domingo, 28 de fevereiro de 2016

E Z E Q U I E L

L I V R O     D E     E Z E Q U I E L

Ezequiel é um dos livros proféticos do Antigo testamento da Bíblia, vem depois do Livro das Lamentações e antes do Livro de Daniel. Possui 48 capítulos.
Ezequiel, era um sacerdote que foi chamado para profetizar durante o Exílio do povo judeu na Babilônia, tendo exercido sua atividade entre os anos 593 a 571 AC. Diz-se que fundou uma escola de profetas e que ensinava a Lei à beira do Rio Kebar que corta a cidade de Babilônia.
São curiosas as visões que o profeta teve sobre a glória de Deus e os sinais que aconteceram em sua própria vida demonstrando que as ações de Deus são fortes e marcantes. Ezequiel perdeu a sua esposa como sinal da queda de Jerusalém.
A comunidade, em meio à qual ele vivia, acreditava que em breve tudo voltaria a ser como antes, para seus contemporâneos o projeto de Deus era mero sistema que lhe dava segurança. Ezequiel, no entanto, sabe que o sistema passado estava agonizando de maneira irrecuperável, pois Jerusalém seria destruída.
Segundo ele, a sociedade sofria de doença crônica e incurável, pois havia abandonado o projeto de Javé em troca de uma vida luxuosa e fascinante. Por isso, Ezequiel vê o próprio Deus deixando o Templo (11:22-24) e largando os rebeldes ao bel-prazer dos amantes.
Isso era causa de sofrimento para o profeta, mas não de desânimo e desespero. Para ele, o futuro seria de ressurreição (caps. 36-37) e novidade radical. Com sua linguagem simbólica, Ezequiel indicava os passos para a construção do mundo novo:
Assumir a responsabilidade pelo fracasso histórico de um sistema que se corrompeu completamente, provocando a ruína de toda a nação.
Compreender que a simples reforma de um sistema corrompido não gera nenhuma sociedade nova; apenas reanima o velho sistema que, cedo ou tarde, acabará sempre nos mesmos vícios.
Converter-se a Javé, assumindo o seu projeto; e, a partir daí, construir uma sociedade justa e fraterna, voltada para a liberdade e a vida.
Com esse programa profético, vislumbrava-se um futuro novo: Deus voltaria para o meio de seu povo (43:1-7), provocando o surgimento de uma sociedade radicalmente nova. Aí todos poderão participar igualmente dos bens e decisões que constroem a relação social a partir da justiça. Desse modo, todos poderão reconhecer que a partir desse dia, o nome da cidade será: Javé está aí (48:35).
A doutrina deste profeta tem por núcleo a renovação interior: é preciso criar para si um coração novo e um espírito novo (18:31); ou ainda, o próprio Deus dará "outro" coração, um coração "novo", e infundirá no homem um espírito "novo" (11:19; 36:26).
Ezequiel dá origem à corrente apocalíptica, suas grandiosas visões antecipam as de Daniel e as do autor de Apocalipse.

PLANO DA OBRA
Introdução (relato da vocação do profeta): caps. 1 a 3:21;
Censuras e advertências antes do cerco de Jerusalém: caps. 3:22 a 24;
Oráculos contra as nações: caps. 25 a 32;
Mensagens de consolação: caps. 33 a 39;
Visão do fim do Exílio na Babilônia (caps. 40 a 48)

Autor: O profeta Ezequiel é o autor do Livro (Ezequiel 1:3). Ele era um contemporâneo de ambos Jeremias e Daniel.

Quando foi escrito: O Livro de Ezequiel foi provavelmente escrito entre 593 e 565 AC durante o cativeiro babilônico dos judeus.

Propósito: Ezequiel ministrou à geração de sua época, uma geração extremamente pecaminosa e completamente sem esperança. Por meio de seu ministério profético, ele tentou levá-los ao arrependimento imediato e à confiança no futuro distante. Ele ensinou que: (1) Deus trabalha através de mensageiros humanos; (2) Mesmo com a derrota e desespero, o povo de Deus precisa afirmar a soberania de Deus; (3) A Palavra de Deus nunca falha; (4) Deus está presente e pode ser adorado em qualquer lugar; (5) As pessoas têm que obedecer a Deus se quiserem receber bênçãos e (6) o Reino de Deus virá.

Versículos-chave:
Ezequiel 2:3-6: "Ele me disse: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se insurgiram contra mim; eles e seus pais prevaricaram contra mim, até precisamente ao dia de hoje. Os filhos são de duro semblante e obstinados de coração; eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o SENHOR Deus. Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta. Tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras, ainda que haja sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles, porque são casa rebelde."

Ezequiel 18:4: "Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá."

Ezequiel 28:12-14: "Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas."

Ezequiel 33:11: "Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?"

Ezequiel 48:35: "Dezoito mil côvados em redor; e o nome da cidade desde aquele dia será: O SENHOR Está Ali."


RESUMO
Como você pode lidar com um mundo desviado? Ezequiel, destinado a iniciar o ministério de sua vida como um sacerdote aos trinta anos, foi tirado de sua terra natal e enviado para a Babilônia com a idade de 25. Por cinco anos ele viveu em desespero. Aos trinta anos, ele teve uma visão majestosa da glória do Senhor que cativou o seu ser na Babilônia. O sacerdote/ profeta descobriu que Deus não era limitado pelas restrições estreitas da terra nativa de Ezequiel. Em vez disso, Ele é um Deus universal que comanda e controla as pessoas e nações. Na Babilônia, Deus concedeu a Ezequiel Sua Palavra para o povo. A experiência de sua chamada transformou Ezequiel. Ele se tornou avidamente dedicado à Palavra de Deus. Ele percebeu que pessoalmente não tinha nada para ajudar aos cativos em sua situação amarga, mas estava convencido de que a Palavra de Deus falava ao seu estado e poderia dar-lhes a vitória. Ezequiel usou vários métodos para transmitir a Palavra de Deus ao seu povo. Ele utilizou arte ao desenhar um retrato de Jerusalém, ações simbólicas e conduta incomum para assegurar a sua atenção. Ele cortou seu cabelo e a barba para demonstrar o que Deus faria a Jerusalém e seus habitantes.

O livro de Ezequiel pode ser dividido em quatro seções:
Capítulos 1-24: profecias sobre a ruína de Jerusalém
Capítulos 25-32: profecias do juízo de Deus sobre as nações vizinhas
Capítulo 33: uma última chamada para o arrependimento de Israel
Capítulos 34-48: profecias sobre a futura restauração de Israel

Prenúncios: Ezequiel 34 é o capítulo em que Deus denuncia os líderes de Israel como falsos pastores pelo seu mau atendimento de Seu povo. Ao invés de cuidar das ovelhas de Israel, eles cuidaram de si mesmos. Eles comeram bem, eram bem vestidos e bem cuidados pelas próprias pessoas que tinham sido colocadas sob sua autoridade (Ezequiel 34:1-3). Em contraste, Jesus é o Bom Pastor que dá a sua vida pelas ovelhas e as protege dos lobos que iriam destruir o rebanho (João 10:11-12). O versículo 4 do capítulo 34 descreve as pessoas às quais os pastores deixaram de ministrar como sendo fracas, doentes, feridas e perdidas. Jesus é o Grande Médico que cura as nossas feridas espirituais (Isaías 53:5) através da Sua morte na cruz. Ele é aquele que busca e salva o que está perdido (Lucas 19:10).

Aplicação Prática: O livro de Ezequiel nos convida a participar de um novo e vivo encontro com o Deus de Abraão, Moisés e profetas. Temos que ser vencedores ou seremos vencidos. Ezequiel nos desafiou a: experimentar de uma visão transformadora do poder, conhecimento, presença eterna e santidade de Deus; deixar Deus nos dirigir; compreender a profundidade e compromisso com o mal que se aloja em cada coração humano; reconhecer que Deus dá aos seus servos a responsabilidade de advertir os ímpios de seu julgamento e, por último, ter uma experiência genuína de uma relação viva com Jesus Cristo, o qual disse que a nova aliança pode ser encontrada em Seu sangue.


DÚVIDAS QUANTO A VERACIDADE DO LIVRO
Outro educado ateu com quem estou trocando ideias questionou a veracidade histórica da Bíblia, especialmente do capítulo 29 do livro de Ezequiel.
Ele alegou que os eventos históricos preditos pelo profeta não se cumpriram, entre eles: a invasão ao Egito liderada por Nabucodonosor e o restabelecimento do Egito ao final de 40 anos, período mencionado em Ezequiel 29:13.
Logo abaixo, lhe disponibilizo uma breve resposta que dei a ele, com o objetivo de lhe auxiliar na defesa da confiabilidade da Bíblia. Fiz pequenas adaptações e acrescentei duas citações de Ellen White, importantes para reflexão de todo ateu e dos estudantes sinceros das Escrituras.
Considerações sobre Ezequiel 29
1º: Reconhecemos que na Bíblia há certas dificuldades que só podem ser explicadas por um estudo mais detalhado, enquanto que outras serão resolvidas durante o progresso nos estudos na área da teologia, arqueologia e crítica textual.
Ellen White foi muito feliz ao comentar: “Ao mesmo tempo em que Deus deu prova ampla para a fé, nunca removeu toda desculpa para a descrença. Todos os que buscam ganchos em que pendurar suas dúvidas, encontrá-los-ão. E todos os que se recusam a aceitar a Palavra de Deus e lhe obedecer antes que toda objeção tenha sido removida, e não mais haja lugar para a dúvida, jamais virão à luz.” (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, p. 672).
Ela continua, ao falar sobre a descrença humana:
“A desconfiança em Deus é produto natural do coração não renovado, que está em inimizade com Ele. A fé, porém, é inspirada pelo Espírito Santo, e unicamente florescerá à medida que for acalentada. Ninguém se pode tornar forte na fé sem esforço decidido. A incredulidade é fortalecida ao ser incentivada; e, se os homens, em vez de se ocuparem com as provas que Deus deu a fim de sustentar sua fé, se permitirem discutir e especular, verão que suas dúvidas se tornam constantemente mais acentuadas” (Ibidem)
2º: O evento de Ezequiel 29 é inquestionável para muitos estudiosos e não há erro histórico algum. De acordo com Norman Geilser (ex-ateu) e Thomas Howe:
“Um pequeno fragmento de uma crônica babilônica de cerca de 567 a.C. confirma tanto o registro de Josefo[historiador judeu que relata a invasão do Egito] como o relato bíblico referente à invasão do Egito por Nabucodonosor. Há ainda uma confirmação provinda da inscrição na estátua de Neshor, governador do Edito meridional sob Hofra. Nabucodonosor realmente invadiu e devastou o Egito […]” (Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 288).
3º: Realmente, não há nenhum registro fora da Bíblia de um exílio de 40 anos do povo egípcio (Ez 29:13). Porém, isso não é improvável. Há muitas coisas que a ciência não pôde explicar e comprovar e, nem por isso, diremos que os cientistas são “falsos” ou “imprecisos”.
Um erro muito comum entre os críticos da Bíblia é afirmar que o que não foi explicado, é inexplicável. O fato de alguma afirmação bíblica não poder ser explicada historicamente, não significa que um dia não o possa ser.
Um cientista tem na dificuldade uma motivação para continuar pesquisando e esse é o mesmo comportamento do teólogo e arqueólogo que procuram compreender as dificuldades bíblicas. O tempo tem mostrado que essa fé e perseverança têm sido recompensadas.
Por exemplo: os críticos acreditavam que a Bíblia estava errada em mencionar o povo heteu cerca de 20 vezes (ver, por exemplo, Gn 15:20; Ex 3:8), porém, com a descoberta, na Turquia, de uma biblioteca hitita, os descrentes tiveram que se calar novamente (Geisler e Howe, p. 18).
Segundo a Andrews Study Bible (Andrews University Press, 2010), p. 1079:
“O número 40 [mencionado em Ezequiel 29:13] é uma recordação da punição daquela geração do povo de Israel que morreu no deserto, por causa sua rebelião contra Deus. O Egito caiu diante dos babilônios em 568 a.C; Nabucodonosor atacou o palácio do faraó em Tafnes, queimou os templos dos deuses egípcios, e destruiu os obeliscos de Heliópolis (Jr. 43-44).”
4º: Em Ezequiel 29:1 a 32:32 há 7 oráculos (sentenças) contra o Egito e Faraó e apenas um não é datado (cap. 30:1 em diante). O primeiro, do verso 1, é datado de 7 de janeiro de 587 a.C, de modo que não há necessidade de duvidar do texto. Além disso, os estudiosos podem confirmar os nomes de lugares e cidades citados no capítulo, o que mostra mais uma vez a veracidade histórica da Bíblia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apenas para o período de 40 anos de exílio não temos registro extra bíblico. Esse detalhe não deveria tirar nossa confiança na historicidade das Escrituras, que tem sido evidenciada (ou comprovada, como preferem alguns) cada vez mais pela arqueologia. Para que possa comprovar isso através de dados concretos, recomendo ao leitor o livro Escavando a Verdade, do arqueólogo Rodrigo P. Silva, publicado pela Casa Publicadora Brasileira (www.cpb.com.br).
Jesus Cristo, o personagem que dividiu a história, confiava na Bíblia (Lc 24:27, 44), inclusive em detalhes históricos (Mt 19:4-6; 24:38; Lc 10:12, etc). Sendo que é muito improvável uma pessoa com uma inteligência emocional tão avançada (algo comprovado pelo cientista e psicanalista Augusto Cury, em sua série “Análise da Inteligência de Cristo”) errar tão abertamente, não vemos motivos para, com base (também) em nossa confiança em Jesus, rejeitar a historicidade da Palavra de Deus.




LIMITES TEOLÓGICOS DO LIVRO
Ezequiel era sacerdote e pertencia à família sacerdotal da linhagem de Zadoque, e foi um dos que foram levados prisioneiros na primeira deportação babilônica em 597 a.C. Seu nome significa “Deus fortalece”, aliás, bem apropriado para o momento que os hebreus estavam vivendo. Sua profecia, por ser um subproduto da primeira parte do cativeiro, se diferencia do profetismo clássico pré-exílio.
O pensamento corrente em Israel é que Javé estava restrito à Palestina e ao Templo de Jerusalém. No exílio esta ideia foi posta em xeque, pois os judeus aprenderam que Javé poderia ser adorado fora dos limites da Terra Prometida.
Ele era casado e seu casamento corria bem, até que Javé anunciou a morte de sua esposa que serviria como um sinal do sofrimento que os hebreus enfrentariam.
Seu livro sempre fez parte do cânon hebraico, mas, em virtude das diferenças em relação às cerimônias do templo e das leis mosaicas (Nm. 28:11 e Ezequiel 46:6), eruditos judeus, posteriormente, chegaram a questionar sua canonicidade até que os rabinos restringiram seu uso quando as divergências fossem solucionadas na “vinda de Elias” (Ml. 4:5). O capítulo 1 foi proibido nas sinagogas e a leitura privada só era permitida àqueles que tivessem mais de trinta anos.
De acordo com a análise literária do livro de Ezequiel podemos afirmar que ele mesmo escreveu suas profecias, em virtude do uso constante dos pronomes “eu”, “me” e “meu”. O estilo e uniformidade de sua escrita e linguagem também contribuem para corroborar a tese de Ezequiel como autor único da obra que leva seu nome.
A data da produção do livro de Ezequiel é determinada principalmente em razão da evidência interna de treze profecias datadas  a partir do dia, mês e ano do exílio do rei Joaquim. Seu chamado é do ano de 593 a.C., e sua última profecia, contra o Egito, de 571 a.C. Uma vez que Ezequiel nada fala sobre a libertação de Joaquim em 562 a.C. é possível supor que o registro das suas atividades proféticas tenha ocorrido entre 571 e 562 a.C.
Quanto ao local onde deu-se suas atividades é questão de intenso debate acadêmico, pois Ezequiel é muito preciso quando cita a localização do templo em sua visão nos capítulos 8 a 11. Evidências dentro do próprio texto apontam para a Babilônia, entretanto, não há como explicar seu registro dos acontecimentos em Jerusalém estando na Babilônia, exceto pelo verso 8:3, quando Javé o arrebatou até lá.
A profecia de Ezequiel foi uma consequência dos atos políticos e religiosos do rei Manassés quando decretou o baalismo como religião oficial (2 Rs. 21:1-9). Este decreto estabeleceu, inevitavelmente, o fim da nação de Judá (2 Rs. 21:9-15; 24:3-4).
Josias, neto de Manassés, foi o último a tentar restabelecer o padrão ético, moral e religioso de Judá, quando o livro da Lei (provavelmente Deuteronômio) foi redescoberto (2 Rs. 22:3-13). Entretanto, com a morte de Josias em 609 a.C. (2 Rs. 23:28-30; 2 Cr. 35:20-27), pelo faraó egípcio Neco, sua tentativa não teve continuidade.
Após este episódio, todos os demais reis de Judá foram marionetes dos reinos que procuravam dominar a região da Palestina, que não obedeceram às regras da Aliança e não se arrependeram de seus atos, mesmo com grande volume de mensagens proféticas. O cronista vê nesta situação um caminho sem retorno (2 Cr. 36:15-16).
O faraó Neco deixou os filhos de Josias, Jeoacaz e Eliaquim, como vassalos do Egito, porém Jeoacaz foi destituído por insubordinação (2 Rs. 23: 31-35). Então Eliaquim, também chamado de Jeoaquim, governou Jerusalém por onze anos (2 Rs. 23:34 – 24:7), cujo governo Jeremias avaliou como corrupto, idólatra, com injustiças sociais, assassinatos, roubos, extorsão e abandono da Aliança com Javé (Jr. 22:1-17).
Em 605 a.C. na batalha de Carquêmis, o Egito fugiu diante da Babilônia (2 Rs. 24:7) e Judá teve que pagar tributo a  Nabucodonosor. Porém Jeoaquim rebelou-se contra a Babilônia e o resultado foi o cerco de Jerusalém em 598-597 a.C. quando Jeoaquim morreu. Joaquim, seu filho, governou em seu lugar por apenas três meses até que os babilônios invadiram e destruiriam a cidade (2 Rs. 24:1-17).
A partir daí a família real e outras 10 mil pessoas da elite judaica foram levadas para a Babilônia, e, entre elas estava Ezequiel, que aproveitou o exílio de Joaquim para datar muitas de suas profecias aos hebreus deportados (Ez. 1:1-3; 8:1).

ESTRUTURA DE EZEQUIEL
O livro de Ezequiel pode ser dividido em três partes, da seguinte forma:
CONTRA JERUSALÉM:
O chamado de Ezequiel – 1 a 3
Símbolos e oráculos I – 4 a 7
Visão de Jerusalém – 8 a 11
Símbolos e oráculos II – 12 a 15
Adultério – 16
Parábola – 17
Responsabilidade pessoal – 18
O lamento da leoa – 19
Rebelião – 20 a 22
As duas prostitutas – 23
A panela – 24
Contra as nações – 25 a 32
A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL
Símbolos e oráculos – 33 a 35
Os montes de Israel são confortados – 36
Ossos secos – 37
Contra Gogue e Magogue – 38 e 39
A restauração do Templo – 40 a 43
Cerimônias e rituais do Templo – 44 a 46
As fronteiras e a divisão de Israel – 47 e 48
Treze oráculos de Ezequiel são datados, e tudo indica que foram transmitidos oralmente (3:10-11; 14:4; 20:27; 24:1-3; 43:10) aos habitantes hebreus da Babilônia e registrados posteriormente. Uma evidência pode ser a falta de ordem cronológica em alguns oráculos, que pode indicar que o próprio Ezequiel tenha compilado este livro, pois um organizador distinto teria provavelmente se preocupado com a organização cronológica.
Em termos de estilo Ezequiel incorpora discursos proféticos, poesia, e drama. Este último quesito, inclusive, choca o povo exilado com uma linguagem por vezes grosseira quando utiliza o simbolismo da prostituição nos capítulos 16 e 23. Outros recursos estilísticos usados por Ezequiel foram a alegoria e a teatralização simbólica, rejeitados pelos cativos (Ez. 20:49). As alegorias de Ezequiel tinham por objetivo representar de forma simples a queda de Jerusalém, que aconteceria em breve, e o fim da nação de Judá. As dramatizações simbólicas tinham o mesmo objetivo. Estas encenações dramáticas reforçavam as profecias de julgamento que Javé prometera. Abaixo estão relacionadas estas encenações:
Texto
Encenação
Significado
4:1-3
Desenha a cidade de jerusalém em um tijolo
A cidade será cercada
4:4-8
Deita-se sobre seu lado esquerdo por 390 dias e sobre o direito por 40 dias.
Os anos de pecado e a punição de Judá
4:9-17
Come alimentado controlado e cozido em fezes
Fome em Jerusalém à época do cerco
5:1-12
Raspa a cabeça com uma espada e divide em três partes iguais com destinos distintos
O destino dos que ficaram em Jerusalém à época do cerco
12:1-12
Cava um buraco na parede e passa levando bagagens do exílio
O exílio será inevitável
21:18-23
Traça duas estradas das quais uma leva a Jerusalém. O rei decidiria por meio de sortes qual caminho seguir
Javé levaria o rei da Babilônia para Jerusalém
25:15-24
Morte da sua esposa
O povo escolhido morreria ou seria exilado

A estrutura das profecias de Ezequiel aponta para a soberania de Javé. Os capítulos 1 a 24 refletem o julgamento que recaiu sobre Jerusalém em 586 em virtude do descumprimento da Aliança por parte do povo hebreu. Estes oráculos foram importantes para Israel em um período posterior pelos seguintes motivos:
O SIGNIFICADO DA DESASTROSA HISTÓRIA DE ISRAEL
O povo deveria encarar com seriedade os julgamentos de Javé e pautar sua vida pela obediência
Os oráculos de julgamento são uma introdução à salvação dita por Ezequiel em 33:1 a 34:24
A esperança futura dos exilados está relacionada à responsabilidade no presente.
Os capítulos 25 a 32 tratam sobre os oráculos contra as nações indicando que Javé é soberano sobre o povo escolhido, mas também sobre todas as nações ao redor. Estes oráculos dirigem-se principalmente a Tiro (26:1 – 28:19) e Egito (29 – 32). Mas as nações de Amon, Moabe, Edom, Filístia também seriam atingidas pelo julgamento de Javé (25). Nesta seção há uma grande ênfase na morte (26:19-21; 28:8; 31:14-18; 32:18-22) em contraste com a promessa de vida para Israel (33).
Os capítulos 33 a 48 ressaltam a renovação da Aliança e a restauração do governo davídico em Israel. A visão sobre o novo templo reafirma a soberania de Javé em Israel por causa do seu Santo Nome (Ez. 36:22-32). A repetição por 90 vezes da expressão “e vocês saberão que eu sou o Senhor” indica a certeza do juízo e a garantia que tudo que o Senhor prometera se cumpriria.
PROPÓSITO E CONTEÚDO
O livro de Ezequiel abrange os seguintes temas:
A soberania de Javé sobre Israel e as nações
O exílio como punição pela idolatria
Relação entre o indivíduo e o grupo
Fidelidade de Javé às suas promessas da Aliança
A responsabilidade individual e o julgamento divino
Restauração de Israel sob o governo davídico
            .
A estrutura na qual o livro de Ezequiel se apoia reflete as três etapas de seu ministério com os hebreus deportados para a Babilônia e se constitui em uma defesa do julgamento que Javé executara em Judá. Os capítulos 1 a 24 formam a base de sua mensagem. Estes capítulos tratam da queda de Jerusalém, que estava por vir, onde Ezequiel, como atalaia do Senhor, tinha três funções:
advertir uma geração de pecadores que não se arrependeram de que o julgamento estava muito próximo – 2:3-8
destacar a responsabilidade de cada uma das gerações pelo pecado – 18:20
chamar ao arrependimento – 18:21-23, 32
Quando Judá foi destruída em 586 a.C. Ezequiel abordou, entre os capítulos 25 a 32, o julgamento que Javé daria às nações vizinhas por terem ficado contentes com a capitulação de Jerusalém. Por isso, o Senhor vingaria estas nações com sua ira (Ez. 25:1-11). Desta forma, Israel veria que Javé era realmente justo e soberano sobre todas as nações (Ez. 28:24-26).
Nos capítulos 33 a 48, Ezequiel trata sobre a restauração do seu povo sob uma aliança de paz por meio do pastor davídico (Ez. 34:20-31). Javé, que é fiel à sua palavra e à promessa da aliança, unificaria Judá e Israel em uma só nação, representada pelo pedaço único de madeira, que seria governada pelo Messias davídico (Ez. 37:15-28).
FILHO DO HOMEM
Apenas os livros de Daniel e Ezequiel trazem esta expressão. Entretanto, em Daniel temos apenas uma única ocorrência (Dn. 8:7), para ressaltar a origem humana do mensageiro em comparação com a divindade da mensagem. Em Ezequiel, contudo, esta expressão é utilizada por cerca de noventa vezes, todas elas dirigindo-se de Javé para Ezequiel no contexto de uma convocação, e não deve ser comparado com o título que Jesus atribui a si mesmo no Novo Testamento.
Este título destaca o papel de mero mortal de Ezequiel e seu ministério para com os exilados na Babilônia e com os que ficaram em Jerusalém.  Seu estilo de vida exótico foram autorizados por Javé como uma espécie de tratamento de choque para um povo de coração e entendimento endurecidos pelo pecado. Seu comportamento não convencional serviria para denunciar que um profeta esteve no meio deste povo.
AS VISÕES DA CARRUAGEM CÓSMICA
As visões de Ezequiel ressaltaram a soberania de Javé sobre o mundo e destacaram o conhecimento que o profeta tinha deste papel cósmico que o Senhor desempenhava. A escatologia presente nestas visões indicavam para o povo que as promessas de Deus se cumpririam, pois os ossos secos tornariam à vida.
O livro de Ezequiel inicia-se com uma dessas impressionantes visões, na qual Deus chega numa tempestade de fogo, sentado num trono sustentado por criaturas celestiais. Ao lado de cada um destes seres celestiais havia uma espécie de mecanismo feito por engrenagens que que moviam o trono em todas as direções. Esta visão mesclava elementos israelitas e algumas ideias do Antigo Oriente, agora conhecidas dos cativos.
Este aparelho celestial, uma espécie de carruagem cósmica, é citada novamente nos capítulos 8 a 11, que tratam sobre a destruição de Jerusalém. O dispositivo para no átrio do templo (10:3) e o fogo aceso na base (1:13) é usado para incendiar a cidade (10:2). Os seres celestiais são chamados de querubins  (10:1-3) para reforçar a ideia dos querubins imóveis da arca da aliança que ficava no Templo (9:3). O Senhor sobe no trono móvel e abandona Jerusalém para sua destruição (10:18-19; 11:22-23).
Uma explicação detalhada sobre esta visão desafia nossa lógica, contudo, podemos afirmar que o objetivo primordial era mostrar que Javé estava no controle absoluto do universo, pois seus olhos estavam voltados em todas as direções. A característica motora de seu trono simbolizava sua presença em todos os lugares. Portanto, o povo cativo poderia ter certeza de que o Senhor estava com eles na Babilônia.
A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL
Ezequiel apela para o conceito da responsabilidade individual (Cap. 18), pois a geração do exílio culpou seus ancestrais pela calamidade que se abateu sobre Judá, consequência do julgamento de Javé. Ao reagir desta maneira, o povo hebreu concluiu que o julgamento do Senhor era injusto.
Na verdade esta era uma interpretação incorreta de Ex. 20:5 e Ex. 34:7, que, embora trate sobre o castigo do pecado da terceira e quarta gerações, foi mal aplicado  pela justificação de seu próprio pecado baseado no pecado das gerações anteriores. Ezequiel corrigiu esta distorção interpretativa lembrando os hebreus de que cada geração, e individuo, é também responsável pelo próprio pecado (Dt. 24:16).
Ao abordar a responsabilidade individual Ezequiel rompeu com a teologia daquele tempo, sem contudo negar a solidariedade comunitária hebraica. Afinal alguns Salmos, tal qual o 51, de Davi, afirma a individualidade da fé. Portanto Ezequiel estava apenas reequilibrando os conceitos da responsabilidade coletiva e individual.
LITERATURA APOCALÍPCA
Ezequiel contribuiu muito para o desenvolvimento do estilo literário apocalíptico,  constituindo uma nova etapa no processo profético. Com suas visões (caps 1-3 e 8-11), símbolos e êxtases arrebatadores (8:1-4; 40:1-4) apontando para uma redenção escatológica mediante o julgamento das nações por Javé (caps. 25-32),  Ezequiel esteve na vanguarda do cenário literário apocalíptico que ganharia destaque no pós-exílio.
Ezequiel também serve como ligação entre o mini apocalipse de Isaías no pré-exílio (caps. 24-27) e a apocalíptica de Daniel no exílio.




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