LIVRO DE LAMENTAÇÕES
Lamentações é
um poema fúnebre relatando as misérias e desolações de Jerusalém, resultantes
de seu estado de sítio e posterior destruição.
Lamentações
obteve seu título na Vulgata. A posição do livro após Jeremias no cânon reflete
a influência do Antigo Testamento grego, a Septuaginta, que no primeiro
versículo atribui a poesia a Jeremias. O título hebraico, ekah, é
derivado da primeira palavra dos capítulos 1, 2 e 4. A
palavra ekah geralmente é traduzida por “como” e era usada com
frequência no verso inicial dos cantos fúnebres israelitas. Por exemplo, no
lamento de Davi pela morte de Jônatas, encontra-se: “Como caíram os guerreiros!
” (2Sm 1.19), e no cântico de zombaria contra o rei da Babilônia: “Como você
caiu dos céus” (Is 14.12).
O livro de
Lamentações está incluído na terceira divisão do cânon hebraico, “os
Escritos”. O livro é o terceiro dos cinco livros que compõem
as megilloth ou “rolo das festas” que são: Cântico dos Cânticos,
Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester, usados em determinadas festas
judaicas. Lamentações deve ser lido anualmente no nono dia do mês
de Av (julho), dia de lamento pela destruição de Jerusalém pelos
babilônios em 587 a.C. e pelos romanos em 70 d.C.
Lamentações
ocupa no Antigo Testamento lugar entre o de Jeremias e o de Ezequiel. Nas
Escrituras hebraicas, estava incorporado na divisão dos Livros Sagrados, ou
Hagiógrafo, entre o livro de Rute e o de Eclesiastes.
O livro de
Lamentações é completamente poético. Os cinco poemas equivalem aos cinco
capítulos. Poema bem estruturado levando em conta o alfabeto
hebraico. As estrofes ou versos contemplam o número de letras do
alfabeto. Esse é outro livro da Bíblia de invulgar beleza poética. Não contém
só tristeza; acima das nuvens de lamento do poeta pelos pecados de seu povo,
brilha a luz de Deus. Em 3.22-27, a luz rompe através das nuvens para formar
um luminoso arco-íris.
Os judeus
cantam este livro todas às sextas-feiras junto ao Muro das Lamentações, em
Jerusalém, e o leem nas sinagogas, em jejum no nono dia de Av (julho), o
dia destinado à lamentação das grandes calamidades que sobrevieram à nação.
AUTOR
Embora
Lamentações não cite o nome do autor e não possamos ter certeza de quem
escreveu o livro, a tradição judaica e o consenso entre a maioria dos
biblistas da atualidade atribui sua autoria ao profeta Jeremias.
A
Septuaginta declara tal atribuição desde o segundo século (250 a.C.), e a
Vulgata Latina desde o quarto século a.C. Argumentos convincentes baseados na
tradição judeu-cristã, sobre a autoria de Jeremias, têm sido apresentados. A ideia
de Jeremias como autor do livro pode ter sido estimulada com base no que está
escrito em 2Cr 35.25, onde se lê que Jeremias compôs lamentações para o rei
Josias. No livro propriamente dito, não há indícios diretos de que o profeta
Jeremias tenha sido o seu autor, embora algumas passagens do livro lembrem nitidamente
as características e estilo desse profeta, especialmente no capítulo 3
(3.48-51 com Jr 14.17).
O
cabeçalho do livro na Septuaginta e na Vulgata Latina apresenta o seguinte
comentário: “Jeremias se assentou a chorar e compôs este poema de lamento por
Jerusalém”.
Além
disso, como o profeta Jeremias foi testemunha ocular do juízo divino contra
Jerusalém em 586 a.C., é razoável supor que fosse o autor do livro que tão
vividamente retrata o acontecimento. Lamentações compartilha, de modo
pungente, o senso avassalador de perda que acompanhou a destruição da cidade,
do templo e do ritual, bem como o exilo dos habitantes de Judá.
Aceitando-se
a autoria de Jeremias, o livro de Lamentações se torna um suplemento do livro
de Jeremias, que tão frequentemente prediz uma catástrofe tal como aquela que
é descrita em Lamentações. Porém, as lamentações de Jeremias são inteiramente
isentas daquela atitude mental que diz “Eu avisei”. Ele apenas preocupa-se
tão somente em lamentar as aflições de Jerusalém, e em pleitear perante Deus
que não a rejeite para sempre.
DATA
Essa
coleção de lamentos por Jerusalém, provavelmente foi composta entre a queda
da cidade, em 587/586 a.C., e a libertação do rei Joaquim da prisão na
Babilônia (562 a.C.). O tom desesperador do pedido de renovação nacional, nos
versos finais do último poema (5.19-22), indica o desconhecimento aparente do
autor da libertação de Joaquim e de suas implicações para o cumprimento das
profecias de Jeremias sobre a restauração de Israel (Jr 30 – 33).
CONTEXTO HISTÓRICO DE LAMENTAÇÕES
O livro é
uma resposta à destruição de Jerusalém e suas consequências pelos exércitos
babilônicos do rei Nabucodonosor em 587 a.C. Os registros bíblicos da invasão
de Judá e a queda de Jerusalém se encontram em 2Reis 24 e 25 e 2Crônicas
36.
Os
profetas advertiram Judá da catástrofe iminente durante dois séculos (2Rs
21.12; 24.3). Infelizmente a repetição da ameaça de juízo divino não fazia
sentido para o povo e criou uma barreira contra a ideia de arrependimento.
Além disso, a demora na vinda do juízo de Javé gerou um falso senso de
segurança na nação (Jr 6.13,14; Jr 7.1-4). O livro lamenta o dia previsto
pelos profetas, em que Javé se tornou “como inimigo” que destruiu Israel sem
piedade (2.2,5).
TEMAS E TEOLOGIA
Lamentações
não é o único livro do Antigo Testamento que contem lamentações individuais
ou comunitárias. Muitos dos Salmos são poemas de lamento, e todos os livros
proféticos, exceto Ageu, trazem um ou mais exemplos do gênero das lamentações.
No entanto, esse livro bíblico é o único que consiste somente em
lamentações.
A
fidelidade de Deus. Na mais extrema angústia e esmagadora derrota, sem haver
absolutamente esperança de conforto de alguma fonte humana, o profeta aguarda
a salvação da mão do grande Senhor do universo. Lamentações deve gerar em
todos os verdadeiros adoradores a obediência e integridade, dando ao mesmo
tempo aviso temível concernente àqueles que desconsideram a revelação de Deus
por meio de sua Palavra. Não há registro na história de outra cidade
arruinada que tenha sido lamentada em tal linguagem poética e comovente. É,
certamente, proveitoso em descrever a severidade de Deus para com os que
continuam a ser rebeldes, obstinados e impenitentes.
Lamentações
é tudo, menos um texto de resignação passiva. A ira de Deus é aceita, mas não
sem grande carga de resistência emocional. Poderia Deus agir como inimigo do
seu próprio povo e levá-lo a terrores que são penosos até de se descreverem
(2.4-5, 20-22)? Embora o escritor compreenda a justiça de Deus, a agonia e
perplexidade do acontecimento podem ser livremente expressas. O livro é uma
mensagem poderosa em tempos de angústia.
No meio do
livro, a teologia compartilhada mediante as lamentações do profeta, chega ao
seu clímax ao focalizar a bondade incondicional de Deus, o Senhor Deus. Ele é
o Eterno, o Altíssimo de toda a esperança (3.21,24,24); do amor (3.22), da
fidelidade (3.23), da salvação (3.26). Apesar de toda prova em contrário,
porquanto as suas misericórdias são inegociáveis. Renovam-se a cada manhã;
interminável é a sua fidelidade (3.22,23).
PROPÓSITO E MENSAGEM
O
propósito de Lamentações não pode ser definido em uma única palavra. De certa
forma, a sua produção foi em si mesmo uma forma de lidar com a questão da destruição
de Sião. O centro da gravidade da ira de Deus contra seu povo. A ira de Deus
é considerada justa. Judá pecou, e os profetas transmitiram o aviso de Deus.
Amós, há muito tempo, havia falado sobre um dia do Senhor contra seu povo (Am
5.18), dia este que agora havia chegado (1.12). Lamentações não expressa uma
total perplexidade, como às vezes, parece acontecer em Jó. Ao invés disso,
ele justifica a punição de Judá e oferece uma defesa dos profetas que a
predisseram.
Ao
contrário de 2Reis 24 e 25, que registram os fatos históricos da queda de
Jerusalém, Lamentações apreende a emoção da mudança trágica na experiência de
Israel com o Senhor. Os poemas preservam a reação dos hebreus ao inimaginável
e inexpressível, a destruição total da Sião de Davi, a ruína do templo do
Deus e o abandono divino dos “eleitos” de Jeová. Embora a tragédia
confirmasse a mensagem profética e vindicasse a interpretação profética do
relacionamento entre estipulações e maldições com base na aliança, isso não
servia de consolo para os sobreviventes abalados com o ataque
babilônico.
Lamentações
registra o “Dia do Senhor” para Judá vindo com toda a fúria. A ameaça de
maldição da aliança tornou-se uma realidade terrível e um pesadelo
inesquecível. As admoestações de Moisés de que as violações da aliança
colocavam em risco a presença de Israel na terra de Canaã provou ser muito
mais que um discurso teológico vazio. Javé finalmente impusera o castigo
pelas transgressões de Judá. O povo de Deus foi “vomitado” da terra da
promessa divina (Lv 18.24-30). O único consolo para Jerusalém era saber que
um dia as nações ao seu redor também beberiam do cálice da ira de Deus
(4.21,22; 3.55-66).
Lamentações
é tudo, menos um texto de resignação passiva. A ira de Deus é aceita, mas não
sem uma grande carga de resistência emocional.
Como
cânticos fúnebres, os poemas de Lamentações foram criados para oferecer uma
purificação aos sobreviventes da calamidade de Judá. Esta expressão de
tristeza e extravasamento de emoções jamais responderia por completo as
perguntas sobre a soberania do Senhor ao castigar seu povo, mas permitiu que
os hebreus sofredores lidassem sinceramente com sua tristeza para aliviar o
trauma de serem abandonados por Deus.
O
poeta revelou a alma à nação penitente, prostrada de vergonha, e reconheceu
as muitas transgressões e a grande rebeldia (1.4,22). A purificação do pecado
e da culpa permitiu que a “viúva” de Sião reconhecesse a justiça de Deus em
seu juízo contra a infidelidade de Jerusalém à aliança (1.18).
Somente
essa resposta de confissão e arrependimento poderia dar sentido e substância
às palavras de esperança futura do capítulo 3. A própria ira de Deus indicava
seu amor, fundamentado na aliança, por Israel. O pai que ama deve castigar o
filho desobediente. O chamado para esperar no Senhor e na sua misericórdia
infalível imprimiu esperança da futura restauração de Israel, pois a história
da nação demonstrava que Javé não o rejeitará para sempre (3.21-29).
O autor de
Lamentações compreende com clareza que os babilônios eram meros agentes do
castigo divino, e que o próprio Deus destruíra sua cidade e seu templo
(1.12-15; 2.1-8, 17,22; 4.11). Não foi, no entanto, arbitrária a atuação
de Deus; o pecado desavergonhado que desafiava ao Senhor e a rebeldia que
violava a aliança foram as causas principais do infortúnio do povo (1.5,8,9;
4.13; 5.7,16). Embora fosse de esperar o choro (1.16; 2.11,18; 3.48-51) e
fosse natural o clamor por punição contra o inimigo (1.22; 3.59-66), o modo
certo de reagir ao juízo de Deus é o arrependimento sincero, de todo o
coração (3.40-42). O livro que começa com uma lamentação (1.1,2) termina
acertadamente com arrependimento (5.21-22).
AS DIVISÕES DO LIVRO
Nas
Escrituras hebraicas os capítulos 1,2, 4 e 5 têm cada um vinte e dois versos,
e cada verso começa com cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico em
ordem.
No
capítulo 3 os primeiros três versos começam com a letra alef, os
segundos três com a letra bet, e assim sucessivamente.
O capítulo
5 tem vinte e dois versos, mas não estão em forma de acróstico.
Cada um
dos cinco capítulos, é um lamento poético:
- Capítulo
1. Jerusalém como uma viúva chorando. Uma elegia poética, acrostica, cada
versículo começando com uma as 22 letras do alfabeto hebraico.
- Capítulo
2. Jerusalém como uma mulher velada em luto, chorando no meio das ruínas. Um
poema fúnebre, como o primeiro e também acróstico.
- Capítulo
3. Jerusalém como e pelo profeta em luto chorando ante Jeová o Juiz. Outro
poema que encerra tristeza profunda como os dois primeiros.
- Capítulo
4. Jerusalém como ouro embaçado, mudado e degradado. Outro canto fúnebre e
acróstico como os dois primeiros.
- Capítulo
5. Jerusalém como suplicante rogando ao Senhor. Outro poema fúnebre, de 22
versículos, mas não em ordem alfabética.
CARACTERÍSTICAS
Lamentações
é a mais clara evidencia para a existência da métrica na poesia hebraica que
parece utilizar um verso de cinco sílabas métricas divididas em três e dois.
Essa métrica é chamada de qinah, derivada do nome hebraico para
Lamentações e é encontrada com frequência na poesia de caráter melancólico
como Lamentações.
Uma
segunda forma poética encontrada em Lamentações é o acróstico, em que os
versos ou conjuntos de versos são dispostos de acordo com as vinte e duas
letras do alfabeto hebraico. Cada novo verso ou grupo de versos inicia com
uma letra subsequente. Esse método talvez indique que o poeta está tratando o
assunto de forma completa. O acróstico consiste também de uma forma para a
expressão literária do pesar, permitindo ao seu autor tratar de temas que são
tão profundos para serem expressos por palavras.
FESTAS DE PEREGRINAÇÃO (1.4)
Havia três
festas de peregrinação no calendário israelita: a festa do pão sem fermento,
a festa das semanas e a festa dos tabernáculos. Em circunstâncias normais,
nessas ocasiões as estradas estariam cheias de peregrinos em viagem para
Jerusalém. Eram momentos de alegria e celebração. Em tempos de dificuldades,
poucos corriam o risco e agora não havia cidade nem templo para onde
dirigir-se.
PAGÃOS NO SANTUÁRIO (1.10)
Havia
regras rígidas para o acesso a não israelitas aos recintos do templo (Dt 23).
Apenas os sacerdotes tinham acesso ao santuário, e ainda assim era um acesso
limitado. O cuidado em preservar a santidade da morada de Deus fora frustrado
por causa da profanação.
ESBOÇO DE LAMENTAÇÕES
I. Lamentação
pela miséria e deserção de Jerusalém (1)
II. Lamentação
pela cidade de Sião derrubada na ira de Javé (2)
III. Tristeza
e esperança do poeta (3)
IV. O
Horror do cerco (4)
V. Recordação
da desgraça de Sião; pedido de restauração (5).
|
LIVRO
DAS LAMENTAÇÕES
O Livro das Lamentações ( איכה ʾēḫā(h), Eikha ou
Eiká, cuja tradução literal é "Como!", ou ainda "Oh!") é um
livro que faz parte da subdivisão da Bíblia chamada de Profetas
Maiores, na Bíblia vem depois do Livro de Jeremias e antes do Livro
de Ezequiel ou depois do Livro de Baruque nas Bíblias utilizadas das
Igrejas Católicas e Ortodoxas.
Livro cuja autoria é tradicionalmente atribuída ao Profeta
Jeremias, quando com os próprios olhos via a destruição da cidade de Jerusalém por Nabucodonosor,
rei de Babilônia, por volta do ano 589 a.C.
São cantos fúnebres que descrevem, de modo doloroso e
poético, a destruição de Jerusalém pelos Babilônicos em 586
a.C., e os acontecimentos que se sucederam a essa catástrofe nacional: fome,
sede, matanças, incêndios, saques e exílio forçado (cf. 2Rs 24-25).
As Lamentações são usadas na Liturgia da igreja
Católica por ocasião da Semana Santa para lembrar o sofrimento
de Jesus. A tradição popular conservou, durante a procissão da Sexta
Feira Santa, no canto de Verônica, em que Verônica canta um
trecho das Lamentações, posto na boca de Jesus: "Vocês todos que passam
pelo caminho, olhem e prestem atenção: haverá dor semelhante à minha dor?"
(1,12).
Os judeus recitam o livro no grande jejum que lembra a
destruição do Templo de Jerusalém, no dia 9 do quinto mês do Calendário
Judaico.
ESTILO LITERÁRIO
Os
caps. 1, 2 e 4 são cantos fúnebres, semelhantes a 2Sm 1,17ss, o cap. 3 é uma
lamentação individual e o cap. 5 é uma lamentação coletiva, também conhecida
como Oração de Jeremias.
Os
quatro primeiros poemas são alfabéticos, ou seja, as primeiras letras dos 22
versículos correspondem às 22 letras do Alfabeto Hebraico colocadas
em ordem, havendo uma pequena diferença na ordem do alfabeto observada no
primeiro capítulo e a ordem observada nos três capítulos seguintes. Merecendo
destaque o fato de que no terceiro poema, o alfabetismo é tríplice, ou seja, a
letra correspondente a cada verso é empregada no início das três primeiras
palavras de cada verso. .
AUTORIA
A
atribuição da autoria à Jeremias é questionada, pois Jeremias, tal como é
conhecido por seus oráculos autênticos, não poderia ter dito que a inspiração
profética tinha se esgotado (2,9), nem louvar Sedecias (4,20 x Jr
24,8), nem esperar auxílio do Egito (4,17 x Jr 37,5-7), nem apoiar a
doutrina da dívida pelos pecados dos pais (5,7 x Jr 31,29-30; 5,6 x Jr 2,18) além
disso seu gênio espontâneo é incompatível com o estilo erudito dos poemas que
estão no Livro das Lamentações,, havendo quem sustente que foram
escritas por adversários de Jeremias..
LAMENTAÇÕES
DE JEREMIAS – ISRAEL CHORA
O nome Lamentações vem da tradução da
Bíblia para o latim: a Vulgata. O título hebraico é ‘ekah, derivado das primeiras palavras dos
capítulos 1, 2 e 4. Este termo era usado nas canções fúnebres e significa
“como”. Podemos verificar seu uso em 2 Sm. 1:19, quando Davi chora a morte de
Jônatas dizendo: “Como caíram os guerreiros!
O livro está em forma poética,
organizado em um acróstico alfabético. Os cinco capítulos equivalem aos cinco
poemas.
Lamentações deve ser lido todos os anos
no nono dia do m6es de Abe, como recordação da destruição do Templo de
Jerusalém por Nabucodonosor em 587 a.C. e por Tito em 70 d.C.
Foi composto provavelmente entre a
destruição do Templo em 587 a.C. e a libertação do rei Joaquim da prisão na
Babilônia em 562 a.C. (2 Rs. 25:27-30). O desespero demonstrado nos versos
finais do livro (5:19-22) parecem indicar que o autor não tinha conhecimento
sobre a libertação de Joaquim e o cumprimento das profecias de Jeremias acerca
da restauração de Israel (Jr. 30-33).
O livro é uma reação da alma sobre a
destruição de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C. O registro histórico
dessa destruição está em 2 Rs. 24 e 25 e 2 Cr. 36. Durante dois séculos os
profetas procuraram alertar a nação de Israel sobre o julgamento iminente,
entretanto os ouvidos do povo se acostumaram com as ameaças e seu coração
endureceu-se. Em virtude da demora no julgamento, o povo ficou com uma falsa
impressão de segurança (Jr. 6:13-14; Jr. 7:1-4). O livro mostra de maneira
poética o horror que a invasão babilônica representou para o povo hebreu e como
Javé tornou-se como um inimigo de Israel (Lm. 2:2-5).
Estrutura de Lamentações de Jeremias
O livro de Lamentações de Jeremias está
estruturado da seguinte forma:
·
Pranto
pela cidade fantasma – 1
·
Pranto
pela ira da Javé manifestada em Jerusalém – 2
·
Um
canto de esperança – 3
·
O
caos de Jerusalém – 4
·
A desgraça
e a restauração – 5
Conforme a lista acima Lamentações é
composto de cinco poemas. Os poemas contidos nos capítulos 1, 2 e 4 são canções
fúnebres que começam com a interjeição “como” (‘ekah). Os outros dois capítulos são poemas
de pranto individual e coletivo, os capítulos 3 e 5 respectivamente.
Conforme exposto anteriormente, os
poemas em Lamentações são acrósticos alfabéticos, seguindo as vinte e duas
letras do alfabeto hebraico. Há ao menos três benefícios para disposição dos
lamentos no formato acróstico:
·
Facilita
a memorização da catástrofe que se abateu em Jerusalém. O povo hebreu tinha uma
forte tradição oral, e este método ajuda no processo de disseminação do
conteúdo.
·
Os
poemas acrósticos simbolizam de forma completa toda tristeza pela lamentação de
Jerusalém.
·
A
forma acróstica obrigava o poeta a pensar em todas as faces de um mesmo tema,
atingindo a completude.
O primeiro poema personifica a cidade
de Jerusalém como uma mulher orgulhosa, brutalmente estuprada e abandonada,
enfatizando a solidão, a decadência e o abandono (Lm. 1:2,9,16,17).
O segundo trata sobre a força da ira de
Javé contra Jerusalém e o quarto mostra as terríveis consequências do
julgamento divino. O único consolo de Jerusalém é saber que seu castigo
terminará (Lm. 4:22).
O terceiro poema acróstico é o mais
longo e bem construído do livro com três versos para cada letra do alfabeto. Só
perde em complexidade para o Salmo 119, que possui sete versos para cada uma
das 22 letras do alfabeto hebraico. É o centro de toda composição da obra,
tanto no viés literário quanto no teológico. Este trecho contém:
·
sofrimento
pessoal do poeta, que também expressa o sentimento da nação (3:1-20)
·
oração
por consolo e esperança (3:21-29)
·
oração
de arrependimento (3:40-54)
·
pedido
de vingança (3:55-66)
·
Propósito e conteúdo
O livro de Lamentações de Jeremias
aborda os seguintes assuntos:
·
Javé
castiga o pecado
·
O
sofrimento é um meio de aprendizado
·
O
julgamento de Javé reflete sua justiça
·
Apesar
do sofrimento há esperança
Na narrativa de 2 Reis 24 e 25 lemos o
registro histórico, embora do ponto de vista teológico, da tomada e destruição
de Jerusalém pela Babilônia. Em Lamentações, Jeremias capta o estado de
espírito dos hebreus àquilo que eles consideravam impossível: a queda de
Jerusalém e a ruína do Templo. Apesar de constantemente advertidos sobre esta
tragédia, resultado da quebra da Aliança deuteronômica, os sobreviventes
estavam inconsoláveis.
A ameaça de expulsão da Terra da
Promessa não era uma simples cláusula nos termos da Aliança moisaica. O povo
finalmente havia experimentado a concretização das ameaças contidas na Lei e
foram vomitados da terra (Lv. 18:24-30). Agora, a única fonte de consolação era
saber que haveria a restauração para Jerusalém e também o julgamento das nações
ao seu redor (Lm. 4:21-22; 3:55-66).
Embora não respondesse questionamentos
“como” e “por quê”, o pranto registrado em Lamentações servia uma catarse, um
extravasamento do turbilhão de emoções que os judeus sentiam diante da
destruição de sua cidade e abandono por Javé. Em meio à dor e sofrimento,
tentando lidar sinceramente com este trauma, o texto de Lamentações revela que
o povo reconheceu sua culpa, rebeldia e infidelidade (Lm. 1:14-22).
Essa confissão de arrependimento pôde
dar um sentido na esperança da restauração para o futuro conforme o capítulo
três. A ira de Javé indicava seu amor pelo povo escolhido, tal qual um pai
castiga um filho que o desobedece. Esta ira estava indicada como um dos itens
da Aliança que o Senhor havia feito com os hebreus. O livro ainda mostra que a
misericórdia de Deus é infinita e ele não rejeitará seu povo para sempre (Lm.
3:21-29).
O sofrimento humano
O sofrimento humano é inevitável, pois
é uma consequência do afastamento da humanidade de Deus (Gn. 3). Ao se afastar
do Senhor, a humanidade fez somente o que era mal (Sl. 14:1-4) e tornaram-se
corruptos.
Javé, embora longânimo (Na. 1:3), em
virtude de sua santidade e justiça, não deixará os culpados sem castigo. O
Antigo Testamento fornece oito sugestões para o entendimento do sofrimento
humano (de acordo com R.B.Y. Scott).
1. Retributivo
|
castigo justo
pelo pecado
|
Jó 4:7-9; 8:20
|
2. Disciplinador
|
aflição corretiva
|
Dt. 8:3; Pv.
3:11-12
|
3. Probatório
|
teste divino do
coração
|
Dt. 8:2; Jó
1:6-12; 2:10
|
4. Temporário
|
comparado com a
boa ou má sorte dos outros
|
Jó 5:18; 8:20-21;
Sl. 73
|
5. Inevitável
|
resultado da
queda
|
Jó 5:6-7; Sl.
14:1-4
|
6. Misterioso
|
caráter e plano
de Deus não são plenamente conhecidos
|
Jó 11:7; Ec. 3:11
|
7. Fortuito e sem
sentido moral
|
tempo e acaso
afetam a todos
|
Jó 21:23-26; Ec.
9:11-12
|
8. Vicário
|
um sofre por
outro ou por muitos
|
Dt. 4:21; Sl.
106:23; Is. 53:3,9,12
|
Judá reconheceu merecer o castigo como
execução da justiça da Javé (Lm. 1:5,14,22; 4:13)
O abandono divino
Uma das consequências do julgamento de
Javé foi seu abandono de Judá. Este assunto do abandono divino de seu templo e
povo foi registrado também pelos povos mesopotâmicos. Nesta literatura a
divindade deixa o templo em razão da destruição da cidade porque foi incapaz de
corrigir a situação.
Entretanto, o abandono de Javé foi
devido à falta do cumprimento da Aliança pelo povo e não pela incapacidade do
Senhor. Por causa disso Deus removeu sua glória do Templo.
Na literatura mesopotâmica,
o abandono da divindade provocava clamor para seu retorno e a confissão de
pecados. Em Judá, o efeito foi justamente o contrário, pois, aproveitando a
ausência do Senhor se rebelaram e