sábado, 29 de outubro de 2016

O L I V R O A P Ó C R I F O D E B A R U C

O    L I V R O    D E    B A R U C

Baruc ou Baruque ou Baruk ben Neriá é um personagem bíblico, sendo também o nome de um dos livros deuteronômicos não um apócrifo, (assim considerados pela igreja católica romana) do Antigo Testamento da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao próprio Baruque, que não era um simples escriba, mas um sofer, um alto funcionário da administração babilônica na Judéia. Baruque teria sido um homem erudito e de família nobre, que foi secretário de Jeremias durante o Exílio do povo de Israel na Babilônia.  Filho de Nerias, irmão de Seraías, amigo e secretário do profeta Jeremias (Jr 36:4 ss). Era homem erudito, de nobre família (Jr 51:59 ss), tendo servido fielmente ao profeta. Pelas instruções de Jeremias, escreveu Baruque as profecias daquele profeta, comunicando-as aos príncipes e governadores. E um destes foi acusar de traição o escrevente e o profeta Jeremias, mostrando ao rei, como prova das suas afirmações, os escritos, de que tinham conseguido lançar mão. Quando o rei leu os documentos, foi grande o seu furor. Mandou que fossem presos os dois, mas eles escaparam. Depois da conquista de Jerusalém pelos babilônios (586 a.C.), foi Jeremias bem tratado pelo rei Nabucodonosor- e Baruque foi acusado de exercer influência sobre Jeremias a fim de não fugirem parao Egito (Jr 43:3). Mas, por fim, foram ambos compelidos a ir para ali com a parte remanescente de Judá (Jr 43:6). Durante o seu encarceramento deu Jeremias a Baruque o título de propriedade daquela herdade que tinha sido comprada a Hanameel (Jr 32:8-12).

SEU LIVRO
A obra possui seis capítulos, sendo que a autoria dos cinco primeiros é tradicionalmente atribuída à Baruque, enquanto que a autoria do sexto é atribuída a Jeremias.
A obra tem por objetivo mostrar como era a vida religiosa daquele povo, seus cultos e tem o mérito de conservar o sentimento religioso dos israelitas dispersos pelo mundo todo após a ruína de Jerusalém e a perda de quase todas as suas instituições. Mostra como eles conservaram viva a consciência de ser um povo adorador do verdadeiro Deus. Ao mesmo tempo, mostra a consciência que tinham do desastre nacional: não atribuem tudo isso à infidelidade de Javé; ao contrário, reconhecem que os males se originaram por culpa deles próprios: estão assim porque desprezaram a palavra dos profetas, rejeitaram a justiça e a verdadeira sabedoria. Mas, ao lado dessa consciência de seus pecados, conservam uma viva esperança, pois acreditam que Deus não abandona o seu povo e continua fiel às promessas. Se houver arrependimento e conversão, poderão confiar no perdão divino: serão reunidos de novo em Jerusalém, que é para sempre a cidade de Deus.
A carta do capítulo sexto é uma carta que nos leva aos templos pagãos, cujos ídolos estão empoeirados e carcomidos de cupim. Esses ídolos, apresentados de forma atraente e grandiosa, não têm vida, nem são capazes de produzir vida: "Não podem salvar ninguém da morte e nem podem livrar o fraco da mão do poderoso. Não são capazes de devolver a vista ao cego nem de livrar um homem do perigo; não têm compaixão pela viúva nem prestam qualquer ajuda ao órfão. Esses deuses de madeira prateada ou dourada parecem pedras tiradas do morro: quem se ocupa deles só vai passar vergonha. Como, então, pensar ou dizer que são deuses?" (Br 6:35-39).

ESTRUTURA DO LIVRO
O Livro de Baruc é composto de textos com gêneros literários diferentes que não devem ser nem do mesmo do autor e nem da mesma época.
Pode-se dividir a obra em cinco partes:
1. Capítulo 1:1-14: faz uma descrição da origem da obra, uma introdução (em prosa);
2. Capítulos 1:15 a 3:8: há confissão dos pecados de Israel (1:15-2:10) e suas orações, pedindo perdão (2:11-3:8), foi escrita originalmente em hebraico (em prosa), e desenvolve a oração de Dn 9:4-19 .
3. Capítulos 3:9 a 4:4: Os profetas exortam o povo a parar de cometer erros e seguir os mandamentos dados (em poesia, no estilo dos livros sapienciais).
4. Capítulos 4:4 a 5:9: O povo recebe por meio dos profetas a promessa de que será liberto do cativeiro (em poesia).
5. Capítulo 6: Jeremias diz que o povo está idolatrando e que deve parar com isso (Carta de Jeremias - em poesia), na Septuaginta este capítulo é um livro a parte, enquanto que na Vulgata e nas Bíblias Católicas é o capítulo 6 do Livro de Baruc, parece ter sido escrita originalmente em hebraico e 2Mc 2:1-3 parece referir-se a ela.

Alguns capítulo dos livros de Baruque são conhecidos por nomes individuais:
1 Baruque: Livro de Baruque.
2 Baruque: Apocalipse siriaco de Baruque. Os capítulos 78-87 são também conhecidos por Carta de Baruque à tribo dos nove e meio.
3 Baruque: Apocalipse de Baruque ou Apocalipse grego de Baruque.
4 Baruque: Paralipomena de Jeremias aparece como título em diversos manuscritos antigos gregos deste capítulo, significando "coisas deixadas de fora de (do livro de) Jeremias ".

AUTORIA
Embora a introdução (1:1-14) sustente que foi escrito por Baruc e enviado a Jerusalém para ser lido nas assembléias litúrgicas, há estudos que indicam que os textos não foram escritos pelo próprio Baruc, o secretário de Jeremias, e que, provavelmente, foram escritos no século II AC ou em meados do séc I AC.

Discípulo de Jeremias, Baruc é tradicionalmente reconhecido como o autor do livro Deuterocanônico que leva o seu nome. Foi filho de Nerias (Jeremias 32:12; 32:16; 16 : 4, 8, 32; Baruc 1:1), e provavelmente irmão de Saraias, chefe camareiro do Rei Sedecias (Jeremias 32:12, 51:59; Baruc 1:1). Depois que o Templo de Jerusalém foi saqueado por Nabucodonosor (599 A.C.), Baruc escreveu o oráculo do grande profeta Jeremias, sendo ditado por este, e leu o escrito para que o povo judeu, arriscando sua vida por causa disso. No escrito era previsto o retorno dos babilônicos. Ele também escreveu a segunda e mais longa edição das profecias de Jeremias após a primeira ter sido queimada pelo enfurecido rei Joaquim (Jeremias: 36).
Durante sua vida, Baruc permaneceu fiel aos ensinamentos e ideais do grande profeta, apesar de em alguns momentos ter se deixado levar por decepções e ambições pessoais (Jeremais, 45). Ele estava com Jeremias durante o cerco a Jerusalém e testemunhou a compra do terreno ancestral de Anatot (Jeremias, 32). Depois da queda da Cidade Santa e dá destruição do Templo (588 A.C.), Baruc provavelmente viveu algum tempo com Jeremias em Masphath. Foi acusado por seus inimigos de sugerir ao profeta a aconselhar os Judeus a permanecerem em Juda, ao invés de iram para o Egito (Jeremias, 43), onde, de acordo com a tradição Hebraica preservada por São Jeronimo (Isaiah 30: 6, 7), os dois morreram antes de Nabucodonosor invadir aquele país. Entretanto, essa tradição entra em conflito com a informação encontrada no capítulo de abertura da Profecia de Baruc, onde é dito que ele escreveu este livro na Babilónia, e o leu publicamente 5 anos depois da queima da Cidade Santa. Aparentemente o livro foi enviado para Jerusalém por Judeus cativos dentro de um vaso sagrado como um presente destinado ao sacrifício no templo de Yahweh. Essa informação entra em conflito com várias tradições, tanto judias quanto cristãs, mas provavelmente contém algumas partes de verdade que não permitem determinar a data, local ou maneira em que Baruc morreu.
Na Bíblia Católica, “A Profecia de Baruc” é formada por 6 capítulos, último intitulado “Epístola de Jeremias” não pertence propriamente ao livro. A Profecia abre com uma introdução histórica (1: 1-14), estabelece primeiro (versos 1-2) que o livro foi escrito por Baruc na Babilónia, 5 anos após Jerusalém ter sido queimada pelos Caldeus. Em seguida (versos 3-14) deixa claro que foi lido na presença do Rei Jeconias e de outros em exílio na Babilônia, o  que resultou em efeitos benéficos. A primeira parte do corpo do livro (1:15; 3:8) contém a confissão dos pecados que os levaram ao exílio (1:15-2:5; 2:6-13), juntamente com uma prece a Deus para o perdão do Seu povo (2:14; 3:8). Enquanto a primeira parte é muito parecida com o Livro de Daniel (Daniel 9:4-19), a segunda parte de Baruc (3:9; 4:4) se assemelha à passagens em Jó 28, 38. É um belo louvor à Sabedoria Divina, que não se encontra em nenhum outro lugar a não ser na Lei dada a Israel; somente com o disfarce da Lei é que a Sabedoria apareceu no mundo e se tornou acessível ao homem, o que leva, portanto, Israel a provar novamente sua fidelidade a Lei. A última sessão do Livro de Baruc se estende de 4:5 até 5:9. É formada de 4 odes, cada um começando com a expressão “Tenha coragem” (ou “Tenha melhor animo” dependendo da tradução) (4:5, 21, 27, 30), e com um salmo muito semelhante ao décimo primeiro Salmo apócrifo de Salomão (4:36; 5:9). O capítulo 6 apresenta, como apêndice, todo o livro “A Epistola de Jeremias”, enviada pelo profeta “para aqueles que foram levados cativos à Babilónia” por Nabucodonosor. Devido aos seus pecados, os judeus foram levados para a Babilónia onde deveriam permanecer “ali muitos anos, e largos tempos, até sete gerações”. Naquela cidade herege deveriam testemunhar a bela adoração dada aos “deuses de ouro, e de prata, e de pedra, e de madeira”, mas nunca deveriam se conformar com aquilo. Todos esses deuses, demonstrado com vários argumentos, são impotentes e perecíveis, obras da mão de homens, eles não podem fazer nem mal nem bem, assim eles não são deuses de jeito algum.
É certo que o sexto capítulo de Baruc é distinto do resto da obra. Além do título especial, “A Epistola de Jeremias”, o estilo e conteúdo provam se tratar de um escrito independente da Profecia de Baruc. Em alguns manuscritos gregos Baruc não tem a “Epístola”, em outros, entre os melhores, ela está separada do Livro de Baruc e é apresentada imediatamente depois de Lamentações de Jeremias. O fato de o sexto capítulo de Baruc levar o título de “Epistola de Jeremias” tem sido entendido, e ainda é por muitos, o motivo definitivo de que o grande profeta é o autor. É também instigante a vívida e precisa descrição do esplendido, mas infame, culto aos deuses babilónicos em Baruc, feita pelo escrito tradicional, em Jeremias 13:5-6, provavelmente se referindo a dupla jornada de Jeremias ao Eufrates. Finalmente, afirma-se que um certo número de características hebraicas podem ser reconhecidas, levando a um original hebraico. Contrário a esta visão tradicional, a maioria dos críticos contemporâneos argumenta que o estilo grego de Baruc prova que ele foi originalmente escrito em grego e não em hebraico, consequentemente, Jeremias não seria o autor da Epístola com seu nome. Por causa disso e por outras razões observadas no estudo do conteúdo de Baruc, eles acreditam que São Jeronimo estava decididamente correto quando descreveu como uma pseudoepígrafe, ou seja, escrita com um nome falso. No entanto, um importante estudo do Canon das Sagradas Escrituras prova que, a despeito das contestações dos protestantes, Baruc 6 sempre foi reconhecido pela Igreja como um livro inspirado.
Em relação à linguagem original do Livro de Baruc (capítulos 1-5), uma variedade de opiniões permanecem entre os estudiosos. Naturalmente aqueles que se apegam simplesmente ao título admitem que toda a obra foi originalmente escrita em hebraico. Do contrário, a maioria dos que questionam ou rejeitam o título do livro acreditam que a obra foi escrita totalmente, ou pelo menos parcialmente, em grego. É verdade que características literárias gregas aparecem em várias sessões e não apontam para um texto original em hebraico, mas não é difícil se supor que o texto completo de Baruc seja uma tradução, aqui algumas evidências linguísticas que confirmam está última suspeita:
- É muito provável que Teodotio (final do segundo século da nossa era) traduziu O Livro de Baruc de um original hebraico.
- A alguma notas do texto Siro-Hexaplar declaram que algumas palavras no texto grego não são encontradas no texto hebraico.
- Baruc 1, 14 diz que o livro foi feito para ser lido em público no Templo, sendo assim ele deve ter sido composto com esse propósito.
Além disso, em relação a sua linguagem original, Baruc apresenta uma certa unidade em relação a seu tema, de modo que aqueles que acreditam que todo o texto seja um escrito primitivo hebraico admitem que ele é uma unidade de composição. Entretanto, há no Livro de Baruc muitos traços de um processo de compilação, onde várias partes foram aparentemente unidas. A diferença da forma literária entre 1-3:8 e 3:9-5 é grande e, observando-se a maneira abrupta como o panegírico sobre Sabedoria é introduzido em 3:9, sugere que tenham origens diferentes. A duas confissões dos pecados que levaram ao exílio em 1:15, 3:8, são colocadas lado a lado sem nenhuma transição natural. As diferenças literárias entre 3:9-4:4 e 4:5-5:9 são consideráveis e o início da terceira sessão em 4:5 não é menos abrupta do que o da segunda em 3:9. Novamente, a introdução histórica parece ter sido composta somente para o prefácio de 1:15-2:5. Em vista desses e de outros fatos, os críticos contemporâneos geralmente entendem que a obra é fruto de um processo compilatório e que sua unidade é fruto do editor final, que juntou os vários documentos sobre o enfado do exílio. Este método de composição literário não necessariamente conflita com a devoção tradicional ao Livro de Baruc, muitos dos escritores sagrados da Bíblia são compiladores, e Baruc pode ser mais um entre eles, de acordo com os estudiosos católicos que admitem o caráter compilatório das obras escritas por ele. Os católicos se sustentam aqui por três pontos:
- O livro é assinado por Baruc em seu título;
-  Sempre foi reconhecido como uma obra de Baruc pela tradição;
- O seu conteúdo não apresenta nada que pudesse ser de um período posterior ao de Baruc, o que seria considerado estranho ao estilo e forma do fiel discípulo e secretário de Jeremias.
Contra está visão, não-católicos argumentam:
- O seu fundamento é somente o título do livro;
- O título em si não está em harmonia com o conteúdo histórico e literário da obra;
- E parte desse conteúdo, quando examinado imparcialmente, aponta para uma compilação mais tardia do que Baruc; alguns vão mais longe e alegam que a composição foi obra de um escritor do século 70 D.C.
Católicos facilmente desmentem a última data do livro, mas não tão fácilmente refutam as graves dificuldades que foram levantadas contra o seu próprio relato de todo o trabalho a Baruque. Suas respostas são consideradas suficientes por estudioso católicos em geral. Mesmo se, entretanto, julgarem inadequado, por tanto considerarem o Livro de Baruc como um trabalho de um editor tardio, o caráter inspirado do livro permanece, entendendo-se que o último editor foi inspirado em seu trabalho de compilação.
O Livro de Baruc foi definido como escrito “sagrado e canônico” no Concílio de Trento, é tão inspirado por Deus como qualquer outro livro da Sagrada Escritura e pode ser demonstrado com um estudo minucioso do Canon Bíblico. Sua edição em Vulgata Latina remonta a desde antes da versão em Latim antigo de São Jeronimo, e é razoavelmente integral a versão em grego do texto.


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