domingo, 22 de janeiro de 2017

A P O L Í T I C A N O S T E M P O S D E J E S U S

A POLÍTICA NOS TEMPOS DE JESUS

O poder efetivo sobre a Palestina estava nas mãos dos romanos, mas em geral estes respeitavam a autonomia interna das suas colônias. A Judéia e a Samaria eram dirigidas por um Procurador Romano, mas o Sumo Sacerdote é quem tinha o poder de gerir as questões internas, através da lei judaica. Este, porém, era nomeado e instituído por um Procurador Romano.  O centro do poder político interno da Judéia e Samaria é a cidade de Jerusalém e o Templo. Com efeito, é do Templo que o Sumo Sacerdote governa, assessorado por um Sinédrio de 71 membros, composto de Sacerdotes, Anciãos e Escribas ou Doutores da Lei. O Sinédrio é o Tribunal Supremo (criminal, político e religioso) e sua influência se estende sobre todos os judeus, mesmo os que vivem fora da Palestina. Nas cidades existe pequeno aparato político (conselhos locais), dominado de início pelos grandes proprietários de terras e, mais tarde, pelos escribas ou doutores da Lei. Da mesma forma, nos povoados encontramos um conselho de anciãos, que se reúne tanto para decidir sobre questões comunitárias, como para casos de litígio ou transgressão da lei, funcionando como tribunal. Além disso, no campo, as relações de autoridade permanente são as relações familiares.

GRUPOS POLÍTICO-RELIGIOSOS
Na sociedade do tempo de Jesus podemos distinguir vários grupos, que se diferenciam no modo de se relacionar com a política, economia e religião, e que têm grande importância no quadro social da época.

SADUCEUS
O grupo dos Saduceus é formado pelos grandes proprietários de terras (anciãos) e pelos membros da elite sacerdotal. Têm o poder na mão, e controlam a administração da justiça no Tribunal Supremo (Sinédrio). Embora não se relacionem diretamente com o povo, são intransigentes em relação a ele, e vivem preocupados com a ordem pública. São os principais responsáveis pela morte de Jesus.
Os Saduceus são os maiores colaboradores do império romano, e tendem para uma política de conciliação, com medo de perder seus cargos e privilégios. No que se refere a religião, são conservadores: aceitam apenas a lei escrita e rejeitam as concepções defendidas pelos doutores da Lei e fariseus (crença nos anjos, demônios, messianismo, ressureição).

DOUTORES DA LEI (ESCRIBAS)
O grupo dos Doutores da Lei vai adquirindo cada vez maior prestígio na sociedade deste tempo. Seu grande poder reside no saber. Com efeito, são os intérpretes abalizados das Escrituras, e daí serem especialistas em direito, administração e educação. A influência deles é exercida principalmente em três lugares: Sinédrio, Sinagogas e Escolas. No Sinédrio, eles se apresentam como juristas para aplicar a Lei em assuntos governamentais e em questões judiciárias. Na Sinagoga, eles são os grandes intérpretes das Escrituras, criando a tradição através da releitura, explicação e aplicação da Lei para os novos tempos. Abrem escolas e fazem novos discípulos.
Embora pertençam economicamente à classe mais abastada, os doutores da Lei gozam de uma posição estratégica sem igual. Monopolizando a interpretação das Escrituras, tornam-se guias espirituais do povo, determinando até mesmo as regras que dirigem o culto. Sua grande autoridade repousa sobre uma tradição esotérica: não ensinam tudo o que sabem, e escondem ao máximo a maneira como chegam a determinadas conclusões.

FARISEUS
Fariseu quer dizer separado. Inicialmente aliados à elite sacerdotal e aos grandes proprietários de terras, os Fariseus deles se afastam para dirigir o povo, embora mantenham distância do povo mais simples (que não conhece a Lei). São nacionalistas e hostis ao império romano, mas sua resistência é do tipo passivo. O grupo dos Fariseus é formado por leigos provindos de todas as camadas da sociedade, principalmente artesões e pequenos comerciantes. A maioria do clero pobre, que se opões à elite sacerdotal, também pertence a este grupo. No terreno religioso, os Fariseus se caracterizam pelo rigoroso cumprimento da Lei em todos os campos e situações da vida diária. São conservadores zelosos e também criadores de novas tradições, através da interpretação da Lei para o momento histórico em que vivem. A maior expressão do farisaísmo é a criação as Sinagoga, opondo-se ao Templo, dominado pelos Saduceus. Desse modo a Sinagoga, com a leitura, interpretação dos textos bíblicos e oração, torna-se expressão religiosa oposta ao sistema cultual e sacrifical do Templo.
Os Fariseus acreditam na predestinação, na ressurreição e no messianismo. Esperam um Messias Político-Espiritual, cuja função será precipitar o fim dos tempos e a libertação de Israel. Esse Messias será alguém da descendência de Davi. E, para os Fariseus, a estrita observância da Lei, a oração e o jejum provocarão a vinda do Messias. Os Fariseus e os doutores da Lei simpatizam entre si, a ponto de muitos Doutores da lei serem também Fariseus.

ZELOTES
Os Zelotes se constituíram a partir dos Fariseus. Provêm especialmente da classe dos pequenos camponeses e das camadas mais pobres da sociedade, massacrados por um sistema fiscal impiedoso. São muito religiosos e nacionalistas. Desejam expulsar os dominadores pagãos (romanos), e também são contrários ao governo de Herodes na Galileia. Querem restaurar um Estado onde Deus é o único rei, representado por um descendente de Davi (messianismo). Nesse sentido, os Zelotes são reformistas, isto é, pretendem restabelecer uma situação passada. Enquanto os Fariseus se mantém numa atitude passiva, os Zelotes partem para a luta armada. Por isso, as autoridades os consideram criminosos e terroristas, e são perseguidos pelo poder romano. Entre os Apóstolos, provavelmente dois eram Zelotes: Simão (Mc. 3.10) e Judas Escariotes. Simão Pedro parece adotar certos métodos dos Zelotes.

HERODIANOS (PARTIDÁRIOS DE HERODES)
Os Herodianos eram os funcionários da corte de Herodes. Embora não formem um grupo social, concretizam a dependência dos judeus aos romanos. Conservadores por excelência, tinham o poder civil da Galileia nas mãos. Fortes opositores dos Zelotes, vivem preocupados em capturar agitadores políticos na Galileia. São os responsáveis pela morte de João Batista.

ESSÊNIOS
Os Essênios se tornaram mais conhecidos a partir da descoberta de documentos em grutas perto do Mar Morto, em 1947. O grupo é resultado de fusão entre Sacerdotes dissidentes do clero de Jerusalém e leigos exilados. Na época de Jesus, viviam em comunidades com estilo de vida bastante severo, caracterizado pelo sacerdócio e hierarquia, legalismo rigoroso, espiritualidade apocalíptica e a pretensão de ser o verdadeiro povo de Deus, Em muitos pontos assemelham aos Fariseus, mas estão em ruptura radical com o judaísmo oficial. Tendo deixado Jerusalém, dirigem-se para regiões de grutas, para aí viverem ideal “monástico”. Levam uma vida em comum, onde os bens são divididos entre todos, há obrigação de trabalhar com as próprias mãos, o comércio é proibido, assim como o derramamento de sangue, mesmo em forma de sacrifícios. A organização da comunidade lembra muito a das ordens religiosas cristãs: Condições severas para admissão, tempo de noviciado, governo hierárquico, disciplina severa, rituais de purificação, ceias sagradas comunitárias. Esperam um Messias chamado Mestre da Justiça, que organizará a guerra santa para exterminar os ímpios e estabelecer o reino eterno dos justos.

SAMARITANOS

Apesar de não pertencerem ao judaísmo propriamente dito, os Samaritanos são um grupo característico do ambiente palestinense. Mais ainda que os judeus, observam escrupulosamente as prescrições do Pentateuco, mas eles não aceitam outros escritos do Antigo Testamento, nem frequentam o Templo de Jerusalém. Para eles, o único lugar legítimo de culto é o Monte Garizim, que fica perto de Siquém, na Samaria. Esperam o Messias chamado Taeb (aquele que volta). Esse Messias não é descendente de Davi, e sim novo Moisés, que vai revelar a verdade e colocar tudo em ordem no final dos tempos. Os Samaritanos são considerados como raça impura pelos judeus, por serem descendentes de população misturadas com estrangeiros.

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