O L I V R O
D E A M Ó S
O PROFETA AMÓS
O Profeta Amós era de Tecoa,
aldeia situada a cerca de 20
Km ao sul de Jerusalém. Era um simples leigo, não era
filho de profeta, e nem sacerdote, nem membro da escola de profetas. Amós era
boeiro, ou seja, boiadeiro e colhedor de sicômoros, mas um homem instruído,
pois seu livro revela sua capacidade literária. Era um profeta fazendeiro e também
vendedor de lã.
Encontramos em Amós um dos muitos
exemplos em que Deus
chama um homem ocupado para fazer a sua obra. (1.1). Deus o chamou de laço em
mão e mandou que enlaçasse seu povo transviado.
Amós era contemporâneo do Profeta
Jonas e possivelmente do Profeta Elias e quando sua obra estava chegando ao fim
surgiram Isaías e Miquéia. Estes profetas quando meninos devem te ouvido Amós
pregar para o povo em uma de suas viagens.
Quando Amós profetizou, Uzias
ocupava o trono de Judá e Jeroboão II era rei de Israel. Foi uma época de
grande prosperidade, época em que as fronteiras do reino de Davi foram
reconquistadas e circulava dinheiro em abundancia e os exércitos eram
vitoriosos. Amós e Oséias profetizaram para Israel, o reino do Norte e Isaías e
Miquéias para Judá, o reino do Sul. Este humilde pregador do campo deixou seu
lar em Judá e viajou 35 Km
até Betel, no reino do Norte, para pregar a Israel.
A GUERRA CONTRA O PECADO
Amós seria o mais impopular dos
homens, “o proclamador de calamidades” que teria que pregar contra o pecado de
Jeroboão II, o qual levou o povo de Israel à idolatria. Amós , boiadeiro rude,
tinha em sua pessoa algo dessa franqueza que revigorara, era direto e não
deixava de dizer nem mesmo ao Rei Jeroboão II, o que devia fazer. Deus queria
alguém que levasse sua mensagem com intrepidez, e Amós não falhou. Israel precisava
de um profeta que tirasse dos olhos as escamas, afim de que pudessem ver as
inevitáveis conseqüências de sua idolatria.
Sempre que se pergunta por que um
império caiu, a resposta é “pecado”. O segredo da ruína de um homem é o pecado.
Por que Deus mandou Amós para
Betel. Pois sem dúvida Jerusalém precisava de seu ministério. Deus, porém,
queria que o reino de Israel ouvisse uma vigorosa palavra de advertência e
Betel era a capital religiosa do Norte e ali a idolatria predominava. Tinham instituído o culto devido ao
Senhor, pela adoração do bezerro e o povo não sentia necessidade de pregação. I
Reis 12.25-33.
O Profeta Amós começou a pregar em
Betel nos dias de festas sagradas e proclamou o juízo de Deus a seis nações
vizinhas: Damasco (Síria), Gaza (Felístia), Tiro (Fenícia, Edon, Amom e Moabe.
Depois, chega-se para mais perto e pronuncia juízo contra Judá (2.4) e contra o
próprio Israel (2.6), e finalmente contra a nação inteira (3.12).
ADVERTENCIAS CONTRA AS NAÇÕES
Amós denunciou o pecado de Israel
de um modo mais vivido do que o Profeta Oséias, fala-lhe do seu viver ocioso,
descuidado e luxuoso; da opressão contra os pobres; da mentira e da fraude e
pior que tudo, a hipocrisia no culto, e Deus se entristece, pois, o povo não
dava ouvidos as Suas advertências. “Contudo não vos convertestes a mim, disse o
Senhor”. (4.6). “Buscai-me e vivei” (5.4).
O livro de Amós começa com juízo
contra as nações que rodeiam Israel:
·
Damasco ameaçada
por ter invadido Israel (Amós 1.3; II
Reis 10.32-33)
·
Gaza e Tiro por
conspirarem com Edom na invasão de Judá (Amós 1.6,9 ; II Cron.21.16-17, 28.18)
·
Edom por
continuar a hostilidade (Amós 1.11 ; Obadias 10.12)
·
Amom por atacar
Gileade (Amós 1.13)
·
Moabe por
práticas pagãs (Amós 2.1 ; II Reis 3.27)
·
Judá por se
esquecer da Lei de Deus (Amós 2.4 ; II Cron. 36.19 ; II Reis 25.9)
·
Israel por sua
injustiça (Amós 2.6 ; II Reis 17.17-23)
Por mais que as nações do
mundo posam ser poderosas, não podem suportar os juízos de Deus. Deus
estabelece reinos e os derruba.
JUÍZO CONTRA ISRAEL
Amós diz a Israel que eles são
gananciosos, injustos, impuros e profanos, (2.6-12) e que se defendem e
desculpam apoiando-se no fato de serem povo escolhido de Deus (3.2).
Vangloriavam-se de serem a nação escolhida e nada de mal lhes podia acontecer.
Amós lembra a eles que isso torna mais grave o seu pecado. (4.1 ; 5.4-6 ,
5.21).
Somente no exílio Israel se
libertou desse pecado, e o castigo que recaiu sobre Israel foi a destruição de
Jerusalém por Nabucodonosor (Amós 2.5).
Após Amós ter profetizado a
Jeroboão por meio do sacerdote Amazias de Betel, dizendo que o rei morreria à
espada, foi repreendido e expulso de Israel, e quando descobriu que Israel não
ia ouvi-lo, regressou a Judá e pôs os seus escritos em forma de livro, de sorte
que todos pudessem ler e compreender.
E
S T U D A N D O O L I V R O
O livro de
Amós pertence ao Antigo testamento da Bíblia, vem depois
do Livro de Joel e antes do Livro de Obadias. A profecia
deste livro da Bíblia hebraica foi dirigida primariamente
ao reino setentrional de Israel. Pelo que parece, foi primeiro proferida
oralmente, durante os reinados de Jeroboão II e de Uzias, respectivamente
reis de Israel e Judá, cujos reinados coincidiram entre 829 e cerca
de 804 a.C. (Am 1:1). Por volta de 804 a.C. foi assentada por
escrito, presumivelmente após o profeta voltar a Judá.
Estudo Sobre o Livro
A canonicidade deste
livro, ou sua reivindicação de um legítimo lugar na Bíblia, jamais foi
questionada e sempre defendida. Desde os tempos primitivos, foi aceito
pelos judeus, e aparece nos mais antigos catálogos cristãos. Justino,
o Mártir, do século II, citou Amós em seu Dialogue With Trypho, a
Jew (Diálogo com Trífon, um Judeu, cap. XXII). O próprio livro se acha em
completo acordo com o restante da Bíblia, conforme indicado pelas muitas
referências do escritor à história bíblica e às leis de Moisés. (Am 1:11;
2:8-10; 4:11; 5:22, 25; 8:5). Os cristãos do primeiro século aceitavam os
escritos de Amós como Escritura inspirada. Por exemplo, o
mártir Estevão (At 7:42, 43; Am 5:25-27), e Tiago, irmão de
Jesus (At 15:13-19; Am 9:11, 12), mencionaram o cumprimento de algumas
das profecias.
Outros eventos históricos
atestam, de forma similar, a veracidade do profeta. É fato histórico que todas
as nações condenadas por Amós foram, no devido tempo, devoradas pelo fogo da
destruição. A própria grandemente fortificada cidade de Samaria foi sitiada
e capturada em 740 a.C., e o exército assírio levou os habitantes "para o
exílio além de Damasco", conforme predito por Amós. (Am 5:27; 2Rs
17:5, 6) Judá, ao sul, recebeu igualmente a devida punição quando foi destruída
em 607 a.C. (Am 2:5) E, fiel à palavra de Jeová mediante Amós,
descendentes cativos tanto de Israel como de Judá voltaram em 537
a.C. para reconstruir sua terra natal. — Am 9:14; Esd 3:1.
Plano da Obra
Depois do título (1:1) e uma
breve introdução (1:2), inicia-se uma série de oráculos (1:3-2:16) contra as
nações vizinhas que é feito em várias direções seguindo uma simetria de pontos
opostos: Damasco, a nordeste; Gaza, no poente; Tiro, a
noroeste; Edom, a sudeste e Amon e Moab no nascente,
por suas crueldades entre si e até mesmo, o mais extenso deles,
contra Israel. Há condenações contra Judá e Israel, por
sua idolatria.
Os capítulos de 3 a 6
condenam Israel por sua hipocrisia (porque apesar de terem cometido
idolatria, ainda realizavam as festas do Pentateuco) e injustiça social,
merecendo destaque o discurso contra a impenitência
de Israel (4:6-13), as palavras contra o culto
de Betel (4:4-5; 5:4-5.21-27), as denúncias contra a injustiça social
(3:9-11; 4:1-3), contra o orgulho e as falsas seguranças (3:1-22; 5:18-20;
6:1-7.13-14).
São sete os crimes de Israel:
"vendem o justo
(tsaddîq) por prata": desprezo ao devedor
"o indigente ('ebyôn)
por um par de sandálias": escravização por dívidas ridículas
"esmagam sobre o pó da
terra a cabeça dos fracos (dallîm)": humilhação/opressão dos pobres
"tornam torto o caminho
dos pobres ('anawim)": desprezo pelos humildes
"um homem e seu filho
vão à mesma jovem": opressão dos fracos (das empregadas/escravas)
"se estendem sobre
vestes penhoradas, ao lado de qualquer altar": falta de misericórdia nos
empréstimos
"bebem vinho daqueles
que estão sujeitos a multas, na casa de seu deus": mau uso dos impostos
(ou multas).
Amós, com os termos tsaddîq
(justo), 'ebyôn (indigente), dal (fraco) e 'anaw (pobre), designa as principais
vítimas da opressão na sua época. Sob estes termos Amós aponta o pequeno
camponês, pobre, com o mínimo para sobreviver e que corre sério risco de perder
casa, terra e liberdade com a política expansionista de Jeroboão II. É em
sua defesa que Amós vai profetizar.
Está em 4:1, "ouvi esta
palavra vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os
pobres, que quebrantais os necessitados…". O apelo por justiça é o tema
mais conhecido deste livro, porque evidencia a condenação de Deus aos que
ficaram ricos através da corrupção.
No capítulo 7, o autor nos
informa que foi chamado à corte do rei Jeroboão II para explicar suas
profecias, que eram desfavoráveis ao rei. Ele acaba não sendo punido e acaba
advertindo o rei.
O livro termina com uma
mensagem de que, apesar de Deus castigar a Israel, Deus irá restaurar a nação,
quando ela se voltar a Deus.
Conteúdo do Livro
Aproximadamente no 760
AC, Amós (nome que em hebraico significa "levar"
e que parece ser uma forma abreviada da expressão Amosiá, que significa Deus
levou) que era um vaqueiro e cultivador de sicômoros (7:14), um fruto
comestível que se parece com o figo, cujas frutas devem ser arranhadas com a
unha ou com um objeto de metal antes de amadurecerem para que fiquem doces,
em Técua (Teqoa), nos limites do deserto de Judá (1:1),
perto de Bet-Lehem, era povoado situado a menos de 20 Km ao sul de Jerusalém,
caiu na arapuca de Deus (3:5), deixou sua vida tranquila e foi anunciar e
denunciar no Reino de Israel Setentrional, durante o reinado
de Jeroboão II (1:1) no Reino de Israel Setentrional (787-747 AC) e
de Ozias em Judá (781-740 AC). Um leão começava a rugir (3:8):
era Javé que colocava em polvorosa todo um regime de injustiças.
Menos de um século antes da
pregação de Amós, tinha acontecido no Reino de Israel
Setentrional um golpe militar, promovido por um antepassado
de Jeroboão II, o general Jeú, que, ao romper os acordos com os
vizinhos, jogara o país em profunda dependência, especialmente da grande
rival Damasco, governada por arameus. O Reino de Israel Setentrional levou
muito tempo para recuperar a sua autonomia. E isto começou com o rei Joás,
pai de Jeroboão II, que governou entre 797 e 782 AC.
O reinado de Jeroboão
II (783 - 743 AC), era uma época aparentemente gloriosa para o Reino
de Israel Setentrional que ampliava seus domínios (2 Rs 14:25)
(6:1-3.13-14), certamente tomou Damasco e submeteu
a Síria ao seu poder, e enriquecia, entretanto, o sistema
administrativo adotado por Jeroboão II provocou a concentração da renda nas
mãos de poucos privilegiados com o consequente empobrecimento da maioria da
população, os pequenos agricultores ficavam tão endividados que chegavam à
escravidão para pagar suas dívidas. Os tribunais, que teoricamente deveriam
defendê-los da exploração dos mais poderosos, bem pagos por quem podia,
decidiam sempre a favor dos ricos.
Nesse contexto, o luxo dos
ricos insultava a miséria dos oprimidos e o esplendor do culto disfarçava a
ausência de uma religião verdadeira. Amós denunciava essa situação
com a rudeza simples e altiva e com a riqueza de imagens típica de um homem do
campo.
Amós, após um curto período
de pregação de no máximo alguns meses, acabou sendo expulso, mas antes rogou
uma praga em cima do sacerdote Amasias, que presidia o culto
em Betel, de acordo com a vontade do rei (7:10-17).
A palavra
de Amós incomodava porque ele anunciava que o julgamento de Deus iria
atingir não só as nações pagãs, mas também, e principalmente, o povo escolhido;
este já se considerava salvo, mas na prática era pior do que os pagãos
(1:3-2:16). Amós não se contentava em denunciar genericamente a injustiça
social, ele denunciava especificamente:
· Os ricos que acumulavam cada vez
mais, para viverem em mansões e palácios (3:13-15; 6:1-7), criando um regime de
opressão (3:10);
· As mulheres ricas que, para viverem
no luxo, estimulavam seus maridos a explorar os fracos (4:1-3);
· Os que roubavam e exploravam e depois
iam ao santuário orar, pagar dízimo, dar esmolas para aplacar a própria
consciência (4:4-12; 5:21-27);
· Os juízes que julgavam de acordo com
o dinheiro que recebiam dos subornos (2:6-7; 4:1; 5:7.10-13);
· Os comerciantes ladrões e os
atravessadores sem escrúpulo que deixavam os pobres sem possibilidades de
comprar e vender as mercadorias por preço justo (8:4-8).
· Além disso, Amós denunciava
a falsa segurança posta em ritos, nos quais a alma não se compromete (4:4-5;
5:4-5.21-27).
Em cinco visões, Amós
anuncia o fim do Reino de Israel Setentrional, porque a situação era
insustentável diante de Deus (os gafanhotos 7:1-3 e o fogo 7:4-6; o estanho
7:7-9 e o fim do verão 8:1-3; a visão do santuário 9:1-4).
Muitos especialistas de
renome acreditam que, para se captar bem a mensagem de Amós, você deve
começar a leitura do seu livro por essas cinco visões simbólicas. Estas visões
parecem ser sinais que o profeta percebe no cotidiano da vida e simbolizam a
situação da nação israelita. Elas vão fazendo nascer em Amós uma
conscientização do que está acontecendo e acabam determinando sua decisão de
deixar sua casa e seu trabalho e ir anunciar o castigo e a ruína do país.
Falando de outro jeito: as visões cumprem, em Amós, o mesmo papel dos textos de
vocação em Isaías, Jeremias ou Ezequiel. Amós via,
certamente, coisas absolutamente comuns na região, como uma praga de
gafanhotos, uma seca, um cesto de frutas maduras e coisas assim. Mas, como ele
estava preocupado com o destino do país, "antenado" na situação do
povo, estas coisas viravam símbolos do que estava acontecendo ou por acontecer
com Israel.
Em
7:1-3, Amós conta que um dia viu uma praga de gafanhotos destruindo
as plantações dos agricultores. E isto acontecia depois que o feno destinado ao
pagamento do tributo ao palácio do rei já tinha sido cortado. Os gafanhotos,
que têm alto poder de destruição, estavam piorando a situação dos agricultores,
levando-os à fome. Pois estes já eram muito explorados pelo governo que, todo
ano, tomava boa parte do que produziam. Amós, compadecido, apela a Iahweh,
argumentando que os agricultores eram frágeis demais para sofrer tal ameaça de
fome. E Iahweh, segundo o profeta, revoga o castigo.
Em 7:4-6, Amós vê
um incêndio terrível que, de tão forte, consome até as fontes subterrâneas de
água depois de ter acabado com os campos. Novamente Amós apela
a Iahweh para que suspenda a praga, porque a ameaça agora é de grande
seca, penalizando os fracos agricultores de sua época. Esta visão se parece
muito, no seu jeito, com a dos gafanhotos. Elas formam um par. Mostram a
realidade da roça na época de Amós, quando os pequenos agricultores sofrem
muitas ameaças, sejam naturais, sejam da exploração que vinha lá de cima, do governo.
Amós diz que Iahweh tem compaixão dos pequenos e retira os castigos que os
ameaçam. Mas os mecanismos sociais que
provocam fome e sede no campo? Estes permanecem... Por isso a gente diz que
estas duas visões são indicadores do nível de consciência profética de Amós no
que se refere ao campo.
Em
7:7-9 Amós vê Iahweh verificando o alinhamento de um muro
com um fio de prumo. O muro simboliza Israel que está torto e deverá
ser demolido para ser realinhado, porque muro torto não tem conserto. Só
derrubando. Desta vez Amós não intercede e a certeza do castigo torna-se mais
forte.
Em 8:1-3, Amós vê
um cesto de frutas maduras e isto simboliza para ele o fim de Israel. Cabe
observar que em hebraico, língua que ele falava, "frutas
maduras" é qayits, enquanto que "fim" é qets, ou seja, duas
palavras com sons parecidos. Também desta vez Amós não pede nada a Iahweh.
Esta visão forma um par com a visão de 7:7-9, porque estas duas chamam atenção
para a gravidade da situação e para a proximidade do fim do Reino de Israel
Setentrional, cabendo observar que não trazem uma cena rural, pois estas duas
visões trazem cenas urbanas: sofrem com os castigos a cidade, os santuários, o
palácio. Para este grupo não há intercessão de Amós. É uma realidade corrupta
que não tem conserto.
Na quinta
visão, Amós conta que, desta vez, é o próprio Iahweh quem
atua e de modo dramático. De pé sobre o altar dos holocaustos - portanto,
diante do edifício do santuário - ele bate nos capitéis, provocando um
terremoto que destrói o santuário e mata as pessoas que estão ali dentro. Não
há possibilidade de fuga, garante o texto. Esta visão é o ponto máximo deste
ciclo. O próprio Iahweh volta-se contra o local no qual se lhe presta culto. É
porque, na visão de Amós, o santuário (de Betel) traiu seu papel de
conduzir o povo a Iahweh e à vida. Tornou-se um lugar de culto sem sentido,
amparando e ocultando as múltiplas opressões e injustiças que se cometem no
país.
O livro
de Amós termina com uma mensagem de esperança (9:11-15). Tal
esperança foi vislumbrada pelos judeus que, dois séculos depois, se encontravam
na Babilônia e acrescentaram este trecho, conscientes de se terem
purificado do seu pecado, no amargor do exílio.
RECAPITULANDO...
O PROFETA DA INJUSTIÇA SOCIAL
Amós é o
contemporâneo mais velho de Miquéias e Oséias e foi o primeiro dos
profetas escritores. Seu nome significa “aquele que leva cargas pesadas”. Amós
era criador de gado e produtor de figos numa vila ao sul de Jerusalém chamada
Tecoa. Amós recusou-se a ser chamado de profeta evidenciando a sua ruptura com
as instituições formais de seu tempo: o palácio real e o templo (7:14-15).
Essa independência
institucional permitiu a Amós proclamar a Palavra de Deus livremente sem
nenhuma preocupação com a opinião pública ou interesses escusos. Nada mais se
sabe sobre Amós. Alguns eruditos presumem que, após o pronunciamento de seus
oráculos, tenha voltado para Tecoa, editado e redigido suas palavras tal como
as temos hoje. Outros ainda afirmam que discípulos que o tenham seguido registraram
seus oráculos.
Talvez o terremoto mencionado
em 1:1 tenha despertado Amós a publicar seu texto uma vez que o verso 9:1
parece indicar um cumprimento parcial da profecia a Israel, isto é, a revelação
do Senhor havia sido dada dois anos antes do terremoto citado e a publicação
dos seus oráculos aconteceu em um momento posterior. Este terremoto
provavelmente foi um acontecimento de grandes proporções, pois fora lembrado
dois séculos depois como o “terremoto dos dias de Uzias” (Zc. 14:5).
O ministério de Amós aconteceu
entre os anos de 760 a 750 a.C. durante o reinado de Jeroboão II no Reino do
Norte (Israel) e de Uzias no Reino do Sul (Judá). Este foi um período muito
próspero para Israel e Judá pois não havia a ameaça da Síria, que havia sido
vencida pela Assíria décadas antes. Por sua vez a Assíria também passava por
problemas internos em virtude dos conflitos com a Síria, e não
apresentava mais perigo.
O resultado deste ambiente de
estabilidade política proporcionou condições para que os reis Jeroboão II
(Israel) e Uzias (Judá) expandissem novamente as fronteiras da Palestina
chegando nos mesmos limites dos reis Davi e Salomão (2 Rs. 14:25). Isso
possibilitou a retomada do comércio internacional e da agricultura
proporcionando, desta forma, a estabilidade econômica (Am. 4:1-3).
Entretanto,
a segurança política e econômica favoreceu apenas os comerciantes e a
corte, pois o povo sustentava toda essa estrutura por meio da injustiça social
e escravidão. O resultado disso foi a miséria do povo (2 Rs. 14:26; Am. 2:6;
8:6).
Ironicamente, a religiosidade
era volumosa (Am. 4:4-5; 5:21-23), porém tornou-se mecânica e distante da
presença real de Javé. Amós, tal qual Isaías, enxergou além da superficialidade
econômica e social que beneficiava apenas alguns poucos em detrimento da
pobreza de muitos (Is. 3:13-15). Da mesma forma, o profeta Oséias, 10 anos
depois, condenaria de maneira enérgica estes mesmos pecados.
Para Amós, a prosperidade
agrícola serviu apenas para comparar Israel com um cesto de frutas maduras,
prontas para a execução do julgamento divino (Am. 8:2-3).
Estrutura de Amós
O
livro do profeta Amós pode ser estruturado da seguinte maneira:
·
Apresentação do tema – 1:1-2
·
Os sete oráculos de julgamento contra as nações – 1:3 – 2:16
o
Damasco – 1:3-5
o
Gaza – 1:6-8
o
Tiro – 1:9-10
o
Edom – 1:11-12
o
Amon – 1:13-15
o
Moabe – 2:1-3
o
Judá – 2:4-5
o
Israel – 2:6-16
·
Oráculos de julgamento contra Israel – 3:1 – 6:14
o
Acusação – 3:1; 4:1; 5:1
o
Ameaça – 3:11; 4:12; 5:16
o
O conceito errado do Dia do Senhor – 5;18-27
o
A falsa segurança material – 6:1-14
·
As visões de julgamento de Israel – 7:1 – 9:10
o
Primeira visão: a praga de gafanhotos – 7:1-3
o
Segunda visão: o fogo devorador – 7:4-6
o
Terceira visão: o prumo de Javé – 7:7-9
o
O desafio de Amazias a Amós – 7:10-17
o
Quarta visão: o cesto de frutas maduras – 8:1-3
o
Interlúdio profético: mais oráculos de julgamento –
8:4-14
o
Quinta visão: O Senhor junto ao altar – 9:1-10
·
Promessas de restauração – 9:11-15
o
Restauração do reino de Davi – 9:11-12
o
Restauração material – 9:13-15
Embora fosse um homem do
campo, o profeta Amós possuía habilidade literária. Podemos perceber isso pelo
uso que o profeta faz de ironias em sua retórica e pela fórmula x, x + 1 nos
oráculos contra as nações (Am. 1:3,6,9,11). Este padrão pode indicar que cada
nação havia pecado mais do que o suficiente para a execução do juízo
divino, isto é, a misericórdia do Senhor fora demonstrada e não se tratava de
uma ação arbitrária de Javé. Todas as acusações contra as nações, incluindo
Israel (Am. 2:6), eram baseadas em crimes contra a humanidade. Apenas Judá foi
acusada de rejeitar a Lei e desobedecer aos decretos da Aliança.
Outra característica
literária de Amós são seus oráculos visionários. O profeta realmente havia
visto as palavras que deixou registradas. Além disso sua mensagem era viva e
vibrante, pois Amós falava daquilo com o qual estava acostumado.
Entretanto Amós também se
utilizou da literatura lírica (Am. 5:1-2) e de doxologias (glorificação de
Deus) (Am. 4:13; 5:8-9; 9:5-6) mostrando sua aptidão poética e musical. Esses
trechos podem ainda ser canções da época.
Fórmulas de juramento (O
Senhor, o soberano, jurou – 4:2), de proclamação (Ouçam – 4:1) e revelação (o
Senhor, o soberano, me mostrou – 7:1) são frequentemente usadas e padronizadas.
O livro é composto por quatro seções fundamentais:
Oito oráculos contra as
nações – 1:3 a 2:16
Cinco profecias – 3 a 6
Cinco visões proféticas – 7:1
a 9:10
Restauração de Israel –
9:11-15
A dinâmica do livro é dada
pelos oráculos contra as nações e Israel provavelmente se surpreende por ouvir
seu nome entre os culpados. A surpresa aumenta nos capítulos seguintes pois o
tom é mudado de ameaça para a certeza do juízo divino (Am. 6:7).
Esses oráculos condenatórios
foram dirigidos para a corte real (governo), a nobreza (empresários) e para o
sacerdócio (religiosos). Cada oráculo é composto das características comuns da
denúncia profética:
Fórmula do mensageiro de
Javé: “Assim diz o Senhor”
Apontamento do pecado
Transição: “por isso”, “eis
que”, “portanto”
Ameaças de julgamento
Anúncio da punição
Neste caso específico, Amós
se dedicou a destacar os crimes propriamente ditos, com detalhes
impressionantes. A série de sentenças estão em: Am. 2:13-16; 3:12-15; 4:12;
5:16-17; 6:7-11.
A partir do capítulo sete,
com as visões, a acusação sai de cena para a ênfase no julgamento. Agora o
livro passa a descrever longos julgamentos com a descrição detalhada dos
pecados para justificar a punição inevitável.
Como toda palavra profética,
Amós termina seus oráculos com salvação e restauração. Entretanto, a salvação
não substituiria a punição, mas viria após a punição. O reino de Davi seria
restaurado como cumprimento da promessa a Davi (2 Sm. 7; Am. 9:11-12).
Propósito e conteúdo
O livro de Amós aborda os
seguintes temas:
Javé cobra as nações sobre
sua política social
A justiça social é resultado
da verdadeira adoração
O julgamento de Javé também
atingirá Israel
Javé restaurará um
remanescente de Israel
O quadro de idolatria e
injustiça social levaram Amós a sair de Judá, Reino do Sul, para Israel, Reino
do Norte. O resumo de sua mensagem está registrado no verso 8:2.
Amós transmite seus oráculos
de forma lógica e ordenada, por meio de quatro mensagens, fundamentadas no
julgamento e exílio de Israel, conforme abaixo:
Primeira mensagem (2:6-16): O
pecado de Israel é apontado e a consequência será a sua destruição como
cumprimento da desobediência à Aliança. Israel achava que o Senhor não puniria
seu povo; logo, Amós desmistificou esta visão que os israelitas tinham de Deus.
Segunda mensagem (3:1 –
6:14): A injustiça social e a falsidade religiosa são condenadas. Amós apela ao
povo para que se arrependam e retornem aos padrões da Aliança. A ideia do Dia
do Senhor como um dia de bênção também é corrigida (Am. 5:18-20).
Terceira mensagem (7:1 –
9:4): Para confirmar os oráculos do profeta, são apresentadas cinco visões que
destacam a ira e o julgamento do Senhor contra Israel e a certeza de sua
destruição.
Quarta mensagem (9:5-15):
Término do ministério de Amós e a esperança da restauração de Israel como prova
do amor do Senhor é anunciada. O julgamento não duraria para sempre.
Justiça Social
Amós resgatou as estipulações
da Aliança que incluía o aspecto ético em relação do próximo como
parte do amor a Deus. Por isso ele apela em favor de todos os pobres,
injustiçados e oprimidos pelos ricos, comerciantes desonestos, líderes
corruptos, juízes sem escrúpulos e falsos sacerdotes (4:1; 6:1,4; 7:8-9).
Amós fornece diretivas
essenciais para a ação social da Igreja na comunidade onde está inserida. De
acordo com Amós, o povo escolhido de Deus deve primar pela justiça social como
um aspecto essencial da Aliança.
Ensino sobre serviço e ação
social em Amós
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Serviço social
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Ação social
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Alivio da necessidade
humana (5:12)
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Remoção da necessidade
humana (8:4-6)
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Atividade de filantropia
(4:5; 6:4-7)
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Atividade política e
econômica (5:10,11,15)
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Ajuda individual e familiar
(4:1; 5:6-7)
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Transformação das
estruturas da sociedade (4:4-5; 7:7-9)
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Obras de misericórdia (4:1;
6:4-7)
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Busca pela justiça (2:6-8;
5:7,24; 6:12)
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Não
podemos apenas associar Amós com seu clamor pela justiça social. O profeta
clama por justiça a partir do seu elevado senso ético da Aliança de Javé com
seu povo, que passava pelo amor ao próximo.
Para
Amós, a injustiça social era reflexo da falta de importância que os israelitas
deram às estipulações da Aliança, e, antes de não amarem ao próximo, na
realidade, não amavam a Deus em primeiro lugar.
Os
crimes contra a humanidade, que foram condenados em todas as nações eram pecado
contra o próprio Criador de todos os seres humanos.
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