AC, quando Nabucodonosor venceu o Faraó Naco II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite.  Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a entrada no Templo.
Assim mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais.  E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes, para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do governo de Joaquim, em 605 AC.
Em dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento em que Nabucodonosor atacava a cidade filistéia de Ascalão, vizinha de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição.
Joaquim mandou queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados.  Posteriormente, Jeremias manda que Baruc escreva tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32).
Jeremias também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh.
O profeta estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava às portas de Jerusalém.  Nessa época, o rei Joaquim morreu provavelmente assassinado.  Seu filho e substituto Jeconias, não teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida.  Então o profeta, juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio da babilônia em 597 AC.  Sedecias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém.
Jeremias apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança.  Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra Jeová, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade.  Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz.  A mentira domina desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos.  Todos se tornam inimigos de todos.  Impera a idolatria.  O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.
Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5).  Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções.  Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14).
Em 5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo impunemente.
Terceiro período: durante o reinado de Sedecias (597 a 586 AC)
Sedecias assume o trono com 21 anos de idade, para dirigir uma Judá arruinada, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada, se submete aos babilônios e se mostra indeciso.  Nesse momento surge uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá.
O profeta se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre.  Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição.  Essa ideia leva Jeremias novamente para a prisão.
Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que, fracassa, conforme previsto por Jeremias.  Jerusalém é sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15).  Em 587 AC ocorre a segunda deportação.
Quarto período: depois da queda de Jerusalém (a partir de 586 AC)
Em 586 AC, Nabocodonosor resolve destruir Jerusalém totalmente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas.  Mas permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judeia.
Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles.  Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis, cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos que ali praticavam (40,7-44,30).
Segundo o apócrifo Vidas dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no séc. I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito.


BALANÇO
Pode-se dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus.  Ele se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra.   Apresenta-se como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum vestígio restará de sua tumba.
No entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34).  Ao colocar em primeiro plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo (Isaías 53).




CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Há quatro tipos de textos no livro de Jeremias:
Profecias em forma de poesia, como 4:5-6:30;
Relatos autobiográficos ou Confissões de Jeremias, em verso ou prosa, como 1:4-19; 11:18-12:6; 15:10-21; 17:14-18; 18:18-23 e 20:7-18, que não chegam a ser uma autobiografia, mas um testemunho comovente, com o estilo empregado no Livro das Lamentações.
Relatos biográficos em terceira pessoa, atribuídos a Baruc, que não se encontram em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma leitura destes na ordem cronológica.
Discursos em prosa, em número de 10, de autoria incerta, mas que muitos atribuem aos mesmos autores de Josué, Juízes, I Samuel, II Samuel, I Reis e II Reis, a chamada Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr), possivelmente composta por levitas, como 7:1-8.
As longas seções em prosa que ora estão na forma de diálogo e em outras ocasiões como narrativa, embora grande parte da obra esteja esteticamente formatada com forte presença das então denominadas metáforas vivas, utilizando-se com muita habilidade o idioma hebraico.  Segundo alguns estudiosos, o simbolismo utilizado pelo profeta serviria para personificar a sua mensagem, conforme se vê em várias passagens, como a do cinto estragado ou na aquisição de uma propriedade em Anatote.


ADIÇÕES
A obra contém discursos em prosa com estilo semelhante ao Deuteronômio cuja redação pode ser uma obra de discípulos posterior ao Exílio na Babilônia, no séc. VII AC ou começo do séc. VI AC;
O longo Oráculo contra Babilônia (caps. 50 e 51) também data do final do Exílio;
O cap. 52 é um apêndice histórico paralelo a 2Rs 24:18-25:30.


PLANO DA OBRA
1:1-24:14 – Profecias contra Judá;
26:1-45:5 - Profecias de Salvação para Israel e judá e relatos biográficos (provavelmente redigidos por Baruc);
25:15-38 (Introdução) e 46:1-51:64 - Profecias contra as nações estrangeiras; (na Septuaginta) não há descontinuidade entre a introdução e o restante desta parte da obra, pois todo o corpo das "profecias contra as nações estrangeiras" inicia-se no cap 25 e é anterior as "Profecias de Salvação para Israel e Judá ";
52:1-34 - Anexo baseado em 2Rs 24:18-25:30.




PROCESSO DE COMPOSIÇÃO
O livro de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação. Profecias (palavras proféticas) isoladas foram sendo reunidos ao longo dos anos, de modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias e não uma obra perfeitamente planejada.  Mais precisamente, pode-se dizer que temos uma antologia de antologias, em um processo que começou ainda durante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da época pós-exílica.
A Septuaginta tem um texto de Jeremias bem mais curto do que o Texto Massorético além de colocar várias profecias noutra ordem.  Isso permite supor que existiram dois textos independentes de Jeremias: um mais antigo e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a Septuaginta; outro, mais recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido pelos massoretas (= os rabinos "transmissores" do texto hebraico).


CONFISSÕES DE JEREMIAS
As "confissões" são diálogos com Jeová, lamentos, orações, disputas, que ocorreram durante o governo de Joaquim, quando Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu.
É possível que tenham sido escritos em 605 AC como um desabafo, podem ser lidos como uma síntese das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade.  São 5 trechos:
Jr 11:18-12:6 - Lamenta que seus conterrâneos e familiares tentaram matá-lo em Anatot, quando jovem e questiona porque persiste a prosperidade dos ímpios e a paz dos apóstatas, daqueles que vivem falando em Jeová, mas na verdade estão muito longe Dele, daqueles que têm uma fachada de piedade, mas não estão, de fato, com Jeová.
Jr 15:10-11.15-21 - Questiona se vale a pena ser profeta e confessa estar sendo tentado a desistir, aceitar a cooptação, "ser normal", passar para o lado daqueles a quem ele critica para sair da solidão a que é obrigado a viver.
Jr 17:14-18 - Apela a Jeová contra os seus perseguidores que lhe cobram a realização da palavra por ele pregada, se sente desacreditado perante seus ouvintes, porque as desgraças prometidas não acontecem.
Jr 18:18-23 - Denuncia nova trama contra a sua vida, seus adversários argumentam que podem tranquilamente eliminá-lo, já que tem apoio dos sacerdotes, dos sábios e dos profetas ligados aos interesses da corte.  Fica triste ao perceber que estes que querem eliminá-lo são os mesmos a quem ele tantas vezes defendeu diante de Jeová.
Jr 20:7-10.14-18 - Usando fortes imagens, chega ao máximo de sua angústia, acredita que Jeová o enganou: o seduziu para ser profeta e o dominou, para depois abandoná-lo, quando todos querem sua queda, inclusive seus amigos e por isso, ele quer parar de ser profeta, mas o problema é que não consegue, pois, as palavras de Jeová queimam-no como fogo que atinge até os ossos.  Então, amaldiçoa o dia em que nasceu: "Maldito o dia em que eu nasci! (...) maldito o homem que deu a meu pai a boa nova: 'Nasceu-te um filho homem!' (...) porque ele não me matou desde o seio materno, para que minha mãe fosse para mim o meu sepulcro e suas entranhas estivessem grávidas para sempre.  Por que saí do seio materno para ver trabalhos e penas e terminar os meus dias na vergonha?".
Segundo os relatos em seu livro, Jeremias não se julgava justo aos seus próprios olhos, mas incluía a si mesmo ao admitir a iniquidade daquela nação (Jr 14:20, 21).  Depois de liberto por Nebuzaradã, hesitou em abandonar aqueles que estavam sendo levados para o babilônico, talvez achando que devia compartilhar a sorte deles, ou desejando continuar servindo aos interesses espirituais deles (Jr 40:5).
Por vezes, em sua longa carreira, Jeremias ficou desanimado e necessitou a confirmação do apoio de Jeová, mas, mesmo em adversidade, não deixou de invocar a Jeová, pedindo-lhe ajuda. - Jr 20:7-13.
Encontrou bons companheiros, a saber, os recaibitas, Ebede-Meleque e Baruque.  Por meio destes amigos, foi ajudado e livrou-se da morte.




AUTORIA DE LAMENTAÇÕES
A atribuição da autoria do Livro de Lamentações à Jeremias é questionada, pois Jeremias, tal como é conhecido por suas profecias autênticas, não poderia ter dito que a inspiração profética tinha se esgotado (2:9), nem louvar Sedequias (4:20 x Jr 24:8), nem esperar auxílio do Egito (4:17 x Jr 37:5-7), nem apoiar a doutrina da dívida pelos pecados dos pais (5:7 x Jr 31:29-30; 5:6 x Jr 2:18) além disso seu gênio espontâneo é incompatível com o estilo erudito dos poemas que estão no Livro das Lamentações, havendo quem sustente que foram escritas por adversários de Jeremias.


PROFECIAS
Jeremias encenou para Jerusalém vários pequenos dramas como símbolos da condição dela e da calamidade que lhe sobreviria.  Entre eles:
A visita à casa do oleiro (Jr 18:1-11) e o incidente com o cinto estragado. (Jr 13:1-11) Ordenou-se a Jeremias que não se casasse; isto servia de aviso das "mortes por enfermidades", das crianças que nascessem naqueles últimos dias de Jerusalém. (Jr 16:1-4).  Ele quebrou uma botija diante dos anciãos de Jerusalém, qual símbolo do impendente destroçamento da cidade. (Jr 19:1, 2, 10, 11).  Comprou de volta um campo de Hanamel, filho de seu tio paterno, como figura da restauração que viria depois do exílio de 70 anos, quando se comprariam novamente campos em Judá (Jr 32:8-15, 44).  Lá em Tafnes, no Egito, ele ocultou grandes pedras no terraço de tijolos da casa de Faraó, profetizando que Nabucodonosor fixaria seu trono sobre aquele exato ponto. - Jr 43:8-10.





RELAÇÃO COM OUTRAS FIGURAS BÍBLICAS
O profeta Daniel com base no estudo das palavras de Jeremias a respeito do exílio de 70 anos, pôde fortalecer e encorajar os judeus a respeito da proximidade da sua libertação. (Dn 9:1, 2; Je 29:10).  Esdras trouxe à atenção o cumprimento das palavras dele. (Ed 1:1; veja também 2 Cr 36:20, 21.).
O Apóstolo Mateus apontou para o cumprimento de uma das profecias de Jeremias nos dias em que Jesus era criancinha. (Mt 2:17, 18; Jr 31:15).  O autor de Hebreus mencionou os profetas, entre os quais se achava Jeremias, cujos escritos citou, em Hebreus 8:8-12. (Jr 31:31-34) A respeito destes homens, o mesmo escritor disse que "o mundo não era digno deles", e que 'receberam testemunho por intermédio de sua fé'. - Hb 11:32, 38, 39.