ANTES DO JUÍZO FINAL
INTERLÚDIO ANTES DO JUÍZO DE DEUS SOBRE A TERRA – CAP. 10
O capítulo 10 e o 11:1-14 são um interlúdio antes do juízo de Deus na
terra. Assim como entre o sexto e o sétimo selo houve uma mensagem de consolo
para a igreja, mostrando os santos em glória, também entre a sexta e a sétima
trombeta haverá um interlúdio, com a mensagem do anjo forte, trazendo o
livrinho aberto em sua mão. O primeiro interlúdio salientou a segurança e a
glória do povo de Deus perseguido. Esta, agora, descreve uma mistura de doce e
amargo.
TEXTOS BÍBLICOS
1. Este anjo desce do céu envolto em
nuvem – v. 1
• Deus é geralmente identificado com nuvens. Deus conduziu o povo de Deus
Israel através de uma nuvem luminosa (Ex 16:10). Nuvens escuras cobriram o
Sinai quando a lei foi dada (Ex 19:9). Quando Deus apareceu a Moisés foi numa
nuvem de glória (Ex 24:15; 34:5). Deus faz das nuvens a sua carruagem (Sl
104:3). Uma nuvem recebeu Jesus quando ele foi assunto ao céu (At 1:9) e quando
Jesus voltar, ele virá entre nuvens (Ap 1:7).
• Aqui temos uma a operação da santidade de Deus simbolizada pelo rosto do
anjo, do juízo indicado pela nuvem (Sf 1:15) e da misericórdia e fidelidade ao
seu pacto com o seu povo expressada pelo arco-íris.
2. Este anjo tem um arco-íris por cima da sua cabeça – v. 1
• O arco-íris aparece ao redor do Trono de Deus (Ap 4:3). Fala que o trono de
Deus é um trono de misericórdia, antes de ser um trono de juízo. Deus se lembra
da sua misericórdia na sua ira. O arco-íris é o símbolo da aliança de Deus.
3. Este anjo tem o rosto como o sol –
v. 1
• Esta é a mesma descrição de Jesus Cristo (Ap 1:16). Quando Jesus apareceu em
glória na Transfiguração, seu rosto brilhava como o sol. Ninguém podia olhar no
rosto dele.
4. Este anjo tem as pernas como colunas
de fogo – v. 1
• Esta descrição é semelhante à que descreve o Cristo glorificado em Apocalipse
1:15. Onde ele pisa ele queima e purifica.
5. Este anjo tem na mão um livrinho –
v. 2
• A palavra grega para livrinho (v. 2) é diferente da usada em (Ap 5:1).
Livrinho não dá a ideia de rolo. O livrinho está aberto, no sentido de que seu
conteúdo é conhecido. O rolo (5:1) contém a revelação do propósito de redenção
e justiça que Deus executa na história humana, o livro pequeno deve contar uma
parte deste propósito divino.
• Outros identificam esse livrinho como a Palavra de Deus que deve ser comida e
pregada ao mundo (v. 11).
• Ezequiel e Jeremias também receberam ordens semelhantes (Ez 2:9; 3:3; Jr
15:16-17). Ambos comeram o livro e pregaram. O livro era a Palavra de Deus:
julgamento e castigo a um povo rebelde. Assim também João é chamado a comer o
livro e pregar. A igreja é chamada a comer o livro e pregar para uma geração
que se aproxima do fim.
6. Este anjo tem o pé direito sobre o
mar e o esquerdo sobre a terra – v. 2
• Deus manifesta sua reinvindicação de propriedade sobre o mundo inteiro, pois
foi ele quem o criou (v. 6). Nas seis primeiras trombetas apenas parte da
criação era o alvo. Agora está em jogo toda a criação. Isso descreve que ele
exerce poder em todo o mundo e sua palavra é para o mundo inteiro. O mar e a
terra representam a totalidade do universo criado. A duas bestas de apocalipse
tentaram enganar com seus domínios sobre a terra, mas o verdadeiro proprietário
é Jesus Cristo.
7. Este anjo tem voz como de leão – v.
3
• A voz do leão é a voz do juiz que se aproxima. A plenitude do juízo se
aproxima. Esta descrição é semelhante à aquela dada a Jesus Cristo em
Apocalipse 5:5. A voz de Deus é semelhante ao rugido do leão (Am 3:8).
• O Velho Testamento comumente fala de “o anjo do Senhor” como uma referência a
Cristo (Ex 3:2; Jz 2:4; 6:11-12; 2 Sm 24:16). Isto era uma temporária
manifestação para um propósito especial, e não uma permanente encarnação.
• O leão é o rei dos animais. Quando ele ruge não tem animal que pie. Todos se
silenciam. Quando Cristo bradar, todos vão ouvir a sua voz. Quando Cristo
bradar os sete trovões, todos os trovões, a artilharia do céu, estará pronta a
agir.
8. Este anjo ao falar ouve-se sete
trovões – v. 3-4
• Não nos é informado porque João agora não pode escrever sobre o conteúdo dos
sete trovões. Esses trovões são semelhantes à voz poderosa de Deus que é como o
trovão (Sl 29:3). Esse número precisaria ser sete, visto que há em torno do
trono sete espíritos, sete tochas, sete chifres e sete olhos. Esses trovões
estão dirigidos aos inimigos de Deus.
• O contexto pode nos ajudar a entender porque sempre que a palavra “trovões”
aparece em Apocalipse é para falar de um aviso de iminentes manifestações da
ira de Deus (Ap 8:5; 11:19; 16:18). O juízo está se aproximando, mas João não
tem autorização para falar sobre o seu conteúdo.
• Essa revelação, semelhante àquela que Paulo teve no céu, não pode ser
anunciada (2 Co 12:4). João a entendeu, mas não recebeu autorização para escrevê-la.
Não devemos especular o que Deus não nos revelou.
• A voz de Deus é geralmente comparada com trovões (Sl 29; Jó 26:14; 37:5; Jo
12:28-29).
• O significado da ordenança para João guardar segredo sobre as vozes dos sete
trovões é a seguinte: Não podemos nunca saber nem descrever todos os fatores e
agentes que determinam o futuro. Sabemos o significado dos sete candeeiros, dos
sete selos, das sete trombetas, das sete taças. Mas não nos foi dado saber
sobre o significado da mensagem dos sete trovões (v. 4). Isso, porque há outras
forças trabalhando; há outros princípios que estão operando neste universo.
Portanto, tenhamos cuidado em fazer predições a respeito do futuro.
• O anjo está anunciando que não haverá mais tempo antes que o fim venha. O fim
não será mais adiado. Está na hora de responder as orações dos santos. O
propósito divino será alcançado plenamente.
9. Este anjo posiciona-se como um
conquistador universal – v. 2,5
• A postura do anjo é a de um conquistador tomando posse do seu território. Ele
reivindica o mundo inteiro (Js 1:3). Obviamente só Jesus pode fazer esse
reclamo. Em breve o anticristo vai reivindicar seu domínio no mundo inteiro e
vai querer que o mundo inteiro se submeta ao seu controle. Mas somente Jesus
recebeu do Pai essa herança (Sl 2:6-9).
• Satanás ruge como leão para espantar as suas presas (1 Pe 5:8), mas Jesus
ruge como leão para proclamar a sua vitória (Sl 95:3-5; Is 40:12-17).
II. A DECLARAÇÃO DO ANJO – V. 5-7
1. A solenidade de como o anjo declara
a sua palavra – v. 5-6
• Esta declaração enche-nos de espanto não somente por causa do que diz, mas também
pela forma como diz. Esta é uma cena solene. O anjo levanta a sua mão direita
ao céu e faz um juramento.
• Mas, se este anjo é Jesus, como faz um juramento em nome de Deus? Deus
colocou-se sob juramento quando fez seu pacto com Abraão (Hb 6:13-20). Deus
também jurou por si mesmo quando prometeu a Davi que o Cristo viria de sua
família (At 2:29-30).
• O juramento é feito ao Deus criador (v. 6).
2. O conteúdo do juramento é que já não
haverá mais demora para a chegada do juízo – v. 6
• Vários julgamentos já tinham vindo sobre a terra, o mar, os rios, os astros,
os homens. Mas, mais julgamentos ainda estavam para vir.
• Por que a demora? Por que Deus parece demorar? Deus tem adiado o seu
julgamento para que os pecadores perdidos tenham tempo para se arrependerem (2
Pe 3:1-9). Esse foi o propósito da sexta trombeta (Ap 9:20-21). Mas, agora,
Deus irá acelerar o seu julgamento e realizar seus propósitos.
• Os santos martirizados estavam clamando por justiça e questionando a demora
de Deus (Ap 6:10-11).
• Os próprios ímpios, escarnecerão de Deus e da sua Palavra em virtude da
demora de Deus em seu julgamento (2 Pe 3:4).
• Mas agora não haverá mais prazo, mais tempo, mais demora para o
arrependimento e a conversão. O juízo está chegando. No confronto de Deus com
os seus inimigos, a vitória de Deus será esmagadora. A história avança para o
inevitável triunfo de Deus, e ainda que pareça que o mal esteja florescendo,
não é possível que no fim ele triunfe.
• Essa palavra “Não haverá mais demora (cronos)” significa também que a
paciência de Deus tem limite. O soar das seis trombetas representam todas as
oportunidades que Deus dá ao homem para que se arrependa. Mas, aqui o caso é
diferente. O homem chegou num ponto tal de insensibilidade e endurecimento que
não há mais possibilidade de arrependimento. É aí que o anjo jura que não
haverá mais demora para a sétima trombeta.
3. Quando a sétima trombeta tocar
haverá o desvendamento total do mistério de Deus – v. 7
• O mistério de Deus aqui tem a ver com o velho problema do mal no mundo. Por
que o mal natural e moral existe ainda no mundo? Por que Deus não faz alguma
coisa sobre isso? É óbvio que sabemos que Deus fez, sim, algo sobre isso no
Calvário, que Jesus se fez pecado por nós e experimentou em sua carne a ira de
Deus pelo mundo pecador.
• Nós sabemos que Deus está permitindo o mal aumentar até o mundo ficar maduro
para o juízo (2 Ts 2:7ss, Ap 14:14-20).
• Desde que Deus já pagou o preço pelo pecado, ele é livre para adiar o
julgamento.
• Mas, esse adiamento está chegando ao fim. Quando o anjo tocar a sétima trombeta
o juízo virá (Ap 11:15-19). Então, será o tempo da consumação da ira de Deus
(Ap 15:1).
• O v. 7 não diz no momento em que soar a trombeta, mas nos dias da voz do
sétimo anjo. A ideia é clara. A sétima trombeta não será tocada só por um
instante, mas simboliza um período de tempo. A sétima trombeta inclui as sete
taças ou sete flagelos (16:1-20), que levam diretamente ao julgamento final.
• Logo o povo de Deus receberá sua gloriosa herança final, sua plena salvação
conforme a promessa anunciada aos seus servos, os profetas.
III. A ORDEM DO ANJO – V. 8-11
1. João recebe a ordem para comer o
livrinho – v. 8-9
• Este episódio revela a necessidade de assimilarmos a Palavra de Deus e fazê-la
parte da nossa vida interior. Não era suficiente para João ver o livrinho ou
mesmo conhecer o livrinho. Ele precisa comê-lo. Quem não come o livro não pode
pregar o livro.
• É preciso interiorizar a mensagem.
Assimilá-la. A mensagem de Deus tem que se encarnar em nós.
• A Palavra de Deus é comparada a comida. Ela é como pão (Mt 4:4), leite (1 Pe
2:2), carne (1 Co 3:1-2) e mel (Sl 119:103). Jeremias e Ezequiel receberam a
ordem de comer a Palavra antes de pregá-la aos outros (Jr 15:16; Ez 2:9-3:4). A
Palavra precisa fazer-se carne (Jo 1:14), antes que possamos dá-la àqueles que
dela necessitam. Ai do pregador e do professor que ensina a Palavra sem
encarná-la em sua própria vida.
• Só quando nos apropriamos da Palavra é que podemos proclamar as promessas ou
os juízos de Deus com fervor.
2. Esse livrinho é doce ao paladar e
amargo no estômago – v. 9-10
• Quando um menino judeu aprendia o alfabeto escrevia as letras numa tabuleta
de farinha e mel. O professor ensinava o valor fonético de cada letra. Quando o
menino era capaz de repetir o som das letras, ele tinha a permissão de comer as
letras uma por uma, à medida que recordava de modo correto. O alfabeto era,
assim, como o mel em sua boca.
• A Palavra de Deus é doce como o mel – Não existe nada mais doce no mundo do
que o evangelho de Cristo. Mas, logo que alguém se torna um cristão começam os problemas.
Vem o sofrimento, a perseguição. Quem quiser viver piedosamente em Cristo será
perseguido. Não deem ouvidos àqueles que dizem que os problemas acabam quando você
é convertido. A doçura não acaba, mas ela é seguida de amargura. A conversão
desemboca em perseguição do mundo.
• O evangelho é doce quando o experimentamos, mas amargo quando vemos as
implicações dele na vida daqueles que o rejeitam. Jesus chorou sobre Jerusalém.
Davi chorava. Jeremias também. Paulo igualmente.
3. João é ordenado a continuar
profetizando – v. 11
• Este verso 11 determina o significado do pequeno livro: ele é uma reafirmação
do ministério de João. O fim ainda não veio, mas está às portas. A época final
– os dias da sétima trombeta – estão para começar. Neste período a cólera de
Deus será manifestada em proporções nunca vistas, e à vista disto a missão de
João é mais uma vez confirmada.
• Após digerir o conteúdo do livrinho João precisará profetizar. É impossível
comer o livro e ficar calado. É impossível guardar essa boa nova apenas para
nós.
• O anjo comissionou João a profetizar novamente. Sua obra ainda não tinha
terminado. Ele deveria profetizar não a vários povos, nações, línguas e reis,
mas sobre ou a respeito de muitos povos, raças, línguas e reis (Ap 5:9). A
profecia de João deve alcançar o mundo inteiro.
• O v. 11 revela que o trabalho da igreja continua. Este evangelho precisa ser
pregado ao mundo inteiro com rapidez porque o juízo já se aproxima e não
tardará. A tarefa é urgente, porque o juízo se aproxima.