O LIVRO DO PROFETA
JEREMIAS
Deus chamou
Jeremias para ser profeta do Reino Sul e Judá. Seu ministério abrangeu os
últimos quarenta anos da nação, inclusive os dias que precederam a destruição
de Jerusalém e a deportação do povo de Deus a Babilônia (627-586 a.C.).
Ministrou
durante os reinados de Josias, de Joacaz, de Jeoaquim, de Joaquim e de
Zedequias. Durante esse período, a nação
manteve-se rebelde contra Deus que confiava nas alianças políticas para
conseguir livrar-se dos inimigos. Jeremias
conclamou o povo a arrepender-se dos seus pecados e os advertiu que não
escapariam do castigo por rejeitarem a Deus e à sua lei. Por causa da sua mensagem de julgamento e da
sua devoção ao Senhor, Jeremias enfrentou muita oposição e sofrimento.
Depois da
morte de Josias, o reino de Judá foi conduzido ao seu fim, pelo cativeiro
babilônico e Jeremias ficou na terra ministrando ao pobre restante citado em 2
Rs 24.14 .
O Profeta Isaías
tinha falecido há vários anos e o bom rei Ezequias fora sucedido pelo seu
malvado filho Manassés, e durante 40 anos do reino dele não se ouvira nenhuma vos
profética.
Então se
levantou Naum, e profetizou durante os últimos dez anos do reinado de Manassés,
no tempo de Amon e por uns oito anos do reinado de Josias. Foi justamente
quando o ministério de Naum cessou que Sofonias e Jeremias começaram a
profetizar, para serem seguidos mais tarde por Habacuque, e depois por Daniel,
e em seguida por Ezequiel.
Em outras
palavras, Jeremias profetizou por mais de 40 anos , durante os reinados de
Josias, Joaquim (primeiro), Joaquim (segundo) e Zedequias (Jr 1.2,3).
OS PROPÓSITOS DOS PROFETAS
Os profetas
eram enviados por Deus em 3 propósitos:
1- Entregar
a mensagem divina de advertência da última oportunidade a um povo rebelde, cujo
pecado e indiferença os conduziam a perdição, julgamento e ira de Deus. Às
vezes, as mensagens dos profetas eram atendidas pelo povo e o julgamento divino
era suspenso. Outras vezes, o coração do
povo se endurecia contra Deus, com a mensagem dos profetas. Por isso, Deus permitiu Israel ser levado para
o exílio babilônico.
2- Os
profetas eram enviados para suplementar o ensino negligenciado pelo sacerdócio.
No Velho Testamento o cargo de sacerdote
era passado de pais para filhos, contudo muitas vezes aqueles eram investidos
nessa função, sem terem um relacionamento sadio com Deus, e sem desejo de
servi-lo (Jr 2.8). Naturalmente, o
estado espiritual do povo se degenerou devido à falta de ensino (Os 4.6). A fim de suprir a falha dos sacerdotes, Deus
enviou seus profetas, para pregar e ensinar a lei divina.
3- Os
profetas eram enviados para fazer o povo ver o plano completo de Deus para suas
vidas. Aqueles que foram levados ao cativeiro,
naturalmente sentiram que Deus os tinha abandonado. Os profetas bradaram com veemência que nada
disso era verdade; lembravam ao povo que Deus permanecia onipotente como
sempre, permitindo o cativeiro a fim de levá-los ao arrependimento.
JEREMIAS, SUA VIDA E MENSAGEM
O livro de
Jeremias revela no profeta, o perfil de um homem de caráter extremamente firme,
mas de coração muito sensível. Ele
chorou abertamente os pecados do seu povo e o julgamento que pairava sobre o
mesmo. A esse respeito ele se assemelhou
a Cristo que também chorou pela cidade de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Devido à
hipocrisia e impiedade que prevaleciam naquela época, Jeremias foi instruído
por Deus a pregar uma mensagem de repreensão e de julgamento iminente sobre a
nação. Essa mensagem era desagradável ao
povo, e Jeremias, o mensageiro se tornou cada vez mais impopular. Sem dúvida Jeremias era um profeta odiado de
Judá e o de menor sucesso, de acordo com os padrões humanos. A rejeição e a perseguição constantes que ele
suportou levaram-no a ter, às vezes, crises de depressão.
Em certa
ocasião ele ameaçou abandonar completamente o ministério porque a perseguição
era intensa demais. Porém, descobriu que
o fogo dentro da sua alma era ainda mais intenso e assim não podia reter a
mensagem de Deus dentro do seu coração, mas proclamá-la.
Muito embora
Jeremias tivesse implorado ao povo que se voltasse de todo o coração a Deus,
sua mensagem foi ignorada, sofrendo ele mesmo grande perseguição por isso.
Assim que
Josias morreu, a nação mais uma vez entrou num declínio espiritual muito
grande; a idolatria retornou e o pecado predominou tanto quanto nos dias de
Manassés. Uma vez que o povo não quis se
arrepender, Deus não teve outra escolha a não ser privá-lo de suas bênçãos e
proteção até que ele buscasse de novo perdão e libertação.
O CHAMADO DE JEREMIAS
O verso 5 do
capítulo 1 de Jeremias conta-nos que o plano divino para o seu ministério já
existia muito tempo antes do momento de seu chamado:
" Antes
que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te
santifiquei e às nações te dei por profeta. " Este versículo assegura que
Deus tem um plano para cada um de seus filhos, mesmo antes deles nascerem.
Não se entra
no exercício desse plano automaticamente. Ao contrário, isso requer aceitação e
cooperação da pessoa chamada. Deus
avisou a Jeremias que se ele ficasse com seu coração voltado para as coisas vis
(inúteis) dos seus dias, a oportunidade de servi-lo como seu profeta seria
cancelada, mas se permanecesse fiel às doutrinas do Senhor se afastando de toda
aparência do mal, seria com ele para guardá-lo e livrá-lo das mãos dos malignos
e das mãos dos cruéis.
Enquanto
Isaías livremente se dispôs a ser profeta de Deus, Jeremias usou de
resistência. Sua resistência a esse
ministério era baseada em profundos sentimentos de incapacidade. Ele alegou que era ignorante e jovem demais
para tão grande missão. Em vez de
concentrar-se em Deus, que o tinha chamado e que era suficiente para
capacitá-lo para a tarefa a que o chamava, precisou ser despertado e encorajado
a aceitar essa honra pelo próprio Deus.
Observe a
predominância da palavra "eu" nas desculpas de Jeremias, contrastadas
com o "Eu" de Deus:
JEREMIAS
/ DEUS
" Eu
não sei falar " (Jr 1.6) / " Eu ponho na tua boca as minhas
palavras "(Jr. 1.9)
" Eu
sou uma criança" (Jr 1.6) / " Eu sou contigo" (Jr 1.19)
Durante a
evolução da apostasia de Judá, muito embora parecesse que Deus estava dormindo
e desinteressado no seu povo, a verdade é que Ele estava atentamente observando
tudo o que eles faziam e que no devido tempo traria juízo e faria justiça
quanto a eles.
Um
pensamento paralelo encontramos em 2 Pe 3.9, que diz:
" O
Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânime
para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se. "
Jeremias
pareceria até mesmo um traidor do seu povo, recomendando, durante certo tempo,
que se rendessem à Babilônia. O conhecimento
de tão grande desafio enche Jeremias de incerteza, mas Deus lhe deu promessas
encorajadoras. Deus prometeu que fortaleceria
o homem interior de Jeremias, para suportar a rejeição e a oposição do povo e
que Sua presença nunca deixaria o profeta. Jeremias nunca estaria completamente só (Jr
1.18-19).
O LIVRO DE JEREMIAS
O Livro
de Jeremias é o segundo livro dos principais profetas da Bíblia, vem
depois do Livro de Isaias e
antes do Livro das Lamentações. Os
capítulos 1 a 24 registram muitas das suas profecias. Os capítulos 24 a 44 relatam suas
experiências. Os remanescentes contêm Profecias contra
as nações. É provável que seu
auxiliar, Baruque, tenha reunido e organizado grande parte do livro. Na história de Babel, foi usado o método Atbash
de criptografia.
Jeremias (em hebraico:
יִרְמְיָהוּ, Yirməyāhū) foi um profeta
hebreu conhecido por sua integridade e discursos duros contra o pecado.
Filho do
sacerdote Hilquias (ou Helcias), da Tribo de Benjamim, nasceu
entre 650 e 640 a.C em Anadote, um pequeno povoado a nordeste
de Jerusalém, e morreu no Egito, em 580 a.C. Foi sacerdote do povoado de Anadote e
previu, segundo a Bíblia entre outras coisas, a invasão Babilônica. Nabucodonosor atacou Israel em 597 a.C, e
novamente em 586 a.C (ou 607 a.C, segundo a cronologia das Testemunhas
de Jeová), quando os caldeus destruíram Jerusalém e queimaram o Templo.
O
significado do nome é incerto, existindo três teses aceitáveis: "Yehowah exalta",
"Yehowah é sublime" ou "Yehowah abre (=faz
nascer)", era um nome bastante comum nos tempos bíblicos, são conhecidos
pelo menos sete personagens com este nome que é empregado 158 vezes na
Bíblia.
Embora de
família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte,
principalmente a Oséias, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém.
Como Miquéias, ele pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão
dos camponeses sobre a situação do país.
ATIVIDADE
Acredita-se
que o livro tenha começado a ser escrito por volta de 605 a.C.,
quando Jeremias, preso, começa a ditá-lo a seu secretário Baruc (36:1.
2.4), no quarto ano do reinado de Jeoaquim, quando se iniciou efetivamente
o ministério do profeta, e Deus teria lhe ordenado que escrevesse suas
experiências num rolo. Contudo, a obra
só foi completada após a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor,
sendo que os acontecimentos narrados não se acham em ordem cronológica no
livro.
Por outro
lado, a Edição Pastoral da Bíblia sustenta que a atividade profética
de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC (1:2; 25:3),
quando ele ainda era jovem (1:6) e prosseguiu até 586 AC, e pode ser
dividida em quatro períodos:
Primeiro período: durante o reinado de Josias (627
a 609 AC). Com apenas oito anos de
idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra",
expressão que indica a camada rural da sociedade. No início deste reinado, Jeremias proclamou
um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a
Jeová e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que
garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baliam.
No âmbito internacional,
a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência
da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já maior de idade,
aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o
território que antes era do Reino de Israel Sentencial e que pertencia à
Assíria desde a queda de Samaria em 722 AC.
Josias deixa
de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa
(cf. 2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer
novo relacionamento social centrado na Lei. Estranhamente Jeremias não faz
nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa.
Foi um
período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom
conceito sobre Josias (Jr 22,15-16).
Foram escritos
neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37.
Segundo período: durante o reinado de Joaquim (609
a 598 AC)
Com a
decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 AC), outros povos
entram no cenário: citas medos, babilônios e também os egípcios que
tentam ressurgir depois de um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser
palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Meguido,
em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Neco, que
procura deter o avanço da Babilônia.
Neco depõe Joacaz,
que sucedera a Josias, e coloca no trono de Judá o
despótico Joaquim. O povo detestava
Joaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso Discurso sobre o
Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta.
O Discurso
contra o Templo, que foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24. O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as
circunstâncias do discurso. Ocorreu
entre setembro de 609 e abril de 608 AC, quando Jeremias colocou-se
no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaísta no Templo
de Jeová como falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora
acontecera com Siló.
Na opinião
dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia:
falara em nome de Jeová e falara contra a casa de Jeová. Jeremias confirmou suas palavras perante o
tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta Miquéias,
que, um século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e
nada sofrera.
No começo de
seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um novo palácio,
exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois, Judá estava
obrigada a pagar tributos ao Egito. Jeremias denuncia o governo de Joaquim
como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função
real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer
ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento
deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário
de seu pai, Joaquim "não conhece Jeová".
A Babilônia surge
como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte
os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17;
8:13-17). Possivelmente por volta de 605
AC, quando Nabucodonosor venceu o Faraó Naco II e
ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição
de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur,
chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a
entrada no Templo.
Assim
mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por
falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças
sociais. E aponta os principais
responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei,
ministros, falsos profetas, sacerdotes, para isso convoca o escriba Baruc e
dita-lhe as profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do
governo de Joaquim, em 605 AC.
Em dezembro
de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento
em que Nabucodonosor atacava a cidade filistéia de Ascalão, vizinha
de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do
norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição.
Joaquim mandou
queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se
esconderam e não foram achados. Posteriormente, Jeremias manda que Baruc
escreva tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32).
Jeremias também
luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o
profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para
que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus
enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh.
O profeta estava
com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava
às portas de Jerusalém. Nessa
época, o rei Joaquim morreu provavelmente assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, não teve
tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta, juntamente com parte da elite
judaica, foi levado para o Exílio da babilônia em 597 AC. Sedecias,
tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém.
Jeremias apregoara
que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra
Jeová, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo
"conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do
direito, da justiça, da solidariedade. Os
poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente
a riqueza e não há paz. A mentira domina
desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9
de Jeremias.
Jeremias constata
a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior
corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por
ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda,
mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses
imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo
superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14).
Em 5:26-28
são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo
impunemente.
Terceiro período: durante o reinado de Sedecias (597
a 586 AC)
Sedecias assume
o trono com 21 anos de idade, para dirigir uma Judá arruinada, com várias
cidades destruídas e uma economia desorganizada, se submete aos babilônios e
se mostra indeciso. Nesse momento surge
uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que
foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá.
O profeta
se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro
da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são
incapazes de salvar o povo do desastre. Por
isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão
aprendendo uma dura lição. Essa ideia
leva Jeremias novamente para a prisão.
Pressionado
por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia,
que, fracassa, conforme previsto por Jeremias. Jerusalém é sitiada pelos babilônios,
nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 AC ocorre a segunda deportação.
Quarto período: depois da queda de Jerusalém (a
partir de 586 AC)
Em 586
AC, Nabocodonosor resolve destruir Jerusalém totalmente:
incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas permite que Jeremias fique no
país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judeia.
Nesse mesmo
ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê
forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis,
cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a
idolatria que seus conterrâneos que ali praticavam (40,7-44,30).
Segundo o
apócrifo Vidas dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no
séc. I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando
residia no Egito.
BALANÇO
Pode-se
dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo
retornasse à genuína aliança com Deus. Ele
se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder
suas instituições e a própria terra. Apresenta-se como um grande solitário (15:17),
incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10;
16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade
para o Egito, nenhum vestígio restará de sua tumba.
No entanto,
sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao
povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem
precisar de instituições mediadoras (31,31-34). Ao colocar em primeiro plano os valores
espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus,
ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de
Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo
(Isaías 53).
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Há quatro
tipos de textos no livro de Jeremias:
Profecias em
forma de poesia, como 4:5-6:30;
Relatos
autobiográficos ou Confissões de Jeremias, em verso ou prosa, como 1:4-19;
11:18-12:6; 15:10-21; 17:14-18; 18:18-23 e 20:7-18, que não chegam a ser uma
autobiografia, mas um testemunho comovente, com o estilo empregado no Livro
das Lamentações.
Relatos
biográficos em terceira pessoa, atribuídos a Baruc, que não se encontram
em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de
trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma
leitura destes na ordem cronológica.
Discursos em
prosa, em número de 10, de autoria incerta, mas que muitos atribuem aos mesmos
autores de Josué, Juízes, I Samuel, II Samuel, I Reis e II Reis, a chamada
Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr), possivelmente composta por levitas, como
7:1-8.
As longas
seções em prosa que ora estão na forma de diálogo e em outras ocasiões como
narrativa, embora grande parte da obra esteja esteticamente formatada com forte
presença das então denominadas metáforas vivas, utilizando-se com muita
habilidade o idioma hebraico. Segundo
alguns estudiosos, o simbolismo utilizado pelo profeta serviria para
personificar a sua mensagem, conforme se vê em várias passagens, como a do
cinto estragado ou na aquisição de uma propriedade em Anatote.
ADIÇÕES
A obra
contém discursos em prosa com estilo semelhante ao Deuteronômio cuja
redação pode ser uma obra de discípulos posterior ao Exílio na Babilônia,
no séc. VII AC ou começo do séc. VI AC;
O longo Oráculo
contra Babilônia (caps. 50 e 51) também data do final do Exílio;
PLANO DA OBRA
1:1-24:14 –
Profecias contra Judá;
26:1-45:5 -
Profecias de Salvação para Israel e judá e relatos biográficos
(provavelmente redigidos por Baruc);
25:15-38
(Introdução) e 46:1-51:64 - Profecias contra as nações estrangeiras; (na Septuaginta) não
há descontinuidade entre a introdução e o restante desta parte da obra, pois
todo o corpo das "profecias contra as nações estrangeiras" inicia-se
no cap 25 e é anterior as "Profecias de Salvação para Israel e Judá ";
52:1-34 -
Anexo baseado em 2Rs 24:18-25:30.
PROCESSO DE COMPOSIÇÃO
O livro
de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação.
Profecias (palavras proféticas) isoladas foram sendo reunidos ao longo dos
anos, de modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias e não uma
obra perfeitamente planejada. Mais
precisamente, pode-se dizer que temos uma antologia de antologias, em um
processo que começou ainda durante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da
época pós-exílica.
A Septuaginta tem
um texto de Jeremias bem mais curto do que o Texto Massorético além de
colocar várias profecias noutra ordem. Isso
permite supor que existiram dois textos independentes de Jeremias: um mais
antigo e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a Septuaginta;
outro, mais recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido
pelos massoretas (= os rabinos "transmissores" do texto hebraico).
CONFISSÕES DE JEREMIAS
As
"confissões" são diálogos com Jeová, lamentos, orações, disputas, que
ocorreram durante o governo de Joaquim, quando Jeremias mais sentiu o
peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu
povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado,
ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu.
É possível
que tenham sido escritos em 605 AC como um desabafo, podem ser lidos como uma
síntese das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade. São 5 trechos:
Jr
11:18-12:6 - Lamenta que seus conterrâneos e familiares tentaram matá-lo
em Anatot, quando jovem e questiona porque persiste a prosperidade dos
ímpios e a paz dos apóstatas, daqueles que vivem falando em Jeová, mas na
verdade estão muito longe Dele, daqueles que têm uma fachada de piedade, mas
não estão, de fato, com Jeová.
Jr
15:10-11.15-21 - Questiona se vale a pena ser profeta e confessa estar sendo
tentado a desistir, aceitar a cooptação, "ser normal", passar para o
lado daqueles a quem ele critica para sair da solidão a que é obrigado a viver.
Jr 17:14-18
- Apela a Jeová contra os seus perseguidores que lhe cobram a realização da
palavra por ele pregada, se sente desacreditado perante seus ouvintes, porque
as desgraças prometidas não acontecem.
Jr 18:18-23
- Denuncia nova trama contra a sua vida, seus adversários argumentam que podem tranquilamente
eliminá-lo, já que tem apoio dos sacerdotes, dos sábios e dos profetas ligados
aos interesses da corte. Fica triste ao
perceber que estes que querem eliminá-lo são os mesmos a quem ele tantas vezes
defendeu diante de Jeová.
Jr
20:7-10.14-18 - Usando fortes imagens, chega ao máximo de sua angústia,
acredita que Jeová o enganou: o seduziu para ser profeta e o dominou, para
depois abandoná-lo, quando todos querem sua queda, inclusive seus amigos e por
isso, ele quer parar de ser profeta, mas o problema é que não consegue, pois,
as palavras de Jeová queimam-no como fogo que atinge até os ossos. Então, amaldiçoa o dia em que nasceu:
"Maldito o dia em que eu nasci! (...) maldito o homem que deu a meu pai a
boa nova: 'Nasceu-te um filho homem!' (...) porque ele não me matou desde o
seio materno, para que minha mãe fosse para mim o meu sepulcro e suas entranhas
estivessem grávidas para sempre. Por que
saí do seio materno para ver trabalhos e penas e terminar os meus dias na
vergonha?".
Segundo os
relatos em seu livro, Jeremias não se julgava justo aos seus próprios olhos,
mas incluía a si mesmo ao admitir a iniquidade daquela nação (Jr 14:20, 21). Depois de liberto por Nebuzaradã, hesitou
em abandonar aqueles que estavam sendo levados para o babilônico, talvez
achando que devia compartilhar a sorte deles, ou desejando continuar servindo
aos interesses espirituais deles (Jr 40:5).
Por vezes,
em sua longa carreira, Jeremias ficou desanimado e necessitou a confirmação do
apoio de Jeová, mas, mesmo em adversidade, não deixou de invocar a Jeová,
pedindo-lhe ajuda. - Jr 20:7-13.
Encontrou
bons companheiros, a saber,
os recaibitas, Ebede-Meleque e Baruque. Por meio destes amigos, foi ajudado e
livrou-se da morte.
AUTORIA DE LAMENTAÇÕES
A atribuição
da autoria do Livro de Lamentações à Jeremias é questionada, pois
Jeremias, tal como é conhecido por suas profecias autênticas, não poderia ter
dito que a inspiração profética tinha se esgotado (2:9), nem
louvar Sedequias (4:20 x Jr 24:8), nem esperar auxílio
do Egito (4:17 x Jr 37:5-7), nem apoiar a doutrina da dívida pelos
pecados dos pais (5:7 x Jr 31:29-30; 5:6 x Jr 2:18) além disso seu gênio
espontâneo é incompatível com o estilo erudito dos poemas que estão no Livro
das Lamentações, havendo quem sustente que foram escritas por adversários de
Jeremias.
PROFECIAS
Jeremias
encenou para Jerusalém vários pequenos dramas como símbolos da condição dela e
da calamidade que lhe sobreviria. Entre
eles:
A visita à
casa do oleiro (Jr 18:1-11) e o incidente com o cinto estragado. (Jr 13:1-11)
Ordenou-se a Jeremias que não se casasse; isto servia de aviso das "mortes
por enfermidades", das crianças que nascessem naqueles últimos dias de
Jerusalém. (Jr 16:1-4). Ele quebrou uma
botija diante dos anciãos de Jerusalém, qual símbolo do impendente
destroçamento da cidade. (Jr 19:1, 2, 10, 11). Comprou de volta um campo de Hanamel, filho de
seu tio paterno, como figura da restauração que viria depois do exílio de 70
anos, quando se comprariam novamente campos em Judá (Jr 32:8-15, 44). Lá em Tafnes, no Egito, ele ocultou grandes
pedras no terraço de tijolos da casa de Faraó, profetizando que Nabucodonosor fixaria
seu trono sobre aquele exato ponto. - Jr 43:8-10.
RELAÇÃO COM OUTRAS FIGURAS BÍBLICAS
O
profeta Daniel com base no estudo das palavras de Jeremias a respeito
do exílio de 70 anos, pôde fortalecer e encorajar os judeus a respeito da
proximidade da sua libertação. (Dn 9:1, 2; Je 29:10). Esdras trouxe
à atenção o cumprimento das palavras dele. (Ed 1:1; veja também 2 Cr 36:20,
21.).
O Apóstolo Mateus apontou para o cumprimento de
uma das profecias de Jeremias nos dias em que Jesus era criancinha. (Mt 2:17,
18; Jr 31:15). O autor de Hebreus
mencionou os profetas, entre os quais se achava Jeremias, cujos escritos citou,
em Hebreus 8:8-12. (Jr 31:31-34) A respeito destes homens, o mesmo escritor
disse que "o mundo não era digno deles", e que 'receberam testemunho
por intermédio de sua fé'. - Hb 11:32, 38, 39.
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