E V A N G E L
H O S E G U N D O L U C A S
ORIGEM
Evangelho
Segundo Lucas (em grego: Τὸ κατὰ Λουκᾶν εὐαγγέλιον; transl.: To
kata Loukan euangelion) é o terceiro dos quatro evangelhos canônicos. Ele
relata a vida e o ministério de Jesus de Nazaré, detalhando a história dos
acontecimentos de Seu nascimento até Sua Ascensão.
O autor é
tradicionalmente identificado como Lucas, o evangelista. Certas histórias
populares, como o Filho Pródigo e o Bom samaritano, são
encontrados somente neste evangelho. A obra tem uma ênfase especial sobre
a oração, a atividade do Espírito Santo, a alegria e o cuidado
de Deus para com os pobres, as crianças e as mulheres. Lucas
apresenta Jesus como o Filho de Deus, mas volta sua atenção especialmente para
a humanidade dEle, com Sua compaixão para com os fracos, os aflitos e os
marginalizados.
De acordo com o prefácio do livro, o propósito
de Lucas é relatar o início do cristianismo, enquanto procura o
significado teológico da história. O evangelista divide seu evangelho em três
fases: a primeira termina com João Batista, a segunda consiste no
ministério terrestre de Jesus e a terceira é a vida da igreja após a ressurreição
de Cristo. O livro contém ao todo 24 capítulos, 24 parábolas e 21 milagres. O
autor retrata o cristianismo como divino, respeitável, cumpridor da lei e internacional.
Aqui, a compaixão de Jesus estende a todos os que estão necessitados, as
mulheres são importantes entre os seus seguidores, os samaritanos desprezados
são elogiados e os gentios são prometidos a oportunidade de aceitar o
evangelho. Enquanto o Evangelho é escrito como uma narrativa histórica, muitos
dos fatos retratados nele são baseados em tradições orais e
anteriores aos quatro evangelhos canônicos. A mais moderna erudição crítica
concluiu que Lucas usou o Evangelho de Marcos para a sua cronologia e
uma hipotética fonte Q, que provavelmente continha muitos dos ensinamentos
de Jesus. Lucas também pode ter utilizado registros escritos independentes. A
erudição cristã tradicional tem datado a composição do evangelho para o início
dos anos 60 d.C. enquanto a alta crítica data para décadas mais tarde
do século I. Enquanto a visão tradicional de que o companheiro de
Paulo, Lucas, foi o autor do terceiro Evangelho, um número de possíveis
contradições entre Atos e as cartas de Paulo levam muitos estudiosos a duvidar
disso. De acordo com Raymond E. Brown, não é impossível que Lucas foi o autor
do Evangelho. Já Leon Morris afirma que não há nada no Evangelho de Lucas que
coloque em xeque a visão tradicional da Igreja Primitiva. De acordo com a
opinião da maioria, o autor é simplesmente desconhecido.
Os
estudiosos da Bíblia estão em amplo consenso de que o autor do Evangelho de
Lucas também escreveu o Atos dos Apóstolos. Muitos acreditam que o
Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos originalmente constituíam uma obra
de dois volumes, que os estudiosos chamam de Lucas-Atos.
COMPOSIÇÃO
Tradicionalmente,
a data de composição do Evangelho de Lucas é fixada antes dos eventos finais do
livro de Atos, entre os anos 59 e 63 d.C.. O autor do Evangelho de
Lucas reconhece a familiaridade com outros evangelhos anteriores (1:1). Embora
o semitismo exista por todo livro, a obra foi composta em grego koiné. Tal
como Marcos (mas ao contrário de Mateus), o público alvo é a
população de gentios de língua grega, assegurando aos leitores
que o cristianismo não uma seita exclusivamente judaica,
mas uma religião mundial.
EVANGELHOS SINÓPTICOS
Quase todo o
conteúdo de Marcos se encontra em Mateus, e muito de Marcos é
igualmente encontrada em Lucas. Além disso, Mateus e Lucas têm uma grande
quantidade de material em comum que não é encontrado em Marcos.
Os
Evangelhos de Lucas, Mateus e Marcos (conhecidos como Evangelhos Sinópticos)
apresentam um alto grau de semelhança em suas apresentações do ministério de
Jesus. Eles incluem as mesmas histórias, muitas vezes na mesma sequência e às
vezes exatamente com as mesmas palavras. A explicação mais aceita para essa
semelhança é a hipótese das duas fontes, ou seja, Mateus e Lucas tomaram emprestados
o Evangelho de Marcos e uma hipotética coleção escrita de ditos de Jesus,
chamado de Fonte Q. Para a maioria dos estudiosos, a fonte Q foram
coletadas para a formação de parte dos evangelhos de Lucas e Mateus, mas não
são encontrados em Marcos.
Em The
Four Gospels: A Study of Origins (1924), Burnett Hillman Streeter
argumentou que uma outra fonte, chamada L e também hipotética, está
por trás do material em Lucas que não tem paralelo em Marcos ou Mateus.
FONTES
A visão
tradicional é que Lucas, que não foi uma testemunha ocular do ministério
de Jesus, escreveu seu evangelho após reunir as melhores fontes de informação
ao seu alcance (Lucas 1:1-4), como afirma em seu prólogo. Para a erudição
crítica, a hipótese das duas fontes é a mais provável, ou seja, o autor de
Lucas usou como fontes para seu Evangelho o Evangelho de Marcos e o
hipotético documento Q, além do material exclusivo da Fonte L. A
introdução da obra mostra que o autor utilizou três fontes: várias narrações
compostas antes dele (entre elas o Evangelho de Marcos), informações recolhidas
junto a testemunhas oculares e a tradição oral da pregação apostólica.
Muitos já se
dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme
nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas
oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o
começo, e decidi escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para
que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas. (Lucas 1:1-4)
EVANGELHO DE
MARCOS
A maioria
dos estudiosos modernos concordam que Lucas usou o Evangelho de Marcos como
uma de suas fontes. A compreensão de que Marcos foi o primeiro dos evangelhos
sinóticos e que serviu de fonte para Mateus e Lucas é fundamental para os
estudos da crítica moderna. O Evangelho de Marcos é curto e foi escrito
em grego koiné (isto é, grego comum). Ele fornece uma cronologia
geral do batismo de Jesus até o túmulo vazio. Lucas, entretanto,
apresenta alguns dos eventos em uma ordem cronológica diferente de Marcos a fim
de dar mais ênfase a determinado assunto.
FONTE Q
A maioria
dos estudiosos modernos concordam que Lucas usou o Evangelho de Marcos como uma
de suas fontes. Além disso, o Evangelista também usou Q como sua
segunda fonte.
A maioria
dos estudiosos acreditam que Lucas usou Q como sua segunda fonte. Q
(Vem do alemão "Quelle" e significa "fonte") é uma coleção
de ditos hipotéticos de Jesus. Na "hipótese das duas fontes," o
documento Q explica onde os autores de Mateus e Lucas pegaram o material que os
dois Evangelhos têm em comum, mas que não é encontrado em Marcos, como a oração
do Senhor (Pai Nosso) e o Sermão do Monte. A existência de um importante
documento com dizeres de Jesus e que não foi mencionado pelos Pais da
Igreja Primitiva continua sendo um dos grandes enigmas da erudição bíblica
moderna.
EVANGELHO DE
MATEUS
Para o
teólogo alemão Martin Hengel, Lucas também fez uso do Evangelho de
Mateus ao compilar seu evangelho.
FONTE L
Para os
estudiosos, o material exclusivo do Evangelho de Lucas derivam da fonte L,
que é comumentemente aceita como proveniente da tradição oral cristã. Lucas
aparentemente delineia um conjunto de histórias e ensinamentos do Cristianismo
primitivo sobre Jesus e os incorpora no seu evangelho. O Magnificat, no
qual Maria louva a Deus, é um desses elementos. As narrativas
do nascimento de Jesus em Lucas e em Mateus parecem ser o mais
recente componente desses dois Evangelhos. Lucas pode ter começado originalmente a partir
de 3:1-7, com um prólogo adicionado.
Os livros
do Novo Testamento foram escritos em grego. O estilo de Lucas é
o mais literário de todos eles. Graham Stanton avalia a abertura do Evangelho
de Lucas como "a frase mais refinada de todo o período pós-clássico da
literatura grega". Linguisticamente, o Evangelho de Lucas dividi-se em
três seções. O prefácio (1:1-4), escrito num bom estilo clássico. O restante do
capítulo 1 e o capítulo 2 têm um sabor nitidamente hebraico. É tão marcante que
certo número de estudiosos chegou à conclusão de que aqui temos uma tradução de
um original em hebraico. A partir de 3:1, Lucas escreve num tipo de grego
helenístico que relembra fortemente a Septuaginta, versão grega do Antigo
Testamento.
O vocabulário é
extensivo e Lucas utiliza 266 palavras (além dos nomes próprios) que não são
achados noutras partes do Novo Testamento. O estilo do Evangelho
constantemente lembra a septuaginta. As citações do Antigo Testamento de
Lucas são comumente tiradas daquela versão, e normalmente o autor emprega as
formas de nomes próprios achadas ali. Às vezes a linguagem de Lucas contém
hebraísmos e, às vezes, aramaísmos. Além disso, sua linguagem é mais
semítica nalguns trechos do que noutros. Esses fatos parecem melhor explicados
como sendo a reflexão das fontes de Lucas.
AUTORIA
São Lucas
Evangelista (1602-1605), El Greco, na Catedral de Toledo. Para a
tradição, Lucas é considerado o autor do Evangelho de
Lucas e dos Atos dos Apóstolos.
O escritor
deste evangelho anônimo foi provavelmente um gentio cristão. Seja quem tiver
sido o autor, ele foi uma pessoa muito bem educada, bem viajada, bem conectada
com os eventos do mundo antigo, além de um prolixo leitor. Na época em que
compôs o Evangelho, ele deve ter sido um autor altamente praticado e
competente, sendo capaz de compor numa ampla variedade de formas literárias de
acordo com as exigências do momento.
O Evangelho
de Lucas e os Atos dos Apóstolos foram escritos pelo mesmo autor. A evidência mais direta vem dos
prefácios de cada livro. Ambos os prefácios foram dirigidos a Teófilo e
o prefácio de Atos explicitamente faz referência ao «meu livro anterior
sobre a vida de Jesus» (Atos 1:1). Além disso, há semelhanças linguísticas e
teológicas entre as duas obras, sugerindo que elas têm um autor em comum. Ambos
os livros contêm também interesses comuns e referências cruzadas,
indicando que eles são do mesmo autor. Os estudiosos da Bíblia que consideram
os dois livros como uma única obra em dois volumes, referem-se ao conjunto como
Lucas-Atos.
As passagens
de Atos na primeira pessoa do plural são usadas como evidência do autor ser um
companheiro de Paulo. A tradição diz que o texto foi escrito por Lucas,
companheiro de Paulo e nomeado em Colossenses 4:14. Os Pais da
Igreja, o testemunho do Cânone Muratori, Irineu (170
d.C.), Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano sustentavam
que o Evangelho de Lucas foi escrito por Lucas. Um dos mais
antigos manuscritos do Evangelho P75 (200 d.C.), traz a
atribuição "o Evangelho segundo São Lucas". No entanto, um outro
manuscrito, o P4, datado de um período próximo, não têm atribuição
sobrevivente de autoria.
De acordo
com a opinião majoritária, as provas de que Lucas não é o autor do Evangelho e
sim um gentio desconhecido são fortes. Eles acham que o autor é um cristão
gentio desconhecido. Para eles, o livro de Atos contradiz as cartas de
Paulo em muitos pontos, como a segunda viagem de Paulo a Jerusalém para
o Concílio de Jerusalém. Paulo colocado ênfase na morte de Jesus,
enquanto o autor de Lucas enfatiza o sofrimento de Jesus. Além disso, há para
eles diferenças escatológicas e uma visão distinta de ambos sobre
a Lei. Paulo descreveu Lucas como "o médico amado ", o que levou
W. K. Hobart a afirmar em 1882 que o vocabulário usado em Lucas-Atos sugere que
o autor pode ter tido formação médica. No entanto, esta afirmação foi
contrariada por um influente estudo de H. J. Cadbury em 1926, e desde então tem
sido abandonado. Acredita-se hoje que a linguagem da obra reflete apenas a
educação grega comum, pois os médicos empregavam uma linguagem parecida com a
de outras pessoas.
A visão
tradicional sobre a autoria de Lucas, no entanto, é defendida por muitos
estudiosos importantes. De acordo com Raymond Brown "não é
impossível" que eles estejam certos. Oscar Cullmann afirma que não se tem
razões válidas para duvidar que o autor é Lucas, o companheiro de Paulo. Uma
vez que Lucas não era um personagem proeminente na Igreja Primitiva, não
há nenhuma razão óbvia para atribuir a uma figura secundária uma parte
considerável do Novo Testamento, a menos que ele de fato tenha sido o
autor. Se Lucas foi apenas um companheiro de Paulo, e em algum momento
depois da morte do apóstolo idealizou escrever um evangelho, é algo que poderia
explicar as diferenças entre Atos e as cartas de Paulo. Além disso, a
grande distância entre o Paulo de Atos e o Paulo das epístolas imaginada por um
número tão grande de estudiosos é, na verdade, uma distância entre uma
descrição distorcida do Paulo supostamente autêntico e uma interpretação
unilateral do Paulo de Atos.
DATA DA REDAÇÃO
Tito destrói
Jerusalém, por Wilhelm von Kaulbach, Nova Pinacoteca, Munique.
A data da
redação deste Evangelho é incerta. A maioria dos estudiosos críticos colocam o
Evangelho entre 80-90, embora muitos defendam uma data entre 60-65.
ANTES DE 70 d.C
Uma minoria
de eruditos põe a redação do Evangelho entre 37 e 61 d.C., sugerindo que o
endereço de Lucas para o "excelentíssimo Teófilo", pode ser uma
referência ao Sumo Sacerdote de Israel entre 37 e 41 d.C., Theophilus
ben Ananus. Para esses estudiosos, o livro de Atos dos Apóstolos foi
escrito por volta do final do primeiro cativeiro de Paulo, entre 62
e 63 d.C.. Por isso, o Evangelho de Lucas deve ter sido escrito antes.
Lucas 3:1 seria
um indicio que este evangelho teria sido escrito antes da Guerra Judaica (66-70).
Depois dessa guerra não haveria motivos para mencionar Lisânias,
cuja tetrarquia teria sido doada a Herodes Agripa pelo
imperador Claúdio.
Como o
Evangelho foi escrito antes de Atos dos Apóstolos, os estudos de Donald Guthrie
apontam que Lucas poderia ter coletado grande parte de seu material exclusivo
durante os dois anos da prisão de Paulo em Cesareia Marítima (costa
norte de Israel, ao sul da atual Jafa), que era então prisioneiro dos
romanos. Essa prisão deve ser datada para os anos 57-59. Nesse caso, a
redação do Evangelho de Lucas aconteceu ou durante esse período ou logo depois.
Esses estudiosos também colocam o Evangelho de Marcos antes da Destruição
do Templo de Jerusalém pelos Romanos, em 70 d.C.. No entanto,
Guthrie observa que grande parte das provas para datar o terceiro Evangelho em
qualquer ponto é baseado em conjecturas.
ENTRE 75-100 d.C
A maioria
dos estudiosos contemporâneos consideram Marcos como fonte usada por Lucas
(ver: Primazia de Marcos). Se é verdade que Marcos foi escrito em torno
da destruição de Jerusalém, cerca de 70, eles acreditam que Lucas não
teria sido escrito antes de 70. Alguns que tomam este ponto de vista acreditam
que a previsão profética de Lucas da destruição do Templo de Jerusalém não
poderia ser o resultado de uma profecia de Jesus sobre o futuro. Eles
afirmam que a discussão em Lucas 21:5 - 30 é específica o suficiente
(mais específica que Marcos ou Mateus) para comprovar uma data depois de
70. Esses estudiosos têm sugerido datas para Lucas desde 75 até 100.
A base para
uma data posterior vem de uma série de razões. Diferenças de cronologia,
estilo e teologia sugerem que o autor de Lucas-Atos não estava
familiarizado com a teologia distintiva de Paulo, mas estava escrevendo uma
década ou mais depois de sua morte, pelo quais vários pontos de harmonização
significativa entre diferentes tradições dentro cristianismo primitivo já
tinham ocorrido. Além disso, Lucas-Atos tem pontos de vista sobre a natureza
divina de Jesus, o fim dos tempos e salvação que são
semelhantes à aqueles encontrados nas epístolas pastorais, que são muitas
vezes vistos como pseudônimo, possuindo uma data mais tarde do que as
incontestáveis Epístolas Paulinas.
Alguns
estudiosos do Jesus Seminar argumentam que as narrativas do
nascimento de Lucas e Mateus são um desenvolvimento tardio do evangelho. Dessa
forma, Lucas poderia ter começado originalmente em Lucas 3:1 com João
Batista.
O terminus
ad quem (última data possível) do Evangelho de Lucas estaria no final
do século I, já que os primeiros manuscritos contém porções de Lucas
(século II/início do século III) e vários Pais da igreja e
obras cristãs do final do século I fazem referência a esse Evangelho.
O trabalho se reflete na Didaquê, nos escritos gnósticos de Basilides e Valentinus,
na apologética da Igreja de Justino Mártir, além de ter sido
usada por Marcião.
Estudiosos
do Cristianismo primitivo, como Donald Guthrie, afirmam que esse Evangelho
foi provavelmente muito conhecido antes do final do século I, sendo
plenamente reconhecido na primeira parte do século II. Já Helmut Koester
afirma que, além de Marcião, "não há evidência certas para seu
uso," antes de 150 d.C. Nos
meados do século II, uma versão editada do Evangelho de Lucas foi o único
evangelho aceito por Marcião, um herege que rejeitou a conexão do
Cristianismo com as escrituras judaicas (Evangelho de Marcião).
DESTINATÁRIO E PROPÓSITO
O Evangelho
de Lucas é especificamente endereçado a Teófilo (Lucas 1:3), cujo nome
significa "aquele que ama a Deus". A maneira mais natural de entender
a expressão é que Teófilo é uma pessoa de verdade e o mecenas de
Lucas, provavelmente pagando os custos da publicação do livro, sendo por isso a
ele dirigido. O adjetivo "excelentíssimo" significa que Teófilo era
uma pessoa de posição.
Teófilo, no
entanto, era mais que um publicador. A mensagem desse evangelho visava à
instrução não só daqueles entre os quais o livro circularia, mas também dele
próprio (Lucas 1:4). Pensa-se que, como Marcos (e ao contrário de Mateus),
o público-alvo do Evangelho de Lucas são os gentios. O fato do evangelho
ser dirigido a Teófilo não reduz nem limita seu propósito.
O livro foi
escrito para fortalecer a fé de todos os crentes e para reagir aos ataques dos
incrédulos. Foi apresentado para substituir relatórios desconexos e infundados
a respeito de Jesus. Lucas queria demonstrar que o lugar ocupado
pelo gentio convertido no reino de Deus basei-se nos
ensinos de Jesus. Queria recomendar a pregação do evangelho ao mundo inteiro.
CONTEÚDO
O Evangelho
de Lucas narra a história do nascimento milagroso de Jesus, bem como seu
ministério de curas e suas parábolas, sua paixão, ressurreição e ascensão.
O estudioso cristão Donald Guthrie afirma que o livro de Lucas
"é cheio de histórias magníficas, deixando o leitor com uma profunda
impressão da personalidade e dos ensinamentos de Jesus".
Lucas é o
único evangelho com uma introdução formal, no qual ele explica sua metodologia
e seu propósito.
O autor
acrescenta que ele também deseja compor um relato ordenado para Teófilo a
fim de que seu destinatário "tenha certeza das coisas que te foram ensinadas"
NARRATIVAS DO NASCIMENTO E GENEALOGIA
Representação
da Natividade, abaixo de uma Árvore de Natal. É o Evangelho de Lucas
que apresenta a conhecida história de Natal em que Maria e José viajam
à Belém para um censo, colocando o bebê recém-nascido numa
manjedoura.
Como Evangelho
de Mateus, Lucas relata a Genealogia de Jesus, seu nascimento
virginal e a Anunciação. Ao contrário de Mateus, que traça a linhagem
de Jesus através da linhagem de Davi e Abraão a fim de apelar para sua
audiência judaica, em Lucas o evangelista traça a linhagem de Jesus até Adão,
indicando um sentido universal da salvação. A narrativa de Lucas sobre
o Nascimento de Jesus apresenta a conhecida história de Natal em
que Maria e José viajam à Belém para um censo.
O Jesus recém-nascido é colocado em uma manjedoura, ao mesmo tempo em que os
anjos proclamam o nascimento do salvador aos pastores, que vão adorá-lo.
Também é exclusivo do Evangelho de Lucas a história do Nascimento de João
Batista e os três cânticos (incluindo o Magnificat), bem como a única
história da infância de Jesus
MILAGRES E PARÁBOLAS
Lucas
enfatiza os milagres de Jesus, contando 20 no total, quatro dos quais são
únicos. Como Mateus, Lucas inclui palavras importantes a partir da fonte
Q, tais como as bem-aventuranças. No entanto, a versão de Lucas das
bem-aventuranças difere da de Mateus. De acordo com os estudiosos, a versão de
Lucas parece mais perto da fonte Q. Várias das parábolas mais
memoráveis de Jesus são exclusivas de Lucas, como a do Bom Samaritano,
do Mordomo Infiel e a Parábola do Filho Pródigo.
PAPEL DA MULHER
Mais do que
os outros evangelhos, Lucas se concentra no importante papel que as mulheres
exerceram no ministério de Jesus, tais como Maria Madalena, Marta e Maria
de Betânia. O Evangelho de Lucas é o único Evangelho que contém a anunciação do
nascimento de Jesus a Maria, sua mãe (Lucas 1:26 - 38). Em comparação com os
outros evangelhos canônicos, Lucas dedica uma atenção muito maior para as
mulheres. O Evangelho de Lucas traz personagens mais femininas, características
de uma profetisa do sexo feminino (Lucas 2:36) e os detalhes da experiência da
gravidez (Lucas 1:41 - 42). Discussão de destaque são dadas à vida de Isabel,
a mãe de João Batista e de Maria, a mãe de Jesus (Lucas 2:1 - 51).
A ÚLTIMA CEIA
Lucas é o
único evangelho que trata a Última Ceia da forma como Paulo faz,
com o estabelecimento de uma liturgia a ser repetida por seus
seguidores. De acordo com Geza Vermes, Paulo deve ser considerada a
principal fonte para essa interpretação, porque ele diz ter recebido essa
percepção da revelação direta em vez dos outros apóstolos. Os versos em
questão não são encontrados em certos manuscritos mais antigos, e Bart D.
Ehrman conclui que eles foram adicionados a fim de apoiar o tema da morte
expiatória de Jesus - um tema encontrado em Marcos, mas que o evangelista Lucas
excluiu do original. Entretanto, a crítica textual considera
que Lucas 22:19 - 20 são autênticas. O relato de Lucas é inusitado
por causa da menção ao cálice em primeiro lugar, seguindo a
tradicional sequência pão/cálice. Daí a confusão de alguns escribas terem
omitido essa parte do Evangelho.
CRUCIFICAÇÃO
Crucificação
de Jesus
Lucas
enfatiza que Jesus não havia cometido nenhum crime contra Roma,
sendo sua inocência confirmada por Herodes, Pilatos, e o ladrão
crucificado com Jesus. É possível que o autor de Lucas estava tentando ganhar o
respeito das autoridades romanas para o benefício da Igreja, sublinhando a
inocência de Jesus. Além disso, Lucas minimiza o envolvimento romano na execução
de Jesus, colocando a responsabilidade maior sobre os judeus. Craig Evans
afirma que Lucas colocou os judeus como os principais responsáveis
pela morte de Jesus a fim de dar sentido à morte do Messias pela
nação israelita - como profetizada no Antigo Testamento. Nesse sentido,
seria simplista aplicar a Lucas o rótulo de anti-semita. Na narrativa de
Lucas da Paixão, Jesus ora para que Deus perdoe aqueles que o estavam
crucificando; e garante à um dos ladrões crucificados ao seu lado que estaria no Paraíso.
RESSURREIÇÕES E APARIÇÕES
Ressurreição
de Jesus
A versão de
Lucas difere daquelas apresentadas em Marcos e em Mateus. Lucas conta a
história de dois discípulos na estrada de Emaús, e (como em João)
Jesus aparece aos Onze e demonstra que ele é carne e sangue, e não um espírito.
Alguns estudiosos sugerem que por ter escrito "carne e sangue" como
propriedades do corpo ressuscitado de Jesus, Lucas estaria fazendo uma apologia
contra a hipótese docética ou o ponto de vista gnóstica sobre
o corpo ressuscitado de Cristo, ou ainda a teoria que os discípulos tinham
apenas visto um fantasma. No entanto, estudioso Daniel A. Smith escreve
que Lucas estava provavelmente mais preocupado com os cristãos primitivos que
acreditavam que a ressurreição era algo meramente "espiritual", sem
ter ocorrido uma transformação do corpo natural. Jesus comissiona (Grande
Comissão) os discípulos para levarem sua mensagem a todas as nações, colocando
o cristianismo como uma religião universal. O livro de Atos dos Apóstolos,
também escrito pelo autor do Evangelho de Lucas e direcionado a Teófilo,
declara que "Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes muitas provas
indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de 40
dias" Atos 1:3.
A narração
detalhada do Caminho de Emaús se encontra em Lucas 24:13-32 e é
considerada um dos melhores desenhos de uma cena bíblica do Evangelho de Lucas.
MANUSCRITOS
P45. Fólios
13-14 com parte do Evangelho de Lucas
Categorias
dos manuscritos do Novo Testamento
Os primeiros
manuscritos do Evangelho de Lucas são três grandes papiros fragmentos
que datam do final do século II ou início do século III. P4 é
provavelmente o mais antigo, datando do século II. P75 é datada entre
o final do século II e o início do século III. Finalmente, P45 (meados
do século III) contém uma parte de todos os quatro Evangelhos. Além desses
grandes papiros, há 6 outros papiros (P3, P7, P42, P69, P82 e P97) que
datam entre os séculos III e VIII e que contêm pequenas
porções do Evangelho de Lucas. As cópias iniciais, bem como as primeiras cópias
do livro de Atos, datam depois que o Evangelho foi separado do livro de Atos.
O Codex
Sinaiticus, Vaticanus e os códices da Bíblia grega
do século IV, são os mais antigos manuscritos que contêm o texto completo
de Lucas. O Codex Bezae, pertencente provavelmente ao século V, é
um Texto-tipo Ocidental que contém versões do Evangelho de Lucas em
grego e em latim.
VARIANTES TEXTUAIS
Variantes
textuais no Novo Testamento
Tanto no
livro de Lucas quanto em Atos existem diferenças importantes no
denominado Texto-tipo Ocidental, cujos principais representantes são
o Códice de Beza (D) e os manuscritos da Antiga Versão Latina. No
entanto, não há motivos para duvidar que temos o texto de Lucas
substancialmente como foi escrito. Ainda há algumas incertezas sobre algumas
formas textuais, mas há considerável concordância quanto à maioria.
Lucas 2:14
A
versão Almeida Revista e Corrigida traz a versão "paz na terra,
boa vontade para com os homens"; Já a Revista e Atualizada diz
"paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem". Esta última
tradução deve ser preferível, uma vez que tanto a evidência documental quanto
as considerações técnicas, exegéticas e linguísticas da evidência
interna favorecem esta última leitura.
Lucas 6:4
Nos manuscritos
gregos do Códice D, logo após Lucas 6:4, encontra-se um breve
episódio que alguns estudiosos julgam ser genuíno: "No mesmo dia, ele viu
um homem ocupado no trabalho, e era sábado. Então lhe disse: "Homem,
se você sabe o que está a fazer você é abençoado. Mas, se você não sabe, passa
a ser amaldiçoado como transgressor da lei". Presumivelmente, se a pessoa
trabalhasse no Shabat (sábado) por razões apropriadas, ou com
espírito certo, assim como Jesus havia curado o homem cuja mão era
ressequida, tal pessoa não seria culpada de violar a lei do sábado.
Lucas 8:26
Alguns
manuscritos trazem Gérasa, outros Gádara e ainda
outros Gergesa. Visto que Gerasa ficava a mais de 50 quilômetros
do lago de Genesaré, o estouro da manada de porcos teria sido muito
grande, e a correria muito longa. Alguns escribas cristãos sentiram
essa dificuldade e escreveram Gádara em vez de Gérasa, cidade que ficava a
apenas alguns quilômetros longe do lago. Seguindo a hipótese de Orígenes,
outros escribas cristãos escreveram Gergesa, cidade que ficava à beira do lago.
Tudo o que Lucas diz é que Jesus e seus discípulos entraram na região
dos gerasenos, e não necessariamente que entraram na cidade de Gérasa.