terça-feira, 16 de agosto de 2016

O L I V R O A P Ó C R I F O D E J U D I T E

O    L I V R O    D E    J U D I T E

Judite é um dos livros deuterocanônicos do antigo testamento da Bíblia católica.  Possui 16 capítulos. Vem depois do livro de Tobias e antes do livro de Ester.
A Edição Pastoral da Bíblia sustenta que trata-se de uma história fictícia composta para encorajar o povo a resistir e lutar, escrita provavelmente em meados do séc. II AC, durante a resistência dos Macabeus ou logo após. O livro apresenta a situação difícil do povo, oprimido por uma grande potência. Por trás de Nabucodonosor e seu império, podemos entrever a figura de qualquer dominador com seu sistema de opressão.
De acordo com a Jewish Encyclopedia, o autor do livro demonstra farto conhecimento da geografia mundial e das escrituras, no entanto ele comete o erro crasso de iniciar a história dizendo que ela se passa no décimo-segundo ano de Nabucodonosor, rei dos assírios em Nínive, e em uma época depois do retorno dos judeus do exílio; isto seria uma forma de dizer ao leitor que o livro é ficção, e não história.
Por outro lado, a Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que o livro teria sido escrito no final do século II AC, ou mais tarde, e que se baseia em fatos reais que teriam ocorrido durante a dominação persa, trata-se de um Midrash, no qual um núcleo que pode ser real é tratado com muita liberdade, amplificado por novos episódios fictícios, fecundado por alusões a textos bíblicos. Sendo que no caso do Livro de Judite cogita-se que o autor teria se inspirado: na astúcia de Tamar (Gn 38), no assassinato de Eglon por Ehud (Jz 3:12-30), e de Siserá por Iael (Jz 4-Jz 5), no combate entre David e Golias (I Sm 17), na intervenção de Abigáil junto a David I Sm 25), entre outros.
De acordo com James Ussher, os eventos descritos no livro ocorreram nos anos 657 a.C. e 656 a.C. 
Ussher interpreta Nabucodonosor, citado neste livro, como um nome genérico usado para os reis da Babilônia, e identifica o rei da Assíria e da Babilônia como sendo Saosduchinus, que governou a Assíria e a Babilônia por vinte anos, a partir de 668 a.C.

CANOCIDADE
Numerosas citações atestam que havia um uso difundido do Livro de Judite entre os primeiros cristãos, que foi incluído em uma lista de livros canônicos que é atribuída ao Papa Inocêncio I e data de 405. O Novo Testamento não cita o Livro de Judite, mas há semelhanças de pensamento que indicam que o livro era conhecido pela primeira geração de cristãos, tais como: Jt 1,11 e Lc 20, 11; Jt 8,6, Lc 2,37 e I Tm 5,5; Jt 8,14 e I Cor 2,11; Jt 8,25 e Tg 1,2; Jt 13,18 e Lc 1,42; Jt 13,19 e Mt 26,13.
O Livro de Judite não existe na Bíblia hebraica, e consequentemente é excluída da Canon protestante da Sagrada Escritura. Mas a Igreja sempre manteve a sua canonicidade.
São Jerônimo, enquanto em teoria rejeitando os livros que ele não encontrou, em seu manuscrito hebraico, consentiu a traduzir Judite porque “o Sínodo de Niceia contou como Sagrada Escritura” (Praef. in Lib.). É verdade que essa declaração não pode ser encontrada nos Cânones de Nicéia, e é incerto se São Jerônimo está se referindo à utilização do livro nas discussões do concílio, ou se ele foi enganado por alguns cânones espúrios atribuídos a esse concílio, mas é certo que os Padres dos primeiros tempos  reconheceram Judite entre os livros canônicos; Assim, São Paulo parece citar o texto grego de Judite 8,14, em I Coríntios 2, 10 (cf. também 1 Coríntios 10, 10, com Judite 8, 25). Na Igreja Cristã vamos encontrá-lo citado como parte da Escritura na redação de São Clemente de Roma (Primeira Epístola aos Coríntios, LV), Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano.

CONTEÚDO
O livro relata a história de uma piedosa viúva que sai da cidade cercada e dirige-se ao acampamento do exército inimigo, com sua beleza envolve o comandante Holofernes, que se embriaga durante um banquete e tem sua cabeça cortada pela heroína desta história.
Os três primeiros capítulos (Jt 1-Jt 3 descrevem os mecanismos de dominação das grandes potências: aparato militar, demonstração de força, intimidação, e também mostram como os pequenos países, intimidados, se submetem a tais pressões. A prepotência se torna verdadeiro ídolo, que exige adoração.
Nos 4 capítulos (Jt 4 - Jt 7), é apresentado um país pequeno que, apesar de dominado, se prepara para reagir, através de uma fé prática, e por outro lado, descreve a irritação do opressor, que não admite insubmissão e despreza o Deus libertador presente na história. O oprimido se vê tentado a fazer as pazes e a se conformar com a escravidão.
Nos capítulos 8 e 9, a figura de Judite sugere dois símbolos que se complementam: a mulher corajosa que sai em defesa de seu povo oprimido e o próprio povo que renova sua força e fé, liderado por gente que enfrenta a covardia das autoridades e sai à luta.
Nos capítulos 10 a 13, a beleza e artimanhas de Judite simbolizam a fé, que não dispensa os meios políticos na luta para eliminar os mecanismos centrais de repressão (cabeça de Holofernes). Diante de uma primeira vitória, os outros (Aquior) se unem porque começam a ter fé no Deus que liberta. Por fim, a vitória comemorada reacende o ideal de liberdade e o prazer de louvar o Deus verdadeiro, que vence os ídolos opressores.
Diante da opressão, surge a questão do como proceder, havendo a alternativa de refugiar-se na fé, esperando que Deus resolva a situação ou entrar no jogo da história, combatendo os poderosos com as mesmas armas. Cabendo refletir até que ponto Deus está presente na passividade ou na atividade histórica do seu povo.
Nesse contexto, o Livro de Judite indica que a fé autêntica é aquela que encarna a fidelidade a Deus e ao seu projeto dentro da situação histórica concreta em que o povo está vivendo. Deus estará sempre aliado com aqueles que lutam para conquistar a liberdade e a vida, procurando destruir toda e qualquer forma de escravidão e morte. Tal luta, porém, não deve realizar-se de forma temerária. É preciso agir com discernimento, para realizar ação verdadeiramente eficaz, coerente com a fé que leva para a vida.

HISTÓRIA
Nabucodonosor, rei de Nínive, envia seu geral Holofernes para subjugar os judeus. O último assedia-os em Betúlia, uma cidade à beira do sul da planície de Esdrelon. Achior, o amonita, que fala em defesa dos judeus, é maltratado por ele e enviado para a cidade sitiada para aguardar sua punição feita por Holofernes. A fome mina a coragem dos encurralados e eles resolvem se renderem, mas Judite, uma viúva, repreende-os e diz que vai deixar a cidade. Ela vai para o acampamento dos assírios e Holofernes cativo pela sua beleza, e finalmente, tira proveito da intoxicação do general para cortar-lhe a cabeça. Ela retorna para a cidade inviolada com a cabeça como um troféu, e um ataque, por parte dos judeus, resulta no alvoroço dos assírios. O livro termina com um hino ao Todo-Poderoso feito por Judite para comemorar sua vitória.

O TEXTO
O livro existe em versões gregas e latinas distintas, dos quais o último contém, pelo menos, oitenta e quatro versos mais do que o posterior. São Jerônimo (Praef. in Lib.) Diz que ele traduziu do caldeu em uma noite, “magis sensum e sensu, quam ex verbo verbum transferens” (com o objetivo de dar sentido para o senso em vez de aderir rigorosamente à letra). Ele acrescenta que o seu códice diferia muito, e que ele exprime em latim só que ele pode entender claramente o caldeu.
Duas versões hebraicas são conhecidas atualmente, uma longa com praticamente idêntica ao texto grego, e uma curta, que é totalmente diferente; vamos voltar a este último quando discutirmos a origem do livro. O caldeu, do qual São Jerônimo fez a nossa atual versão da Vulgata, não é recuperável, a menos que sejam identificados como a versão hebraica já mencionada acima. Se este for o caso, podemos medir o valor da obra de São Jerônimo, comparando a Vulgata com o texto grego. Nós ao mesmo tempo descobrimos que São Jerônimo não exagerou quando disse que ele fez a sua tradução apressada. Assim, uma comparação entre os versículos VI, 11, e VIII, 9 mostra-nos uma certa confusão em relação aos nomes dos anciãos de Betúlia - uma confusão que não existe na Septuaginta, onde também X, 6, deve ser comparados. Novamente em IV, 5, o sumo sacerdote é Eliachim, cujo nome mais tarde se transforma em Joachim (XV, 9) - uma mudança permitida, mas um pouco enganadora: a Septuaginta é consistente em usar Joachim. Algumas das afirmações históricas na Septuaginta diretamente conflitam com as da Vulgata; por exemplo, o décimo terceiro ano (Vulgata) de Nabucodonosor se torna o décimo oitavo na Septuaginta, que também adiciona um longo discurso do rei para Holofernes. São Jerônimo também tem frequentemente condensou do original, sempre na suposição de que a Septuaginta e a versão mais hebraica realmente representavam o original. Para dar apenas um exemplo:
Septuaginta (2, 27): “E, descendo para a planície de Damasco no momento da colheita do trigo, e consumiu todos os seus campos, seu gado e seus rebanhos entregou a destruição, as suas cidades foram devastadas por ele, e os frutos de suas planícies férteis espalhadas por ele como palha, e atingiu todos os seus homens jovens com a ponta da espada”.
Vulgata (2, 17): “E depois destas coisas que ele caiu na planície, no dia da colheita, e ele queimou toda a plantação de milho no fogo, e ele fez com que todas as árvores e vinha  fossem cortadas.”
No que diz respeito à versão Septuaginta do Livro de Judite note-se que ela chegou até nós em duas versões: Codex Vaticanus ou B por um lado, e Códice Alexandrino com Códice Sinaiticus, do outro.

HISTORICIDADE
Católicos com muito poucas exceções aceitam o livro de Judite como uma narrativa de fatos, e não como uma alegoria. Mesmo Jahn considera que a genealogia de Judite é inexplicável sobre a hipótese de que a história é uma mera ficção (“ntroductio”, Viena, 1814, p. 461). Por que fazer a genealogia de uma pessoa fictícia através de quinze gerações? Os Padres já olhavam para o livro como histórico. São Jerônimo aceita a pessoa da mulher valente como figura histórica (Ep. LXV, 1).
Contra esta visão tradicional, existem, deve ser confessado, existem muitas sérias dificuldades, devido, como Calmet insiste, a condição duvidosa e disputada do texto. As demonstrações históricas e geográficas no livro, como temos agora, são difíceis de entender:
• Nabucodonosor aparentemente nunca foi rei de Nínive, pois ele chegou ao trono em 605, enquanto que Nínive foi destruída certamente o mais tardar em 606, e depois que os assírios deixaram de existir como um povo;

• A alusão em I, 6, a Erioque, Rei dos Elicianos, é suspeita; somos lembrados de Arioque de Gênesis 14, 1. A Septuaginta faz dele o Rei do Elumaens, presumivelmente, os elamitas,
• O personagem de Nabucodonosor é dificilmente aquele delineado para nós nos monumentos: na escrita da casa indiana, por exemplo, seus sentimentos são notáveis para a modéstia de seu tom. Por outro lado, é preciso lembrar que, como diz Sayce, os “Reis assírios eram mais descaradamente mentirosos sobre os seus monumentos”;

• O nome Vagao, ou Bagoas na Septuaginta, para o eunuco de Holofernes é sugestivo do Bagoses, que, de acordo com Josephus (Antiguidades, XI, VII, 1), poluiu o templo e para o qual aparentemente temos uma referência no recentes-papiros descobertos em Assuan;
 • A mistura de nomes babilônicos, gregos, persas no livro deve ser observada;
 • A genealogia de Judite como consta na Vulgata é uma mistura: dado que nos três principais códices gregos é talvez melhor, mas varia em cada um. Ainda assim, é uma genealogia histórica, embora mal-conservada;
 • Um quebra-cabeça geográfico é apresentado pela Vulgata de II, 12-16; A Septuaginta é muito superior, e deve-se notar que toda esta versão, especialmente no Codex B, temos os detalhes mais interessantes que nos são fornecidos (cf. particularmente I, 9; II, 13, 28-9). A Septuaginta também nos dá informações sobre Achior que falta na Vulgata; parece que é insinuada no VI, 2, 5, que ele era um efraimita e um mercenário contratado por Moad;
• Betúlia em si é um mistério: de acordo com a Septuaginta era grande, tinha ruas e torres (VII, 22, 32), e resistiu a um longo cerco às mãos de um grande exército. A sua posição, também, é afirmado com minúcia; ela estava na borda da planície de Esdrelon e guardava a passagem para Jerusalém; mas nenhum vestígio da existência de tal lugar é encontrado (a menos que aceitemos a teoria da Conder, “Manual”, 5 ª ed, 239 p.).;
• Os nomes, Judite (judia), Achior (irmão de luz), e Betúlia (Bethel, ou seja, Jerusalém, ou talvez do hebraico que significa “virgem” -? Na versão mais curta hebraica de Judith não é chamada de “a viúva”, mas “virgem”, ou seja, Betúlia), soa um pouco como nomes simbólicos do que daqueles locais históricos ou de pessoas;
• No discurso de Judite a Holofernes existen (XI, 12, 15) uma aparente confusão entre Betúlia e de Jerusalém;
 • Enquanto os eventos são encaminhados para o tempo de Nabucodonosor, e, portanto, para o encerramento da monarquia hebraica, que parecem ter em V, 22, e VIII, 18-19, uma alusão ao momento posterior à Restauração;
• Não há rei na Palestina (IV, 5), mas apenas um sumo sacerdote, Joachim ou Eliachim; e IV, 8; XI, 14; XV, 8 (septuaginta), o Sinédrio é aparentemente mencionado;
• o livro tem um persa e ainda um grego disfarce, como é evidenciado pela recorrência de nomes como Bagoas e Holofernes.
Estas são sérias dificuldades, e qualquer estudante católico deve estar preparado para enfrentá-las. Há duas maneiras de proceder.
(a) De acordo com o que podemos chamar crítica “conservadora”, estas aparentes dificuldades cada uma pode ser harmonizada com a visão de que o livro é perfeitamente histórico e trata com fatos efetivamente ocorridos. Assim, os erros geográficos podem ser atribuídos aos tradutores do texto original ou a copistas que viveram muito tempo depois que o livro foi composto e, consequentemente, ignoraram os pormenores referidos. Calmet insiste que o Nabuchodonosor biblico é falado no livro, enquanto em Arphaxad, ele vê Phraortes cujo nome, como Vigoroux (Les Livres Santos et La Critique Rationaliste, iv, 4 ª ed.) mostra, poderia facilmente ter sido deturpado.
Fulcran Vigoroux (1900), no entanto, de acordo com as descobertas na Assíria, identifica Nabucodonosor com Assur-bani-pal, o contemporâneo de Phraortes. Isso lhe permite referenciar os eventos para o tempo do cativeiro de Manassés sob Assur-bani-pal (2 Crônicas 33, 11 cf. Sayce, “igher Criticism and the Verdict of the Monuments”, 4th ed., p. 458). É defendido ainda que a campanha conduzida por Holofernes é bem ilustrada nos registros de Assur-bani-pal que chegaram até hoje. E esses fatos, sem dúvida, dão uma explicação da aparente alusão ao cativeiro que, segundo o livro, foi realmente uma restauração, mas sob Manassés, não sob Esdras. A referência, também, ao Sinédrio é duvidosa; o termo é usado gerousia dos “antigos” em Lv., IX, 3, etc. Por fim, a identificação de Conder de Betúlia com Mithilia (loc. cit. supra) é altamente provável. Além disso, o escritor que descreveu a posição estratégica no IV, 1-6, soube a geografia da Palestina minuciosamente. Também é dado detalhes sobre a morte do marido de Judite (8, 2-4), que dificilmente pode ser atribuído a uma obra fictícia ou falsa, mas são antes indicações de que Judite representa uma heroína realmente existente. Com relação ao estado do texto que temos hoje, deve-se notar que as variantes dos manuscritos apresentados em várias versões são eles próprios uma prova de que as versões foram derivadas de uma cópia e datam de um longo período antecedente ao tempo de seus tradutores.
(b) Poucos escritores católicos não estão satisfeitos com a solução de Calmet em relação às dificuldades do Livro de Judite. Eles consideram que os erros de tradutores e de escribas não são uma explicação suficiente para este problema. Esses poucos católicos, juntamente com os não-católicos, cujo objetivo é lançar o livro no mais completo reino da ficção, garantem-nos que o Livro de Judite tem uma base histórica sólida, pois Judite não é personagem mítico. Ela, e seu ato heroico, viveram na memória do povo, mas as dificuldades do livro parecem mostrar que a história, hoje disponível, foi escrita em um período muito posterior aos fatos. A história, portanto, então mantida, é vaga; o estilo de composição, os discursos, etc, lembra-nos dos livros de Macabeus. Um notável conhecimento do Saltério é mostrado (cf. 7, 19 e Salmo 105, 6; 07, 21 e Salmos 78, 10; 93, 2; 9, 6-9, e Salmo 19, 8; 9,16, e Salmo 146, 10; 13, 21 e Salmos 105,1). Alguns desses salmos devem quase certamente se referir ao período do Segundo Templo. Mais uma vez, o Sumo Sacerdote Joachim presumivelmente deve ser identificado com o pai de Eliasibe, e deve, portanto, ter vivido no tempo de Artaxerxes, o Grande (464-424 a.C Cf. Josefo, “Antiguidades”, XI, VI-VII). Referenciamos acima uma versão hebraica mais curta do livro; Dr. Gaster, o seu descobridor, atribui este manuscrito do século X ou XI a.C. (Proceedings of Soc. of Bibl. Archaeol., XVI, pp. 156 sqq.). É extremamente breve, cerca de quarenta linhas, e dá-nos apenas a essência da história. No entanto, parece oferecer uma solução para muitas das dificuldades sugeridas acima. Assim Holofernes, Betúlia, e Achior, desaparecem completamente; existe uma explicação muito natural da purificação em XII, 7; e, o mais notável de todos, o inimigo já não é um assírio, mas Seleuco, e seu ataque está em Jerusalém, e não em Betúlia.
Se pudesse ser sustentado que temos neste manuscrito da história em sua forma original, e que o nosso livro canônico é uma amplificação do mesmo, então devíamos estar em uma posição de explicar a existência de inúmeras versões divergentes. A menção de Seleuco remete-nos aos tempos Macabeanos, o título de Judite, agora deixou de ser “viúva”, mas  “virgem”, pode explicar a misteriosa cidade; A coloração macabeana da história torna-se inteligível, e o tema é a eficácia da oração (cf. 6, 14-21; 7,4; II Macabeus 15, 12-16).


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O L I V R O A P Ó C R I F O D E T O B I A S

O    L I V R O    D E    T O B I A S

Tobias, removendo as entranhas do peixe que o atacou, o seu cão e o anjo Rafael
O livro de Tobias (em grego: τωβιτ; do hebraico: טובי, Tobih, "meu Deus"), é um dos livros deuterocanônicos do Antigo Testamento da Bíblia católica e possui 14 capítulos. Vem depois do livro de Neemias e antes do livro de Judite. Consiste numa narração antiga de origem judaica.
O livro de Tobias foi considerado canônico pelo Concílio de Cartago em 397 e reconfirmado por todos os concílios. E reconfirmado pela Igreja Católica Apostólica Romana no Concílio de Trento em 1546, depois da negação protestante. Assim como os outros livros deuterocanônicos, o livro de Tobias não foi incluído na Bíblia Hebraica, ou Tanakh como também é conhecida. Apesar de não estarem na Bíblia Hebraica, tanto o livro de Tobias quanto os outros livros deuterocanônicos sempre fizeram parte da literatura hebraica, sendo eles estudados nas sinagogas, tendo um estimado valor dentro do judaísmo e para a história de Israel.
A Bíblia de Jerusalém relata que numa gruta em Qumrã (Manuscritos do Mar Morto) foram encontrados restos de quatro manuscritos em aramaico e de um manuscrito em hebraico do Livro de Tobias, e que ele figura no Cânon, no ocidente a partir do Sínodo de Roma de 382, e no oriente a partir do Concílio de Constantinopla, denominado "in Trullo", em 692.

CONTEÚDO
Há estudos que indicam que o Livro de Tobias foi escrito por volta do ano 200 a.C. e que não relata uma história real, pois os acontecimentos aí descritos dificilmente se enquadram na história desse período. O livro pertence ao gênero sapiencial e é uma espécie de romance ou novela, destinado a transmitir ensinamentos.
O livro conta a história de duas famílias judaicas aparentadas deportadas em Nínive, na Mesopotâmia e em Ecbátana na (Pérsia), Tobit chefe da família de Nínive fica cego e envia seu filho Tobias para buscar certa importância em dinheiro, guardada em casa de um amigo em uma cidade distante, durante a viagem, protegido pelo Arcanjo Rafael, Tobias encontra e se casa com Sara, sua prima em Ecbátana, que era atormentada por um demônio chamado Asmodeu, que anteriormente matara sete maridos na noite de núpcias, antes mesmo que tivessem relações sexuais. No retorno Tobit é curado.
O protagonista é um judeu justo e fiel a Deus, mostrando que a verdadeira sabedoria, o caminho para a fidelidade, consiste em amar a Deus e obedecer à sua vontade (mandamentos), independentemente das circunstâncias.
O livro foi escrito na época da dominação decorrente das conquistas de Alexandre que tentava impor a cultura, a religião e costumes helenistas, ameaçando a identidade do povo judeu, logo o livro busca reafirmar esta identidade ameaçada.
Entre os ensinamentos do livro, destacam-se a descoberta da providência divina na vida cotidiana (Arcanjo Rafael), a fidelidade a Deus (Lei), a prática da esmola, o amor aos pais, a oração e o jejum, a integridade do matrimônio e o respeito pelos mortos. O autor mostra, sobretudo, que o homem justo não vive sozinho: está sempre acompanhado e protegido por Deus.

ENSINAMENTOS
Dentre os ensinamentos destacam-se:
Os conselhos dados por Tobit a seu filho Tobias (4,21;14:8-11)
A importância da família (1:8; 3:10.15; 4:3-4.19; 6:15; 14:3.8-9.12-13)
As boas obras e a fidelidade a Deus (1:8.12.16-17; 2:2.10; 3,15; 4:5.7-11.16; 14:8-11)
Justa retribuição (4,14; 5:3.7.10.15; 12:1)
Sepultar os mortos (1:17-18; 2:3-8)
Oração, nas mais diversas circunstâncias: (4,19; desespero 3:1-6.11-15; inquietude 8:5-8; alegria/gratidão 8:15-17, 14:3-7; louvor 3:2.11)

RESUMO DO LIVRO DE TOBIAS

1. Introdução
O livro que relata a saga do Tobias, filho de Tobit, um homem piedoso, casado com Ana, que havia sido deportado para a Nínive durante o reinado de Salmanasar. Tobit fora beneficiado com uma posição de influência junto ao rei, o que lhe permite fazer muitas viagens, durante as quais dá esmolas a outros judeus e enterra os que haviam sido mortos por Senaquerib, filho do rei. Após a morte de Salmanasar, seu filho passa a reinar em seu lugar. Agora no poder, Senaqueribe confisca os bens de Tobit, após ser denunciado por um ninivita como sendo o responsável pelo enterro dos israelitas mortos por ele.

2. O drama de Tobit e Sara
No dia da festa de Pentecostes, durante um almoço, Tobit pede para que seu filho saia em busca de um israelita necessitado, para que possa participar da refeição com sua família. Seu filho retorna dizendo ter encontrado um israelita estrangulado em praça pública. Tobit, um inveterado sepultador de corpos, esperou o pôr-do-sol e enterrou o defunto. Sua atitude provoca o escárnio dos vizinhos, pois já havia sido punido por essa prática. Tobit volta para casa e, após o banho, se deita junto à parede do pátio com a cabeça descoberta e acaba sendo atingido nos olhos pelo excremento de um pássaro, tornando-o cego. Tobit é sustentado por Aicar durante dois anos até que ele parte para Elimaida. A partida de Aicar faz com que Ana passe a sustentá-lo com trabalhos femininos. Tobit, desolado com a situação, ora ao Senhor pedindo sua morte, pois não suportava mais tantos infortúnios, tendo ainda que ouvir repetidas injúrias.
Paralelamente ao drama de Tobit, o livro passa a descrever a angústia de Sara, filha de Raqüel. Sara tem que suportar injúrias de uma escrava de seu pai, pois havia sido dada em casamento a sete homens que morreram antes que os casamentos fossem consumados. A escrava acusou-a de ter matado os pretendentes e aconselhou Sara a pôr fim a sua vida. Ela, subindo ao aposento de seu pai, no intuito de se enforcar, muda de ideia e ora ao Senhor pedindo que lhe tire a vida. O drama de Tobit e Sara envolve o leitor, que se pergunta: “Como terminará esta história?”.

3. A resposta à oração
A narrativa continua e relata que as preces de Tobit e Sara foram ouvidas. Rafael, um anjo de Deus, é enviado para curar a cegueira de Tobit e libertar Sara de um demônio chamado Asmodeu, verdadeiro responsável pela morte de seus pretendentes. 
Tobit, vendo a morte chegar, envia Tobias à Média, a fim de recuperar uma quantia depositada nas mãos de Gamael. Tobias sai à procura de alguém que lhe faça companhia, e que conheça o caminho da Média. Ele encontra o anjo Rafael, que se apresenta a seu pai como sendo Azarias, filho de um de seus irmãos.

4. A viagem de Tobias e seu encontro com Sara
Tobias viaja acompanhado do anjo e de um cão. Ao anoitecer, decide acampar junto ao rio Tigre. Quando Tobias desce para lavar os pés no rio, um peixe salta em sua direção tentando devorar-lhe o pé. O anjo pede para que agarre o peixe, pois o fel, o coração e o fígado dele seriam remédios úteis. Rafael lhe diz que o coração e o fígado do peixe, quando queimados diante de uma pessoa afligida por um demônio ou espírito mau, cessa suas ações maléficas. O fel, quando soprado após ser untado sobre os olhos, seria útil para curar uma pessoa atingida por leucomas.
Ao chegarem à Média, Rafael diz a Tobias que devem hospedar-se na casa de Ragüel, pai de Sara, pois tem o direito casar-se com sua filha e herdar legitimamente todos os seus bens. Tobias conhecendo a história de Sara expõe o medo que tem de morrer, como acontecera com os outros sete pretendentes. Rafael, diante da declaração de Tobias, o instrui a colocar o fígado e o coração do peixe sobre as brasas do perfumador assim que entrasse no quarto nupcial. Segundo Rafael isso provocaria a fuga do demônio.
Ao chegarem à casa de Raguel, em Ecbátana, são muito bem recebidos e Ragüel fica muito emocionado após saber que Tobias era filho de um homem tão nobre como Tobit. Ragüel, ouvindo Tobias conversar com Rafael sobre sua intenção de pedir sua filha em casamento, pede para que coma e beba tranquilamente, pois seu direito estava assegurado. Ragüel lhe conta sobre a morte dos pretendentes de sua filha e pede para que Tobias espere uma providência divina para solucionar o caso. Tobias diz que não pretende esperar e é atendido por Ragüel.

5. Tobias vence o demônio com a ajuda de Rafael
Depois de firmado o contrato de casamento, quando introduzido no quarto preparado para o casal, Tobias se lembra das palavras de Rafael e põe o fígado e o coração do peixe sobre as brasas do perfumador. Como predito por Rafael, o demônio foge para as regiões do Egito, vindo a ser preso pelo anjo.
Ragüel, tendo como certa a morte de Tobias, pede para que seus servos cavem uma sepultura e verifiquem se Tobias ainda estava vivo. Ao saber que ainda vivia, Ragüel bendiz ao Senhor e pede para que Tobias se detenha em sua casa por quatorze dias, até que pudesse seguir para a casa de seus pais. Tobias pede para que Rafael parta para Raguel e recupere o dinheiro que está com Gamael. Rafael recupera o dinheiro e retorna acompanhado por Gamael, que abençoa Tobias emocionado.

6. A volta para casa
Ao fim do prazo de quatorze dias, Tobias pede para que Raqüel o deixe voltar para a casa de seus pais, informando a ele o estado de saúde de seu pai, motivo de sua urgência. Tobias segue de volta para sua casa com os bens que recebera por direito, acompanhado por Sara e Rafael. Ao se aproximarem de Caserim, Rafael pede para que prepare o fel, a fim de curar a cegueira de seu pai. Quando chega em casa, após ser recebido por Ana, Tobias busca ansiosamente por seu pai. Ao encontrá-lo, aplica-lhe o remédio, curando-o da cegueira. Tobit, agora curado, segue ao encontro de sua nora e a abençoa. Após celebrada a festa de casamento, Tobit pede para que Tobias recompense Rafael com metade dos bens trazidos de Ecbátana, pois havia trazido muitos benefícios para sua família. Quando Tobias chama Rafael lhe oferecendo a recompensa, ele se revela a Tobias como sendo um dos sete anjos que permanecem diante da glória do Senhor. Rafael exalta a piedade e bondade de Tobit e pede para que escreva sua história desde o princípio, para que todos possam conhecer as obras grandiosas de Deus. Tobit entoa um cântico ao Senhor, onde exalta seu nome e profetiza restauração de Israel.

7. O fim da história
Tobit morre em paz, na idade de cento e doze anos, gozando de uma vida próspera. Nos últimos momentos de vida, chamou Tobias e lhe recomendou que se mudasse para a Média assim que sepultasse sua mãe, pois cria na profecia de Naum, que previa a destruição de Nínive. Também ressaltou a importância de uma vida justa e caridosa e disse a Tobias que Jerusalém seria reconstruída e todos os povos se converteriam a Deus, abandonando seus ídolos.
Após a morte de Ana, Tobias, como recomendado por seu pai, parte com sua esposa para Ecbátana, indo morar com seus sogros. Dá honrosa assistência a eles em sua velhice e ao fim de suas vidas, herda seus bens. Tobias morre aos cento e dezessete anos cercado de afeição. Antes de morrer teve notícias da destruição de Nínive.

8. Um breve comentário sobre o livro
O relato, de cunho novelístico é repleto de ensinamentos sapienciais, onde traz belos ensinamentos, tais como: respeito e honra aos pais, cuidado para com os mortos, justiça, honestidade, bondade e compaixão para com o próximo (4,3-19; 12,6-20). É fácil identificar-se com a história, ainda que se passe há muito tempo atrás. Elementos contidos no texto, como o choro de Ana na despedida do filho (05,17-23), o cão que acompanha Tobias (6,1; 11,4) e a impaciente espera pela volta do filho (10,1-7) ainda fazem parte do nosso cotidiano nos dias de hoje, permitindo que o leitor se identifique com a história. O livro procura mostrar que o israelita fiel a seu Deus e à sua religião nunca está só, mas é objeto da especial proteção divina. Manifesta também a esperança de que quando Deus reunir o seu povo de todas as nações (13,5), então também os pagãos se converterão ao Senhor para formarem um único povo de Deus (14,6s).


PROBLEMAS NO LIVRO DE TOBIAS

As Escrituras editadas pelas editoras Católicas Romanas trazem em seu Antigo Testamento o livro de Tobias, caso que não acontece nas edições protestantes. Eis algumas razões para a rejeição.
TOBIAS – Segundo historiadores este livro foi escrito por volta do ano 200 a.C. O livro conta a estória de Tobit, o pai de Tobias, homem temente a Deus e cumpridor da Lei. Certo dia enquanto descansava, uma andorinha deixou cair excrementos em seus olhos e em consequência ele cegou.
                Ao mesmo tempo, em Ecbátana, uma mulher chamada Sara, filha de Ragüel, primo de Tobit, é humilhada e acusada de ter causado a morte de seus sete maridos na noite de núpcias. Atendendo aos seus rogos, Deus manda ao anjo Rafael para resolver os problemas de Tobit e de Sara.
               Tobias conhece o anjo Rafael, que se apresenta como sendo Asarias, e vai a Ecbátana. Lá, ele conhece Sara e pede sua mão em casamento, e na volta o anjo o ensina a curar a cegueira do pai como fel de um peixe.
            Pois bem, como já foi dito neste livro aparece um anjo chamado Rafael, a quem nenhum outro livro bíblico faz referência a ele. Observe:
           No mesmo instante, a oração deles foi ouvida na presença de Deus, e Rafael foi enviado para curar a ambos: a Tobit, eliminando os leucomas dos seus olhos, a fim de que visse com seus olhos a luz de Deus;... (Tobias 3: 16-17, TEB)
           Eu sou Rafael, um dos sete anjos que assistem diante da glória do Senhor e têm acesso à sua presença (Tobias 12: 15).
Aparece ainda um demônio chamado Asmodeu (3: 7,8), e se diz que ele é o pior dos demônios.
           O motivo era que ela fora dada em casamento sete vezes, e, em toda as vezes, Asmodeu, o demônio perverso (o pior dos demônios), matara os seus maridos antes que se tivessem unido a ela, conforme a obrigação que se tem para com uma esposa... (Tobias3:8).
           Novamente não se encontra referência a ele em nenhum outro livro bíblico. E segundo a Bíblia o pior dos demônios, seu príncipe, é Satanás/Belzebu (Lc. 4: 1-6; Jo. 12:31; 14:30; 16:11; Lc. 4:6; 2Co. 4:4; Ef. 2:2), ele comanda os outros demônios (2Co. 12:7; Mt. 12:24-26).
           Este anjo Rafael conta mentiras, ele é anjo, mas diz que não é.
           Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar até a Média e conhecesse bem o caminho. Ao sair, deu  com o anjo Rafael que em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus. Disse-lhe: “Amigo,  donde és?” Disse-lhe o anjo: “Eu sou um filho de Israel, um dos teus irmãos, e vim em busca de trabalho”...  Tobit disse-lhe: “irmão, de que família és tu e de que tribo? Informa-me, irmão”. O outro disse: ‘ que importa a  minha tribo?” Tobit disse-lhe; “Na verdade eu quero saber, irmão, de quem tu és filho e qual o teu nome”. Ele respondeu-lhe: “ eu sou Azarias, filho do grande Ananias, um dos teus irmãos”. (Tobias 5: 4,5,11-13).
OBS: Veja o que diz sobre a mentira - Jo. 8:44.
       Em Tobias 5:6, o anjo mente de novo e diz que entre as cidades de Rages e Ecbátana são dois dias de viagem: “... De Ecbátana a Rages, há dois dias de caminho normal, pois são duas cidades situadas nas montanhas” (Tobias 5:6). Ora, isto é impossível para a época, pois a distância entre estas cidades é muito grande, e não existiam avançados meios de transportes.
       O mesmo anjo Rafael ainda incentiva a mágica e a feitiçaria:
       O moço partiu, e com ele o anjo: também o cão partiu e os acompanhou... O rapaz desceu para lavar os pés no Tigre. Então um grande peixe saltou fora da água... O anjo lhe disse: “Agarra-o e domina-o!” O moço apoderou-se do peixe e o puxou para a terra. O anjo disse-lhe: “Abre-o, extrai-lhe o fel, o coração e o fígado, põe-os à parte, depois joga fora as entranhas: de fato este fel, este coração, este fígado, são muito úteis como remédios”. O moço abriu o peixe, recolheu o fel, o coração e o fígado, a seguir assou o resto, que comeu, e pôs uma parte a salgar. Ambos prosseguiram caminhando juntos até as proximidades da Média. Então o moço fez ao anjo esta pergunta: “Azarias, meu irmão, que remédio existe no coração e no fígado do peixe e no seu fel?” Ele respondeu: “O coração e o fel do peixe, se fizeres subir a sua fumaça diante do homem ou da mulher que um demônio ou mal espírito atacam, toda a investida será afastada, ficar-se-á liberto para sempre. Quanto ao fel, unta com ele os olhos de quem tem leucomas, sopra sobre os leucomas e eles ficarão curados”. (Tobias 6:1-9).
     Quando Rafael disse ao moço “Tobias, meu irmão!” Ele respondeu: “Que há?” Disse-lhe o anjo: “Deveremos passar a noite que vem em casa de Raquel. Ele é teu parente. Tem uma filha chamada Sara... E acrescentou: “Assiste a ti o direito de desposá-la ... Então Tobias respondeu a Rafael: “Azarias, meu irmão, ouvi dizer que ela já foi dada sete vezes em casamento e todos o seus maridos morreram no quarto de núpcias; na mesma noite em que se aproximavam dela, morriam. Ouvi alguns dizerem que era um demônio que os matava, ... disse-lhe Rafael: “Será que esquecestes as instruções do teu pai, como ele te mandou que tomasses mulher da casa de teu pai?... Mas, quando houveres entrado no quarto de núpcias, lança mão de um pedaço do fígado do peixe, bem como do coração, e coloca-o sobre a brasa do defumador... Tendo acabado de comer e beber, quiseram deitar-se. Levaram o jovem e fizeram-no entrar no quarto. Tobias lembrou-se das palavras de Rafael: tirou da bolsa o fígado e o coração do peixe e colocou-os sobre a brasa de defumador. O cheiro do peixe manteve à distância o demônio, que fugiu pelos ares até as regiões do Egito. Rafael foi até lá, algemou-o e acorrentou-o de imediato. (Tobias 6: 11-13a, 14, 16,17; 8:1-3).
L. Rost chega a escrever que no livro de Tobias: “...a magia é considerada benéfica e até mesmo recomendada pelo anjo de Deus, e por isso mesmo também permitida a um israelita. ” Um livro assim não poderia ter sido inspirado por Deus, pois um Deus que condena a feitiçaria (Dt. 18:9-14; Lv. 20:6), não poderia recomendá-lo em Sua Palavra, e Satanás ou seus enviados não são expulsos através de feitiçarias, mas pelo nome de Cristo ( Mt. 12: 26-28). Pode a palavra de Deus conter mentiras e falsificações, ensinar erros e heresias?
         Neste livro aparece também o ensino de que dá esmolas consegue o favor de Deus: consegue a salvação.
A todos que praticam a justiça dá esmola dos teus bens. Não haja desgosto em teu olhar quando deres esmola. Nunca desvie o rosto de um pobre, e o rosto de Deus não se desviará de ti. Dá esmola de acordo com o que tens, conforme a importância dos teus bens. Se tiveres pouco, não receies dar esmola segundo o que tens. É um tesouro valioso que acumularás para os dias de infortúnio, porque a esmola livra da morte e impede que se vá para as trevas; de fato, a esmola é, para todos os que dão, uma oferenda valiosa aos olhos do Altíssimo. (Tobias 4:7-11).
         Em 12:9 aparece o ensino de que a esmola liberta da morte e purifica de todo pecado. Os que dão esmola serão saciados de vida.
A esmola liberta da morte e purifica de todo o pecado. Os que dão esmola serão saciados de vida (Tobias 12:9).

            Este não é um ensino bíblico, pois as Escrituras ensinam a salvação através da fé somente (ver Is 64:6; Rm. 4; Ef 2:8-10; 2Tm 1:9).  Portanto, Tobias é apenas um “romance popular” e está desqualificado para figurar entre os livros inspirados pelo Deus que não erra e é santo.