O L I V R O
D E B A R U C
Baruc ou Baruque ou Baruk
ben Neriá é um personagem bíblico, sendo também o nome de um dos livros deuteronômicos
não um apócrifo, (assim considerados pela igreja católica romana) do Antigo
Testamento da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao próprio Baruque, que não
era um simples escriba, mas um sofer, um alto funcionário da administração
babilônica na Judéia. Baruque teria sido um homem erudito e de família
nobre, que foi secretário de Jeremias durante o Exílio do povo de
Israel na Babilônia. Filho de Nerias,
irmão de Seraías, amigo e secretário do profeta Jeremias (Jr 36:4
ss). Era homem erudito, de nobre família (Jr 51:59 ss), tendo servido fielmente
ao profeta. Pelas instruções de Jeremias, escreveu Baruque as profecias daquele
profeta, comunicando-as aos príncipes e governadores. E um destes foi acusar de
traição o escrevente e o profeta Jeremias, mostrando ao rei, como prova das
suas afirmações, os escritos, de que tinham conseguido lançar mão. Quando o rei
leu os documentos, foi grande o seu furor. Mandou que fossem presos os dois,
mas eles escaparam. Depois da conquista de Jerusalém pelos babilônios
(586 a.C.), foi Jeremias bem tratado pelo rei Nabucodonosor- e Baruque foi
acusado de exercer influência sobre Jeremias a fim de não fugirem parao Egito (Jr
43:3). Mas, por fim, foram ambos compelidos a ir para ali com a parte
remanescente de Judá (Jr 43:6). Durante o seu encarceramento deu Jeremias
a Baruque o título de propriedade daquela herdade que tinha sido comprada a
Hanameel (Jr 32:8-12).
SEU LIVRO
A obra
possui seis capítulos, sendo que a autoria dos cinco primeiros é
tradicionalmente atribuída à Baruque, enquanto que a autoria do sexto é
atribuída a Jeremias.
A obra tem
por objetivo mostrar como era a vida religiosa daquele povo, seus cultos e tem
o mérito de conservar o sentimento religioso dos israelitas dispersos pelo
mundo todo após a ruína de Jerusalém e a perda de quase todas as suas
instituições. Mostra como eles conservaram viva a consciência de ser um povo
adorador do verdadeiro Deus. Ao mesmo tempo, mostra a consciência que tinham do
desastre nacional: não atribuem tudo isso à infidelidade de Javé; ao
contrário, reconhecem que os males se originaram por culpa deles próprios:
estão assim porque desprezaram a palavra dos profetas, rejeitaram a justiça e a
verdadeira sabedoria. Mas, ao lado dessa consciência de seus pecados, conservam
uma viva esperança, pois acreditam que Deus não abandona o seu povo e continua
fiel às promessas. Se houver arrependimento e conversão, poderão confiar no
perdão divino: serão reunidos de novo em Jerusalém, que é para sempre a cidade
de Deus.
A carta do
capítulo sexto é uma carta que nos leva aos templos pagãos, cujos ídolos estão
empoeirados e carcomidos de cupim. Esses ídolos, apresentados de forma atraente
e grandiosa, não têm vida, nem são capazes de produzir vida: "Não podem
salvar ninguém da morte e nem podem livrar o fraco da mão do poderoso. Não são
capazes de devolver a vista ao cego nem de livrar um homem do perigo; não têm
compaixão pela viúva nem prestam qualquer ajuda ao órfão. Esses deuses de
madeira prateada ou dourada parecem pedras tiradas do morro: quem se ocupa
deles só vai passar vergonha. Como, então, pensar ou dizer que são deuses?"
(Br 6:35-39).
ESTRUTURA DO
LIVRO
O Livro
de Baruc é composto de textos com gêneros literários diferentes que não
devem ser nem do mesmo do autor e nem da mesma época.
Pode-se
dividir a obra em cinco partes:
1. Capítulo
1:1-14: faz uma descrição da origem da obra, uma introdução (em prosa);
2. Capítulos
1:15 a 3:8: há confissão dos pecados de Israel (1:15-2:10) e suas
orações, pedindo perdão (2:11-3:8), foi escrita originalmente em hebraico (em
prosa), e desenvolve a oração de Dn 9:4-19 .
3. Capítulos
3:9 a 4:4: Os profetas exortam o povo a parar de cometer erros e
seguir os mandamentos dados (em poesia, no estilo dos livros sapienciais).
4. Capítulos
4:4 a 5:9: O povo recebe por meio dos profetas a promessa de que será liberto
do cativeiro (em poesia).
5. Capítulo
6: Jeremias diz que o povo está idolatrando e que deve
parar com isso (Carta de Jeremias - em poesia), na Septuaginta este
capítulo é um livro a parte, enquanto que na Vulgata e nas Bíblias
Católicas é o capítulo 6 do Livro de Baruc, parece ter sido escrita originalmente
em hebraico e 2Mc 2:1-3 parece referir-se a ela.
Alguns
capítulo dos livros de Baruque são conhecidos por nomes individuais:
1
Baruque: Livro de Baruque.
2
Baruque: Apocalipse siriaco de Baruque. Os capítulos 78-87 são
também conhecidos por Carta de Baruque à tribo dos nove e meio.
3
Baruque: Apocalipse de Baruque ou Apocalipse grego de Baruque.
4
Baruque: Paralipomena de Jeremias aparece como título em diversos
manuscritos antigos gregos deste capítulo, significando "coisas deixadas
de fora de (do livro de) Jeremias ".
AUTORIA
Embora a
introdução (1:1-14) sustente que foi escrito por Baruc e enviado a Jerusalém para
ser lido nas assembléias litúrgicas, há estudos que indicam que os textos
não foram escritos pelo próprio Baruc, o secretário de Jeremias, e
que, provavelmente, foram escritos no século II AC ou em meados do séc I
AC.
Discípulo de
Jeremias, Baruc é tradicionalmente reconhecido como o autor do livro
Deuterocanônico que leva o seu nome. Foi filho de Nerias (Jeremias 32:12;
32:16; 16 : 4, 8, 32; Baruc 1:1), e provavelmente irmão de Saraias, chefe
camareiro do Rei Sedecias (Jeremias 32:12, 51:59; Baruc 1:1). Depois que o
Templo de Jerusalém foi saqueado por Nabucodonosor (599 A.C.), Baruc escreveu o
oráculo do grande profeta Jeremias, sendo ditado por este, e leu o escrito para
que o povo judeu, arriscando sua vida por causa disso. No escrito era previsto
o retorno dos babilônicos. Ele também escreveu a segunda e mais longa edição
das profecias de Jeremias após a primeira ter sido queimada pelo enfurecido rei
Joaquim (Jeremias: 36).
Durante sua
vida, Baruc permaneceu fiel aos ensinamentos e ideais do grande profeta, apesar
de em alguns momentos ter se deixado levar por decepções e ambições pessoais
(Jeremais, 45). Ele estava com Jeremias durante o cerco a Jerusalém e
testemunhou a compra do terreno ancestral de Anatot (Jeremias, 32). Depois da
queda da Cidade Santa e dá destruição do Templo (588 A.C.), Baruc provavelmente
viveu algum tempo com Jeremias em Masphath. Foi acusado por seus inimigos de sugerir
ao profeta a aconselhar os Judeus a permanecerem em Juda, ao invés de iram para
o Egito (Jeremias, 43), onde, de acordo com a tradição Hebraica preservada por
São Jeronimo (Isaiah 30: 6, 7), os dois morreram antes de Nabucodonosor invadir
aquele país. Entretanto, essa tradição entra em conflito com a informação
encontrada no capítulo de abertura da Profecia de Baruc, onde é dito que ele
escreveu este livro na Babilónia, e o leu publicamente 5 anos depois da queima
da Cidade Santa. Aparentemente o livro foi enviado para Jerusalém por Judeus
cativos dentro de um vaso sagrado como um presente destinado ao sacrifício no
templo de Yahweh. Essa informação entra em conflito com várias tradições, tanto
judias quanto cristãs, mas provavelmente contém algumas partes de verdade que
não permitem determinar a data, local ou maneira em que Baruc morreu.
Na Bíblia
Católica, “A Profecia de Baruc” é formada por 6 capítulos, último intitulado
“Epístola de Jeremias” não pertence propriamente ao livro. A Profecia abre com
uma introdução histórica (1: 1-14), estabelece primeiro (versos 1-2) que o
livro foi escrito por Baruc na Babilónia, 5 anos após Jerusalém ter sido
queimada pelos Caldeus. Em seguida (versos 3-14) deixa claro que foi lido na
presença do Rei Jeconias e de outros em exílio na Babilônia, o que
resultou em efeitos benéficos. A primeira parte do corpo do livro (1:15; 3:8)
contém a confissão dos pecados que os levaram ao exílio (1:15-2:5; 2:6-13),
juntamente com uma prece a Deus para o perdão do Seu povo (2:14; 3:8). Enquanto
a primeira parte é muito parecida com o Livro de Daniel (Daniel 9:4-19), a
segunda parte de Baruc (3:9; 4:4) se assemelha à passagens em Jó 28, 38. É um
belo louvor à Sabedoria Divina, que não se encontra em nenhum outro lugar a não
ser na Lei dada a Israel; somente com o disfarce da Lei é que a Sabedoria
apareceu no mundo e se tornou acessível ao homem, o que leva, portanto, Israel
a provar novamente sua fidelidade a Lei. A última sessão do Livro de Baruc se
estende de 4:5 até 5:9. É formada de 4 odes, cada um começando com a expressão
“Tenha coragem” (ou “Tenha melhor animo” dependendo da tradução) (4:5, 21, 27,
30), e com um salmo muito semelhante ao décimo primeiro Salmo apócrifo de
Salomão (4:36; 5:9). O capítulo 6 apresenta, como apêndice, todo o livro “A
Epistola de Jeremias”, enviada pelo profeta “para aqueles que foram levados
cativos à Babilónia” por Nabucodonosor. Devido aos seus pecados, os judeus
foram levados para a Babilónia onde deveriam permanecer “ali muitos anos, e
largos tempos, até sete gerações”. Naquela cidade herege deveriam testemunhar a
bela adoração dada aos “deuses de ouro, e de prata, e de pedra, e de madeira”,
mas nunca deveriam se conformar com aquilo. Todos esses deuses, demonstrado com
vários argumentos, são impotentes e perecíveis, obras da mão de homens, eles
não podem fazer nem mal nem bem, assim eles não são deuses de jeito algum.
É certo que
o sexto capítulo de Baruc é distinto do resto da obra. Além do título especial,
“A Epistola de Jeremias”, o estilo e conteúdo provam se tratar de um escrito
independente da Profecia de Baruc. Em alguns manuscritos gregos Baruc não tem a
“Epístola”, em outros, entre os melhores, ela está separada do Livro de Baruc e
é apresentada imediatamente depois de Lamentações de Jeremias. O fato de o
sexto capítulo de Baruc levar o título de “Epistola de Jeremias” tem sido
entendido, e ainda é por muitos, o motivo definitivo de que o grande profeta é
o autor. É também instigante a vívida e precisa descrição do esplendido, mas
infame, culto aos deuses babilónicos em Baruc, feita pelo escrito tradicional,
em Jeremias 13:5-6, provavelmente se referindo a dupla jornada de Jeremias ao
Eufrates. Finalmente, afirma-se que um certo número de características
hebraicas podem ser reconhecidas, levando a um original hebraico. Contrário a
esta visão tradicional, a maioria dos críticos contemporâneos argumenta que o
estilo grego de Baruc prova que ele foi originalmente escrito em grego e não em
hebraico, consequentemente, Jeremias não seria o autor da Epístola com seu
nome. Por causa disso e por outras razões observadas no estudo do conteúdo de
Baruc, eles acreditam que São Jeronimo estava decididamente correto quando
descreveu como uma pseudoepígrafe, ou seja, escrita com um nome falso. No
entanto, um importante estudo do Canon das Sagradas Escrituras prova que, a
despeito das contestações dos protestantes, Baruc 6 sempre foi reconhecido pela
Igreja como um livro inspirado.
Em relação à
linguagem original do Livro de Baruc (capítulos 1-5), uma variedade de opiniões
permanecem entre os estudiosos. Naturalmente aqueles que se apegam simplesmente
ao título admitem que toda a obra foi originalmente escrita em hebraico. Do
contrário, a maioria dos que questionam ou rejeitam o título do livro acreditam
que a obra foi escrita totalmente, ou pelo menos parcialmente, em grego. É
verdade que características literárias gregas aparecem em várias sessões e não
apontam para um texto original em hebraico, mas não é difícil se supor que o
texto completo de Baruc seja uma tradução, aqui algumas evidências linguísticas
que confirmam está última suspeita:
- É muito
provável que Teodotio (final do segundo século da nossa era) traduziu O Livro
de Baruc de um original hebraico.
- A alguma
notas do texto Siro-Hexaplar declaram que algumas palavras no texto grego não
são encontradas no texto hebraico.
- Baruc 1,
14 diz que o livro foi feito para ser lido em público no Templo, sendo assim
ele deve ter sido composto com esse propósito.
Além disso,
em relação a sua linguagem original, Baruc apresenta uma certa unidade em
relação a seu tema, de modo que aqueles que acreditam que todo o texto seja um
escrito primitivo hebraico admitem que ele é uma unidade de composição.
Entretanto, há no Livro de Baruc muitos traços de um processo de compilação,
onde várias partes foram aparentemente unidas. A diferença da forma literária
entre 1-3:8 e 3:9-5 é grande e, observando-se a maneira abrupta como o
panegírico sobre Sabedoria é introduzido em 3:9, sugere que tenham origens
diferentes. A duas confissões dos pecados que levaram ao exílio em 1:15, 3:8,
são colocadas lado a lado sem nenhuma transição natural. As diferenças
literárias entre 3:9-4:4 e 4:5-5:9 são consideráveis e o início da terceira sessão
em 4:5 não é menos abrupta do que o da segunda em 3:9. Novamente, a introdução
histórica parece ter sido composta somente para o prefácio de 1:15-2:5. Em
vista desses e de outros fatos, os críticos contemporâneos geralmente entendem
que a obra é fruto de um processo compilatório e que sua unidade é fruto do
editor final, que juntou os vários documentos sobre o enfado do exílio. Este
método de composição literário não necessariamente conflita com a devoção
tradicional ao Livro de Baruc, muitos dos escritores sagrados da Bíblia são
compiladores, e Baruc pode ser mais um entre eles, de acordo com os estudiosos
católicos que admitem o caráter compilatório das obras escritas por ele. Os
católicos se sustentam aqui por três pontos:
- O livro é
assinado por Baruc em seu título;
-
Sempre foi reconhecido como uma obra de Baruc pela tradição;
- O seu
conteúdo não apresenta nada que pudesse ser de um período posterior ao de
Baruc, o que seria considerado estranho ao estilo e forma do fiel discípulo e
secretário de Jeremias.
Contra está
visão, não-católicos argumentam:
- O seu
fundamento é somente o título do livro;
- O título
em si não está em harmonia com o conteúdo histórico e literário da obra;
- E parte
desse conteúdo, quando examinado imparcialmente, aponta para uma compilação
mais tardia do que Baruc; alguns vão mais longe e alegam que a composição foi
obra de um escritor do século 70 D.C.
Católicos
facilmente desmentem a última data do livro, mas não tão fácilmente refutam as
graves dificuldades que foram levantadas contra o seu próprio relato de todo o
trabalho a Baruque. Suas respostas são consideradas suficientes por estudioso
católicos em geral. Mesmo se, entretanto, julgarem inadequado, por tanto
considerarem o Livro de Baruc como um trabalho de um editor tardio, o caráter
inspirado do livro permanece, entendendo-se que o último editor foi inspirado
em seu trabalho de compilação.
O Livro de
Baruc foi definido como escrito “sagrado e canônico” no Concílio de Trento, é
tão inspirado por Deus como qualquer outro livro da Sagrada Escritura e pode
ser demonstrado com um estudo minucioso do Canon Bíblico. Sua edição em Vulgata
Latina remonta a desde antes da versão em Latim antigo de São Jeronimo, e é
razoavelmente integral a versão em grego do texto.