segunda-feira, 10 de julho de 2017

A O S G Á L A T A S

E P Í S T O L A     D E     P A U L O     A O S     G A L Á T A S

Autor: Gálatas 1:1 claramente identifica o apóstolo Paulo como o seu autor.

Quando foi escrito: Dependendo de aonde exatamente o livro de Gálatas foi enviado e em qual viagem missionária Paulo iniciou as igrejas naquela área, o livro de Gálatas foi escrito em algum lugar entre 48 e 55 dC.

Propósito: As igrejas em Galácia eram formadas em parte de judeus convertidos e em parte de gentios convertidos, como era geralmente o caso. Paulo afirma seu caráter apostólico e as doutrinas que ensinava a fim de confirmar as igrejas da Galácia na fé de Cristo, especialmente no que diz respeito ao ponto importante da justificação pela fé. Assim, o assunto é essencialmente o mesmo ao discutido na epístola aos Romanos, ou seja, a justificação pela fé. Nesta carta, contudo, a atenção é especialmente dirigida ao ponto de que os homens são justificados pela fé sem as obras da Lei de Moisés.

Gálatas não foi escrito como uma redação sobre a história contemporânea. Foi um protesto contra a corrupção do evangelho de Cristo. A verdade essencial da justificação pela fé e não pelas obras da lei tinha sido obscurecida pela insistência por parte dos judaizantes de que os crentes em Cristo deviam cumprir a lei se esperavam ser perfeitos diante de Deus. Quando Paulo soube que este ensino tinha começado a influenciar as igrejas de Galácia e que os tinha afastado de sua herança de liberdade, ele escreveu o forte protesto contido nesta epístola.

Versículos-chave: Gálatas 2:16: “... sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.”

Gálatas 2:19-20: "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim."

Gálatas 3:11: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé."

Gálatas 4:5-6: “... para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!"

Gálatas 5:22-23: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.”

Gálatas 6:7: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.”

Resumo: O resultado da justificação pela graça mediante a fé é a liberdade espiritual. Paulo chama os Gálatas a manterem-se firmes na sua liberdade, e "não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão (isto é, a lei mosaica)" (Gálatas 5:1). A liberdade cristã não é uma desculpa para satisfazer uma natureza inferior; pelo contrário, é uma oportunidade de amar uns aos outros (Gálatas 5:13, 6:7-10). Essa liberdade não isola ninguém das lutas da vida. De fato, pode até intensificar a luta entre o Espírito e a carne. No entanto, a carne (a natureza inferior) foi crucificada com Cristo (Gálatas 2:20) e, como consequência, o Espírito produzirá seus frutos na vida do crente, tais como: amor, alegria e paz (Gálatas 5:22-23).

A carta aos Gálatas foi escrita em um espírito de inspirada agitação. Para Paulo, a questão não era se uma pessoa tinha sido circuncidada, mas se havia se tornado "uma nova criação" (Gálatas 6:15). Se Paulo não tivesse sido bem sucedido em seus argumentos a favor da justificação pela fé, o Cristianismo teria permanecido uma seita dentro do judaísmo, ao invés de se tornar uma forma universal de salvação. Gálatas, portanto, não é só a epístola de Lutero, mas também a epístola de cada crente que confessa com Paulo: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gálatas 2:20).

Os livros de Tiago e Gálatas ilustram dois aspectos do Cristianismo que desde o início aparentam estar em conflito, embora na realidade sejam complementares. Tiago insiste na ética de Cristo, uma demanda de que a fé prove a sua existência pelos seus frutos. No entanto, Tiago, não menos que Paulo, enfatiza a necessidade da transformação do indivíduo pela graça de Deus (Tiago 1:18). Gálatas salienta a dinâmica do Evangelho que produz ética (Gálatas 3:13-14). Paulo não era menos preocupado do que Tiago sobre a vida ética (Gálatas 5:13). Como os dois lados de uma moeda, esses dois aspectos da verdade cristã devem sempre acompanhar um ao outro.

Conexões: Ao longo da epístola de Paulo aos Gálatas, a graça salvadora - o dom de Deus - é contrastada com a lei de Moisés, a qual não salva. Os judaizantes, aqueles que iriam retornar à lei mosaica como fonte de justificação, foram eminentes na Igreja primitiva, ao ponto de temporariamente atraírem um cristão de destaque como Pedro em sua teia de enganos (Gálatas 2:11-13). Assim, tão apegados eram os primeiros cristãos à lei, que Paulo teve que continuamente reiterar a verdade de que a salvação pela graça não tinha nada a ver com a observância da lei. Os temas que ligam Gálatas ao Antigo Testamento centram em torno da lei versus graça: a incapacidade da lei de justificar (2:16); a morte do crente com a lei (2:19); a justificação pela fé de Abraão (3:6); a lei não traz a salvação, mas a ira de Deus (3:10); e, por último, o amor, e não as  obras, cumpre a lei (5:14).

Aplicação Prática: Um dos principais temas do livro de Gálatas é encontrado em 3:11: "O justo viverá pela fé." Não só somos salvos pela fé (João 3:16, Efésios 2:8-9), mas a vida do crente em Cristo -- dia a dia, momento a momento -- é vivida por e através dessa fé. Não que a fé seja algo que conjuremos sozinhos - ela é o dom de Deus, não de obras -- mas é nossa responsabilidade e alegria (1) expor a nossa fé para que os outros vejam o trabalho de Cristo em nós; (2) aumentar a nossa fé mediante a aplicação das disciplinas espirituais (estudo bíblico, oração e obediência).

Jesus disse que seríamos conhecidos pelo fruto das nossas vidas (Mateus 7:16), o qual dá provas da fé dentro de nós. Todos os cristãos devem ser diligentes em lutar para construir sobre a fé salvadora dentro de nós para que os outros possam ver Jesus em nossas vidas e "glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:16).

Gálatas 1:1 - 2:10
Não Sigam Outro Evangelho
Não sigam outro evangelho (1:1-9). Paulo começa a sua carta às igrejas da Galácia abordando a questão de autoridade. Sua própria autoridade como apóstolo veio diretamente de Jesus (1:1). A autoridade de Jesus era a autoridade de Deus, que foi provada na ressurreição (1:1; veja Mateus 28:18 e Atos 17:30-31). O evangelho que Paulo pregou falou sobre a graça de Cristo, que se entregou pelos nossos pecados “para nos desarraigar deste mundo perverso” (1:4).
Contudo, alguns perturbavam os gálatas, pregando “outro evangelho” (1:6). De fato, não existe outro evangelho, mas estes estavam pervertendo “o evangelho de Cristo” (1:7). Perverter o evangelho quer dizer acrescentar (ou diminuir) sem a autoridade de Cristo. Paulo disse que qualquer pessoa que “vos pregue evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” — mesmo se for um apóstolo ou um anjo do céu (1:8-9)! “Anátema” quer dizer “separado para ser destruído”. Qualquer pessoa que não ensina o evangelho que Cristo entregou não tem a autoridade de Cristo e será destruída (veja 2 João 9).
A fonte do evangelho (1:10-24). Paulo afirmou enfaticamente que o evangelho que ele ensinava não veio do homem. Primeiro, se viesse dos homens, seria mais agradável a eles. Mas, Paulo está sendo perseguido por seu evangelho, até pelos próprios gálatas! (Veja 4:16 e 5:11). Estava sendo perseguido porque ele procura agradar a Cristo, não ao homem (1:10; veja Mateus 6:24).
Quando Paulo recebeu o evangelho de Cristo (1:11-12), ele não foi para Jerusalém para ser instruído pelos outros apóstolos. Antes, ele foi diretamente para Arábia e Damasco, pregando o evangelho que tinha recebido (1:15-17; veja Atos 9:1-22). Três anos passaram antes de Paulo encontrar os apóstolos em Jerusalém (1:18). Os irmãos na Judéia não o conheciam, mas apenas ouviram que ele estava pregando a mesma fé que anteriormente tentava destruir (1:22-23). O ponto dele é este: sem conhecer os outros, como ele poderia ter recebido o evangelho deles?

Paulo perante os falsos mestres (2:1-10). Quando Paulo voltou a Jerusalém 14 anos mais tarde, ele comunicou aos líderes da igreja o evangelho que ele havia pregado entre os gentios (2:1-2). Ele viajava com um gentio chamado Tito. Alguns “falsos irmãos” tentaram convencê-lo a ser circuncidado. Mas Paulo não se submeteu a eles por “nem uma hora” quando queriam avançar seu acréscimo (e perversão) do evangelho, “para que a verdade do evangelho permanecesse” (2:3-5).
Quando Tiago, Cefas e João viram que Deus estava trabalhando em Paulo como também trabalhava em Pedro, eles lhe ofereceram “a destra de comunhão”, aceitando-o porque Deus o havia aceitado (2:6-9). Eles reconheceram que a sua glória era de Cristo, e eles não pediram que ele mudasse algum ensinamento. Pediram apenas que ele lembrasse dos pobres, como já o fazia (2:10).

Gálatas 2:11 - 3:5
A Justificação Vem pela Fé
O erro de Pedro (2:11-21). Quando o apóstolo Pedro (Cefas, veja João 1:41-42) visitou Antioquia, Paulo viu que ele não praticava a mesma coisa que pregava (2:11-14). Até o fiel Barnabé (veja Atos 11:22-24) começou a praticar erro devido ao mau exemplo de Pedro (2:13). Se esses homens erraram, pessoas honestas podem errar em questões de fé hoje em dia.
Pedro errou porque temia “os da circuncisão”. O foco dele estava em homens e não em Deus. Deus revelou o evangelho e nos julgará por ele (João 12:47-49). Muitas pessoas praticam erro porque querem agradar seus cônjuges, pais, amigos ou pastores ao invés de focalizar Deus e sua palavra (1:10; veja Mateus 10:28).
Os judeus procuraram ser justificados por Deus devido às suas obras da lei (o Velho Testamento). Mas o evangelho de Cristo revela que homens não são justificados por obras da lei, e sim pela fé em Cristo Jesus (2:16). Enquanto Pedro tinha sido justificado pela fé em Cristo, ele voltou à prática da lei como se a sua justificação pela fé não fosse suficiente. Muitos hoje que alegam ter fé em Cristo caem no mesmo erro de Pedro: guardando o sábado, pagando o dízimo, procurando intercessão de sacerdotes e praticando outras obras baseadas na justiça da lei. Mas voltando à lei nega a graça de Cristo, e invalida a morte dele (2:21).
Obras da lei podem justificar uma pessoa somente se ela guardar perfeitamente toda a lei (veja Tiago 2:10). Cristo morreu porque todos são pecadores —tanto judeus como gentios. Todos têm desobedecido a lei de Deus (2:17; veja Romanos 3:23). Aquele que foi justificado pela fé em Cristo tem morrido para a lei, “a fim de viver para Deus” (2:19). Morrer relativamente à lei não quer dizer viver sem lei (veja 1 Coríntios 9:19-21). Antes, quer dizer fazer as obras de Deus (Efésios 2:10) como pessoa justificada, não como pessoa que procura se justificar pelas suas próprias obras. Viver pela fé exige uma vida de sacrifícios diários, para que possamos nos entregar àquele que nos justificou (2:19-20; veja Romanos 12:1-2).
Obras da lei ou pregação da fé? (3:1-5). Os gálatas haviam sido justificados pela fé em Cristo Jesus sem saber nada sobre a lei de Moisés. Seria tolice para eles voltarem a uma lei que não justifica, uma vez que já foram justificados em Cristo (3:1).
Os gálatas haviam recebido o Espírito Santo como a confirmação do evangelho (3:2; veja Marcos 16:15-20; 2 Coríntios 12:12; Hebreus 2:4). Se Deus lhes tinha confirmado o evangelho pelo Espírito, como é que eles procuraram o aperfeiçoamento através de leis que pertencem à carne: circuncisão, restrições sobre alimentos, etc. (3:3-5)?
Muitos, hoje em dia, ainda procuram a perfeição por meios carnais, impondo regras baseadas no Velho Testamento. Mas, a justificação vem somente pela fé em Cristo e obediência ao evangelho dele (veja Colossenses 2:20-23; 2 João 9).

Gálatas 3:6-29
Até Que Viesse o Cristo
Recipientes da promessa (3:6-18). No livro de Gênesis, Deus fez várias promessas a Abraão (Gênesis 12:1-3). Quando Deus confirmou essas promessas, Abraão "creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça" (3:6; Gênesis 15:6). Dessa forma percebemos que Abraão não foi justificado por guardar perfeitamente as obras da lei, e sim pela fé nas promessas de Deus (3:10-12). Mas, a promessa de bênção não foi limitada a Abraão: "Em ti, serão abençoados todos os povos" (3:8).

Deus fez a aliança para abençoar as nações com Abraão e seu descendente, o Cristo (3:16). Foi confirmada pela promessa, que Abraão aceitou (3:17,6). A lei, que entrou em vigor 430 anos depois, não anulou a promessa já dada gratuitamente a Abraão. Junto com Abraão, todos que vivem pela fé nas promessas de Deus herdam a bênção que foi prometida em Cristo muito tempo antes de existir a lei (3:9,14,18).

O propósito da lei (3:19-25). Embora a promessa de bênção já tinha sido dada, a lei foi necessária por dois motivos:

"por causa das transgressões" (3:19). A lei foi dada a Israel quando saiu do Egito, para que fosse uma nação santa, diferente das outras ao seu redor (Êxodo 19:1-6). A lei trouxe conhecimento do pecado e castigo pelo pecado para que o pecado pudesse ser evitado (veja Romanos 3:19-20; 5:13; 7:7).
"para nos conduzir a Cristo" (3:24). Uma vez que alguém transgrediu a lei, ele foi condenado porque a lei não trouxe perdão pelo pecado (3:10,21-22). Nos sacrifícios de animais, a lei serviu como sombra do perdão pelo pecado que seria realizado no perfeito sacrifício de Cristo (veja Hebreus 9:1 - 10:18). Assim, a lei foi dada para proteger contra o pecado "até que viesse o descendente a quem se fez a promessa", Cristo (3:16,19-23). A lei foi feita para guiar, não para salvar. Mesmo na época da lei, a salvação foi dada somente através do futuro sacrifício de Cristo (Hebreus 9:15).
A importância desses fatos é isto: se a lei foi dada até a vinda de Cristo, então, uma vez que ele veio, a lei não está mais em vigor (3:24-25).

Filhos e herdeiros mediante a fé (3:26-29). Uma vez que a lei não está mais em vigor, nós devemos nos tornar filhos de Deus da mesma maneira que Abraão o fez, pela fé na promessa do Cristo (3:7,26). Os filhos de Deus pela fé são aqueles que se revestiram de Cristo no batismo — uma resposta de fé (veja 1 Pedro 3:21) — e que, por isso, se uniram a ele como "herdeiros segundo a promessa" (3:27-29).



Gálatas 4:1-31
Na Plenitude do Tempo
Continuando a discussão da herança que vem pela fé e não pela lei (veja capítulo 3), Paulo utiliza duas ilustrações para esclarecer seu ponto:

1ª Ilustração: Herdeiro X Escravo (4:1-11). O herdeiro, um dia, será senhor da casa. Não obstante, enquanto é menor ele não tem nenhum direito mais do que os escravos (4:1). Até que alcance uma idade determinada pelo pai, ele continua sob a supervisão de tutores e cuidadores (4:2). Contudo, chegando à maior idade, ele recebe todos os seus direitos como herdeiro.

Em termos espirituais, tanto judeus como gentios eram menores na casa de Deus, sem direitos à herança (4:3). Mas, Deus determinou que o tempo da maior idade para ambos chegaria em Cristo (4:4-5). Em Cristo, os dois se tornam filhos e herdeiros, com todos os devidos benefícios (4:6-7).

Como menores sem Cristo, tanto judeus como gentios estavam "sujeitos aos rudimentos do mundo" (4:3). Os gentios estavam sujeitos aos falsos deuses (4:8). Os judeus estavam sujeitos a uma lei física (4:10). Porém, em Cristo, ambos são "conhecidos por Deus", reconhecidos como os verdadeiros herdeiros. Voltando à idolatria ou à lei de Moisés seria voltar à escravidão e perder a herança (4:9,11).

"Inimigo, por vos dizer a verdade?" (4:12-20). Paulo pediu que eles seguissem o seu exemplo (4:12). Ele deixou para trás tudo que ele era como judeu para adquirir as riquezas de Cristo (veja Filipenses 3:2-11). Do mesmo modo, esses judeus e gentios precisam deixar tudo para ganhar a herança em Cristo.

Paulo ficou admirado que aqueles que o aceitou quando ele pregou no início (4:13-15) agora o rejeitaram por causa da verdade (4:16). Infelizmente, muitos recebem a palavra de Deus com prontidão até que a verdade pise nas suas tradições. Devemos ser zelosos pelo bem (4:18), custe o que custar, e prontos para aceitar a verdade de Deus, mesmo se ela contradiz tudo que sempre acreditávamos.

2ª Ilustração: As duas alianças (4:21-31). Para entender melhor este trecho, veja Gênesis capítulos 16, 20 e 21. A segunda ilustração é uma forte imagem baseada na história de Isaque e Ismael. Ismael foi o filho de Abraão pela serva Agar, "segundo a carne", ou seja, através de meios perfeitamente naturais. Isaque, porém, foi o filho de Abraão e sua esposa, Sara, que já tinha passado a idade para ter filhos. O nascimento de Isaque não foi um acontecimento natural, e sim o cumprimento da promessa de Deus (4:21-23).

Paulo diz que isso é uma alegoria da nossa situação atual em Cristo. Agar representa todos que são filhos de Abraão segundo a carne —aqueles que nasceram em Israel. Estes são os escravos sob a lei (4:24-25). Mas Sára representa todos que são filhos de Abraão segundo a promessa —segundo a fé em Cristo (veja 3:26-27). Estes são os herdeiros, "filhos da promessa, como Isaque" (4:26-28). A Escritura diz que estes da promessa receberão a herança, e aqueles da carne serão lançados fora (4:30). 

Gálatas 5:1-26
Permanecei Firmes em Cristo
Paulo começou defendendo o evangelho e o seu próprio apostolado (capítulos 1 e 2). Então, ele ensinou que a justificação do pecado vem pela fé no evangelho, e não por guardar a lei de Moisés (capítulos 3 e 4). Agora, tendo apresentado o argumento que o cristão nasce à liberdade em Cristo e não à escravidão (4:21-31), ele encerra a carta com aplicações práticas da liberdade cristã (capítulos 5 e 6).
Liberdade em Cristo (5:1-12). Cristo libertou esses discípulos do rigor da lei mosaica, mas ainda corriam risco de voltar à escravidão (5:1). Paulo lhes avisou que, se eles se submetessem à lei (especificamente à circuncisão), não aproveitariam Cristo (5:2). Há dois motivos para isso. Primeiro, a pessoa é justificada pela lei somente se ela guardar “toda a lei” (5:3; veja Tiago 2:10). A circuncisão é o primeiro passo de uma lei que precisaria ser guardada inteiramente. Segundo, procurando a justificação pela lei nega a graça de Deus no sacrifício de Cristo (5:4-5). Cristo derramou seu sangue para a remissão dos pecados (veja Mateus 26:28 e Hebreus 9:11-15). As pessoas que respondem a esse sacrifício com fé ativa e amorosa são justificadas (5:5-6). Aqueles que procuram remissão dos pecados através de obras da lei decaem da graça (5:4).
Embora esses começaram na liberdade, estavam sendo impedidos de continuarem na verdade (5:7). Paulo os chamou na verdade, mas outros mudaram a mensagem (5:8). Mudando o evangelho sempre impede, ao invés de ajudar. Doutrinas falsas têm efeitos duradouros, e aqueles que as divulgam receberão punição justa (5:9-10; Tiago 3:1). Aqueles que ensinam que os cristãos precisam guardar alguma parte da lei de Moisés hoje “incitam à rebeldia” contra o evangelho de Deus (5:11-12).
Liberdade exige serviço (5:13-15). Embora há liberdade, em Cristo, da lei de Moisés, essa liberdade não quer dizer que estamos sem lei (veja 1 Coríntios 9:20-21; Tiago 1:22-25). A vida do cristão está cheia de serviço ao Senhor e aos outros: a fé “atua pelo amor”(5:6,13). Algumas igrejas estão divididos pelo ensinamento falso e acabam atacando ao invés de servirem uns aos outros (5:15). No seu “zelo” pela lei, estão negligenciando a lei em que esperavam a salvação (5:14).
Andai no Espírito (5:16-26). O Espírito e a carne são inimigos naturais (5:17). Andando no Espírito excluirá, naturalmente, andando na carne (5:16). No contexto, andar no Espírito é a mesma coisa de ser “guiados pelo Espírito”. Não é alguma experiência mística no Espírito Santo, e sim, o andar claramente delineado em contraste com o andar da carne. Aqueles que continuam nas “obras da carne” (5:19-21) não são guiados pelo Espírito de Deus, e “não herdarão o reino de Deus” (5:21). Por outro lado, aqueles que cultivam “o fruto do Espírito” (5:22-23) não recebem nenhuma condenação pela lei; são justificados (5:23). O cristão cultiva fruto espiritual porque ele se crucifica com Cristo e vive como um ressurreto, no Espírito e não na carne (5:24-25; veja Romanos 6:1-14; Colossenses 2:11-12). Aquele que não crucificou a si mesmo ainda faz as obras da carne, tentando se exaltar por meios carnais (5:26).

Gálatas 6:1-18
Levai as Cargas Uns dos Outros
Ensinamento falso estava causando divisão entre os discípulos na Galácia. Estavam atacando um ao outro (5:15) e invejosamente se exaltando uns sobre os outros (5:26), ao invés de trabalhar juntos para superar batalhas espirituais. Mas, na guerra contra o pecado, precisamos da ajuda um do outro para encorajamento e força. Em Gálatas 6, Paulo continua com as aplicações práticas na vida cristã, exortando os irmãos a ajudarem um ao outro.
Levar as cargas dos irmãos (6:1-10). Se um irmão cair no pecado, outro que "anda no Espírito" (veja 5:16,22-26) tem a responsabilidade de corrigi-lo, evitando que aquele esteja sobrecarregado pelo erro (6:1; veja Tiago 5:19-20; Judas 22-23). Ajudando o outro a superar o pecado mostra o amor que cumpre tanto a lei de Moisés como a de Cristo (6:2; veja 5:14).
A pessoa de mente carnal, porém, não ajuda o irmão caído, pois vê a oportunidade para se julgar superior (6:3; veja Lucas 18:9-14). Paulo avisa que tal autojulgamento comparativo é vão, porque cada um será julgado individualmente de acordo com seu próprio desempenho nos seus deveres (6:4-5; veja 2 Coríntios 5:10). Ironicamente, aquele que não ajuda o irmão caído a ficar em pé já se julga como irresponsável.
Em termos mais gerais, o cristão tem o dever perante Deus para fazer o bem para seus irmãos. O servo de Deus tem responsabilidade de compartilhar "todas as coisas boas" com aquele que se dedica ao ensinamento da palavra de Deus (6:6).
Com Deus, o que uma pessoa semeia é o que ela ceifará (6:7). A pessoa que desperdiça seus recursos satisfazendo desejos carnais receberá somente a herança da carne: a corrupção. Porém, aquele que usa seus recursos para o crescimento espiritual receberá a recompensa do espírito: a vida eterna (6:8-9).
O cristão tem a responsabilidade de usar todos os seus recursos (espirituais, financeiros e outros) de um modo que agrada a Deus. A responsabilidade individual de fazer "o bem a todos" (6:10) incluirá ajuda ao irmão caído (6:1), apoio a um pregador do evangelho (6:6) ou dar ajuda a qualquer um que precisa.

O Israel de Deus (6:11-18). Aqueles na Galácia que exigiam a circuncisão para a salvação não estavam realmente interessados em ajudar as pessoas ensinadas, nem em guardar eles mesmos a lei de Moisés. Eles queriam evitar a perseguição pelos judeus (6:12-13; veja 2:11-14; 5:3,14-15). Eles se gloriaram na carne dos seus "convertidos", e não na cruz de Cristo (6:13-14). Muitos hoje ainda gloriam na carne dos seus convertidos, usando um evangelho carnal para atrair grandes números de pessoas, ao invés de ensinar a verdade de Cristo e sofrer a perseguição da cruz (6:14; 2 Timóteo 3:12-13). A verdadeira conversão vem, não por meios carnais, e sim na circuncisão do coração, para se tornar uma nova criatura (6:15; veja Colossenses 2:11-15). O "Israel de Deus" são aqueles que andam segundo esta nova criação em Cristo. Estes não levam as marcas da circuncisão na sua carne, e sim as marcas de Jesus numa vida transformada (6:16-17; veja 5:22-25; Romanos 2:28-29).