sábado, 11 de março de 2017

O L I V R O D E L U C A S

O    L I V R O    L U C A S

COM JESUS NASCE UMA NOVA HISTÓRIA
O terceiro Evangelho é a primeira parte de uma obra desde o início concebida como um todo; sua continuação é o livro dos Atos dos Apóstolos (Lc 1:1-4, At 1:1ss). No Evangelho, Lucas apresenta o caminho de Jesus, e em Atos temos o caminho da Igreja. Juntos, formam o caminho da Salvação, com o centro de referência em Jerusalém. Esta cidade é o ponto de chegada do caminho de Jesus. Aí que ele vai morrer. É também o ponto de partida do caminho da Igreja que prossegue a missão de Jesus até os confins da terra (At 1.8).
O Evangelho de Lucas apresenta o caminho de Jesus como caminho que se realiza na história. Para percorrê-lo, o Filho do Altíssimo (1:32) se faz homem em Jesus de Nazaré (2:1-7), trazendo para dentro da história humana o projeto de salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita no Antigo Testamento (1:68-70). O caminho de jesus inicia o processo de libertação na história, e por isso realiza nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro das novas relações entre os homens. O programa da ação libertadora de Jesus é apresentado no seu discurso na sinagoga de Nazaré (4:16-22). Por essa razão, o caminho provoca confronto, choque com aqueles que julgam a história como já realizada e querem manter o sistema organizado. Tal sistema, porém, mostra apenas a história tal como é contada pelos ricos e poderosos, que exploram e oprimem o povo, reduzindo-o à miséria e fraqueza. O caminho de Jesus força a revisão dessa história, e começa a contar uma história a ser construída pelos pobres (1:46-55; 1:67-79). Desse modo surge entre os homens o caminho da salvação, que é o caminho da paz. (1:79).
O ápice do terceiro Evangelho está nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (23:46). A morte de Jesus é a sua libertação nas mãos de Deus. É a consequência da sua vida e atividade voltada para os pobres e oprimidos, provocando toda a violência do sistema baseado na riqueza e no poder. Mas a morte é também a libertação; é o resultado da obediência total e confiança em Deus. Por isso Lucas vê a morte de Jesus como “assunção”, o ápice do caminho de Jesus para o ministério de Deus. Jesus faz da sua vida e morte ato de humilde entrega a Deus. E Deus responde com a ressurreição (At 2.22-24; 3:15), que revela e legitima o caminho de Jesus como caminho da vida para salvação do homem.
O caminho de Jesus é., Portanto, a pedagogia que ensina a fazer a história dos pobres que buscam um mundo mais justo e mais humano. Com efeito, Jesus traz o projeto para uma ordem nova, a libertação que leva os homens à relação de partilha e fraternidade, substituindo as relações de exploração e dominação. Eis o motivo por que o caminho-vida de Jesus e “todos os acontecimentos desta vida” (At 5:20) são importantes para revelar as dimensões de uma vida nova que educa o homem para um novo modo de ser e agir. Tal como Jesus educou seus discípulos durante a longa viagem relatada em Lucas (9:51-19:28). Nesse sentido, encontramos antes da viagem o convite fundamental para a vida. “Se alguém que me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (9:23ss). Jesus é o educador que mostra pela sua palavra e ação, pela sua morte, ressurreição e ascensão, o caminho que leva à salvação e comunhão com o Pai, fonte e fim de toda a vida.


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