O L I V R O
L U C A S
COM
JESUS NASCE UMA NOVA HISTÓRIA
O terceiro
Evangelho é a primeira parte de uma obra desde o início concebida como um todo;
sua continuação é o livro dos Atos dos Apóstolos (Lc 1:1-4, At 1:1ss). No
Evangelho, Lucas apresenta o caminho de Jesus, e em Atos temos o caminho da
Igreja. Juntos, formam o caminho da Salvação, com o centro de referência em
Jerusalém. Esta cidade é o ponto de chegada do caminho de Jesus. Aí que ele vai
morrer. É também o ponto de partida do caminho da Igreja que prossegue a missão
de Jesus até os confins da terra (At 1.8).
O Evangelho
de Lucas apresenta o caminho de Jesus como caminho que se realiza na história.
Para percorrê-lo, o Filho do Altíssimo (1:32) se faz homem em Jesus de Nazaré
(2:1-7), trazendo para dentro da história humana o projeto de salvação que Deus
tinha revelado, conforme a promessa feita no Antigo Testamento (1:68-70). O
caminho de jesus inicia o processo de libertação na história, e por isso
realiza nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para
usufruírem a vida dentro das novas relações entre os homens. O programa da ação
libertadora de Jesus é apresentado no seu discurso na sinagoga de Nazaré
(4:16-22). Por essa razão, o caminho provoca confronto, choque com aqueles que
julgam a história como já realizada e querem manter o sistema organizado. Tal
sistema, porém, mostra apenas a história tal como é contada pelos ricos e
poderosos, que exploram e oprimem o povo, reduzindo-o à miséria e fraqueza. O
caminho de Jesus força a revisão dessa história, e começa a contar uma história
a ser construída pelos pobres (1:46-55; 1:67-79). Desse modo surge entre os
homens o caminho da salvação, que é o caminho da paz. (1:79).
O ápice do
terceiro Evangelho está nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito” (23:46). A morte de Jesus é a sua libertação nas mãos
de Deus. É a consequência da sua vida e atividade voltada para os pobres e
oprimidos, provocando toda a violência do sistema baseado na riqueza e no
poder. Mas a morte é também a libertação; é o resultado da obediência total e
confiança em Deus. Por isso Lucas vê a morte de Jesus como “assunção”, o ápice
do caminho de Jesus para o ministério de Deus. Jesus faz da sua vida e morte
ato de humilde entrega a Deus. E Deus responde com a ressurreição (At 2.22-24;
3:15), que revela e legitima o caminho de Jesus como caminho da vida para
salvação do homem.
O caminho de
Jesus é., Portanto, a pedagogia que ensina a fazer a história dos pobres que
buscam um mundo mais justo e mais humano. Com efeito, Jesus traz o projeto para
uma ordem nova, a libertação que leva os homens à relação de partilha e
fraternidade, substituindo as relações de exploração e dominação. Eis o motivo
por que o caminho-vida de Jesus e “todos os acontecimentos desta vida” (At
5:20) são importantes para revelar as dimensões de uma vida nova que educa o
homem para um novo modo de ser e agir. Tal como Jesus educou seus discípulos
durante a longa viagem relatada em Lucas (9:51-19:28). Nesse sentido,
encontramos antes da viagem o convite fundamental para a vida. “Se alguém que
me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (9:23ss).
Jesus é o educador que mostra pela sua palavra e ação, pela sua morte,
ressurreição e ascensão, o caminho que leva à salvação e comunhão com o Pai, fonte
e fim de toda a vida.
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