quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

S I M B O L O G I A D O S E V A N G E L H O S

SIMBOLOGIA DOS QUATRO EVANGELHOS

O Novo Testamento ou Nova Aliança é a parte da Bíblia que conta a história da vida de Jesus Cristo narrada por quatro homens que são conhecidos com o nome de Evangelistas, porque escreveram a vida de Jesus como um Evangelho, isto é uma Boa Notícia à humanidade. Jesus mesmo não deixou nada escrito. Sua missão foi de anunciar e fazer acontecer o Reino de Deus, reino que se fundamenta no amor, na justiça e no serviço, sobretudo aos mais pobres.
Mateus, Marcos, Lucas e João são os nomes destes quatro discípulos de Jesus. Os três primeiros livros são conhecidos com Evangelhos Sinóticos porque são escritos numa mesma ótica. Eles descrevem muitos milagres e palavras de Jesus. Reúnem completam e editam os assuntos que serviram de base para todas comunidades existentes. João, por sua vez, escreve como uma meditação que visa despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, a fim de que todas as pessoas possam ter vida em abundância.
A iconografia cristã (representação por imagens) atribui um símbolo a cada um dos quatro evangelistas. Esta atribuição é feita a partir dos textos de Ezequiel 1, 1-4 e 10, 14 e de Apocalipse 4, 6-7, que falam de quatro seres vivos com aparência de boi, leão, ser humano e águia. O primeiro a relacionar os evangelistas com estes seres foi Irineu (+ 203). Depois foi Agostinho (+430). Assim, surgiu o costume de representar os quatro Escritores Sagrados nas pinturas e nas esculturas junto aos seus símbolos.

SIMBOLOGIA DE SEUS ESCRITORES

Mateus é representado por um anjo ou homem alado porque inicia o seu evangelho com a genealogia de Jesus Cristo, mostrando a sua origem e descendência humanas, marcados pelo seu nascimento (Cf. Mt 1). É a dimensão da obra-prima de Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança.
Marcos inicia o seu Evangelho falando de João Batista, a voz que clama no deserto (Cf. Mc 1,1-25). Seu símbolo é um leão alado, representando as feras que habitam o deserto. É a dimensão da força, realeza, poder, autoridade do Filho de Deus.
Um touro alado simboliza o evangelista Lucas. Ele inicia o seu Evangelho falando do Zacarias, sacerdote em função naquele ano e cuja tarefa era oferecer sacrifícios no Templo de Jerusalém. O touro é a representação dos sacrifícios oferecidos (Cf. Lc 1,25). É a dimensão da oferta a Deus.
João, dentre os quatro, o maior teólogo, é representado por uma águia, por causa do elevado estilo do seu Evangelho, que fala da Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus. Ele inicia seu Evangelho de cima pra baixo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus" (Cf. Jo 1,1-5). Daí a águia, por ser a ave que voa mais alto e faz os seus ninhos nos montes mais elevados. É a dimensão da liberdade do Filho de Deus diante das forças deste mundo.

A VISÃO DOS QUATRO SERES
O fundamento desses ícones é bíblico. O livro do Apocalipse de São João, por exemplo, traz a visão de quatro seres viventes que rendiam glória a Deus:
“O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. (...) Não cessavam de clamar dia e noite: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, o que é, o que era e o que deve voltar."
Os mesmos quatro animais estão em outra visão do profeta Ezequiel:
“Distinguia-se no centro a imagem de quatro seres que aparentavam possuir forma humana. (...) Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia."
Mas, afinal, por que esses quatro animais foram identificados com os evangelistas? O primeiro autor cristão a utilizar essa analogia foi Santo Irineu de Lião, seguido por Santo Agostinho. Os dois, no entanto, associaram os animais aos evangelistas de forma diferente da que se usa hoje, posto que a ordem dos Evangelhos, no começo da Igreja, ainda não estava bem definida.
Foi São Jerônimo quem começou a tratar os evangelistas da forma como são tratados hoje. São Gregório Magno explica com clareza por que referenda a sua atribuição:
“Que na verdade estes quatro animais alados simbolizam os quatro santos evangelistas, é o que demonstra o próprio início de cada um destes livros dos evangelhos. Mateus é corretamente simbolizado pelo homem porque ele inicia com a geração humana; Marcos é corretamente simbolizado pelo leão, porque inicia com o clamor no deserto; Lucas é bem simbolizado pelo bezerro, porque começa com o sacrifício; João é simbolizado adequadamente pela águia, porque começa com a divindade do Verbo, dizendo: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus' (Jo 1, 1), e assim tem em vista a substância divina, fixando o olhar no sol à maneira de uma águia."
Na mesma homilia, o Papa e doutor da Igreja Católica vai ainda mais fundo na meditação da profecia de Ezequiel:
“Mas, já que todos os eleitos são membros do nosso Redentor e o próprio nosso Redentor é a cabeça de todos os eleitos, através daquilo que simboliza os seus membros nada impede que neles todos ele também seja simbolizado. Assim, o próprio Filho Unigênito de Deus se fez verdadeiramente homem; ele se dignou morrer como bezerro como sacrifício de nossas redenção; ele, pelo poder de sua força, ressuscitou como leão."
“Conta-se que o leão dorme até mesmo de olhos abertos, assim, o nosso Redentor pela sua humanidade pôde dormir na própria morte, e pela sua divindade ficou acordado permanecendo imortal. Ele também depois de sua ressurreição subindo aos céus, foi elevado às alturas como uma águia. “
“Portanto, ele é inteiramente para nós, seja nascendo como homem, seja morrendo como bezerro, seja ressuscitando como leão, seja subindo aos céus como águia." 
“Mas, (...), estes animais simbolizam os quatro evangelistas e ao mesmo tempo, através deles, todos as pessoas perfeitas. Falta-nos então demonstrar como cada um dos eleitos se encontram nesta visão dos animais."
“De fato, cada pessoa eleita e perfeita no caminho de Deus é seja homem, seja bezerro, seja leão, seja águia. De fato o homem é um animal racional. O bezerro é o que se costuma oferecer em sacrifício. O leão é a mais forte das feras, como está escrito: 'O leão, o mais bravo dos animais, que não recua diante de nada' (Pr 30, 30). A águia voa para as alturas, e sem piscar dirige seus olhos aos raios do sol. Assim, todo o que é perfeito na inteligência é homem. E quando mortifica a si mesmo e a concupiscência deste mundo é bezerro. É leão porque, por sua própria e espontânea mortificação, tem a fortaleza da segurança contra todas adversidades, como está escrito: 'O justo sente-se seguro e sem medo como um leão' (Pr 28, 1). É águia porque contempla de forma sublime as coisas celestes e eternas. Sendo assim, qualquer justo é verdadeiramente constituído homem pela razão, bezerro pelo sacrifício de sua mortificação, leão pela segurança da fortaleza, águia pela contemplação. Assim, através destes santos animais, se pode simbolizar cada um dos perfeitos."
Agradeçamos a Deus pelo envio de Seu Verbo, manifestado a nós pelo dom de um “Evangelho quadriforme", como diz Santo Irineu de Lião, lembrando sempre que nenhum livro é capaz de conter Jesus Cristo.

OUTRAS SIMBOLOGIAS
Concebido no coração do Pai, o evangelho é uma mensagem gloriosa, sólida como a rocha, o mesmo Jesus Cristo sob o qual está fundamentado.
Seus quatro temas predominantes se estabelecem na mesma bíblia:
1. Jesus Cristo, o Salvador
A – O “rosto do homem”.
B – Evangelho – LUCAS.
C – Como apresenta Jesus – Como “Filho do Homem”.
D –  Símbolo da Salvação – A Cruz – Representa para nós, bem como para os cristãos em geral, a morte redentora de Jesus, pregado no madeiro para perdão de nossos pecados. Através de seu sacrifício, proporcionou a todos que crêem salvação e reconciliação com Deus, de cuja presença fomos separados pela desobediência de Adão no Jardim do Éden.
2. Jesus Cristo, o Batizador no Espirito Santo
A – O “rosto de leão”.
B – Evangelho – JOÃO.
C – Como apresenta Jesus – Como “Filho de Deus”.
D – Símbolo do Batismo no Espírito Santo – A Pomba Ouro.
Representa o Batismo com o Espírito Santo, um revestimento de poder que nos capacita a vencer todas as hostes da malignidade e fazer as mesmas obras que Jesus fez e ainda maiores do que elas, como o próprio Senhor nos garante em sua Palavra. 
3. Jesus Cristo, o Grande médico
A – O “rosto de boi”.
B – Evangelho – MARCOS.
C – Como apresenta Jesus – Como o “Servo”.
D – Símbolo da Cura Divina – O Cálice.
Representa a cura divina, a qual Jesus nos garante, também, por sua morte, pois, “pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaias 53.5).
4. Jesus Cristo, o Rei que breve voltará
A – O “rosto de águia”.
B – Evangelho – MATEUS.
C – Como apresenta Jesus – Como “O Rei”.
D – Símbolo da Segunda Vinda – A coroa.
Representa a volta de Cristo, como o grande Rei, para resgatar sua noiva (a igreja) e levá-la para morar nos céus, ao lado do Pai, por toda a eternidade.


RESUMINDO
Sérgio Biagi Gregório
"Intelligebas heri modicum, intelligis hodie amplius, intelligis cras multo amplius; lúmen ipsum Dei crescit in te".
Ontem entendias um pouco, hoje entendes algo mais, amanhã entenderás muito mais. É a própria luz de Deus que cresce em ti. (Santo Agostinho)

1. INTRODUÇÃO
Quem eram os evangelistas? Há lógica em seus escritos? Como foram compostos esses livros? Com estas questões, introduzimos os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João –, os primeiros livros do Novo Testamento.

2. CONCEITO
Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos ela indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo.
Os Quatro Evangelhos – Desde os primeiros anos do cristianismo preferiu-se falar de "Evangelho", no singular, também quando se referia aos livros. Isto porque os escritos dos apóstolos traziam todos o mesmo e idêntico "alegre anúncio" proclamado por Jesus e difundido oralmente. Quando se desejou, porém, indicar de maneira específica cada um dos quatro livros, encontrou-se uma fórmula particularmente eficaz e significativa: "Evangelho Segundo Lucas", "Evangelho Segundo Mateus", "Evangelho Segundo Marcos" e "Evangelho Segundo João". Desse momento em diante, o singular e o plural se alternam para indicar, um a identidade do anúncio, o outro a diversidade de forma e redação. Ficará, porém, sempre viva a convicção de que o Evangelho é um só: o alegre anúncio de Jesus. (Battaglia, 1984, p. 25 e 26)
Cânon é a palavra que, nas línguas orientais (dos quais se deriva) e em grego, designa a regra, a medida e, por extensão, o catálogo. Em linguagem bíblica, significa os catálogos dos livros sagrados.
Vulgata é o nome dado à tradução latina dos textos bíblicos devida a São Jerônimo (420), o novo texto assim apresentado aos cristãos em breve se tornou de uso comum; donde o nome de vulgata (forma) que tomou. Antes de Jerônimo já existia outra tradução latina, comumente chamada Vetus latim ou pre-jeronimiana. (Bettencourt, 1960)

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jesus, quando esteve encarnado entre nós, há dois mil anos, traçou-nos os fundamentos morais para a nossa conduta ética. Ele não nos deixou nada escrito. Todos os seus ensinamentos foram transmitidos oralmente. Na época, e mesmo hoje, a palavra oral tinha muito mais força do que a palavra escrita. No discurso oral, usamos gestos, os efeitos sonoros da voz, a repetição persuasiva e muito mais. De certa forma, a escrita é estática, dependendo muito mais do entendimento de quem lê.
Nas aulas, os mestres apelavam para a memória de seus discípulos e procuravam facilitar-lhes a tarefa redigindo suas ideias em sentenças ritmadas quase cantantes, aptas a se guardar na mente dos ouvintes. Este método de ensino é denominado de catequese, palavra grega que significa "ressonância". O mestre devia fazer ecoar amplamente as suas sentenças. Catequizado era aquele a quem haviam feito ressoar os termos da doutrina.
As prédicas de Jesus foram ouvidas pelos seus seguidores, mas redigidas muito tempo depois de sua morte. Dentre os diversos evangelhos existentes, apenas quatro foram considerados canônicos, ou seja, considerados sagrados e de inspiração divina. Os outros foram classificados como apócrifos. Os quatro Evangelhos são: o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho segundo Marcos, o Evangelho segundo Lucas e o Evangelho segundo João.

4. CADA UM DOS QUATRO EVANGELHOS
·        O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
Mateus, o publicano ou o cobrador de impostos, recolheu a pregação apostólica palestinense e escreveu para os judeus convertidos ao cristianismo. O Evangelho de Mateus é o primeiro dos quatro. É também o mais estudado e comentado, em vista da catequese global e eclesial que o caracteriza. Esta catequese mostra que o escândalo da morte na cruz fazia parte do plano de Deus para a salvação da humanidade. Mateus traça a vida histórica e cronológica de Jesus, enaltecendo o trabalho de pregação (kerygma) do Reino dos Céus. Dividiu-o em cinco partes: 1) fundação do Reino dos Céus; 2) o Reino dos Céus em ação (os milagres); 3) o mistério do Reino dos Céus (figura velada das parábolas); 4) Reino como comunidade visível e organizada (Pedro é a pedra angular da "Igreja"); 5) aspecto escatológico do Reino dos Céus (implantação deste na terra). (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS
O Evangelho de Marcos vem em segundo lugar, embora haja dados enciclopédicos que o colocam como o primeiro Evangelho. Não teve o mesmo êxito dos outros, porque o seu material estaria mais desenvolvido em Mateus e Lucas. Santo Agostinho fala que o Evangelho de Marcos é o resumo do de Mateus. A sua autoridade está fundamentada na narração de Pedro, testemunha ocular dos fatos. (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS
O Evangelho de Lucas é o terceiro Evangelho. Foi o que explicitou a sua intenção: escrever uma histórica de Jesus. É um Evangelho para os helenistas, pois é o único escritor que veio do paganismo. Todos os outros são de origem judaica. Sua cidade de origem é Antioquia e foi nessa cidade que surgiu o termo "cristão" para designar os seguidores de Jesus. Este Evangelho como o de Marcos, é de segundo plano, pois viveu à sombra do apóstolo dos gentios, Paulo. A sua catequese fundamenta-se em Jesus como salvador, as lições da cruz e o poder da ressurreição. (Battaglia, 1984)

·        O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO
O Evangelho de João, cunhado como o "Evangelho Espiritual", aparece em quarto lugar. Ele queria penetrar na profundidade do verbo de Deus, o verbo que se fez carne, ou seja, o verbo encarnado em Jesus. O apelido "Evangelho Espiritual" deveu-se a Clemente de Alexandria, que disse: "João, o último de todos, vendo que o aspecto material da vida de Jesus fora ilustrado por outros Evangelhos, inspirado pelo Espírito Santo e ajudado pela oração dos seus, compôs um Evangelho Espiritual". (Battaglia, 1984)



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