quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

S I M B O L O G I A D O S E V A N G E L H O S

SIMBOLOGIA DOS QUATRO EVANGELHOS

O Novo Testamento ou Nova Aliança é a parte da Bíblia que conta a história da vida de Jesus Cristo narrada por quatro homens que são conhecidos com o nome de Evangelistas, porque escreveram a vida de Jesus como um Evangelho, isto é uma Boa Notícia à humanidade. Jesus mesmo não deixou nada escrito. Sua missão foi de anunciar e fazer acontecer o Reino de Deus, reino que se fundamenta no amor, na justiça e no serviço, sobretudo aos mais pobres.
Mateus, Marcos, Lucas e João são os nomes destes quatro discípulos de Jesus. Os três primeiros livros são conhecidos com Evangelhos Sinóticos porque são escritos numa mesma ótica. Eles descrevem muitos milagres e palavras de Jesus. Reúnem completam e editam os assuntos que serviram de base para todas comunidades existentes. João, por sua vez, escreve como uma meditação que visa despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, a fim de que todas as pessoas possam ter vida em abundância.
A iconografia cristã (representação por imagens) atribui um símbolo a cada um dos quatro evangelistas. Esta atribuição é feita a partir dos textos de Ezequiel 1, 1-4 e 10, 14 e de Apocalipse 4, 6-7, que falam de quatro seres vivos com aparência de boi, leão, ser humano e águia. O primeiro a relacionar os evangelistas com estes seres foi Irineu (+ 203). Depois foi Agostinho (+430). Assim, surgiu o costume de representar os quatro Escritores Sagrados nas pinturas e nas esculturas junto aos seus símbolos.

SIMBOLOGIA DE SEUS ESCRITORES

Mateus é representado por um anjo ou homem alado porque inicia o seu evangelho com a genealogia de Jesus Cristo, mostrando a sua origem e descendência humanas, marcados pelo seu nascimento (Cf. Mt 1). É a dimensão da obra-prima de Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança.
Marcos inicia o seu Evangelho falando de João Batista, a voz que clama no deserto (Cf. Mc 1,1-25). Seu símbolo é um leão alado, representando as feras que habitam o deserto. É a dimensão da força, realeza, poder, autoridade do Filho de Deus.
Um touro alado simboliza o evangelista Lucas. Ele inicia o seu Evangelho falando do Zacarias, sacerdote em função naquele ano e cuja tarefa era oferecer sacrifícios no Templo de Jerusalém. O touro é a representação dos sacrifícios oferecidos (Cf. Lc 1,25). É a dimensão da oferta a Deus.
João, dentre os quatro, o maior teólogo, é representado por uma águia, por causa do elevado estilo do seu Evangelho, que fala da Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus. Ele inicia seu Evangelho de cima pra baixo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus" (Cf. Jo 1,1-5). Daí a águia, por ser a ave que voa mais alto e faz os seus ninhos nos montes mais elevados. É a dimensão da liberdade do Filho de Deus diante das forças deste mundo.

A VISÃO DOS QUATRO SERES
O fundamento desses ícones é bíblico. O livro do Apocalipse de São João, por exemplo, traz a visão de quatro seres viventes que rendiam glória a Deus:
“O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. (...) Não cessavam de clamar dia e noite: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, o que é, o que era e o que deve voltar."
Os mesmos quatro animais estão em outra visão do profeta Ezequiel:
“Distinguia-se no centro a imagem de quatro seres que aparentavam possuir forma humana. (...) Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia."
Mas, afinal, por que esses quatro animais foram identificados com os evangelistas? O primeiro autor cristão a utilizar essa analogia foi Santo Irineu de Lião, seguido por Santo Agostinho. Os dois, no entanto, associaram os animais aos evangelistas de forma diferente da que se usa hoje, posto que a ordem dos Evangelhos, no começo da Igreja, ainda não estava bem definida.
Foi São Jerônimo quem começou a tratar os evangelistas da forma como são tratados hoje. São Gregório Magno explica com clareza por que referenda a sua atribuição:
“Que na verdade estes quatro animais alados simbolizam os quatro santos evangelistas, é o que demonstra o próprio início de cada um destes livros dos evangelhos. Mateus é corretamente simbolizado pelo homem porque ele inicia com a geração humana; Marcos é corretamente simbolizado pelo leão, porque inicia com o clamor no deserto; Lucas é bem simbolizado pelo bezerro, porque começa com o sacrifício; João é simbolizado adequadamente pela águia, porque começa com a divindade do Verbo, dizendo: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus' (Jo 1, 1), e assim tem em vista a substância divina, fixando o olhar no sol à maneira de uma águia."
Na mesma homilia, o Papa e doutor da Igreja Católica vai ainda mais fundo na meditação da profecia de Ezequiel:
“Mas, já que todos os eleitos são membros do nosso Redentor e o próprio nosso Redentor é a cabeça de todos os eleitos, através daquilo que simboliza os seus membros nada impede que neles todos ele também seja simbolizado. Assim, o próprio Filho Unigênito de Deus se fez verdadeiramente homem; ele se dignou morrer como bezerro como sacrifício de nossas redenção; ele, pelo poder de sua força, ressuscitou como leão."
“Conta-se que o leão dorme até mesmo de olhos abertos, assim, o nosso Redentor pela sua humanidade pôde dormir na própria morte, e pela sua divindade ficou acordado permanecendo imortal. Ele também depois de sua ressurreição subindo aos céus, foi elevado às alturas como uma águia. “
“Portanto, ele é inteiramente para nós, seja nascendo como homem, seja morrendo como bezerro, seja ressuscitando como leão, seja subindo aos céus como águia." 
“Mas, (...), estes animais simbolizam os quatro evangelistas e ao mesmo tempo, através deles, todos as pessoas perfeitas. Falta-nos então demonstrar como cada um dos eleitos se encontram nesta visão dos animais."
“De fato, cada pessoa eleita e perfeita no caminho de Deus é seja homem, seja bezerro, seja leão, seja águia. De fato o homem é um animal racional. O bezerro é o que se costuma oferecer em sacrifício. O leão é a mais forte das feras, como está escrito: 'O leão, o mais bravo dos animais, que não recua diante de nada' (Pr 30, 30). A águia voa para as alturas, e sem piscar dirige seus olhos aos raios do sol. Assim, todo o que é perfeito na inteligência é homem. E quando mortifica a si mesmo e a concupiscência deste mundo é bezerro. É leão porque, por sua própria e espontânea mortificação, tem a fortaleza da segurança contra todas adversidades, como está escrito: 'O justo sente-se seguro e sem medo como um leão' (Pr 28, 1). É águia porque contempla de forma sublime as coisas celestes e eternas. Sendo assim, qualquer justo é verdadeiramente constituído homem pela razão, bezerro pelo sacrifício de sua mortificação, leão pela segurança da fortaleza, águia pela contemplação. Assim, através destes santos animais, se pode simbolizar cada um dos perfeitos."
Agradeçamos a Deus pelo envio de Seu Verbo, manifestado a nós pelo dom de um “Evangelho quadriforme", como diz Santo Irineu de Lião, lembrando sempre que nenhum livro é capaz de conter Jesus Cristo.

OUTRAS SIMBOLOGIAS
Concebido no coração do Pai, o evangelho é uma mensagem gloriosa, sólida como a rocha, o mesmo Jesus Cristo sob o qual está fundamentado.
Seus quatro temas predominantes se estabelecem na mesma bíblia:
1. Jesus Cristo, o Salvador
A – O “rosto do homem”.
B – Evangelho – LUCAS.
C – Como apresenta Jesus – Como “Filho do Homem”.
D –  Símbolo da Salvação – A Cruz – Representa para nós, bem como para os cristãos em geral, a morte redentora de Jesus, pregado no madeiro para perdão de nossos pecados. Através de seu sacrifício, proporcionou a todos que crêem salvação e reconciliação com Deus, de cuja presença fomos separados pela desobediência de Adão no Jardim do Éden.
2. Jesus Cristo, o Batizador no Espirito Santo
A – O “rosto de leão”.
B – Evangelho – JOÃO.
C – Como apresenta Jesus – Como “Filho de Deus”.
D – Símbolo do Batismo no Espírito Santo – A Pomba Ouro.
Representa o Batismo com o Espírito Santo, um revestimento de poder que nos capacita a vencer todas as hostes da malignidade e fazer as mesmas obras que Jesus fez e ainda maiores do que elas, como o próprio Senhor nos garante em sua Palavra. 
3. Jesus Cristo, o Grande médico
A – O “rosto de boi”.
B – Evangelho – MARCOS.
C – Como apresenta Jesus – Como o “Servo”.
D – Símbolo da Cura Divina – O Cálice.
Representa a cura divina, a qual Jesus nos garante, também, por sua morte, pois, “pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaias 53.5).
4. Jesus Cristo, o Rei que breve voltará
A – O “rosto de águia”.
B – Evangelho – MATEUS.
C – Como apresenta Jesus – Como “O Rei”.
D – Símbolo da Segunda Vinda – A coroa.
Representa a volta de Cristo, como o grande Rei, para resgatar sua noiva (a igreja) e levá-la para morar nos céus, ao lado do Pai, por toda a eternidade.


RESUMINDO
Sérgio Biagi Gregório
"Intelligebas heri modicum, intelligis hodie amplius, intelligis cras multo amplius; lúmen ipsum Dei crescit in te".
Ontem entendias um pouco, hoje entendes algo mais, amanhã entenderás muito mais. É a própria luz de Deus que cresce em ti. (Santo Agostinho)

1. INTRODUÇÃO
Quem eram os evangelistas? Há lógica em seus escritos? Como foram compostos esses livros? Com estas questões, introduzimos os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João –, os primeiros livros do Novo Testamento.

2. CONCEITO
Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos ela indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo.
Os Quatro Evangelhos – Desde os primeiros anos do cristianismo preferiu-se falar de "Evangelho", no singular, também quando se referia aos livros. Isto porque os escritos dos apóstolos traziam todos o mesmo e idêntico "alegre anúncio" proclamado por Jesus e difundido oralmente. Quando se desejou, porém, indicar de maneira específica cada um dos quatro livros, encontrou-se uma fórmula particularmente eficaz e significativa: "Evangelho Segundo Lucas", "Evangelho Segundo Mateus", "Evangelho Segundo Marcos" e "Evangelho Segundo João". Desse momento em diante, o singular e o plural se alternam para indicar, um a identidade do anúncio, o outro a diversidade de forma e redação. Ficará, porém, sempre viva a convicção de que o Evangelho é um só: o alegre anúncio de Jesus. (Battaglia, 1984, p. 25 e 26)
Cânon é a palavra que, nas línguas orientais (dos quais se deriva) e em grego, designa a regra, a medida e, por extensão, o catálogo. Em linguagem bíblica, significa os catálogos dos livros sagrados.
Vulgata é o nome dado à tradução latina dos textos bíblicos devida a São Jerônimo (420), o novo texto assim apresentado aos cristãos em breve se tornou de uso comum; donde o nome de vulgata (forma) que tomou. Antes de Jerônimo já existia outra tradução latina, comumente chamada Vetus latim ou pre-jeronimiana. (Bettencourt, 1960)

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jesus, quando esteve encarnado entre nós, há dois mil anos, traçou-nos os fundamentos morais para a nossa conduta ética. Ele não nos deixou nada escrito. Todos os seus ensinamentos foram transmitidos oralmente. Na época, e mesmo hoje, a palavra oral tinha muito mais força do que a palavra escrita. No discurso oral, usamos gestos, os efeitos sonoros da voz, a repetição persuasiva e muito mais. De certa forma, a escrita é estática, dependendo muito mais do entendimento de quem lê.
Nas aulas, os mestres apelavam para a memória de seus discípulos e procuravam facilitar-lhes a tarefa redigindo suas ideias em sentenças ritmadas quase cantantes, aptas a se guardar na mente dos ouvintes. Este método de ensino é denominado de catequese, palavra grega que significa "ressonância". O mestre devia fazer ecoar amplamente as suas sentenças. Catequizado era aquele a quem haviam feito ressoar os termos da doutrina.
As prédicas de Jesus foram ouvidas pelos seus seguidores, mas redigidas muito tempo depois de sua morte. Dentre os diversos evangelhos existentes, apenas quatro foram considerados canônicos, ou seja, considerados sagrados e de inspiração divina. Os outros foram classificados como apócrifos. Os quatro Evangelhos são: o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho segundo Marcos, o Evangelho segundo Lucas e o Evangelho segundo João.

4. CADA UM DOS QUATRO EVANGELHOS
·        O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
Mateus, o publicano ou o cobrador de impostos, recolheu a pregação apostólica palestinense e escreveu para os judeus convertidos ao cristianismo. O Evangelho de Mateus é o primeiro dos quatro. É também o mais estudado e comentado, em vista da catequese global e eclesial que o caracteriza. Esta catequese mostra que o escândalo da morte na cruz fazia parte do plano de Deus para a salvação da humanidade. Mateus traça a vida histórica e cronológica de Jesus, enaltecendo o trabalho de pregação (kerygma) do Reino dos Céus. Dividiu-o em cinco partes: 1) fundação do Reino dos Céus; 2) o Reino dos Céus em ação (os milagres); 3) o mistério do Reino dos Céus (figura velada das parábolas); 4) Reino como comunidade visível e organizada (Pedro é a pedra angular da "Igreja"); 5) aspecto escatológico do Reino dos Céus (implantação deste na terra). (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS
O Evangelho de Marcos vem em segundo lugar, embora haja dados enciclopédicos que o colocam como o primeiro Evangelho. Não teve o mesmo êxito dos outros, porque o seu material estaria mais desenvolvido em Mateus e Lucas. Santo Agostinho fala que o Evangelho de Marcos é o resumo do de Mateus. A sua autoridade está fundamentada na narração de Pedro, testemunha ocular dos fatos. (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS
O Evangelho de Lucas é o terceiro Evangelho. Foi o que explicitou a sua intenção: escrever uma histórica de Jesus. É um Evangelho para os helenistas, pois é o único escritor que veio do paganismo. Todos os outros são de origem judaica. Sua cidade de origem é Antioquia e foi nessa cidade que surgiu o termo "cristão" para designar os seguidores de Jesus. Este Evangelho como o de Marcos, é de segundo plano, pois viveu à sombra do apóstolo dos gentios, Paulo. A sua catequese fundamenta-se em Jesus como salvador, as lições da cruz e o poder da ressurreição. (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO
O Evangelho de João, cunhado como o "Evangelho Espiritual", aparece em quarto lugar. Ele queria penetrar na profundidade do verbo de Deus, o verbo que se fez carne, ou seja, o verbo encarnado em Jesus. O apelido "Evangelho Espiritual" deveu-se a Clemente de Alexandria, que disse: "João, o último de todos, vendo que o aspecto material da vida de Jesus fora ilustrado por outros Evangelhos, inspirado pelo Espírito Santo e ajudado pela oração dos seus, compôs um Evangelho Espiritual". (Battaglia, 1984)



S I N Ó P S E D O S L I V R O S

S I N Ó P S E     D O S     L I V R O S

INTRODUÇÃO
O objetivo desse estudo consiste em fazer uma introdução à origem, natureza e finalidade dos Evangelhos Sinóticos. Para isso, analisaremos, numa perspectiva etimológica, as palavras “evangelho” e “sinótico” com o intuito de entender o longo processo de reconceituação que os termos passaram. No outro momento, versaremos sobre “os evangelhos” enquanto gênero literário, suas características e finalidades.

1. EVANGELHO(S)
A palavra “evangelho” é a transcrição do termo grego “euangelion”, formada por: “eu”, advérbio, que significa “bem”, e “angello”, verbo, que pode ser traduzido por “eu anuncio, trago uma mensagem, uma notícia”.
“Evangelho” situa-nos no plano da interpretação: naquele evento do qual se toma conhecimento, reconhece-se uma boa notícia. Implica, pois, um julgamento de valor positivo, um reconhecimento.
A expressão “Boa-nova” exclui qualquer neutralidade, é uma opção de fé. Certa feita, um autor judeu, numa tradução do Novo Testamento, sugeriu que o termo “euangelion” fosse substituído pelo termo neutro “anúncio”. Assim a passagem de Mc 1,1, “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”, seria traduzida por “Início do anúncio de Yeshua o messias, ben Elohim”. Tal proposta corrompe a essência do Evangelho, pois por trás dele há uma testemunha engajada; já por trás de “anúncio”, há um relator “neutro”.
O significado dado à palavra “evangelho” como conhecemos hoje é o resultado um longo processo cultural de resignificação. A origem do termo passa pelos autores profanos. No início, a palavra significou “o presente dado ao portador de uma boa-nova”. No grego clássico, além do sentido de presente, designava, mais especificamente, “o sacrifício oferecido por ocasião de uma boa notícia”. Já no grego helenístico, equivale à própria boa notícia. A diferença é que, aqui, a ideia, é a de uma boa notícia de uma vitória militar (uso confirmado pelo historiador grego Plutarco). Durante o Império Romano, a palavra fora utilizada com referência ao imperador, tido como deus. A notícia no nascimento de um príncipe herdeiro e dos possíveis benefícios que isto poderia gerar para o império eram motivos de “boas novas”.
Jesus e os primeiros cristãos não instituíram o uso que fazem da palavra “evangelho”; parece terem-na tomado emprestado da Septuaginta (LXX). A LXX emprega 20 vezes o verbo euangelizesthai e 6 vezes o substantivo euangelion, euangelia. A palavra “evangelho” tomou por derivação o termo hebraico “bissár”, “evangelizar”, dimensão alegre do anúncio que, gradativamente, foi adquirindo um significado religioso como proclamação da salvação (cf. Sl 40,4.10; Is 52,7). O sentido da palavra, tanto no Dêutero como no Trito-Isaías, é particularmente significativo: a “boa nova” que anunciam é a iminente vinda do Reino de Deus, e conferem-lhe, como sinais, a paz, a libertação, a felicidade (cf. Is 40,9; 52,7; 62,6; 61,1). Assim, para os judeus só há uma boa nova vinda do Reino de Deus. É esse o sentido empregado por Jesus também.
No ambiente do Segundo Testamento, “euangelion” passa por uma significativa evolução. São 130 citações da palavra com suas variantes: 54 empregos do verbo “euangelizei” e 76 do substantivo “euangelion”. A ideia que perpassa como pano de fundo do uso dos termos aponta para:
1)      Os discípulos anunciam a Boa-nova de Jesus;
2)      Marcos escreve a Boa-nova de Jesus;
3)      O anunciador tornou-se o anunciado e ato de proclamação tornou-se o texto.
Isso significa que:
1)      Jesus situa-se exatamente na linha da mensagem de Isaías, da qual faz, segundo Lucas, a base de seu discurso-programa na sinagoga de Nazaré (Lc 4,18, citando Is 61,1-2);
2)      Para os cristãos, a Boa-nova não consiste, como entre os gregos e os romanos, numa multidão de acontecimentos sucessivos e passageiros, de importância mais ou menos relativa, mas num único evento, capital e fundamental: em Jesus Cristo, Deus se aproximou dos homens de modo decisivo e definitivo (cf. o discurso de Pedro At 10,36);
3)      Ao escrever um “evangelho”, Marcos inova. Ao reunir os diferentes elementos veiculados pela tradição e ao organizá-los numa história de Jesus, o evangelista abre caminho a um novo gênero literário sem precedentes em outras literaturas.

Somente na segunda metade do século II é que se veio a empregar a palavra euangelion no plural. Justino (+165), no livro Apologia, 66,3, foi quem usou primeiro o termo em memórias dos apóstolos. O enfoque na utilização do termo não era mais o conteúdo, mas o conjunto dos textos.

2. SINÓTICOS
Em 1776, um pesquisador alemão chamado J.J. Griesbach publicou, em Halle, a obra Synopsis evangeliorum (Sinopse dos evangelhos). Foi a primeira vez que se utilizou o termo “sinótico” aos escritos dos três primeiros evangelhos.
A ideia de Griesbach era a de elaborar uma edição de Mateus, Marcos e Lucas, que permitisse abranger “os três num único olhar” – a origem do termo “sinótico” é grega oriunda de duas palavras: syn (“junto”) e opsis (“ver”). Assim agindo, ele se fizera eco da opinião que Agostinho de Hipona, já em 399, expusera em seu De consensu evangelistarum. Para o bispo de Hipona, os evangelhos teriam sido escritos na ordem em que estão no Cânon.
Essa intervenção da sinopse no século XVIII contribuiu enormemente para instaurar a era da crítica evangélica. Até então, consideravam-se os evangelistas como testemunhas oculares dos fatos ocorridos, e tudo quanto haviam escrito era isento de qualquer erro ou contradição. Com a crítica literária, não só essa imagem tradicional sofreu críticas como a abordagem da vida de Jesus ia também sofrer profunda alteração.
A Sinopse evangélica dava como fim aquilo a que se chamava Harmonia evangélica. Tratava-se de uma narrativa seguida da história de Jesus, constituída exclusivamente dos elementos provenientes dos quatro evangelhos. Essa narrativa era organizada de modo a que todas as informações reunidas se completassem num conjunto coerente e harmonioso. Um bom exemplo desse esforço de síntese narrativa foi o Diatessaron (“através dos quatro”) de Taciano (séc.II) que tinha como objetivo provar a harmonia entre os evangelhos.
O trabalho de Griesbach contribuiu muito para o estudo da Questão sinótica. A questão girava em torno da relação literária dos três primeiros evangelhos entre si: Como explicar a notável e complexa teia de concordâncias e discordâncias entre Mateus, Marcos e Lucas?
A exposição sinótica consiste numa série de unidades distintas de narrativas e discursos, completas em si mesmas, e frequentemente colocadas uma após outra, independentemente de qualquer ligação espacial ou temporal. À vista das semelhanças, a conclusão parece se impor: os sinóticos, de alguma maneira, parecem depender literalmente uns dos outros. Na realidade, a questão se complica quando se sabe que os três evangelhos diferem também muito uns dos outros, tanto no conteúdo quanto na forma.

Basta observar as estatísticas do quadro abaixo para verificar a questão levantada.
Passagens
Mt
Mc
Lc
Comuns aos três
330
330
330
Comuns a Mt-Mc
178
178
Comuns a Mc-Lc
100
100
Comuns a Mt-Lc
230
230
Próprios a cada um
330
53
500
Com base nas estáticas do quadro, pode-se afirmar que:
1)      Um grande número de passagens se encontra nos três evangelhos (tríplice tradição);
2)      Algumas passagens são partilhadas por Mc e Mt e outras por Mc e Lc;
3)      Numerosos textos são encontrados somente em Mt e Lc (dupla tradição);
4)      Cada evangelho contém textos que lhe são próprios.
Fato interessante a observar é que somente 53 versículos não estão em Mt e Lc. Quase todo o Evangelho de Marcos está presente nos evangelhos de Mateus e Lucas. Como explicar essa dependência mútua? Várias hipóteses surgiram a partir do século XVIII e dentre elas a Teoria das duas Fontes.
Weisse (1838), abrirá finalmente as portas à Teoria das duas Fontes. Obtém-se então o esquema que, há mais de um século e meio, serve de postulado de base a um número incalculável de pesquisas sobre os evangelhos sinóticos.
Segundo a Teoria das duas Fontes, Mateus e Lucas utilizaram dois documentos para escrever seu respectivo evangelho; esses documentos são Marcos e Q (fonte Quelle). Deve-se, entretanto, lembrar que o documento Q jamais foi encontrado e, por conseguinte, ele é completamente hipotético. Esta fonte seria anterior ao Evangelho de Marcos, escrito em grego e reuniria as palavras, discursos e parábolas de Jesus.

3. GÊNEROS LITERÁRIOS
Vimos que Marcos, ao escrever um evangelho, reunindo diferentes elementos veiculados pela tradição e organizá-los numa história de Jesus, abre caminho a um novo gênero literário sem precedentes em outras literaturas.
Os evangelhos enquanto gênero literário é único, novo. Apresentam-se como textos narrativos, sem serem crônica ou biografia. Falam da mesma pessoa e dos mesmos fatos com intuitos específicos. O estilo literário é parecido com a midraxe Hagadá (narração) – designa ao mesmo tempo um método de exegese e a produção literária decorrente deste método. Faz-se uma pesquisa sobre a Escritura para ver de que modo ela atinge seu leitor contemporâneo; é uma tentativa de atualização da Escritura. Parecido com Hagadá (aggadah), o evangelho edifica ao atualizar a mensagem da salvação para o leitor hodierno.
Os evangelhos não são história e nem um livro de memórias. Não se interessam na história interior ou exterior do herói, mas manifestam um claro interesse pela atividade terrena de Jesus sem uma cronologia ou uma topografia precisa. São querigmas de um acontecimento único e definitivo, da intervenção de Deus em Jesus Cristo. Em vez de biografia de Jesus, trata-se de testemunho de fé, de anúncio para despertar a fé no ouvinte.
Os evangelhos não foram escritos para recordar Jesus ou para glorificar os seus milagres, constituindo estes últimos apenas uma parte de seu conteúdo, que contém bem outras coisas; o interesse dominante neles é suscitar a fé e fortalecê-la. As palavras e as ações de Jesus foram recolhidas à parte e repetidas na forma de simples narrativas,  destinadas a mostrar às primeiras assembleias cristãs o fundamento de sua fé e proporcionar aos missionários um sólido substrato para a pregação, a catequese e também para a argumentação contra os adversários.
Os evangelhos são textos populares e não eruditos. São textos destinados ao uso das comunidades e para o uso da propaganda missionária. Assim, é preciso admitir uma distância entre Jesus e os evangelhos, transbordante da contribuição da comunidade. Os evangelistas não podem ser reduzidos a meros compiladores: ele são ao mesmo tempo intérpretes e portadores de uma tradição, com um equilíbrio ímpar entre liberdade e fidelidade.
Os evangelhos não se reduzem a única primeira redação de único autor, mas sofreram diversas modificações ao longo da redação por força das tradições vivas que circulavam e das adaptações dos redatores para as respectivas comunidades a que se dirigiam. À medida que as comunidades iam lendo e pregando tais tradições, impingiam modificações conforme seu contexto existencial, refundindo os textos.
Os evangelhos pertencem a um grande gênero literário e dentro dele há outros gêneros (narrativas, milagres, parábolas, alegorias, metáforas, apocalipse etc.)  que conservam elementos da tradição moldados por eles. O que está em jogo na atualidade não é a pluralidade de gêneros literários presentes nos Evangelhos, mas o grau de historicidade do que se relata e sua evolução.


E V A N G E L H O S S I N Ó P T I C O S

E V A N G E L H O S     S I N Ó P T I C O S


Quase todo o conteúdo do evangelho de Marcos pode ser encontrado no evangelho de Mateus, e muitas partes tem similaridade em Lucas. Adicionalmente, Mateus e Lucas tem uma grande quantidade de material em comum, que não são encontrados em Marcos.
Evangelhos Sinópticos (português europeu) ou Evangelhos Sinóticos (português brasileiro) é um termo que designa os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras. Tal grau de paralelismo relativo ao conteúdo, narrativa, linguagem e estruturas das frases, somente pode ocorrer em uma literatura interdependente. Muitos estudiosos acreditam que esses evangelhos compartilham o mesmo ponto de vista e são claramente ligados entre si.
Desde que a exegese começou a ser aplicada à Bíblia ainda no século XVIII, os exegetas os chamaram de "evangelhos sinópticos" uma vez que se aperceberam que, dos quatro evangelhos, os três primeiros apresentavam grandes semelhanças entre si, de tal forma que se colocados em três grelhas paralelas - donde vem o nome sinóptico, do grego συν, "syn" («junto») oοψις, "opsis" («ver») -, os assuntos neles abordados correspondiam quase inteiramente. Ou seja, são classificados assim, por fazerem parte em uma mesma visão, ou mesmo ponto de vista.
Por parecer que quase teriam ido beber as suas informações a uma mesma fonte, como os primeiros grandes exegetas eram alemães, designaram essa fonte por Q, abreviatura de Quelle, que significa precisamente «fonte» em alemão. Adicionalmente, Mateus e Lucas também incluíram um material de duas outras fontes designadas como Fonte M e Fonte L respectivamente.
Quanto ao quarto Evangelho canônico, o Evangelho de João, relata a história de Jesus de um modo substancialmente diferente, pelo que não se enquadra nos sinópticos.
Desta maneira, temos 4 evangelhos canônicos, dos quais três são sinópticos.
Enquanto que os evangelhos sinópticos apresentam Jesus como uma personagem humana destacando-se dos comuns pelas suas acções milagrosa sendo a origem primária para informações históricas sobre Jesus Cristo. Já o Evangelho de João descreve um Jesus como um Messias com um carácter divino, que traz a redenção absoluta ao mundo. Aparentemente, o evangelho de João sugere que ele tinha conhecimento dos Evangelhos Sinópticos, e que nos tais já existia informação suficiente sobre a vida de Jesus como homem, se incumbindo João de mostrar em seu Evangelho, os atributos de Jesus como Deus.

Parte do conteúdo presente em todos os três evangelhos sinópticos é chamada de tripla tradição. Isso inclui a maioria das narrativas sobre os eventos da vida de Jesus, iniciando por seu batismo e terminando com a descoberta do túmulo vazio após a crucificação. Também incluem algumas das parábolas (tais como a Parábola do grão de mostarda). A tripla tradição é responsável por 76% do texto de Marcos. Parte desse material está presente em quase todos os evangelhos, e algumas vezes com pequenas variações, existem ainda alguns casos notáveis, chamados "acordos menores", aonde Mateus e Lucas entram em acordo entre si na estrutura de palavras diferindo de Marcos.
Por sua vez, a dupla tradição explica o material (200 versos) compartilhado entre Mateus e Lucas, porém ausentes em Marcos. Esse conteúdo consiste quase que inteiramente nos discursos e ensinamentos de Jesus, e inclui a maior parte do Sermão da Montanha e a maioria das parábolas. Adicionalmente, a dupla tradição inclui três versos (Mateus 3:8-10) que são atribuídos à João Batista, (o último verso desse grupo também aparece em Mateus 7:19, atribuído à Jesus), e por fim a história do servo do centurião (Mateus 8:5-13).
O material de Marcos-Mateus, compartilhado entre ambos, inclui a história da morte de João Batista, diversos milagres (incluindo uma das duas ocorrências de alimentando multidões, a versão expandida do texto sobre a proibição do divórcio (Mateus 19:1-8), e também a narração da morte de Jesus (Marcos 15:34-41).
O material de Marcos-Lucas é limitado a um incidente isolado em Cafarnaum, envolvendo um exorcismo. (Marcos 1:21-28).
O material exclusivo de Marcos consiste em alguns versos (40), incluindo entre outros, Marcos 3:20-21, a Parábola da Semente (Marcos 4:26-29), dois milagres (Marcos 7:31-37 - Curando o surdo-mudo da Decápolis - e Marcos 8:22-26 - Curando o cego de Betsaida), dois fragmentos sem significação óbvia em Marcos 9:49 e Marcos 14:51-52, e o verso em Marcos 16:8 no qual há a declaração da mulher que descobriu o túmulo vazio e não disse nada a ninguém. 
O material exclusivo de Mateus ou Lucas é bastante extenso. Este inclui dois distintos, porém similares fatos sobre a genealogia de Jesus, duas narrativas distintas de nascimento, e duas narrativas sobre a ressurreição. Mateus adiciona diversas declarações ao Sermão da Montanha, várias parábolas (incluindo "a Parábola do Credor Incompassivo", a "Parábola das Ervas Daninhas" e "a Parábola dos Trabalhadores da Vinha"), a profecia do julgamento final (Mateus 25:31-46), e descreve o suicídio de Judas Iscariotes. Lucas também traz múltiplos milagres e parábolas exclusivas (exemplo: A parábola do Bom Samaritano). Muitos detalhes dos últimos dias de Jesus somente podem ser encontrados em Mateus e Lucas. Por exemplo, Mateus é o único evangelho que declara que Jesus entrou em Jerusalém sobre dois animais (Mateus 21:2-7). Mateus é o único evangelho que declara que o túmulo de Jesus foi guardado por soldados. Lucas é o único evangelho que relata que um dos ladrões crucificados próximo à Jesus se arrependeu e recebeu de Jesus a promessa do Paraíso. (Lucas 23:40-43).


COMPOSIÇÃO
Existe um debate contínuo entre os críticos bíblicos a respeito da composição dos Evangelhos Sinópticos.
Visão Tradicional
Tradicionalmente, o evangelho de Mateus é entendido como o primeiro Evangelho escrito. O evangelho de Marcos foi escrito depois de Mateus, utilizando-se de partes deste, e finalmente Lucas foi escrito baseado nos outros dois anteriores, também baseados em outras testemunhas oculares.  Esta visão é comumente chamada de Hipótese Agostiniana. Diferente de outras hipóteses, esta não se baseia na existência de nenhum documento que não fora explicitamente mencionado por testemunhos históricos. Adeptos da Hipótese Agostiniana a veem como uma visão simples, e coerente para o entendimento dos Evangelhos Sinópticos. Entretanto, a Crítica textual tem mostrado várias falhas na visão tradicional, a qual tem sido amplamente desconsiderada pela comunidade acadêmica, estudos modernos, dão ênfase à hipoteses que consideram de 2 ou 4 fontes distintas na composição desses evangelhos.
Um retorno à visão tradicional foi encontrado na hipótese de Eta Linnemann, que sustenta que Mateus e Marcos foram escritos juntos, observando o requerimento de "duas testemunhas" definido na Lei Mosaica.

Visão Histórica - Visão Crítica
Prioridade de Marcos
O entendimento de que Marcos foi o primeiro dos evangelhos canônicos e que serviu de fonte para Mateus e Lucas é baseado na escola de crítica bíblica moderna.
Fonte Q
A Hipótese Agostiana sugere que o Evangelho de Mateus foi escrito primeiro. O Evangelho de Marcos foi escrito utilizando o de Mateus como fonte. Então o Evangelho de Lecas foi escrito utilizando os dois anteriores como fonte.
Outro fundamento dos estudos Bíblicos modernos, é a pressuposição da existência da Fonte Q, uma fonte escrita, e atualmente perdida, hipoteticamente utilizada por ambos, Mateus e Lucas.
 Os evangelhos sinópticos estão relacionados um com o outro segundo o seguinte esquema: se o conteúdo de cada evangelho é indexado em 100, então quando se compara esse resultado se obtém: Marcos tem 7 peculiaridades e 93 coincidências. Mateus tem 42 peculiaridades e 58 coincidências. Lucas tem 59 peculiaridades e 41 coincidências. Isso é, 13/14 (treze quatorze avos) de Marcos, 4/7 de Mateus e 2/5 de Lucas descrevem os mesmos eventos em linguagem similar.

O estilo de Lucas é mais polido do que o de Mateus e Marcos, com menos hebraísmos. Lucas utiliza algumas palavras latinas (q.v. Lucas 7,41; 8,30; 11,33; 12,6 e 19,20), mas nada de termos em aramaico ou hebraico, exceto sikera, uma bebida estimulante da natureza do vinho, mas não processada de uvas (do hebraico shakar, "ele está intoxicado", Levítico 10,9), provavelmente vinho de palmeira. Esse Evangelho contém 28 referências distintas ao Antigo Testamento.

O S Q U A T R O E V A N G E L H O S

O S    Q U A T R O    E V A N G E L H O S    D O    N O V O    T E S T A M E N T O

Mateus, Marcos, Lucas e João

1. Porque são quatro Evangelhos e não somente um? Todos quatro são sobre a mesma pessoa (Jesus Cristo), então porque são quatro?
Esta pessoa (Jesus Cristo) tem importância suprema e só um Evangelho não dá para contar a Sua excelência, grandeza e magnificência. Também mostra a inspiração divina da Palavra de Deus porque tudo combina e concorda. Outros homens (descrentes e crentes, judeus e gentios) escreveram sobre a vida de Cristo, mas Deus somente inspirou divinamente estes quatro para relatar a vida de Cristo (Lucas 1:1-4). Estes quatro livros são cem por cento verdade e de confiança, o único relato da vida dEle que é, porque são inspirados pelo Espírito Santo (II Pedro 1:20-21). Os quatro Evangelhos tem diferenças, semelhanças e informação adicional e suplementar; mas, todos estão contando a mesma história da mesma pessoa (Jesus Cristo). Cada um fala de Cristo segundo ao seu próprio tema. Assim temos um retrato mais completo do nosso Salvador maravilhoso.

2. Os Temas e As Datas dos Evangelhos.
Mateus. 40-55 d. C. O Messias como o Rei de Israel (autoridade). 1:1. 16:16-19. 28:18-20.
Marcos. 57-63 d. C. Cristo como o Servo de Deus. 10:45.
Lucas. 63 d. C. Cristo como o Filho do Homem. A frase chave; "Filho do Homem." 19:10.
João. 90 d. C. Cristo como Deus e o Filho de Deus. 1:1-4. 20:31.

3. A Ordem dos Evangelhos.
 É só por acaso que foram escritos nesta ordem certa e fixa de Mateus, Marcos, Lucas e João? A ordem escrita dos Evangelhos é divina e tem propósito e desenho divinos.
·        Mateus faz conexão com o Velho Testamento (as Escrituras Hebraicas). Mateus revela o Messias-Rei prometido do Velho Testamento aos Judeus. O Novo Testamento é o cumprimento do Velho - nota logo no começo do Novo Testamento que diz (Mateus 1:22). O primeiro livro do Novo Testamento manifesta o Messias-Rei prometido do Velho Testamento. É por isso Deus diz em Mateus: "Este é o meu amado Filho em quem me comprazo: escutai-o" (17:5).
·        Marcos representa o Messias como o Servo Fiel e Obediente de Deus. Marcos é um Judeu-Gentio (João Marcos) que faz conexão com o judeu e o gentio.
·        Lucas diz que o Messias é o Filho do Homem. Lucas era um médico e um gentio.
·        João declara que o Messias é o Filho de Deus eterno.
Dá para ver que a verdade falada nos quatro Evangelhos é progressiva, metódica e ordenada.

4. Os Evangelhos Sinópticos e João.
·        Os Evangelhos Sinópticos
Mateus, Marcos e Lucas são chamados os Evangelhos Sinópticos porque falam mais ou menos os mesmos acontecimentos da vida de Cristo.
João foi escrito alguns anos depois dos outros e relata matéria que os outros não relatam. Observa as seguintes coisas:
·        O Evangelho de João
Os Fatos Públicos da Vida de Cristo - Os Fatos Íntimos da Vida de Cristo
Os Aspectos Humanos da Vida de Cristo - Os Aspectos Divinos da Vida de Cristo
Os Discursos Públicos da Vida de Cristo - Os Discursos Particulares da Vida de Cristo
O Ministério Galileu de Cristo - O Ministério Judeu de Cristo

5. Outra Diferença que combina com o tema de cada um dos Evangelhos; as Genealogias.
·        Mateus - O Evangelho do Messias-Rei de Israel começa com Abraão e faz conexão com Davi o rei e termina com José. Esta genealogia é através de José. Mostra que Jesus é o Messias prometido dos Judeus que se assentará no trono de Davi como o Rei dos reis da terra no fim.
·        Marcos - Não tem genealogia porque não é necessário dar os antepassados de um servo, mas só de um rei.
·        Lucas - Esta genealogia é através de Maria. Começa com o sogro de José (e passa logo para a genealogia de Maria), e termina com Adão, porque Ele é representado em Lucas como o Filho do Homem.
·        João começa logo dizendo que Jesus Cristo é Deus (Jeová), o Filho Eterno de Deus conforme ao seu tema.

6. Os Começos e Os Fins dos Evangelhos.
·        Mateus - O Evangelho do Messias-Rei começa dizendo que Ele é o Messias prometido a Abraão que se assentará no trono de Davi: e termina com a Sua ressurreição, a prova certa e absoluta de tudo isto.
·        Marcos - O Evangelho do Servo Fiel e Obediente de Deus começa contar logo a história do serviço da vida do Servo fiel, obediente e divino: e termina com este Servo exaltado no céu.
·        Lucas - O Evangelho do Filho do Homem começa contando a história do homem perfeito chamado Jesus: e termina com este Homem subindo para Deus nos céus.
·        João - O Evangelho do Filho de Deus começa com o fato que Ele é Deus: e termina com a promessa da Sua vinda gloriosa e poderosa.