No capítulo
15, um dos quatro seres viventes deu as sete taças da cólera de Deus aos sete
anjos, e o santuário se encheu com a fumaça da glória e do poder de Deus.
Agora, cada um dos anjos derramará a sua taça, trazendo uma série de sete
flagelos para castigar os adoradores da besta e os servos do dragão. Algumas
dessas pragas nos lembram das pragas que Deus enviou para castigar os egípcios
quando Moisés foi libertar o povo de Israel. Perceba que na estrutura do livro
de Apocalipse, João o autor, utiliza muitas figuras do Antigo Testamento. Em
Apocalipse 16, por exemplo, vemos uma clara alusão as pragas derramadas
sobre o Egito, no Êxodo. A sequência não é a mesma, mas a similaridade é
inegável.
Os
Anjos Derramam as Suas Taças (Apocalipse 16:1-21)
A primeira
das taças causa feridas nas pessoas (v.2), assim como a praga das úlceras em
Êxodo 9:10. A terceira taça que transformou águas do rio e fontes, em sangue
(v.4) é uma clara alusão à praga que tornou a água do Egito em sangue (Êxodo
7:19). A quinta taça trouxe trevas sobre a Terra (v.10) e é um reflexo da praga
que trouxe escuridão ao Egito (Êxodo 10:22). A sexta taça secou as águas do rio
Eufrates e fez surgir três espíritos diabólicos com a semelhança de rãs (v.13),
o que nos lembra a praga das rãs que cobriram a terra do Egito (Êxodo 8:6). Por
fim, a sétima taça trouxe chuva de granizo a terra (v.21), algo semelhante a
chuva de granizo que arrasou o Egito (Êxodo 9:23,24).
Antes de considerar o conteúdo de cada taça, observemos os
paralelos entre as sete taças e as sete trombetas:
As Trombetas
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As Taças
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1ª – Terça parte da terra (8:7)
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1ª – Adoradores da besta
na terra (16:1-2)
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2ª – Terça parte do mar se torna
em sangue (8:8-9)
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2ª – O mar se torna em
sangue (16:3)
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3ª – Terça parte dos rios e
das fontes se torna amargosa (8:10-11)
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3ª Os rios e as fontes se
tornam em sangue (16:4-7)
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4ª – Terça parte do sol, da lua e
das estrelas escurece (8:12)
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4ª – O sol queima os homens
com fogo (16:8-9)
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5ª – O rei dos gafanhotos
traz escuridão e tormento aos homens
ímpios (9:1-11)
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5ª – O reino da besta se torna
em trevas; os homens ímpios sofrem dor (16:10-11)
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6ª – Os anjos atados junto ao Eufrates soltam
o exército (9:13-19)
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6ª – O Eufrates seca para
preparar o caminho dos reis para a peleja (16:12-16)
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7ª – Cumprir-se-á o mistério
de Deus (10:7); Chegou a ira de Deus contra
as nações para destruir os que destroem a terra; Relâmpagos,
vozes, trovões, terremoto e grande saraivada (11:15-19)
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7ª – Feito está! (16:17); Caíram as
cidades das nações; Deus dá o cálice da sua ira; Relâmpagos,
vozes, trovões e terremoto (16:18-19)
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A Primeira Taça (16:1-2)
Apocalipse 16:1 – Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz,
dizendo aos sete anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de
Deus.
Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, dizendo aos sete
anjos: Deus está no santuário, envolto na fumaça impenetrável (15:8). Esta
voz, então, é a voz de Deus dando ordem aos sete anjos.
Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de
Deus: Os anjos recebem a ordem de derramar as suas taças, trazendo a ira de
Deus. A cólera ou furor de Deus vem em resposta à cólera do dragão (12:12) e à
fúria da prostituição da grande Babilônia (14:8). Mas a cólera do dragão dura
pouco tempo (12:12) enquanto esta fúria vem de “Deus, que vive pelos
séculos dos séculos” (15:7).
Apocalipse 16:2 – Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a
sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca da besta e adoradores da
sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas.
Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela
terra: A obediência imediata é característica dos servos fiéis ao Senhor.
Deus mandou, e o anjo foi. A sua taça castiga a terra ou, mais precisamente, os
adoradores da besta na terra.
Aos homens portadores da marca da besta e adoradores da
sua imagem: Aqueles que cederam à pressão e participaram do culto imperial
para evitar as consequências diante do governo romano (13:14-17) agora sofrem
nas mãos do Soberano Rei dos reis.
Sobrevieram úlceras malignas e perniciosas: Como a
sexta praga no Egito (Êxodo 9:8-9), os adoradores da besta foram afligidos por
úlceras. Aquela praga atingiu os próprios magos, aqueles que induziam as
pessoas a acreditarem em falsas religiões. (Êxodo 9:11). Esta afeta os
participantes de falsa religião.
Também o que se percebe entre um período e o outro, é um
aumento na gravidade dos danos causados por cada uma das séries. O que fica
ainda mais claro, quando cada trombeta e taça, é analisada individualmente.
A Segunda Taça (16:3)
Apocalipse 16:3 – Derramou o segundo a sua taça no mar, e
este se tornou em sangue como de morto, e morreu todo ser vivente que havia no
mar.
Derramou o segundo a sua taça no mar: Já observamos
que o mar, muitas vezes, simboliza a sociedade mundana (13:1). Aqui o castigo
vem sobre as nações rebeldes. O mar Mediterrâneo, também, foi o foco comercial
do império romano. Qualquer praga que ataque o mar sempre trará a grande
impacto financeiro (18:17-19). E este se tornou em sangue como de morto, e
morreu todo ser vivente que havia no mar: Como na primeira praga no Egito,
que causou a morte dos peixes (Êxodo 7:1-25), este flagelo causa a morte dos
seres viventes no mar.
Pelo fato que todos os outros flagelos afligem pessoas, e
não a natureza, podemos concluir que os seres viventes no mar são, também,
homens. Este entendimento se torna mais forte com os flagelos que se seguem.
A Terceira Taça (16:4-7)
Apocalipse 16:4 – Derramou o terceiro a sua taça nos rios e
nas fontes das águas, e se tornaram em sangue.
Derramou o terceiro a sua taça nos rios e nas fontes das
águas, e se tornaram em sangue: Rios e fontes são essenciais para sustentar
a vida. Esta praga, como a praga no Egito, deixa os perversos sem água potável.
Se não vier algum alívio, a consequência será a morte.
Apocalipse 16:5 – Então, ouvi o anjo das águas dizendo: Tu
és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas;
Então, ouvi o anjo das águas dizendo: Além do seu
trabalho de derramar sua taça sobre os rios e as fontes das águas, este anjo
tem uma proclamação.
Tu és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste
estas coisas: Em executar uma parte do julgamento dos ímpios, o anjo
percebe a justiça de Deus, e o adora. A justiça divina sempre foi motivo de
louvor: “Levanto-me à meia-noite para te dar graças, por causa dos teus
retos juízos” (Salmo 119:62). Deus é eterno, Santo e justo.
Apocalipse 16:6 – porquanto derramaram sangue de santos e
de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso.
Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas,
também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso: A água se torna em
sangue porque os habitantes do mundo haviam derramado sangue inocente. Mais uma
vez, observamos a ligação entre os castigos e a pergunta do quinto
selo: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem
vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (6:10). Desde a
morte de Abel, Deus ensinara aos homens o princípio da vingança de
sangue: “Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; de
todo animal o requererei, como também da mão do homem” (Gênesis 9:5).
Este motivo é citado frequentemente em outras profecias do
Velho e Novo Testamentos para explicar o castigo de diversas pessoas –
indivíduos, cidades e nações. Considere estes exemplos: Jerusalém e Judá foram
castigados porque o rei Manassés derramou muito sangue inocente e fez Judá
pecar com os seus ídolos (2 Reis 21:10-16); Jeoaquim, um dos últimos reis de
Judá, foi condenado pelo mesmo motivo (Jeremias 22:17-19); o derramamento de
sangue inocente foi um dos motivos da opressão e do cativeiro do povo de Israel
(Salmo 106:34-46); os profetas citaram o mesmo motivo quando falaram das consequências
dos pecados de Israel e de Judá (Isaías 26:21; 59:3,7; Jeremias 7:6; Ezequiel
22:27). Uma outra passagem importante fala sobre a casa de Acabe, especialmente
Jezabel, que foram castigados por terem derramado o sangue dos servos, dos
profetas (2 Reis 9:7). Todas essas profecias foram cumpridas nos séculos antes
da vinda de Jesus. Servem para entender a linguagem do Apocalipse, mas não para
identificar o cumprimento principal destas profecias de João, feitas depois da
morte de Jesus.
Uma profecia relevante ao contexto
do Apocalipse se encontra em Joel. Depois de estabelecer Jerusalém
espiritual (Joel 2:28 - 3:1), Deus reúne as nações para o julgamento no vale de
Josafá (Joel 3:2). Os crimes são ofensas contra o povo do Senhor, inclusive o
pecado de terem derramado sangue inocente em Judá. Esta vingança é ligada ao
estabelecimento do reino de Deus e à sua habitação em Sião (Joel 3:17-21),
temas principais no Apocalipse.
Quando chegamos aos evangelhos, as figuras mais próximas se
encontram nos comentários de Jesus sobre os pecados dos judeus. Ele condenou os
escribas e fariseus por imitar as atitudes dos seus ancestrais em matar profetas
e justos (Mateus 23:29-36) e, logo em seguida, profetizou sobre a destruição de
Jerusalém, uma profecia cumprida em 70 d.C. Comentários semelhantes são
relatados em Lucas 11:45-52.
Observando a semelhança das palavras de Jesus e a condenação
da meretriz do Apocalipse (16:6; 17:6; etc.), alguns estudiosos
concluem que são profecias do mesmo castigo, e que a meretriz (Babilônia)
do Apocalipse é a cidade de Jerusalém. Existem vários argumentos a
favor dessa interpretação, e outros contra. Alguns estudiosos apontam para a
cidade de Roma onde está a profanação religiosa do mundo através do papismo,
mas acredito que seja mesmo a cidade de Jerusalém curvada diante do papismo
adotando uma única religião em adoração ao anticristo.
As semelhanças entre os comentários de Jesus e a linguagem
do Apocalipse provam que a meretriz é Jerusalém? Na verdade, é a
mesma questão que surgiu no capítulo 11, quando falou da “grande cidade
que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi
crucificado” (11:8).
Apocalipse 16:7 – Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó
Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.
Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor Deus,
Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos: Novamente, voltamos
ao quinto selo (6:9-11). As almas debaixo do altar pediram vingança, e Deus
respondeu que teriam que esperar mais um pouco. Agora que o Senhor deu sangue
para os opressores beberem, o altar proclama a justiça de Deus. A justiça
divina pode demorar, mas ela vem! Pedro diz que qualquer demora na aplicação da
justiça divina deve ser vista como uma demonstração da misericórdia e
longanimidade de Deus (2 Pedro 3:7-10).
A Quarta Taça (16:8-9)
Apocalipse 16:8 – O quarto anjo derramou a sua taça sobre o
sol, e foi-lhe dado queimar os homens com fogo.
O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe
dado queimar os homens com fogo: Nos primeiros quatro flagelos, como nas
primeiras quatro trombetas (8:7-13), as forças da natureza são os instrumentos
de Deus para castigar os homens perversos. O sol normalmente ilumina,
possibilitando a vida. Em outras situações, Deus castigou os homens
negando-lhes a luz do sol (8:12; Êxodo 10:21-23; Joel 2:32; Mateus 24:29). Esta
vez, o castigo vem por meio do calor excessivo que queima, e serve para afligir
os adversários do Senhor. Deus usa o fogo para destruir os seus inimigos (Salmo
97:3; 104:4). Da mesma maneira que algumas das pragas atingiram os egípcios e
não os israelitas, as pessoas que sofrem sede por não terem água potável
(16:4-7) são punidas com esta praga de calor insuportável, enquanto os fiéis
que saem da grande tribulação são protegidos do calor e nunca terão sede
(7:16).
Apocalipse 16:9 – Com efeito, os homens se queimaram com o
intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes
flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem glória.
Deus, que tem autoridade sobre estes flagelos: Os
castigos vêm de Deus. Em vez de buscar perdão e clemência, os homens blasfemam
o nome do Senhor.
E nem se arrependeram para lhe darem glória: Da mesma
maneira que Faraó endureceu seu coração depois das pragas no Egito (Êxodo 7:22;
8:15,19,32; 9:7,12,34-35; 10:1,20,27; 13:15), este povo recusa a se arrepender.
Não aceitaram o castigo como disciplina (3:19; Hebreus 12:5-6), e sim como
motivo para rejeitar o Senhor. Quando pessoas hoje usam o sofrimento como
motivo para negar a existência de Deus, cometem o mesmo erro fatal.
Independente da fonte do sofrimento, devemos usá-lo para nos aproximar de Deus
(Tiago 1:2-4; 2 Coríntios 12:7-10).
A Quinta Taça (16:10-11)
Apocalipse 16:10 – Derramou o quinto a sua taça sobre o
trono da besta, cujo reino se tornou em trevas, e os homens remordiam a língua
por causa da dor que sentiam
Derramou o quinto a sua taça sobre o trono da besta:
A besta não é o poder superior! O anjo de Deus derrama sua taça sobre o trono
da besta, porque vem de um lugar mais alto. Homens enganados podem exaltar a
besta (13:4), mas ela não é igual a Deus, nem ao mensageiro usado por Deus para
derramar a sua ira.
A quinta trombeta trouxe escuridão e tormento (9:1-12), como
também a quinta taça.
Cujo reino se tornou em trevas: Os egípcios adoraram
o sol, e Deus causou três dias de escuridão (Êxodo 10:21-23). Aqui o reino da
besta se torna em trevas, provavelmente referindo-se ao engano das mentiras
daquela que se apresenta como um deus digno de adoração.
E os homens remordiam a língua por causa da dor que
sentiam: O reino da besta sofre dor insuportável. Enquanto o Senhor oferece
refúgio e proteção aos seus servos (7:16-17), os servos da besta são
atormentados.
Apocalipse 16:11 – e blasfemaram o Deus do céu por causa das
angústias e das úlceras que sofriam; e não se arrependeram de suas obras.
E blasfemaram o Deus do céu por causa das angústias e das
úlceras que sofriam, e não se arrependeram de suas obras: Como fizeram na sexta
trombeta (9:20-21) e na quarta taça (16:9), os ímpios ainda recusam a se
arrependerem. É mais fácil colocar a culpa em Deus do que aceitar a
responsabilidade pelo próprio pecado. Diferente das pragas do Egito, onde
cessou uma antes de começar a próxima, estes flagelos continuam. Chegamos à
quinta taça, e os homens ainda estão sofrendo com as aflições que começaram na
primeira (16:2). As obras dos pecadores são o motivo do castigo, em contraste
com as obras dos santos que são as roupas puras que usam na presença do
Cordeiro (19:8).
Apocalipse 16:12 – Derramou o sexto a sua taça sobre o grande rio
Eufrates, cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que
vêm do lado do nascimento do sol.
Derramou o sexto a sua taça sobre o grande rio Eufrates,
cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado
do nascimento do sol: Esta figura apresenta algumas dificuldades, e as
explicações são diversas. Quais reis vêm do oriente? É o mesmo exército que os
espíritos imundos se ajuntam nos versículos seguintes, ou é o povo de Deus
vindo para estar com ele diante das ameaças dos servos do diabo?
Por vários motivos, parece-me mais razoável ver aqui os servos
de Deus. Considere:
1. Quando Deus voltou para abençoar seu povo e habitar
no meio dele, sua glória “entrou no templo pela porta que olha para o
oriente” (Ezequiel 43:4).
2. Todas as pessoas na Bíblia que atravessam corpos de
água em terra seca são os servos de Deus sob a sua proteção, não os seus
inimigos: os israelitas na saída do Egito (Êxodo 14:15-25; Salmo 106:9-10); os
israelitas na entrada em Canaã (Josué 3:12 - 4:18); Elias e Eliseu juntos (2
Reis 2:4-8); Eliseu sozinho (2 Reis 2:13-14). Na profecia de Isaías 11:15-16,
Deus seca o Eufrates para permitir o restante do seu povo escapar do cativeiro.
Em Isaías 51:10, Deus secou as águas do mar para deixar passar os remidos (cf.
Zacarias 10:10-12).
3. Exércitos são representados como águas ou rios, até
pelas águas do Eufrates (Isaías 8:7-8), e o vento de Deus seca e espalha essas
águas (Isaías 17:12-14).
4. O exército que vem do Eufrates na sexta trombeta é
de Deus, trazendo fogo e enxofre e matando a terça parte dos homens ímpios
(9:13-21).
Baseado nestas observações, o que vemos aqui é a ação de
Deus para vencer o poder militar dos ímpios e deixar os seus fiéis atravessarem
o Eufrates em terra seca para chegar ao Senhor. É uma imagem do povo voltando
do cativeiro para habitar na presença de Deus, e para ficar com o Senhor contra
o diabo e seus servos.
Apocalipse 16:13 – Então, vi sair da boca do dragão, da boca da
besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs;
Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca
do falso profeta: O diabo e seus dois principais aliados: a besta (do mar) e o
falso profeta (a besta da terra, que induz as pessoas a adorarem a besta do
mar). Sabemos que tudo que sai da boca deles é mau, pois o diabo é o pai da
mentira (João 8:44).
Três espíritos imundos semelhantes a rãs: Saindo da boca
destes três personagens, obviamente são imundos. Rãs são mencionadas aqui e nas
referências à segunda praga no Egito (Êxodo 8:1-15; etc.). No Antigo
Testamento, foram consideradas imundas e, por isso, abominações (Levítico
11:9-10).
Apocalipse 16:14 – porque eles são espíritos de demônios,
operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de
ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso.
Porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais:
É uma batalha espiritual, e os servos do diabo vêm com seus sinais para enganar
os homens. Foi por causa dos sinais dos magos que Faraó endureceu seu coração
nas primeiras pragas (Êxodo 7:22). Paulo falou dos sinais da mentira usados
pelo iníquo para enganar os homens (2 Tessalonicenses 2:9-12).
E se dirigem aos reis do mundo inteiro: Estes espíritos têm
um objetivo específico. Querem enganar os reis do mundo. Novamente, a figura
destaca a influência mundial do dragão e de seus aliados, um fato que se
enquadra bem com as características do império romano identificado no capítulo
13.
Com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus
Todo-Poderoso: O propósito dos espíritos enganadores é colocar os reis contra
Deus. Desde o Éden, o Diabo tem procurado criar inimizade entre Deus e os
homens. Ele distorceu e contrariou a palavra de Deus para enganar Eva, e vem
fazendo a mesma coisa ao longo da história. Aqui, os servos dele têm o
propósito de ajuntar os reis da terra contra os servos de Deus.
A peleja pode ser uma batalha física, como a batalha entre
Israel e Síria, em que um “espírito mentiroso na boca de todos os ...
profetas” de Acabe enganou o rei para provocar a guerra (1 Reis 22:1-28). Também
pode ser uma batalha espiritual, como as batalhas contra os príncipes da Pérsia
e da Grécia em Daniel 10:13-21. Podemos incluir os dois aspectos, como a luta
do Faraó contra Deus, que envolveu tanto a batalha espiritual de um coração
obstinado como o exército do Egito que morreu no Mar Vermelho. Independente da
natureza da batalha em si, o resultado seria o julgamento dos povos rebeldes,
semelhante a cena no vale da Decisão em Joel 3. Deus vai julgar os reis
enganados pelos espíritos que saem da boca do dragão, da besta e do falso
profeta.
Apocalipse 16:15 – (Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado
aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a
sua vergonha.)
Antes de deixar João continuar o relato do trabalho dos
espíritos imundos, Jesus interrompe com uma mensagem de exortação aos fiéis.
Eis que venho como vem o ladrão: A figura do ladrão é
utilizada na Bíblia para enfatizar o julgamento repentino e a falta de preparo
das pessoas julgadas. Representa as consequências naturais do pecado e da
negligência nesta vida (Provérbios 6:9-11), como também a vinda do Senhor para
julgar (Lucas 12:35-40; Mateus 24:42-43; 1 Tessalonicenses 5:2-4; 2 Pedro 3:10;
Apocalipse 3:3). A ênfase está na preparação para a chegada do Senhor.
Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes,
para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha: Esta é a terceira de sete
bem-aventuranças no livro. A pessoa preparada, que não teme a vinda do Senhor,
vigia e aguarda o Senhor (cf. Mateus 25:1-13). Guardar as vestes indica a
pureza dos fiéis, que “não contaminaram as suas vestiduras e andarão de
branco” (3:4; cf. Tiago 1:27). A nudez, por outro lado, mostra a impureza
de pessoas despreparadas, como a igreja em Laodicéia (3:17). Quando Adão perdeu
a sua inocência e ouviu a voz de Deus no jardim, ele se escondeu porque estava
nu e envergonhado (Gênesis 3:8-10). A nudez representa a vergonha,
especialmente a vergonha de castigo (Ezequiel 16:36-37; Oséias 2:9-10; Miquéias
1:1; Naum 3:5).
Apocalipse 16:16 – Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se
chama Armagedom.
Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama
Armagedom: A batalha não acontece no capítulo 16. Teremos que esperar até o
capítulo 19 para ver o resultado desta guerra. No momento, o Senhor quer
mostrar o lugar da batalha – Armagedom. Esta palavra aparece somente aqui, mas
o próprio versículo diz que ela é de origem hebraica. A palavra significa
“monte de Megido” ou “cidade de Megido”, e nos lembra do significado da região
de Megido em batalhas decisivas do Antigo Testamento. Foi o local da vitória de
Israel sobre Jabim e Sísera (Juízes 4 e 5, especialmente 5:19). Josias morreu
da ferida que sofreu na batalha contra Neco, rei do Egito, no vale de Megido (2
Crônicas 35:22-24). Outras batalhas na região de Jezreel e Megido incluem: a
vitória de Gideão sobre os midianitas (Juízes 7); a batalha final de Saul
contra os filisteus (1 Samuel 31). Quando Jeú, encarregado com a exterminação
da casa de Acabe, mandou matar Acazias, rei de Judá, este morreu em Megido (2
Reis 9:27). Armagedom, então, representa um lugar de julgamento e de batalhas
decisivas. Certamente, Deus julgará e aplicará a sua justiça!
A Sétima Taça (16:17-21)
Apocalipse 16:17 – Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo
ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está!
Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar:
Especialmente quando pensamos nos paralelos entre as taças e as trombetas (veja
a tabela comparativa no início), chegamos à última taça esperando o cumprimento
da ira de Deus. Encontraremos mais detalhes nos capítulos 17 e 18, mas a
segunda voz já anunciou a queda da Babilônia (14:8). A vitória sobre os reis da
terra será declarada no capítulo 19, mas já sabemos que os povos enganados
aguardam em Armagedom, onde Deus pronunciará a sentença de condenação (16:16).
Atrás de todos os reis e atrás da cidade mundana jaz a influência do dragão, o
diabo. A sétima taça leva a batalha à casa do Adversário. A taça é derramada
pelo ar, diretamente atingindo “o príncipe da potestade do ar” (Efésios
2:1). Satanás é o príncipe deste mundo (João 12:31; 14:30; 16:11) e o “deus
deste século” que cega os incrédulos (2 Coríntios 4:14).
Saiu grande voz do santuário, do lado do trono: A voz vem do
trono que está no santuário. Deus está no santuário, e ninguém mais podia
entrar até que se cumprissem os sete flagelos (15:8).
Feito está!: As palavras enganadoras dos espíritos imundos
podem conduzir os reis da terra a uma falsa expectativa de vitória, mas o
verdadeiro vencedor é o próprio Senhor. Quando ele declara o seu plano
cumprido, podemos ter certeza da vitória dos fiéis.
Apocalipse 16:18 – E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e
ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a
terra; tal foi o terremoto, forte e grande.
E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande
terremoto: É de Deus! São os sinais que saem do trono de Deus (4:5) e do altar
que se acha diante do trono (8:5). São os sinais que vêm do santuário depois da
sétima trombeta (11:19). Aqui, estes sinais reforçam as palavras da voz do
santuário. Está feito!
Terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a
terra; tal foi o terremoto, forte e grande: Há uma tendência por parte de
muitas pessoas de entender expressões proverbiais de forma literal. Mas, da
mesma maneira que falamos do “melhor dia da minha vida” ou dizemos “eu nunca vi
nada igual”, a Bíblia também emprega provérbios que não devem ser interpretados
literalmente. Podemos ilustrar a linguagem proverbial comparando duas
afirmações sobre Jerusalém. Deus falou da destruição de Jerusalém em 586 a.C.
nestas palavras: “Executarei juízos no meio de ti, à vista das nações.
Farei contigo o que nunca fiz e o que jamais farei, por causa de todas as tuas
abominações” (Ezequiel 5:8-9). Literalmente nunca fez e jamais faria coisa
igual? Não! O próprio Jesus falou da mesma cidade 600 anos depois, e
disse: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o
princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais” (Mateus
24:21). Se Ezequiel e Jesus falassem literalmente, as suas palavras se
contradiriam. Mas são expressões proverbiais. Não precisamos procurar a maior
tribulação da história para acreditar e entender as palavras de Ezequiel e as
de Jesus, e não precisamos procurar o pior terremoto da história para acreditar
na profecia da sétima taça. Nem precisamos de um terremoto literal para
entender o ponto. Mas não devemos diluir a mensagem e perder o impacto. Deus
disse “Feito está!” e chamou atenção a suas palavras com sinais
assustadores.
Apocalipse 16:19 – E a grande cidade se dividiu em três partes, e
caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para
dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira.
A grande cidade: Encontramos, novamente, a grande cidade que
recebe a cólera de Deus. Há um contraste importante no livro entre a cidade
santa, a nova Jerusalém e a grande cidade mundana, a Babilônia. A grande cidade
representa a corrupção de uma cidade que vivia da prostituição de suas relações
comerciais com as nações, e destaca mais uma característica do poder do império
romano. A besta do mar enfatiza seu poder de dominar, especialmente o poder
militar dos reis. A besta da terra representa seu poder religioso, a religião
imperial pela qual as pessoas foram obrigadas a adorarem Roma ou seus
imperadores. A Babilônia destaca as relações comerciais pelas quais Roma
dominava a economia mundial. O sétimo flagelo fala do castigo da grande cidade
Babilônia, que será descrito em mais detalhes nos capítulos 17 e 18.
Se dividiu em três partes: A divisão em três partes enfatiza
a derrota total da grande cidade. Ezequiel dividiu a cidade de Jerusalém,
simbolicamente, em três partes, para mostrar a destruição total dela (Ezequiel
5:1-4). A Babilônia é ferida por três flagelos em um só dia (18:8), frisando a
sua destruição total.
Caíram as cidades das nações: As cidades das nações
dependiam da grande cidade. Quando ela cai, elas também caem. O lamento dos
reis e comerciantes em 18:9-19 mostra como a queda da Babilônia teria impacto
enorme nas outras nações. Não teriam mais o seu mercado principal, causando um
colapso econômico geral.
E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice
do vinho da sua ira: Já observamos o significado do cálice da ira de Deus. Os
adoradores da besta beberiam deste cálice. Agora aprendemos que a própria
Babilônia, a mesma que deu às nações o “vinho da fúria da sua
prostituição” (14:8) teria que beber da ira de Deus (cf. 18:5-6).
Apocalipse 16:20 – Todas as ilhas fugiram, e os montes não
foram achados;
Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados: Este
versículo reforça o sentido do anterior, mostrando os efeitos mundiais da queda
da Babilônia. A linguagem nos lembra do sexto selo (6:12-17). Quando Deus desce
para julgar, “os montes debaixo dele se derretem” (Miquéias 1:4; cf.
Naum 1:5; Salmos 18:7-15; 97:5). As ilhas, por serem espalhadas e ocupadas por
diversos povos, são ligadas às nações (Gênesis 10:5; Isaías 40:15; 41:1;
Sofonias 2:11). Quando Ezequiel profetizou a queda de Tiro, uma cidade que
vivia do comércio no mar Mediterrâneo, ele falou de seu impacto nas
ilhas: “Agora, estremecerão as ilhas no dia da tua queda; as ilhas, que
estão no mar, turbar-se-ão com a tua saída” (Ezequiel 26:18). Da mesma
maneira, o castigo de Roma prejudicaria as ilhas e os povos de toda a extensão
do império.
Apocalipse 16:21 – também desabou do céu sobre os homens grande
saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo
da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era
sobremodo grande.
Também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com
pedras que pesavam cerca de um talento: Chuva de pedras de 45 quilogramas cada!
Lembrando que os flagelos são cumulativos (16:10-11), podemos imaginar o
sofrimento dos adoradores da besta. Têm úlceras, não têm água, sofrem sobre o
calor intenso do sol, e agora vem chuva de pedras enormes!
Os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era
sobremodo grande: Todo este sofrimento deve ser motivo para se arrependerem,
mas continuam endurecendo os corações. Não admitem os seus erros, nem a justiça
de Deus.
Conclusão
A besta da terra tem poder para afligir e até matar os
servos de Deus, aqueles que recusam adorar a besta. Mas Deus mostra seu poder
para castigar com muito mais severidade os adoradores da besta. Os sete
flagelos trazem sofrimento incrível aos seguidores da besta, mas eles ainda não
se humilham diante de Deus.