A POLÍTICA
NOS TEMPOS DE JESUS
O poder
efetivo sobre a Palestina estava nas mãos dos romanos, mas em geral estes
respeitavam a autonomia interna das suas colônias. A Judéia e a Samaria eram
dirigidas por um Procurador Romano, mas o Sumo Sacerdote é quem tinha o poder
de gerir as questões internas, através da lei judaica. Este, porém, era nomeado
e instituído por um Procurador Romano. O
centro do poder político interno da Judéia e Samaria é a cidade de Jerusalém e
o Templo. Com efeito, é do Templo que o Sumo Sacerdote governa, assessorado por
um Sinédrio de 71 membros, composto de Sacerdotes, Anciãos e Escribas ou
Doutores da Lei. O Sinédrio é o Tribunal Supremo (criminal, político e
religioso) e sua influência se estende sobre todos os judeus, mesmo os que
vivem fora da Palestina. Nas cidades existe pequeno aparato político (conselhos
locais), dominado de início pelos grandes proprietários de terras e, mais
tarde, pelos escribas ou doutores da Lei. Da mesma forma, nos povoados
encontramos um conselho de anciãos, que se reúne tanto para decidir sobre
questões comunitárias, como para casos de litígio ou transgressão da lei,
funcionando como tribunal. Além disso, no campo, as relações de autoridade
permanente são as relações familiares.
GRUPOS POLÍTICO-RELIGIOSOS
Na sociedade
do tempo de Jesus podemos distinguir vários grupos, que se diferenciam no modo
de se relacionar com a política, economia e religião, e que têm grande
importância no quadro social da época.
SADUCEUS
O grupo dos
Saduceus é formado pelos grandes proprietários de terras (anciãos) e pelos
membros da elite sacerdotal. Têm o poder na mão, e controlam a administração da
justiça no Tribunal Supremo (Sinédrio). Embora não se relacionem diretamente
com o povo, são intransigentes em relação a ele, e vivem preocupados com a
ordem pública. São os principais responsáveis pela morte de Jesus.
Os Saduceus
são os maiores colaboradores do império romano, e tendem para uma política de
conciliação, com medo de perder seus cargos e privilégios. No que se refere a
religião, são conservadores: aceitam apenas a lei escrita e rejeitam as
concepções defendidas pelos doutores da Lei e fariseus (crença nos anjos,
demônios, messianismo, ressureição).
DOUTORES
DA LEI (ESCRIBAS)
O grupo dos
Doutores da Lei vai adquirindo cada vez maior prestígio na sociedade deste
tempo. Seu grande poder reside no saber. Com efeito, são os intérpretes
abalizados das Escrituras, e daí serem especialistas em direito, administração
e educação. A influência deles é exercida principalmente em três lugares:
Sinédrio, Sinagogas e Escolas. No Sinédrio, eles se apresentam como juristas
para aplicar a Lei em assuntos governamentais e em questões judiciárias. Na
Sinagoga, eles são os grandes intérpretes das Escrituras, criando a tradição
através da releitura, explicação e aplicação da Lei para os novos tempos. Abrem
escolas e fazem novos discípulos.
Embora
pertençam economicamente à classe mais abastada, os doutores da Lei gozam de
uma posição estratégica sem igual. Monopolizando a interpretação das
Escrituras, tornam-se guias espirituais do povo, determinando até mesmo as
regras que dirigem o culto. Sua grande autoridade repousa sobre uma tradição
esotérica: não ensinam tudo o que sabem, e escondem ao máximo a maneira como
chegam a determinadas conclusões.
FARISEUS
Fariseu quer
dizer separado. Inicialmente aliados à elite sacerdotal e aos grandes proprietários
de terras, os Fariseus deles se afastam para dirigir o povo, embora mantenham
distância do povo mais simples (que não conhece a Lei). São nacionalistas e
hostis ao império romano, mas sua resistência é do tipo passivo. O grupo dos
Fariseus é formado por leigos provindos de todas as camadas da sociedade,
principalmente artesões e pequenos comerciantes. A maioria do clero pobre, que
se opões à elite sacerdotal, também pertence a este grupo. No terreno
religioso, os Fariseus se caracterizam pelo rigoroso cumprimento da Lei em
todos os campos e situações da vida diária. São conservadores zelosos e também
criadores de novas tradições, através da interpretação da Lei para o momento
histórico em que vivem. A maior expressão do farisaísmo é a criação as
Sinagoga, opondo-se ao Templo, dominado pelos Saduceus. Desse modo a Sinagoga,
com a leitura, interpretação dos textos bíblicos e oração, torna-se expressão
religiosa oposta ao sistema cultual e sacrifical do Templo.
Os Fariseus
acreditam na predestinação, na ressurreição e no messianismo. Esperam um
Messias Político-Espiritual, cuja função será precipitar o fim dos tempos e a
libertação de Israel. Esse Messias será alguém da descendência de Davi. E, para
os Fariseus, a estrita observância da Lei, a oração e o jejum provocarão a
vinda do Messias. Os Fariseus e os doutores da Lei simpatizam entre si, a ponto
de muitos Doutores da lei serem também Fariseus.
ZELOTES
Os Zelotes
se constituíram a partir dos Fariseus. Provêm especialmente da classe dos
pequenos camponeses e das camadas mais pobres da sociedade, massacrados por um
sistema fiscal impiedoso. São muito religiosos e nacionalistas. Desejam
expulsar os dominadores pagãos (romanos), e também são contrários ao governo de
Herodes na Galileia. Querem restaurar um Estado onde Deus é o único rei,
representado por um descendente de Davi (messianismo). Nesse sentido, os Zelotes
são reformistas, isto é, pretendem restabelecer uma situação passada. Enquanto
os Fariseus se mantém numa atitude passiva, os Zelotes partem para a luta
armada. Por isso, as autoridades os consideram criminosos e terroristas, e são
perseguidos pelo poder romano. Entre os Apóstolos, provavelmente dois eram
Zelotes: Simão (Mc. 3.10) e Judas Escariotes. Simão Pedro parece adotar certos
métodos dos Zelotes.
HERODIANOS
(PARTIDÁRIOS DE HERODES)
Os
Herodianos eram os funcionários da corte de Herodes. Embora não formem um grupo
social, concretizam a dependência dos judeus aos romanos. Conservadores por
excelência, tinham o poder civil da Galileia nas mãos. Fortes opositores dos
Zelotes, vivem preocupados em capturar agitadores políticos na Galileia. São os
responsáveis pela morte de João Batista.
ESSÊNIOS
Os Essênios
se tornaram mais conhecidos a partir da descoberta de documentos em grutas
perto do Mar Morto, em 1947. O grupo é resultado de fusão entre Sacerdotes
dissidentes do clero de Jerusalém e leigos exilados. Na época de Jesus, viviam
em comunidades com estilo de vida bastante severo, caracterizado pelo
sacerdócio e hierarquia, legalismo rigoroso, espiritualidade apocalíptica e a pretensão
de ser o verdadeiro povo de Deus, Em muitos pontos assemelham aos Fariseus, mas
estão em ruptura radical com o judaísmo oficial. Tendo deixado Jerusalém,
dirigem-se para regiões de grutas, para aí viverem ideal “monástico”. Levam uma
vida em comum, onde os bens são divididos entre todos, há obrigação de trabalhar
com as próprias mãos, o comércio é proibido, assim como o derramamento de
sangue, mesmo em forma de sacrifícios. A organização da comunidade lembra muito
a das ordens religiosas cristãs: Condições severas para admissão, tempo de
noviciado, governo hierárquico, disciplina severa, rituais de purificação,
ceias sagradas comunitárias. Esperam um Messias chamado Mestre da Justiça, que
organizará a guerra santa para exterminar os ímpios e estabelecer o reino
eterno dos justos.
SAMARITANOS
Apesar de
não pertencerem ao judaísmo propriamente dito, os Samaritanos são um grupo
característico do ambiente palestinense. Mais ainda que os judeus, observam
escrupulosamente as prescrições do Pentateuco, mas eles não aceitam outros
escritos do Antigo Testamento, nem frequentam o Templo de Jerusalém. Para eles,
o único lugar legítimo de culto é o Monte Garizim, que fica perto de Siquém, na
Samaria. Esperam o Messias chamado Taeb (aquele que volta). Esse Messias não é
descendente de Davi, e sim novo Moisés, que vai revelar a verdade e colocar
tudo em ordem no final dos tempos. Os Samaritanos são considerados como raça
impura pelos judeus, por serem descendentes de população misturadas com
estrangeiros.
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