O L I V R O
D E M A R C O S
QUEM
É JESUS
Marcos
escreveu o seu Evangelho com a finalidade precisa de responder a pergunta:
“Quem é Jesus?”. O evangelista, porém, não responde com doutrinas teóricas ou
discursos de Jesus. Ele apenas relata a prática ou atividade de Jesus, deixando
que o leitor chegue por si mesmo à conclusão de que Jesus é o Messias, o Filho
de Deus (1:1; 8:29; 15:39). Portanto, na leitura do livro de Marcos, o
importante é perceber o significado do que Jesus faz, isto é, estar atento ao
quadro completo da sua atividade.
Através da
sua prática, Jesus realiza o projeto messiânico segundo a vontade do Pai,
entrando em conflito com uma concepção de Messias ligada aos esquemas de
denominação. Nessa época, tinha-se a ideia de que o Messias viria como rei
triunfante, que libertaria a nação judaica do poderio romano, e faria Israel
retomar o antigo esplendor dos tempos de Davi e Salomão. Mas esse Messias não
mudaria em nada, e até mesmo aperfeiçoaria, o esquema interno classista e opressor,
sustentado por uma ideologia religiosa. Esse conflito se traduz concretamente
no confronto da atividade de Jesus com a sociedade judaica do seu tempo.
Toda a
atividade de Jesus é o anúncio e a concretização da vinda do Reino de Deus (Mc
1:15). E isso se manifesta pela transformação radical das relações humanas: o
poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha
(campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir a realidade
(campo ideológico). Trata-se de proposta alternativa da sociedade, que leva ao
nivelamento fraterno das pessoas. Isso provoca a oposição acirrada das
autoridades e dos privilegiados, que fazem de Jerusalém e do Templo a sede do
seu poder e riqueza, O resultado do conflito é a paixão e morte de Jesus. Mas
Jesus não permanece morto. Ele ressuscita, e sua Ressurreição é a sentença
condenatória do sistema que o matou.
O livro de
Marcos é a penas o começo da Boa Nova (1:1). O autor deixa claro, portanto, que
sua obra não é completa e que, para chegar ao fim, supõe que o leitor tome uma
posição: continuar o livro através de sua própria vida, tornando-se discípulo
de Jesus. Como discípulos, o leitor deve
chegar a uma decisão, isto é, reconhecer Jesus como Messias que leva à
plenitude de vida (8:29; 15:39) e aceitar o seu convite, indo ao encontro do
Ressuscitado na Galiléia (16:7). Não se trata simplesmente de voltar a ler o
Evangelho desde 1:14, e sim de continuar no tempo presente a atividade concreta
de Jesus, através de prática que faça renascer continuamente a esperança da
vinda do Reino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário