segunda-feira, 7 de março de 2016

O S E I A S

O    L I V R O    D E    O S E I A S
O Livro de Oseias (FO 1943: Oséias) é um dos livros proféticos do Antigo Testamento da Bíblia, vem depois do Livro de Daniel e antes do Livro de Joel. Possui 14 capítulos.
O profeta Oséias exerceu sua atividade no Reino de Israel Setentrional, entre o final do reinado de Jeroboão II e a queda de Samaria (750-722 AC). Este foi um período sombrio para Israel: conquistas assírias entre 734 e 732 AC, quatro reis assassinados, corrupção religiosa e moral.
A pregação de Oséias tem como ponto de partida uma experiência pessoal tão profunda, que se tornou para ele um símbolo (caps. 1 e 3). Ele amava de todo coração a sua esposa, mas ela o deixou para se entregar a outros amantes. Esse amor não correspondido ultrapassou o nível de frustração pessoal para ser uma enorme força de anúncio: o profeta apresenta a relação entre o Deus, sempre fiel e cheio de amor, e seu povo, que o abandonou e preferiu correr ao encontro dos ídolos.
Oséias passa, então, a denunciar todo tipo de idolatria, que ele chama de prostituição. Essa comparação será, a partir de então, uma constante nos escritos bíblicos. Tais prostituições, segundo Oséias, não consistem somente em adorar imagens de ídolos, mas inclusive em fazer alianças políticas com potências estrangeiras que provocam dependência, exploração econômica e opressão (7:8-12; 8:9-10). Prostituições são também os golpes de Estado que preservam interesses de uma pequena minoria (7:3-7), a confiança no poder militar e nas riquezas (8:14; 12:9) e todo tipo de injustiças (4:1-2; 6:8-9; 10:12-13).
Oséias repreende principalmente as classes dominantes da sociedade:
Os reis escolhidos contra a vontade de Javé, que rebaixaram o povo eleito ao nível dos outros povos; e
Os sacerdotes ignorantes e cobiçosos, que levaram o povo a ruína.
Do mesmo modo que seu contemporâneo Amós, Oséias condena as injustiças e as violências, denuncia uma corrupção moral profunda em Israel (4:1-2; 6:7-10; 7:1), a falta absoluta de justiça social, a responsabilidade culposa das elites. Sua pregação teve eco nos profetas seguintes quando exorta a uma religião do coração, inspirada no amor de Deus.
Oséias é também o profeta que polemiza contra a religião exterior: os sacrifícios, os ritos do culto (6:6).
Oséias, porém, não apenas acusa, mas também anuncia o amor fiel e misericordioso de Deus para com seu povo, se este se converter e voltar a conhecê-lo. Para o profeta, o conhecimento de Deus não é uma atitude intelectual, mas uma adesão amorosa, através de uma prática que corresponda ao projeto de Deus, elaborado no deserto por ocasião do êxodo, deste modo, Javé receberá novamente seu povo como esposa, dispensando-lhe todo o carinho (2:4-25); ou tratando-o como filho (cap. 11).

AUTOR
Oséias 1:1 identifica o autor do livro como sendo o profeta Oséias. Essa obra é uma narrativa pessoal de Oséias sobre suas mensagens proféticas para os filhos de Deus e para o mundo. Oséias é o único profeta de Israel que deixou um conjunto de profecias registradas durante os últimos anos de sua vida.

Quando foi escrito: Oséias, filho de Beeri, profetizou por um bom tempo, de 785 a 725 AC. O Livro de Oséias foi provavelmente escrito entre 755 e 725 AC.

PROPÓSITO DO LIVRO
 Oséias escreveu este livro para lembrar aos israelitas - e a nós – de que o nosso é um Deus amoroso, cuja lealdade ao povo de Sua aliança é constante. Embora Israel tenha continuado a recorrer a falsos deuses, o amor inabalável de Deus é retratado no marido sofredor da esposa infiel. A mensagem de Oséias é também uma mensagem de advertência àqueles que dariam as costas ao amor de Deus. Através da representação simbólica do casamento de Oséias e Gomer, o amor de Deus pela nação idólatra de Israel é exibido em uma rica metáfora com temas de pecado, juízo e amor perdoador.

VERSÍCULOS CHAVE
 Oséias 1:2: "Quando, pela primeira vez, falou o SENHOR por intermédio de Oséias, então, o SENHOR lhe disse: Vai, toma uma mulher de prostituições e terás filhos de prostituição, porque a terra se prostituiu, desviando-se do SENHOR."

Oséias 2:23: “Semearei Israel para mim na terra e compadecer-me-ei da Desfavorecida; e a Não-Meu-Povo direi: Tu és o meu povo! Ele dirá: Tu és o meu Deus!”

Oséias 6:6: “Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.”

Oséias 14:2-4: “Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniquidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios. A Assíria já não nos salvará, não iremos montados em cavalos e não mais diremos à obra das nossas mãos: tu és o nosso Deus; por ti o órfão alcançará misericórdia. Curarei a sua infidelidade, eu de mim mesmo os amarei, porque a minha ira se apartou deles.”

RESUMO
 O Livro de Oséias pode ser dividido em duas partes: (1) Oséias 1:1 - 3:5 é uma descrição de uma mulher adúltera e um marido fiel, simbólico da infidelidade de Israel a Deus através da idolatria, e (2) Oséias 3:6-14:9 contém a condenação de Israel, especialmente Samaria pela adoração de ídolos, e sua eventual restauração.

A primeira seção do livro contém três poemas distintos que ilustram como os filhos de Deus continuavam se apegando à idolatria. Deus manda Oséias se casar com Gomer, mas depois de dar-lhe três filhos, ela o abandona pelos seus amantes. A ênfase simbólica pode ser vista claramente no primeiro capítulo quando Oséias compara as ações de Israel com o abandono de um casamento em busca de uma vida como prostituta. A segunda seção contém a repreensão dos israelitas por parte de Oséias, seguida pelas promessas e misericórdias de Deus.

O Livro de Oséias é uma narração profética do amor incansável de Deus pelos Seus filhos. Desde o início dos tempos, a criação ingrata e indigna de Deus tem aceito o Seu amor, graça e misericórdia, enquanto ainda não podendo abster-se de sua maldade.

A última parte de Oséias mostra como o amor de Deus mais uma vez restaura os Seus filhos à medida que Ele se esquece de seus erros quando se aproximam de Deus com um coração arrependido. A mensagem profética de Oséias prediz a vinda do Messias de Israel 700 anos no futuro. Oséias é citado frequentemente no Novo Testamento.

PRENÚNCIOS
Oséias 2:23 é a maravilhosa mensagem profética de Deus para incluir os gentios [não-judeus] como Seus filhos, assim como registrado também em Romanos 9:25 e 1 Pedro 2:10. Os gentios não são originalmente "o povo de Deus", mas através da Sua misericórdia e graça, Ele providenciou Jesus Cristo, e pela fé nEle somos enxertados na árvore do Seu povo (Romanos 11:11-18). Esta é uma verdade surpreendente sobre a Igreja, uma que é chamada de "mistério" porque, antes de Cristo, apenas os judeus eram considerados o povo de Deus. Quando Cristo veio, os judeus foram temporariamente deixados de lado "até que haja entrado a plenitude dos gentios" (Romanos 11:25).

APLICAÇÃO PRÁTICA
 O livro de Oséias nos assegura do amor incondicional de Deus por Seu povo. No entanto, ele também é um retrato de como Deus é desonrado e irritado pelas ações de Seus filhos. Como pode uma criança que recebe uma abundância de amor, misericórdia e graça tratar um Pai com tanto desrespeito? No entanto, temos feito isso há séculos. Ao considerarmos como os israelitas voltaram as costas para Deus, não precisamos olhar mais longe do que o espelho à nossa frente para ver um reflexo desses mesmos israelitas.
Apenas ao lembrar-nos de quanto Deus tem feito por cada um nós é que seremos capazes de evitar a rejeição do Único que pode nos dar a vida eterna na Glória, em vez do inferno que merecemos. É essencial que aprendamos a respeitar o nosso Criador. Oséias tem nos mostrado que quando cometemos um erro, se temos um coração triste e uma promessa de arrependimento, Deus vai – novamente - demostrar o seu amor eterno por nós (1 João 1:9).


A FALTA DE CONHECIMENTO MATA
Oséias viveu no século VIII a.C. e foi provavelmente o único profeta literário do Reino do Norte, Israel. Neste período, Israel vivia sua era de ouro com o reinado de Jeroboão II. O nome Oséias tem a mesma raiz de Josué, que significa salvação. Seu ministério começou cerca de 10 anos depois de Amós ter saído de Judá levando seus oráculos proféticos ao Reino do Norte, e durou no mínimo 25 anos, já que o primeiro verso do livro diz que Oséias profetizou entre os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias de Judá e Jeroboão II de Israel. Seus escritos estão entre os mais antigos oráculos proféticos registrados e sua obra inicia a seção da Bíblia Hebraica chamada O livro do Doze, embora Amós anteceda Oséias. O livro de Oséias abrange o período Assírio (de meados ao final do século VIII a.C.) junto com os livros de Amós, Jonas e Miquéias. O livro é centralizado numa circunstância curiosa, pois Deus mandara Oséias casar com uma prostituta chamada Gômer, resultando numa união trágica. O casamento de Oséias é de importância fundamental para seu ministério, uma vez que a atitude adúltera de Gômer simbolizava o comportamento adúltero de Israel ao se afastar de Javé. Deste casamento saíram três filhos, Jezreel, Lo-Ruama e Lo-Ami. A mensagem de Oséias, anunciada durante estes muitos anos transmitia o julgamento e a graça de Javé para um povo rebelde e adúltero. 
Oséias foi um profeta do Reino do Norte que pregou para seu próprio povo, Israel. Porém, mesmo com a incumbência de profetizar entre seus compatriotas não se furtou de denunciar o Reino do Sul, Judá. Este destaque é importante pois há estudos afirmando que as citações sobre Judá nos escritos de Oséias tratam-se de adições posteriores ao texto original com o fim de engrandecer Judá, porém esta conclusão não se sustenta, visto que a maioria dessas citações tem um forte teor de reprovação. 
O ministério de Oséias foi exercido principalmente em virtude de dois fatores:
A quebra da Aliança deuteronômica por parte do povo
A ameaça de invasão da Assíria em Israel 
O trabalho de Oséias provavelmente começou após a morte de Jeroboão II em 753 a.C. e terminou quando houve a invasão Assíria por Salmaneser V em 722 a.C. (2 Rs. 17:1-34). A mensagem escrita de Oséias provavelmente foi escrita no período entre o pagamento de tributo do rei Menaém a Tiglate-Pileser da Assíria (739 a.C.; Os. 5:13; 8:9; 12:1) e um pouco antes da queda de Samaria (722 a.C.) já que ele não menciona este fato. A cronologia dos escritos de Oséias podem ser identificados devido às menções que ele faz da guerra siro-efraimita em 735 a 734 a.C. (Os. 5:8 – 6:6). 
Israel vivia nesta época um renascimento político e econômico graças às campanhas empreendidas pelo pai de Jeroboão II, Jeoás (2 Rs. 13:25). Jeroboão II continuou com a política expansionista de seu pai e chegou a reconquistar os territórios de Israel tornando-os semelhantes ao período de Davi e Salomão (2 Rs. 14:25-28).  A estabilidade conseguida criou uma série de comerciantes ricos e prósperos em Israel, havia muito luxo e pompa na corte do Reino do Norte, além de muita fartura de gêneros agrícolas. 
Porém, este reinado de prosperidade ganhou dos profetas outra avaliação bem diferente. Amós, profetizando para Israel, algum tempo antes de Oséias, denunciou as práticas abusivas contra os pobres, a política corrupta, opressiva e injusta do governo de Jeroboão II (Am. 2:6-16). O resultado foi a expulsão de Amós (Am. 7:10-17). 
A prosperidade gerou corrupção moral e social (Os. 9:9), cujos frutos foram a ganância e orgulho. A apostasia e a idolatria foram outros problemas que Israel enfrentou. Javé recorre ao grande episódio de redenção do Antigo Testamento, o Êxodo do Egito, para criticar sua postura religiosa (Os. 11:2; 13:1-2) e sua política externa, ao chamá-la de “vento oriental” (Os. 12:1). 
A história subsequente de Israel comprovou a veracidade dos oráculos de Oséias (Os. 10:7), pois, após a morte de Jeroboão II, uma série de golpes políticos para a tomada do trono de Israel foram sepultando cada vez mais o Reino do Norte. Quatro dos seis últimos reis de Israel em 30 anos foram assassinados, e seu último rei, Oséias (não confundir com o profeta), foi levado cativo para a Assíria (2 Rs. 17:6). 
A política interna de Israel desestabilizou a diplomacia com as demais nações (Os. 7:11). A tabela abaixo ilustra a sequência dos erros políticos de Israel.

Decisão política
Referência
Para evitar a invasão assíria, o rei Menaém tornou Israel vassalo da Assíria ao pagar tributo para Tiglate-Pileser (740 a.C.)
2 Reis 15:9
O rei Peca, de Israel, ataca Judá em virtude da sua rejeição à coligação contra a Assíria. Acaz, rei de Judá, pede ajuda a Tiglate-Pileser, da Assíria, oferecendo-lhe um pesado tributo. Isto tornou Judá vassalo da Assíria (735 a.C.). A Assíria derrotou esta oposição e tomaram todo território de Samaria, o Reino do Norte, e levaram cativos uma grande quantidade de israelitas para a Assíria.
2 Reis 16:5-9;
O rei Oséias, do Reino do Norte, buscou a ajuda do Egito para derrotar a Assíria. Entretanto esta aliança falhou, e, por ter sonegado o tributo devido a Tiglate-Pileser, Oséias tornou-se o responsável direto pela destruição de Samaria (722 a.C.).
2 Reis 17:1-6


ESTRUTURA DE OSÉIAS 
O livro de Oséias pode ser dividido da seguinte forma: 
·        Cabeçalho – 1:1
·        O casamento de Oseias com Gômer, a prostituta – 1:2 – 3:5
·        Os oráculos de Oséias – 4:1 – 14:9 
Os capítulos 1 a 3 narram a biografia de Oséias e seu relacionamento com a prostituta Gômer. Esta narrativa serve de pano de fundo para os oráculos contra Israel e fundamentam as profecias dos capítulos 4 a 14. Estas profecias relatam o relacionamento de Javé com Israel e são espelhadas no relacionamento de Oséias com Gômer.

A mensagem profética (caps 4 a 14) de Oséias pode ser estruturada em quatro pontos: 
·        Acusação, com denúncias sobre a quebra da aliança (4:1-11)
·        Julgamento, com destruição e cativeiro (5:1 – 8:14)
·        Instrução, com um convite ao arrependimento (6:1-3)
·        Consequências, com a restauração dos justos (14:1-8)
 Oséias utiliza uma linguagem jurídica para enfatizar a quebra da Aliança por parte de Israel. Alguns termos são: acusação (4;1); culpada e juro (4:15); sentença (5:1); testifica (5:5). 
Oséias também usa o nome poético Efraim para referir-se ao Reino do Norte, Israel, e demonstra conhecimento dos termos da Aliança ao citar termos como “voltemos” (6:1), “conheçamos” (6:3), “redimi-los” (7:13), “quebraram”, “aliança” e “Lei” (8:1), “amei” (11:1), “acusação” (12:2).

PROPÓSITO E CONTEÚDO 
O livro de Oséias aborda os seguintes temas: 
·        O amor constante amor de Javé por Israel
·        O justo juízo executado por Javé
·        O empenho de Javé pela Aliança
·        A restauração do remanescente por Javé
 O casamento de Oséias com Gômer retratava o relacionamento de Israel com Javé. Da mesma maneira que Gômer havia sido infiel com Oséias, Israel fora com Javé, o Deus da Aliança. Seu amor rejeitado e restaurado foi o fundamento da sua pregação para o povo que havia quebrado a aliança (4:15). A pregação do profeta estava profundamente influenciada por sua própria experiência de vida conjugal. Portanto, o objetivo principal não era demonstrar o amor de Javé por Israel, mas enfatizar o quanto Israel havia se afastado dos princípios estabelecidos por Deus com a Lei da Aliança.

Os três filhos deste casamento representam características do relacionamento do povo com Javé conforme o quadro abaixo:

Nome
Significado
Explicação
Jezreel
Deus semeará.O julgamento é anunciado, porém a restauração também é prevista (Os. 2:22ss)
Profecia contra a família do rei Jeú. A ameaça em Os. 1:5 foi provavelmente cumprida com o assassinato de Zacarias, filho de Jeroboão II, o último da linhagem de Jeú (2 Rs. 15:8-12)
Lo’-ruhamâ
Desfavorecida.Reversão da atitude de Deus para com o povo de Israel.
A confiança no livramento e misericórdia de Javé é substituída pela tomada em armas e alianças políticas com outras nações. Deus retira sua misericórdia e deixa israel sofrer as consequências da sua infidelidade. (Os 1:6).
Lo’- ‘ammî
Não meu povo.Aliança foi quebrada.
Javé não rejeitou Israel, antes Israel rejeitou a Deus, recusando-se ser o seu povo (Os. 1:8).

 Oséias recorre constantemente ao passado da nação de Israel e do cuidado de Javé para com seu povo, que estava baseado na Aliança (11:1-4; 12:9; 13:4). Oséias demonstra que o amor de Javé por Israel foi a causa do cumprimento de suas promessas, e da mesma maneira traria a restauração.
 Os temas da esperança futura (2:14-23) e da destruição iminente (5:8-9) foram temas que Oséias abordou de acordo com o fundamento da Aliança da lei, que previa bençãos e maldições (Lv. 26:1-39). 
Oséias foi firme ao questionar a liderança política e religiosa de Israel (5:1; 6:9; 13:10), mas também estava com seu coração apertado, pois ele sabia o que Javé estava sentindo ao castigar o filho que tanto amava (11:8). 
Oséias foi o último profeta escritor a declarar juízo (6:5) ao reino do Norte antes da invasão da Assíria e pedir para que o povo voltasse ao conhecimento de Deus (2:5-8; 4:1,6; 5:4, 6:3-6) com arrependimento e regeneração da aliança (6:1; 14:1). 
Entretanto, a própria vida de Oséias foi um testemunho eloquente de que Javé queria restaurar o povo de Israel, que havia adulterado. Essa restauração vinha do grande amor de Javé por seu povo (14:4).

O CASAMENTO DE OSEIAS
 As abordagens interpretativas do casamento de Oséias podem ser sintetizadas de acordo com o quadro abaixo: 
Abordagem de interpretação
Explicação
Casamento simbólico
Não foi histórico, mas apenas uma alegoria para exemplificar a história.
Casamento verdadeiro: narrativa em sequência
O casamento aconteceu historicamente. O que muda é a abordagem no entendimento de Gômer.Alguns alegam que Gômer  já era uma prostituta quando se casou com Oséias.Outros afirmar que ela se prostituiu após o casamento, já que seria eticamente impossível Oséias casar com um prostitutaAlguns sugerem que Gômer era prostituta no sentido espiritual, á que adorava outros deuses
Casamento verdadeiro: narrativa paralela
O casamento foi histórico, porém trata-se de uma narrativa escrita em momentos diferentes da história de Oséias.
Dois casamentos verdadeiros
Oséias casa-se com Gômer ainda virgem no capítulo. E o capítulo 3 retrata o segundo casamento com uma prostituta desconhecida.

O caráter antiético do casamento é questionável, pois a proibição de se casar com prostitutas era aplicada aos sacerdotes, não aos profetas; e Oséias não era sacerdote. Entretanto, nem mesmo a designação de profeta é oficialmente atribuída a Oséias. Portanto, apesar de incomum, o casamento de Oséias não poderia ser considerado antiético. 
Além disso, Israel estava à beira de um colapso espiritual, social e moral, e, portanto, exigiria algo mais além de meras palavras, tal qual Isaías que pregou nu e descalço durante três anos (Is. 20:1-6).

A ADORAÇÃO A BAAL 
De acordo com as estipulações da Aliança, Israel estava proibido de adorar outros deuses (Ex. 20:1-6; Dt. 4:15-31) e havia falhado em expulsar todos os cananeus da Palestina quando da conquista da Terra prometida (Js. 13:1-7; Jz. 1:22-35). Baal era o deus cananeu responsável pela chuva e fertilidade, elementos primordiais para a agricultura, base de sustento destes povos. 
A fim de garantir sua sobrevivência na terra, Israel passa a apelar para o sincretismo religioso, adicionando práticas pagãs ao culto monoteísta a Javé, pois não confiavam em sua providência. Por isso o casamento de Oséias foi tão significativo, pois representava a prostituição (infidelidade) de Israel a fim de obter vantagens materiais.

O RITUALISMO 
Enquanto os aspectos rituais da religião serviam ao seu propósito de adorar a Deus por seus atos grandiosos e lembrar o povo sobre suas obrigações para com Javé, não havia oposição nem denúncia. O problema era que os aspectos cerimoniais estavam sendo cumpridos (2:11,13; 5:6; 6:6). Entretanto essa religiosidade externa escondia a falta de ética e corrupção. 
Os sacerdotes eram os alvos principais de Oséias, pois sua função era justamente ajudar o povo e ensinar a lei, justiça e retidão, aspectos totalmente negligenciados por eles. Desta forma se tornaram os responsáveis pela decadência espiritual e moral de Israel (4:4-9; 5:1). 
O culto havia degenerado para as práticas do culto à fertilidade dos pagãos e o povo buscava saber do futuro por meio da magia e, além disso, agradecia-se aos baalins a colheita realizada (2:11-13).

O CONHECIMENTO DE DEUS
Por diversas vezes Oséias toca na tecla do conhecimento de Deus. Este conhecimento não se trata do conhecimento intelectual de Deus, mas em como o povo de Israel deveria se relacionar com Javé. No Antigo Testamento o conhecimento é traduzido por um relacionamento íntimo com alguém, que pode ser traduzido também por comunhão. 
Quando Javé resgatou Israel do Egito houve o compromisso do povo em obedecê-lo de acordo com a revelação da Lei. Quando Israel pecou e recusou-se a obedecer, a aliança foi quebrada e somente o arrependimento poderia renovar o pacto. Por isso, de acordo com Os. 6:6, o ritualismo não poderia restaurar a comunhão. 
Ao tratar sobre o conhecimento Oséias abre o caminho que seria percorrido por Jesus quando falou “ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt. 11:27). Jesus chega a comparar a salvação com o conhecimento de Deus (Jo. 17:3).




terça-feira, 1 de março de 2016

D A N I E L

O    L I V R O    D E    D A N I E L

O Livro de Daniel é um livro do Antigo Testamento da Bíblia, cujo título é derivado do nome do profeta.  A autoria do livro é atribuída tradicionalmente a Daniel; Cristo também apoia esta posição em Mateus 24:15-16. Nas bíblias cristãs, como por exemplo na Tradução Brasileira da Bíblia, vem depois do Livro de Ezequiel e antes do Livro de Oseias. Alguns trechos são escritos em hebraico (1:1-2:3; 8:1-12:13) e a maioria em aramaico (2:4-7:28), havendo também as adições em grego (versículos 24 a 90 do cap. 3 e caps. 13 e 14) não encontradas na versão da Bíblia proposta por Lutero
Daniel tinha três amigos: Hananias, Misael e Azarias (também chamados Sadraque, Mesaque e Abedenego, respectivamente) que foram lançados na fornalha de fogo, mais não se queimaram pois Deus estava com eles.
Contém uma linguagem conhecida pelos estudiosos bíblicos como sendo "apocalíptica", que é cheia de símbolos vivos para representar pessoa(s) ou evento(s) futuro(s). Contém basicamente seis histórias de Daniel e seus amigos judeus, quando estavam na corte do rei Nabucodonosor, e mais quatro profecias, únicas em estilo no Antigo Testamento.
O livro possui duas versões, sendo que a versão utilizada pela Igreja Católica conta com adições em grego (versículos 24 a 90 do cap. 3 e caps. 13 e 14), encontradas na Septuaginta, mas não encontradas na Bíblia Hebraica e no Antigo Testamento das Igrejas que adotam a Bíblia proposta por Lutero.

ORIGEM
Pela singularidade de seu estilo e conteúdo o livro é alvo de críticas e especulações diversas a respeito de sua origem. De maneira semelhante aquilo que se vê em relação a escritos antigos não há consenso quanto a origem do texto.
Para alguns trata-se de um escrito apocalíptico, que surgiu no séc. II AC, na época em que o rei Antíoco IV queria acabar com a cultura, costumes e religião dos judeus, e por isso perseguia quem não se sujeitava aos padrões e costumes da cultura grega. A finalidade do livro é sustentar a esperança do povo fiel e, ao mesmo tempo, provocar a resistência contra os opressores. Para uma correta compreensão deste livro, é importante lê-lo junto com os livros dos Macabeus.

TEMAS CENTRAIS
Equilíbrio alimentar e seu benefício (cap. 1)
Revelação e interpretação do sonho do rei (cap. 2)
Adoração verdadeira e a falsa (cap. 3)
Segundo este livro, todos os outros poderes, por maiores que sejam, podem ser derrubados pela ação daqueles que acreditam ser Deus o único absoluto (Dn 2:31-47). O livro de Daniel foi escrito na Babilonia e as pessoas importantes deste livro são Sadraque, Mesaque, Abede-nego,Daniel, Nabucodonosor, Belsazar e Dario.

ESTRUTURA LITERÁRIA
Estrutura literáriaO livro é organizado basicamente em duas seções: uma histórica e a outra profética ou apocalíptica.
Seção histórica - Na primeira parte (Dn 1-6), contam-se histórias passadas sob o domínio dos persas, mostrando como Daniel e seus companheiros resistiram aos poderosos do império e permaneceram fiéis à sua religião; assim foram salvos por Deus.
cap. 1 - Daniel e seus companheiros a serviço de Nabucodonosor;
cap. 2 - o Sonho da Estátua;
cap. 3 - a adoração da estátua de ouro e os três companheiros de Daniel na fornalha;
cap. 4 - a loucura de Nabucodonosor;
cap. 5 - o festim de Baltazar;
cap. 6 - Daniel na cova dos leões.
Em todos esses casos Daniel e seus companheiros saem triunfantes de uma provação e os pagãos glorificaram a Deus que os salvou.
Seção profética - Na segunda parte (Dn 7-12), em linguagem figurada, própria da apocalíptica, o autor divide a história em etapas, mostrando o conflito entre as grandes potências. Ressalta que se aproxima a última etapa da história: o Reino de Deus está para ser implantado; por isso, é preciso ter ânimo e coragem para resistir ao opressor, permanecendo fiel, ou seja contém as seguintes visões:
cap. 7 - as quatro feras;
cap. 8 - o bode e o carneiro;
cap. 9 - as setenta semanas;
caps 10 a 12 - Tempo da cólera e Tempo do fim, além das disputas do Rei do Norte com o Rei do Sul.

SINGULARIDADE DAS VERSÕES DEUTEROCANÔNICAS
As partes deuterocanônicas contém:
Versículos 24 a 90 do cap. 3: Salmo de Azarias e o cântico dos três jovens;
cap. 13 - a história de Susana;
cap. 14 - as histórias de Bel e da serpente sagrada, que são sátiras da idolatria.

CRÍTICAS
David Plotz, da revista Slate, classificou este livro como tardio, curto, e não muito importante.

PROFECIAS
Profecia da estátua de Nabucodonosor
Profecia dos quatro animais
Profecia das 70 semanas
NOTAS
Entretanto, cabe observar que este livro é relacionado como escrito profético no Antigo Testamento das bíblias cristãs, diferentemente do que ocorre na Bíblia Hebraica, na qual é relacionado entre Ester e Esdras como outros escritos (Bíblia de Jerusalém (Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.245)

REFERENCIAS
 A Bíblia de Jerusalém (cit., pp 1.244-1.245) sustenta que os 39 primeiros versículos do capítulo 11 testemunham as guerras entre Selêucidas e Lágidas e uma parte do reinado de Antíoco Epífanes, e que, portanto, o livro teria sido composto durante as perseguições promovidas por Antíoco Epífanes e antes da vitória da insurreição dos Macabeus, ou seja, entre 167 e 164 AC.
Sustenta-se que foi escrito em 164 AC, em Apocalíptica, acessado em 21 de agosto de 2010
 A Tradução Ecumênica da Bíblia (Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p 1.358), sustenta que o livro foi escrito final de 164 ou no início de 163 AC.



INTRODUÇÃO APOCALÍPTICA DO LIVRO

O livro de Daniel é um dos mais conhecidos, ao menos sua parte histórica; entretanto é dos mais complexos e de difícil interpretação do Antigo Testamento. O livro fala sobre um jovem, levado à força para a cidade da Babilônia para integrar-se à equipe diplomática do Império. Daniel teve muito êxito e esteve no topo da pirâmide organizacional da Babilônia, mesmo quando o Império sofreu sua derrocada.
Tal qual Ezequiel, o livro de Daniel também faz parte da literatura apocalíptica, pois utiliza-se de visões misteriosas para transmitir a mensagem divina de que os reinos deste mundo não estão fora do domínio de Javé. Além disso, Daniel não pode ser enquadrado como um profeta clássico, no sentido estrito do termo, pois ele não condena o comportamento pecaminoso, nem recomenda a guarda da Lei da Aliança. Os eruditos hebreus entenderam dessa forma e na Bíblia hebraica não o colocam entre os demais profetas, mas junto com os livros de Esdras-Neemias, Crônicas e os livros poéticos na seção chamada de “Escritos”.
Conforme as datas citadas no livro, Nabucodonosor levou os israelitas cativos em 605 a.C.  O sonho interpretado por Daniel aconteceu em 603 a.C e ele continuou na elite do governo até o primeiro ano do rei Ciro (Dn. 1:21; 538 a.C.). Daniel ainda recebeu uma revelação no terceiro ano do governo de Ciro (10:1; 536 a.C.), quando encerrou suas atividades nos impérios babilônico e persa.
Mas, apesar de Daniel narrar acontecimentos relativos ao século VI a.C. muitos eruditos afirmam que a obra foi composta no século II a.C. entre os anos de 168 a 164.  A razão para esta conclusão é a citação dos reinos do Norte e do Sul que coincidem com a história do período grego no Oriente Médio que abrange os séculos IV a.C. ao II a.C.
Aqueles que apoiam esta data adiantada baseiam-se no fato de Daniel ser uma literatura apocalíptica. Este tipo de literatura, entre outras características, eram:
Pseudonímia – atribuir à uma obra o nome de um personagem famoso do passado para transmitir credibilidade.
Vaticinium ex eventu – produzir uma obra literária remetendo ao passado como se o autor vivesse antes deles.
Estas características compõem a literatura apocalíptica extra bíblica do século II a.C. ao século II d.C. O livro de Daniel traz acontecimentos precisos do ano 168 a.C. e, por isso, alguns estudiosos afirmam se tratar de um autor contemporâneo que escreveu estes registros pouco tempo depois.
Outra característica apocalíptica presente em Daniel são os fatos extraordinários tais como o livramento da fornalha dos amigos de Daniel (cap. 3) e a mão que escreveu na parede no banquete de Belsazar (cap. 6). A literatura extra bíblica deste período era rica neste tipo de narrativa.
Apesar de Daniel compartilhar algumas das características da literatura apocalíptica extra bíblica o livro de Daniel diferencia-se em certos aspectos e não é simples determinar todos os aspectos da literatura apocalíptica. Um problema em considerar Daniel uma produção do século II a.C. está no estabelecimento da data, pois o período entre 168 – 164 a.C. são um período muito curto de tempo para produzir, copiar e distribuir um livro, sem mencionar o processo de canonização pela comunidade judaica.
Outros fatos que depõem contra a data avançada de Daniel:
O uso do aramaico no livro de Daniel sugere um período anterior ao século II a.C.
A inclusão de Daniel na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento)
A presença de Daniel nos manuscritos do Mar Morto (II a.C.)
A Babilônia começou a despontar no cenário mundial como uma grande potência, aproveitando a decadência do Império Assírio. O ano era 626 a.C. quando Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, foi firmado como rei da Babilônia. O Império Assírio ruiu definitivamente, depois de 150 anos, em 605 a.C. na batalha de Carquêmis.
Após a morte de Nabopolassar, seu filho, Nabucodonosor, assumiu o reino da Babilônia e tomou os territórios que a Assíria não havia conquistado, incluindo o Reino do Sul, Judá. Neste período, os filhos do rei Josias se envolveram em muitas conspirações contra Nabucodonosor e o resultado foi o processo da deportação de parte da população de Judá em três etapas. Nesta ocasião, Daniel já estava na corte babilônica, pois fora deportado na primeira etapa em 605 a.C.
O reinado de Nabucodonosor terminou em 562 a.C., entretanto seus sucessores não foram tão competentes quanto ele e o Império Babilônico chegou ao fim em 539 a.C. quando Ciro, o persa, tomou a Babilônia sendo recebido com um herói ao invés de conquistador. Ao assumir o governo da Babilônia, Ciro permitiu que os povos conquistados voltassem e reconstruíssem sua sociedade (Ed. 1:1-4). O povo de Judá considerou isso como o cumprimento das profecias e o restabelecimento da Aliança. Aos judeus cabia apenas aguardar a restauração do governo teocrático com a capital em Jerusalém, que de fato nunca aconteceu.

ESTRUTURA DE DANIEL
O livro de Daniel pode ter o seguinte esboço:
Parte histórica
·        A preparação babilônica de Daniel – 1
·        O sonho de Nabucodonosor – 2
·        A estátua de Nabucodonosor – 3
·        O orgulho de Nabucodonosor – 4
·        A queda da Babilônia – 5
·        O decreto de Dario e livramento de Daniel – 6
Parte apocalíptica
·        Os quatro animais e os quatro impérios – 7
·        O carneiro e o bode – 8
·        As setenta semanas e a explicação de Gabriel – 9
·        Os últimos acontecimentos – 10 a 12
Cronologicamente podemos dividir o livro de Daniel da seguinte maneira:
Capítulos 1 a 6:
·        Do primeiro ano de Nabucodonosor (cap1) ao último dia de Belsazar (Cap. 5), entrando no reino de Dario (Cap. 6)
Capítulos 7 a 10
·        Primeiro ano de Belsazar (Cap. 7) ao terceiro ano de Ciro (cap. 10)
Tomando-se por base a perseguição dos persas aos judeus temos o seguinte resultado:
·        Capítulos 1 a 5 – perseguição crescente da religião judaica: ordem para adora a estátua de Nabucodonosor (Cap. 3); profanação dos objetos do Templo (Cap. 5)
·        Capítulos 6 a 12 – Daniel lançado na cova dos leões (Cap. 6); profanação do Templo e do Altar (Caps. 8 a 12).
No capítulo 1 Javé honra a demonstração de fé que Daniel e seus amigos tiveram. No capítulo 2 o conteúdo do sonho e a interpretação dada por Daniel refletem a soberania de Javé sobre todas as nações. Entretanto ainda não havia chegado o tempo do domínio pleno do Senhor, de fato uma mensagem desanimadora para os cativos. Contudo a interpretação principal era que todos os Impérios mais poderosos ruiriam, e seriam superados pelo reino Eterno de Javé que jamais será destruído (2:44). Esta mensagem de esperança certamente sobrepunha o desânimo dos judeus.
O capítulo 3 deixa subentendido que a inspiração para a estátua de Nabucodonosor tenha vindo do seu sonho e mais uma vez a fé tem como resposta o livramento. Um destaque importante é que o texto deixa claro que o poder e soberania de Deus não serão ameaçados caso o livramento não tivesse acontecido.
Os capítulos 4 e 5 mostram que Javé detém o controle das nações muito além de apenas possuir um roteiro pré-fabricado, podendo interferir na história quando se faz necessário.
O capítulo 6 narra os planos dos gentios para eliminar Daniel em virtude de suas práticas religiosas. Neste episódio até mesmo o rei persa declara a soberania do Deus de Daniel (v. 16).
O capítulo 7 enfatiza a perversidade generalizada dos reinos, especialmente o quarto. Entretanto, após o período de adversidade, o Reino de Deus será instaurado para sempre (v. 16-18, 27).
No capítulo 8 lemos sobre o orgulho do rei e seu programa de perseguição em massa. O capítulo 9 indica que a restauração total viria lentamente, o que não queria dizer que Javé não estivesse no controle. Outra revelação feita era que, ao contrário do que os cativos que retornaram do exílio esperavam, a situação iria piorar ainda mais.
Os capítulos 10 a 12 tratam sobre o fim dos reinos das nações. Os santos não sabem quando todas as essas coisas acontecerão, pois, sua tarefa é perseverar até que o tempo de Deus para as nações se cumpra.

PROPÓSITO E CONTEÚDO
O livro de Daniel menciona os seguintes assuntos:
O exercício da fé em um mundo agressivo
Javé está no controle da política internacional
O PROPÓSITO DE DEUS EM LIVRAR SEU POVO
O livro aborda do começo ao fim a soberania de Javé sobre as nações. Esta soberania se manifesta de forma espiritual e política. A vida de comunhão com Javé de Daniel e seus amigos é realizada em meio à hostilidade cada vez mais crescente. Em meio à arrogância, crueldade e orgulho dos reis das nações, Javé os faz curvarem-se à sua vontade e soberania.
As visões de Daniel destacam a soberania política de Deus sobre as nações para que os judeus exilados pudessem ter suas esperanças renovadas. A leitura dos profetas pré-exílicos durante este período levou os cativos a crerem que o Reino de Deus seria estabelecido plenamente após o retorno do cativeiro de setenta anos.
O livro de Daniel corrige esta distorção hermenêutica e afirma que apesar do retorno acontecer, isso não deve ser confundido com o estabelecimento do Reino de Deus. Na verdade, haveria mais setenta semanas de anos até que isso acontecesse.
Enquanto a inauguração do Reino de Deus não acontecesse os judeus deveriam aprender a viver sob perseguição e depender somente da soberania divina durante a queda e ascensão dos reinos das nações, pois o programa de Deus não pode ser detido, entretanto eles deveriam se preparar para uma resposta a longo prazo.
Portanto, o livro de Daniel não deve ser encarado como um calendário que marca eventos do fim dos tempos, mas encararmos sua mensagem principal que é a promessa de Deus, o soberano que governa a história do mundo, de estabelecer o seu Reino.

O REINO DE DEUS
O livro de Daniel destaca o Reino de Deus como plano final para o mundo. Embora Javé já domine em um Reino eterno (4:3,34,35), o capítulo 2 apresenta a ideia de um Reino indestrutível (2:44). Este Reino foi dado ao Filho do Homem, que, apesar de não haver maiores informações no livro, podemos identificá-lo como Jesus, pois este texto contém um forte teor messiânico, mesmo que os leitores originais não tivessem uma clara noção disso. Filho do homem será inclusive o título que Jesus adotará para si no Novo Testamento.
Como uma espécie de antítese, os Reinos humanos são retratados como temporais e limitados. Daniel percorre os principais reinos do mundo conhecido:
Babilônia – Caps. 4 e 5
Medo-Persa e Grécia – Cap. 8
Grécia – Cap. 11
O modelo apresentado de quatro reinos não é detalhado, embora Nabucodonosor seja identificado com o primeiro Reino (2:38) e os outros dois reinos mencionados (Medo-persa e Grego) sejam deduzidos como dois dos três restantes. Entretanto este mapeamento perde importância ao considerarmos que o propósito principal é destacar a eternidade e proximidade do Reino de Deus com a temporalidade dos reinos humanos.

O ORGULHO E A REBELIÃO
O orgulho dos reis das nações é um tema recorrente no livro de Daniel. Nabucodonosor com sua estátua de ouro e seu orgulho arquitetônico (cap. 3), bem como o orgulho demonstrado por Belsazar ao profanar os objetos do Templo (5:18-23) são exemplos de como esta atitude desagradou a Deus. Outros exemplos de orgulho podem ser vistos no decreto de Dario, nos atos do quarto animal da visão de Daniel no capítulo 7, no pequeno chifre do capítulo 8, no príncipe do capítulo 9 e no reino do Sul no 11.
O livro descreve o orgulho como a causa da queda destes reis; e, em contrapartida, a razão da queda e julgamento de Judá foi a rebelião contra Javé. Portanto, o orgulho das nações era comparável com a rebelião e desprezo de Judá pelo código da Aliança (a Lei de Moisés).
Daniel alerta ao povo cativo que suas angústias não terminarão após a volta do exílio; e, embora os pecados das gerações anteriores tenham sido julgados, os judeus ainda não haviam atingido a maturidade esperada por Javé, por isso sua aflição e agonia continuariam. Entretanto, em meio às tribulações o Senhor deu-lhes a esperança da ressurreição (12:2) e os encorajou a permanecerem firmes durante este período de purificação e renovo (12:10-13).



INTERPRETAÇÕES DE ALGUMAS VISÕES DE DANIEL

Este livro é chamado de o Apocalipse do Antigo Testamento, todavia o valor religioso deste Livro, a sua revelação do Plano de Deus, a sua promessa da vinda de Cristo, e todas as lições morais e espirituais, que a Igreja, em todos os tempos, tem recebido por meio de suas páginas, devem julgar-se independentes de qualquer conclusão sobre o tempo em que foi escrito e a respeito do seu autor.

·        CAPÍTULO 2.31-45 – O SONHO DOS IMPÉRIOS MUNDIAIS
             O Rei Nabucodonozor teve um sonho e a sua interpretação nos ensinam coisas interessantes acerca da história do mundo, desde àquela época até o fim dos tempos. A esse período a Bíblia chama de “tempo dos gentios”, por que Deus colocou de lado, por algum tempo, Seu próprio povo, os judeus, e entregou o governo do mundo aos gentios. Deus revelou em sonho a um monarca pagão, o Seu plano do futuro, (2.29). Imagine uma grande estátua; a cabeça de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e os quadris de bronze, e as pernas de ferro com os pés e os dedos de ferro e barro. Vemos então uma Pedra cortada sem auxílio de mãos, ferindo a estátua, quebrando-a em pedaços. E a Pedra se tornou em uma grande montanha que encheu a terra. (Essa pedra outro não era, senão Jesus Cristo).
Primeiramente Deus revela as potências gentias. Quatro grandes delas se sucederiam no governo do mundo, começando por Nabucodonozor até o fim. Deus diz: “Tu és a cabeça de ouro”, o Império Babilônico (605-538AC); o poder de Nabucodonozor era absoluto, podia ele fazer o que queria (5.19).
             O peito e os braços de prata representam o Império Medo-Persa (538-330AC); este reino era inferior ao primeiro, porque seu monarca dependia do apoio da nobreza, e não podia fazer o que desejava como demonstra a incapacidade de Dario de livrar Daniel (6.12-16). Esse império era duplo, compostos da Média e da Pérsia, que derrubara a Babilônia e a ela sucedera, sob o comando de Ciro, cujo reinado voltou os judeus a Jerusalém. Esdras 1.1-2.
             O ventre e os quadris de bronze simbolizavam o Império da Grécia (330-30AC), que por sua vez, derrubara os Medo-Persas. Apresenta o quadro do domínio grego “sobre toda a terra”, sob Alexandre Magno, o Grande. O governo de Alexandre foi uma monarquia apoiada pela aristocracia militar tão fraca quanto às ambições de seus chefes. Este império foi mais tarde foi divido em quatro partes (7.6; 8.8).
              Daniel explica o que cada metal representa. Em 2.38 diz nos ele que a cabeça de ouro é a Babilônia. Em 8.20 descobrimos que a seguir vem os Medo-Persas. Em 8.21, Daniel declara que a Grécia sucederia a Pérsia, e em 8.23-24, indica que uma quarta potência mundial. Daí em diante encontramos um reino sempre dividido e um governo sempre enfraquecido em poder, representados pelos pés de ferro e barro, os quais não se ligam, e não se unificará por completo que por fim  terminará em caos. Esta potencia mundial é representado pelo Império Romano (30 aC até o regresso de Cristo). O imperador de Roma foi eleito e seu poder dependia de boa vontade do povo. Este império será dividido nos últimos dias em dez partes. A mistura de ferro e barro nos dez dedos simboliza ainda outra deterioração deste governo em uma monarquia democrática onde o monarca executa a vontade do povo. (2.41-43).
              Na Pedra cortada sem auxílio de mãos, vemos o Reino de Cristo, o qual nunca será destruído e porá fim a todos os demais reinos. Cristo virá estabelecer um reino que durará para sempre. (2.44-45). 

·        CAPÍTULO 4 – A GRANDE ÁRVORE DO SONHO DE NABUCODONOZOR
             Vemos agora Deus falar com Nabucodozor pela terceira vez em sonho da grande árvore que fora cortada (4.4-27). Era uma advertência da loucura que se adivinhada. Deus procura trazer esse orgulhoso homem ao extremo de si mesmo, que um ano depois perde a razão, vivendo como um animal do campo. Tudo aconteceu porque se havia constituído rival do Deus Todo Poderoso, dizia “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com meu grandioso poder, e para a glória da minha majestade?” (4.30). A loucura abriu os olhos de Nabucodonosor e sua consciência foi tocada, ao ponto de reconhecer a grandeza de Deus e dar testemunho de sua bondade. Aprendeu que o homem não é arquiteto de sua própria sorte.
              A grande árvore simbolizava o próprio Rei e a extensão desse reinado que foi deposto e mais tarde restabelecido novamente ao trono (4-20-23,34-37).

·         CAPÍTULO 7 – A VISÃO DOS ANIMAIS SIMBÓLICOS
              Durante o primeiro ano do reinado de Balsasar, Daniel teve uma visão de quatro animais selvagens, simbolizando os quatro reinos descritos no sonho de Nabucodonozor descrito no Capítulo Dois. No Capitulo Sete, a figura das feras mostra-nos o caráter moral desses impérios. No sonho de Nabucodonozor temos o modo de como o homem vê magnificência desses reinos, e no sonho de Daniel temos o modo de como Deus vê esses mesmos reinos.
7.17-23A primeira dessas feras é a própria Babilônia semelhante a “leão com asas”. O Profeta Jeremias comparou a Nabucodonozor, tanto ao leão como à águia (Jer.49.19-22).
 O segundo é a Persia, ou Medo-Persa, o representada pelo “urso”, animal cruel que se deleita em matar pelo prazer de matar, representado nos três reinos que este império subjugava: Lídia, Egito e Babilônia, prefigurados nas três costelas na boca do urso.
 O terceiro animal era o “leopardo”, ou pantera, animal de rapina e suas quatro asas significam rapidez, vemos aqui a Grécia com o rápido avanço das hostes de Alexandre Magno, o grande, e seu insensato amor pelas conquistas. Em apenas 13 anos ele tinha subjugado o mundo. As quatro cabeças significam as quatro divisões que este império recebeu após a morte de Alexandre.
 O quarto animal diferia dos demais, era “terrível e cruel, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro”. A besta não descrita representa o Império Romano e seus dez chifres, os dez reinos em que será dividido nos últimos tempos e destes chifres, saí outro, o qual será o anticristo. Os dias destes dez chifres testemunharão a vinda de Cristo com poder e glória, o qual destruíra esse grande sistema mundial e seu governante, também descrito no livro de Apocalipse 13 e 19. 

·        CAPÍTULO 8 – O PEQUENO CHIFRE
            O Anjo Gabriel explica a visão, tornando a sua explicação histórica um assunto simples. O Império dos Persas, estabelecido por Ciro, durou de 538 até ao ano de 333AC, em que foi destruído por Alexandre Magno, e na idade de 32 anos este conquistador morreu (o simbolizado chifre quebrado), que havia estabelecido domínio quase universal, e não tendo deixado herdeiro, seu grande império foi repartido entre seus generais. Depois de vinte anos de rivalidades e lutas, estabeleceram-se quatro reinos: Macedônia e Grécia, Trácia e Betínia, Egito e Síria, sendo dada à parte oriental com a Babilônia e Seleuco. Por esta razão viveu a Judéia sob o governo dos reis seleucidas, e destes foi Antíoco Epifanes o nono (175 a 164 AC), prefigurado na profecia pelo “pequeno chifre”.
           O “pequeno chifre” subindo dentre os outros dez também é representado pelo “anticristo” que está por vir, como descrito no Livro de Apocalipse, como a “besta que sobe do mar”, a mesma visão descrita em Dan.7.15-25, onde os santos serão oprimidos por ele,e ele exercerá grande poder sobre o mundo.

·        CAPÍTULO 8 – O CARNEIRO R O BODE
           As perseguições aos judeus resultaram numa revolta, chefiada por Judas Macabeu, e na reconsagração do Templo em 165, cerca de três anos depois da profanação do Templo. Antíoco Epifanes morreu alguns meses mais tarde.
           Temos em Daniel 8.20-21, dois anos mais tarde, outra visão: a do Carneiro e do Bode. Belsasar ainda estava no trono. Essa visão inclui apenas dois dos quatro reinos: Pérsia e Grécia. Essa visão contem a profecia deste último reino entre os quatro generais de Alexandre, o Magno, visão esta tida em Susã, capital da Pérsia, onde 70 anos mais tarde se deram os acontecimentos narrados no Livro de Ester.
           O Carneiro Bicorne representa o Ímpério da Média e Pérsia e o Bode representa o Império Grego que destruiu a Pérsia. O Corno Notável entre os olhos do bode representa Alexandre Magno, governante do Império Grego e os quatro cornos que surgiam, simboliza, representa as quatro divisões do Império de Alexandre, após sua morte.
O Corno Pequeno que surge de uma das divisões do Império de Alexandre é o Rei Sírio Antioco Epifânio, que na sua feroz perseguição aos judeus, contaminou o santuário e procurou abolir a religião judaica, também uma personificação do anticristo que está por vir. Dan. 11.36, 12.11.

·        CAPÍTULO 9 – AS 70 SEMANAS DE DANIEL
           “Setenta semanas estão destinadas para o teu povo, e sobre a tua santa Cidade para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos”.
            Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas: as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
Depois das sessenta e duas semanas será morto o Ungido, e já estará; e o povo de um príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.
             Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que  a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” Daniel 9.24-27).
             A palavra “Semana” é usada para significar período de 7 anos. Sendo que:
70 Semanas = 70x7 = 490 Anos
As Divisões: São divididas em três partes, com um lapso de tempo parentético para o presente “Governo Gentio”.
7 Semanas – 49 Anos, que começaram com a ordem de reconstruir Jerusalém sob Esdras e Neemias (março de 445 aC, durante o reinado de Artaxerxes, Ne 2.1-10). O período de 49 Anos provavelmente representa o tempo ocupado na construção do muro como se menciona em 9.25.
62 Semanas – 434 Anos, período em que começaram com a construção do muro de Jerusalém, e continuaram até a crucificação de Cristo. “Cristo será morto e já não estará (9.26). Neste ponto, depois de 483 Anos, o relógio da vida nacional de Israel para.
As 62 Semanas, ou 434 Anos. Depois do período de (49Anos, 62 Semanas, ou 434 Anos), ou seja, 483Anos ao todo iam passar antes da Entrada Triunfal de Cristo em Jerusalém.
70ª Semana – 7 Anos. Período este ainda não iniciado, durante os quais Deus trata exclusivamente com Israel. Começando depois da Vinda de Cristo, depois do Arrebatamento da Igreja do Senhor. O anticristo assume o poder, faz aliança com os judeus, mas rompe-a depois de meia semana, ou seja, após (Três Anos e Meio). Isso introduz o tempo de angustia mencionado em Daniel 12.1 – A Grande Tribulação do Apocalipse ( Ler Apoc.11.2,3,9 ; 12.6 ; 13.5 ).
             A tribulação do povo judeu, ao derramamento dos juízos de Deus será seguido pela Volta Triunfal de Cristo e a Restauração de Israel, que estabelecerá o período do milênio sobre a terra, antes do julgamento dos ímpios e das hostes celestiais.
             Calculando desde Março de 434aC, o ano do decreto de construir Jerusalém, levando em consideração a diferença do calendário usado naqueles dias, e dando lugar aos anos bissextos, os estudiosos têm calculado que os 483 Anos, ou as 69 Semanas, terminaram em Abril de 30 A.D, o mês e o ano exato em que Cristo entrou em Jerusalém como a Príncipe Messias (Mateus 21,1-11;12). Depois deste período o Messias será tirado. Desde então a Igreja do Senhor tem passado por um período longo a espera do arrebatamento que após este acontecimento, prosseguirá a contagem da Última Semana revelada a Daniel, o período de reconciliação dos judeus e um período de tribulação para aqueles que não o aceitaram como seu Salvador.

·        CAPÍTULO 11 – OS ÚLTIMOS DIAS
            Encontramos em Daniel 11, a visão que diz respeito ao futuro próximo do reino em que Daniel foi tão grande figura. Três reis ainda se sucederiam no Império Medo-Persas. Depois surgiria Alexandre, o poderoso rei da Grécia (11.2-3). Seu império seria dividido entre seus quatro generais, conforme já predito. O curso do acontecimento conduz-nos até Antíoco Epifanes “O Pequeno Chifre”, e sua profanação no santuário, (Daniel 8,12.11). Uma clara demonstração de como será o período da Tribulação nos últimos dias que antecedem a Volta de Cristo.
             Como descreve Daniel 12.1, será um tempo de lutas sem paralelo. Dele falou Jesus Cristo, em Mateus 24.21. Duas ressurreições são mencionadas, (Dan. 12.2), e ambas separadas por mil anos, (Apoc.20.1-6). A primeira ressurreição é a dos santos para a vida eterna, na Vinda de Cristo, no arrebatamento da Igreja. Seguir-se-ão mil anos, o Milênio, e então virá a ressurreição dos ímpios, para a vergonha eterna. “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para o horror e vergonha eterna”.