PARTE 4 – EXECUÇÃO DIVINA
CAPÍTULO
15 – A CÓLERA DIVINA
Deus
Envia os Sete Flagelos (Apocalipse 15:1-8)
Este
capítulo destaca a Igreja Fiel e os vencedores da Grande Tribulação e a Ira de
Deus sobre os ímpios na terra. Conforme a organização dos capítulos 14 e 15,
este capítulo contém o sétimo sinal que, por sua vez, revela a próxima série de
sete – os flagelos (as taças). Explicando o capítulo desta maneira, o sétimo
sinal é interrompido por um pequeno intervalo, semelhante aos intervalos que
precederam o sétimo selo do capítulo 7,
e a sétima trombeta (11:15). Como os outros intervalos, este serve para
assegurar os fiéis. Deus prepara provações e castigos, mas não esquece dos seus
servos, os vencedores exaltados que adoram a Deus e ao Cordeiro.
A
representação dos anjos derramando as taças, encerra o ciclo da representação
dos “sete”: selos, trombetas e os castigos.
Perceba que
durante a abertura dos selos temos o registro da frase: “a
quarta parte da terra” (6:8). Durante as trombetas vemos a
expressão “um terço” para revelar danos parciais (8:7). Aqui, no derramamento
das taças o julgamento é finalizado e a destruição é total.
Os sete
anjos se preparam para derramar as taças da Ira de Deus sobre a terra, enquanto
que a Igreja Fiel (Mar de Vidro) e os vencedores da Tribulação estão na glória
e entoam o Cântico de Moises (Êxodo 15:1) e o Cântico do Cordeiro (Jer. 10:7)
O Santuário
do Tabernáculo se abre para que seja entregue aos anjos as sete taças contendo
a Ira de Deus e mais ninguém podia entra nele até que se cumpra toda sua ira
sobre os ímpios. (Ex.40:34-35, I Rs 8:10-11, Isaias 6:2-4).
O
Sétimo Sinal Introduzido (15:1)
Apocalipse
15:1 – Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete
últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus.
Vi no céu
outro sinal grande e admirável: Um “outro sinal” no céu sugere uma ligação aos
sinais anteriores. Há dois possíveis significados:
1. A
primeira possibilidade se baseia na linguagem do versículo em relação a dois
outros versículos no Apocalipse que usam a mesma expressão (12:1 e 12:3). Nesta
interpretação, este seria o terceiro de três grandes sinais no céu. Os
primeiros dois apresentaram os dois lados da batalha – a mulher (igreja) e o
dragão (diabo). Agora, o terceiro traz a resposta final de Deus, os sete
últimos flagelos.
2. A
segunda possibilidade explica este versículo em relação ao contexto mais
imediato, contando os sinais a partir das quatro vozes no capítulo 14. A
primeira voz: o evangelho para as nações, avisando sobre o juízo de Deus. A
segunda voz: a Babilônia caiu. A terceira voz: os adoradores da besta
atormentados. A quarta voz: os que morrem no Senhor serão abençoados.
Depois disto o filho do homem ceifa a terra e logo em seguida os sete anjos
recebem as taças dos sete flagelos.
Sete anjos
tendo os sete últimos flagelos: Do mesmo modo que o sétimo selo revelou os sete
anjos com as sete trombetas, o sétimo sinal revela os sete anjos com os sete
flagelos. “Flagelo” vem de uma palavra que significa ferimento (Lucas 10:30),
açoite (Atos 16:23; 2 Coríntios 11:23; etc.) ou praga (diversas vezes na LXX).
Os sete flagelos são os açoites enviados por Deus para castigar os homens
dignos de sua reprovação. Da mesma maneira que ele mandou pragas sobre os
egípcios, os israelitas rebeldes, etc., ele agora envia pragas para castigar
aqueles que adoram a besta.
Com este se
consumou a cólera de Deus: Sobre a cólera de Deus, (11:18 e 14:10). A cólera de
Deus põe um fim em relação aos malfeitores no Apocalipse. A mesma
linguagem descreve o castigo do povo de Israel (Ezequiel 7:1-10).
O
Intervalo (15:2-4)
Apocalipse
15:2 – Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os
vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em
pé no mar de vidro, tendo harpas de Deus;
Vi como que
um mar de vidro, mesclado de fogo: O mar de vidro já apareceu na descrição de
Deus no trono (4:6). Representa a santidade de Deus, separado de suas
criaturas. Agora, a figura é ampliada para mostrar o progresso dos fiéis.
Não é apenas o mar, mas o mar de vidro mesclado de fogo. O fogo representa,
muitas vezes na Bíblia, o castigo divino. Mas desta vez, não está saindo do
altar ou do trono. O fogo está relacionado às pessoas que se aproximam do
Senhor. Um outro sentido mais relevante é das provações que servem para
purificar e santificar os servos do Senhor (Números 31:23; Salmos 17:3;
66:10,12; Zacarias 13:9; 1 Coríntios 3:12-15; 1 Pedro 1:7; Apocalipse 3:18).
Juntando as figuras do mar de vidro e do fogo, esta imagem destaca a
necessidade de ser santificado pelo fogo para se aproximar de Deus. Este
sentido é reforçado no restante do versículo.
E os
vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome: Como as figuras dos
144.000 (7:1-8; 14:1-5) e da grande multidão (7:9-17), esta descrição
identifica os fiéis que resistem a tentação de adorar a besta. Aceitam a tribulação
nesta vida e até aceitam a sua própria morte (13:14-17), mas não negam o Senhor
(12:11).Que se achavam
em pé no mar de vidro: A posição dos vencedores apresenta duas possibilidades
pela frase “no mar”. A preposição usada aqui (grego, epi) pode ser traduzida
de várias maneiras. Um sentido é “perante” ou “perto de”. Neste caso, os
vencedores estariam na beira do mar, cantando o cântico de Moisés, nos
lembrando da celebração de vitória quando os israelitas chegaram ao lado
oriental do Mar Vermelho (Êxodo 14-15). O sentido mais provável, porém, é a
tradução encontrada em muitas versões, usando o significado de “em” ou “sobre”.
Neste caso, a imagem é dos vencedores em pé sobre o mar de vidro e fogo,
passando pelas tribulações para chegar perto de Deus. Consistente com os
símbolos do tabernáculo, dos altares, etc. já encontrados no livro, esta figura
nos lembra do “mar de fundição” (1 Reis 7:23-26,39) ou “bacia de
bronze” (Êxodo 30:17-21) do Antigo Testamento. Esta bacia ou mar servia para
a purificação dos sacerdotes antes de entrarem na presença de Deus no
tabernáculo ou templo. Os vencedores são os fiéis que, passando pela provação
de fogo, são purificados para entrarem na presença de Deus (1 Coríntios
3:12-15; 1 Pedro 1:7).
Tendo harpas
de Deus: A figura do louvor no templo se completa com a menção de harpas, que
foram usadas na adoração em Jerusalém desde a época de Davi (2 Samuel 6:5; 1
Crônicas 25:1; etc.).
Apocalipse
15:3-4 – e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do
Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus,
Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! 4
Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo;
por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de
justiça se fizeram manifestos.
Duas figuras
fortes de vitória se juntam aqui: O cântico de Moisés celebrou
a vitória que Deus deu aos israelitas sobre os egípcios (Êxodo 15). A
salvação em Cristo é comparada à passagem pelo mar Vermelho (1 Coríntios
10:1-2). O Egito já tem aparecido como figura do adversário mundano que odeia
os discípulos do Senhor (11:8). A vitória sobre as forças perseguidoras, sobre
a besta e seus aliados, certamente seria motivo de louvor. O cântico
do Cordeiro, obviamente, refere-se à vitória dos remidos em Cristo. Grandes e
admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Deus é louvado por
sua onipotência (cf. 1:8; 4:8; 11:17; 16:7,14; 19:6,15; 21:22). Justos e
verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Ele é adorado por sua
perfeita justiça (cf. 16:5; 19:2,11), e honrado como o soberano Rei dos reis
(cf. 1:5; 6:10; 17:14; 19:16). Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó
Senhor?: Palavras de desafio. Depois de ver todas as demonstrações do poder do
soberano Rei, quem teria coragem de adorar a besta? Quem não daria honra e
glória ao Senhor? Pois só tu és santo: Os quatro seres viventes já iniciaram o
louvor no céu com a proclamação da santidade de Deus (4:8). Agora, todos são
convocados a participarem da adoração merecida por Deus. Por isso, todas as
nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram
manifestos: Quando completar a sua demonstração de poder, soberania e
santidade, Deus será honrado por todos. Na cena de louvor dos capítulos 4 e
5, “toda criatura” participa da adoração (5:13). Deus exaltou o seu
Filho, pois este merece a adoração de todos: “Pelo que também Deus o
exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e
toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai” (Filipenses 2:9-11). Alguns se humilham e honram a Deus
voluntariamente (Tiago 4:10; 1 Pedro 5:6). Outros recusam se humilhar e são
humilhados pela mão do Senhor (Lucas 14:11; 18:14). De um modo ou do outro,
reconheceremos a justiça de Deus.
Apocalipse
15:5 – Depois destas coisas, olhei, e abriu-se no céu o santuário do
tabernáculo do Testemunho
Depois
destas coisas, olhei, e abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do
Testemunho: A cena continua com figuras do louvor no Velho Testamento. O
santuário no céu, onde Jesus permanece à destra do Pai (Hebreus 9:11-12; Atos
2:34-36; 7:55-56), servia como a base da cópia feita por Moisés (Hebreus
9:23-24). As referências ao santuário no Apocalipse têm, como base,
aquelas citações do tabernáculo e do templo dos judeus, mas falam do santuário
verdadeiro. O Testemunho, ou arca da aliança, ficava no Santo dos Santos, e
representava a presença de Deus no meio do povo. O que se segue neste sinal vem
do trono de Deus.
Apocalipse
15:6 – e os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário,
vestidos de linho puro e resplandecente e cingidos ao peito com cintas de ouro.
E os sete
anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário: Os mesmos sete anjos que
João viu no versículo 1 agora saem do santuário com seus flagelos, claramente
enviados por Deus. Vestidos de linho puro e resplandecente e cingidos ao peito
com cintas de ouro: Quando José foi escolhido como representante do Faraó, ele
recebeu roupas de linho e um colar de ouro (Gênesis 41:42). Mordecai foi
honrado pelo rei com vestes reais de ouro e linho (Ester 8:15). Ouro e linho
faziam parte da vestimenta da rainha em Ezequiel 16:13. Linho fino e ouro foram
usados no tabernáculo (Êxodo 25-27), e também nas vestes sacerdotais (Êxodo
28:4-8). As vestimentas de linho puro e de ouro mostram a santidade (cf. 19:8)
e a autoridade destes anjos como representantes de Deus. Este significado se
torna evidente em Daniel 10:5, onde a oração de Daniel foi respondida
por “um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos de ouro puro
de Ufaz”. A mensagem naquele capítulo é da vitória dos servos de Deus sobre os
ímpios, a mesma mensagem que vem com os sete flagelos.
Apocalipse
15:7 – Então, um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de
ouro, cheias da cólera de Deus, que vive pelos séculos dos séculos.
Então, um
dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da
cólera de Deus: Não pode haver dúvida. O que os sete anjos vão derramar vem de
Deus. Anjos com roupas de sacerdotes reais saem do santuário e recebem as taças
dos quatro seres viventes. As pragas que serão enviadas sobre a criação vêm do
próprio Senhor, pois as taças estão cheias da ira do Senhor. As referências às
taças de ouro ensinam uma coisa importante sobre a oração. A primeira vez que
encontramos taças de ouro no Apocalipse é no 5:8, onde os quatro seres viventes
tinham “taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos”.
Agora um dos quatro seres viventes entrega aos sete anjos as “taças de
ouro, cheias da cólera de Deus”. Eles levaram as orações dos santos e trouxeram
a resposta na forma da ira de Deus contra os ímpios. Já encontramos uma figura
paralela no sétimo selo, quando o anjo com um incensário de ouro ofereceu o
incenso e as orações dos santos e, em seguida, usou o incensário para atirar à
terra o fogo do altar (8:3-5). Deus, que vive pelos séculos dos séculos: O
dragão, as bestas, a Babilônia e todos os servos deles podem ser destruídos,
mas Deus é eterno. A perseguição pode ser intensa, mas é passageira. Deus vive
eternamente. A vida física do homem dura pouco, mas a vida com Deus é eterna.
Esta perspectiva eterna se torna imprescindível para os discípulos,
especialmente diante de tribulações.
Apocalipse
15:8 – O santuário se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu
poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os
sete flagelos dos sete anjos.
O santuário
se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu poder: Na destruição
de Sodoma e Gomorra, a fumaça subiu do fogo de castigo divino (Gênesis 19:28).
Quando Deus desceu sobre o monte Sinai, o fogo do Senhor criou espessa fumaça
(Êxodo 19:18). Davi juntou estas figuras – fogo, fumaça e castigo divino – num
salmo de louvor ocasionado pelo seu livramento das mãos dos seus
inimigos: “Na minha angústia, invoquei o SENHOR, clamei a meu Deus; ele,
do seu templo, ouviu a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
Então, a terra se abalou e tremeu, vacilaram também os fundamentos dos céus e
se estremeceram, porque ele se indignou. Das suas narinas, subiu fumaça, e, da
sua boca, fogo devorador; dele saíram carvões, em chama” (2 Samuel 22:7-9;
cf. Salmo 18:6-8). Estas palavras de Davi se enquadram perfeitamente na
mensagem dos flagelos. Os discípulos angustiados clamaram ao Senhor e suas
orações foram levadas ao trono (5:8; 8:3-4), de onde veio a resposta do castigo
divino para com os perseguidores (8:5; 15:8). E ninguém podia penetrar no
santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos: O
santuário cheio da glória de Deus reflete as imagens da inauguração do
tabernáculo (Êxodo 34:34-35) e do templo (1 Reis 8:10-11). Deus está no
santuário, e nem os sacerdotes conseguem ficar na presença da sua glória. As
obras dele na fumaça de glória e poder não são totalmente manifestas, mas
depois de cumprir os seus julgamentos, o seu povo estará livre para caminhar
rumo a terra prometida (Êxodo 40:36). Depois da fumaça dos flagelos e o castigo
dos inimigos, os santos terão a visão clara da nova Jerusalém e da glória de
Deus (capítulos 21 e 22).
Conclusão
Da mesma
maneira que o sétimo selo revelou os sete anjos com as sete trombetas, o sétimo
sinal apresentou os sete anjos com os sete flagelos. As orações dos santos
foram ouvidas, e serão respondidas por meio de uma série de castigos derramados
das sete taças de ouro. Deus está no seu santuário fazendo o seu trabalho.
Ninguém pode penetrar este santuário até ele cumprir estes julgamentos.
PRÓXIMA POSTAGEM - Continuação do Tema: EXECUÇÃO DIVINA - CAPÍTULO 16 do Livro de Apocalipse. Boa leitura e bom estudo para todos!
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