EPÍSTOLA AOS HEBREUS
Epístola aos Hebreus é um dos 27 livros do Novo
Testamento.
Autoria
Muitos cristãos atribuem a autoria da epístola
ao apóstolo Paulo, mas percebe-se que o modo como ela foi elaborada
difere das epístolas paulinas. Embora alguns incluam o livro de
Hebreus entre os escritos do apóstolo Paulo, a certa identidade do autor
permanece um enigma. Em falta está a saudação habitual de Paulo que pode ser
encontrada em suas outras obras. Além disso, a sugestão de que o escritor desta
epístola se baseara no conhecimento e na informação fornecida por pessoas que
tinham sido testemunhas oculares reais de Jesus Cristo (2:3) torna duvidosa a
autoria paulina.
Ao contrário de todas as precedentes, a epístola aos Hebreus
teve sua autenticidade posta em dúvida desde a antiguidade. Raramente se
encontra sua canonicidade, mas a Igreja do Ocidente, até o fim
do séc. IV, recusou-se atribuí-la a Paulo; e se a
do Oriente aceitou o seu atributo, não foi sem fazer certas reservas
no tocante da sua forma literária (Clemente de Alexandria, Orígenes). É
que, com efeito, o estilo da escrita dessa carta é de uma pureza elegante que
não pertence à Paulo. A maneira de citar e utilizar o AT não é a sua.
Faltam aí o endereço e o preâmbulo com o qual ele costuma iniciar suas cartas.
Independentemente de qual mão humana segurou a caneta, o
Espírito Santo de Deus é o autor divino de toda a Escritura (2 Timóteo 3:16);
portanto, Hebreus fala com a mesma autoridade canônica como os outros sessenta
e cinco livros da Bíblia.
Pode-se todavia reconhecer ressonâncias de pensamento paulino
onde se desenvolveu o tema da fé: a lei antiga foi dada por
intermédio dos anjos (2:2; Gl 3:19+), a falha da geração israelita que saiu do
Egito e morreu na travessia do deserto constitui uma advertência para os
crentes (3:7-4:2; 1Co 10:1-13), os destinatários são como crianças que tem
necessidade do leite maternal (5:12; 1Co 3:1-3), Abraão e o exemplo da fé
(6:12-15; Rm 4:17-21), a aliança no Sinai se opõe a Nova
Jerusalém (12:18-24; Gl 4:24-26).
Essas considerações levaram a críticos católicos e
protestantes a admitir que foi um redator que se inscreve na ambiência paulina,
mas não a acordo quando e como identificar o autor anônimo. Outros candidatos
são Timóteo, Apolo, Lucas, Barnabé, Clemente de Roma, Silas, Filipe e Priscila.
Parece mais simples tentar traçar o seu retrato: trata-se de
um judeu de cultura helenística, familiar na arte da oratória, atento a uma
interpretação pontual das passagens veterotestamentária que utiliza,
frequentemente segundo a versão dos LXX para apoiar seus argumentos.
Há quem acredite que não tenha sido escrita por Timóteo,
visto que, segundo o versículo 23 do capítulo 13 desta carta, lemos o seguinte:
“
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Sabem que o nosso irmão Timóteo já está em liberdade. Se ele
vier a tempo, hei-de levá-lo comigo, quando vos for visitar.
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”
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Logo, a menos que o autor se refira a si mesmo na 3ª pessoa
do singular, constatamos que foi outro que não Timóteo a escrever esta
carta.
Podemos também perceber que esta Carta teria sido escrita por
alguém muito ligado à cultura e tradição judaica, o que não era o caso de
Timóteo. No terceiro século, Orígenes escreveu: Só Deus sabe ao certo quem
escreveu a epístola.
Quando foi escrito
Clemente, um dos pais da igreja primitiva, citou o livro de
Hebreus em 95 dC. No entanto, provas internas, tais como o fato de que Timóteo
estava vivo no momento em que a carta foi escrita e a ausência de qualquer
evidência mostrando o fim do sistema sacrificial do Antigo Testamento, o qual
ocorrera com a destruição de Jerusalém em 70 dC, indicam que o livro foi
escrito por volta de 65 dC.
Conteúdo
No Novo Testamento, a epístola é única quanto à sua
estrutura:
“
|
Começa como tratado, desenvolve-se como sermão e termina
como carta.
|
”
|
O livro de Hebreus é usado como um argumento final
em defesa do Cristianismo. Usando uma lógica cuidadosa e
referindo-se frequentemente ao testemunho, o escritor define
que Jesus Cristo é o Filho de Deus e digno da nossa fé.
A preocupação principal do autor parece ser de estar atento contra a apostasia
(6:4-8; 10:19-39) e de confortar aqueles que parecem lamentar o esplendor do
culto mosaico e o lado tranquilizador, (inclusive do ponto de vista
psicológico) de uma religião oficial que as jovens comunidades
cristãs não estavam à altura de garantir (9:9b-10). O livro compara e
contrasta Jesus com toda história do Velho Testamento e
argumenta que Cristo é o clímax de todas as coisas do passado.
O autor explica que a vida do fiel deve ser considerada como
um êxodo continuo para uma pátria prometida (4:1-6) que não pode
ser identificada com um lugar terrestre seja ele qual for
(11:13; 13:14).
Assim, o autor conclui:
“
|
Olhando para Jesus autor e consumador da fé, o qual pelo
gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e
assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou
tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo
em vosso ânimo."(Hebreus 12:2-3).
A forma de falar que o livro de hebreus foi escrito por um
hebreu para outros hebreus para dizer-lhes que deixassem de agir como
hebreus. Na verdade, muitos dos primeiros crentes judeus estavam caindo de
volta aos rituais do judaísmo a fim de escaparem da crescente perseguição.
Esta carta, então, é uma exortação para esses crentes perseguidos a
continuarem na graça de Jesus Cristo.
|
Versículos-chave:
Hebreus 1:1-2: "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e
de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes
últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas e por meio de quem fez o universo."
Hebreus 2:3: "...como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?…"
Hebreus 4:14-16: "Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade."
Hebreus 11:1: "Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos."
Hebreus 12:1-2: "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus."
Resumo:
Hebreus 2:3: "...como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?…"
Hebreus 4:14-16: "Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade."
Hebreus 11:1: "Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos."
Hebreus 12:1-2: "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus."
Resumo:
O livro de Hebreus trata de três grupos distintos: seguidores
de Cristo, incrédulos que tinham conhecimento e uma aceitação intelectual dos
fatos de Cristo, e incrédulos que tinham sido atraídos a Cristo, mas que
acabaram rejeitando-o. É importante entender a qual grupo cada passagem está se
dirigindo, pois deixar de fazer isso pode levar-nos a tirar conclusões
inconsistentes com o restante das Escrituras.
O escritor de Hebreus menciona continuamente a superioridade de Cristo, tanto de Sua pessoa como do Seu trabalho ministerial. Nos escritos do Antigo Testamento, entendemos que os rituais e cerimônias do judaísmo simbolicamente apontavam para a vinda do Messias. Em outras palavras, os ritos do judaísmo eram sombras das coisas futuras. Hebreus nos diz que Jesus Cristo é melhor do que aquilo que qualquer mera religião tem a oferecer. Toda a pompa e circunstância da religião empalidecem em comparação com a pessoa, trabalho e ministério de Jesus Cristo. É a superioridade do nosso Senhor Jesus, então, que continua a ser o tema desta eloquente carta.
Conexões:
O escritor de Hebreus menciona continuamente a superioridade de Cristo, tanto de Sua pessoa como do Seu trabalho ministerial. Nos escritos do Antigo Testamento, entendemos que os rituais e cerimônias do judaísmo simbolicamente apontavam para a vinda do Messias. Em outras palavras, os ritos do judaísmo eram sombras das coisas futuras. Hebreus nos diz que Jesus Cristo é melhor do que aquilo que qualquer mera religião tem a oferecer. Toda a pompa e circunstância da religião empalidecem em comparação com a pessoa, trabalho e ministério de Jesus Cristo. É a superioridade do nosso Senhor Jesus, então, que continua a ser o tema desta eloquente carta.
Conexões:
Talvez nenhum outro lugar do Novo Testamento esclareça o
Antigo Testamento como faz o livro de Hebreus, o qual tem como seu fundamento o
sacerdócio levítico. O escritor aos hebreus compara constantemente as
insuficiências do sistema sacrificial do Antigo Testamento com a perfeição e
realização em Cristo. Enquanto o Antigo Testamento exigia sacrifícios contínuos
e uma expiação pelo pecado uma vez por ano, os quais eram oferecidos por um
sacerdote humano, a Nova Aliança proporciona um sacrifício final através de Cristo
(Hebreus 10:10) e acesso direto ao trono de Deus para todos os que estão nEle.
Aplicação Prática:
Aplicação Prática:
Rica na doutrina cristã fundamental, a epístola aos Hebreus
também nos proporciona exemplos animadores de "heróis da fé", os
quais perseveraram apesar das grandes dificuldades e condições adversas
(Hebreus 11). Os homens e mulheres pertencentes à lista dos heróis da fé
fornecem provas irrefutáveis quanto à garantia incondicional e absoluta
confiabilidade de Deus. Da mesma forma, podemos manter a confiança perfeita nas
ricas promessas de Deus, independentemente das nossas circunstâncias, ao
meditarmos na sólida fidelidade das obras de Deus nas vidas dos Seus santos do
Antigo Testamento.
O escritor de Hebreus proporciona um grande incentivo aos crentes, mas há cinco advertências solenes às quais devemos prestar atenção. Há o perigo da negligência (Hebreus 2:1-4), o perigo da incredulidade (Hebreus 3:7 - 4:13), o perigo da imaturidade espiritual (Hebreus 5:11-6:20), o risco de deixar de perseverar (Hebreus 10:26-39) e o perigo inerente de recusar a Deus (Hebreus 12:25-29). Assim encontramos então, nesta obra-prima suprema, uma grande riqueza de doutrina, um refrescante manancial de encorajamento e uma fonte de advertências práticas e sãs contra a preguiça em nossa caminhada cristã. Entretanto, ainda há mais, pois em Hebreus encontramos um retrato magnificamente do nosso Senhor Jesus Cristo, o Autor e consumador da nossa grande salvação (Hebreus 12:2).
O escritor de Hebreus proporciona um grande incentivo aos crentes, mas há cinco advertências solenes às quais devemos prestar atenção. Há o perigo da negligência (Hebreus 2:1-4), o perigo da incredulidade (Hebreus 3:7 - 4:13), o perigo da imaturidade espiritual (Hebreus 5:11-6:20), o risco de deixar de perseverar (Hebreus 10:26-39) e o perigo inerente de recusar a Deus (Hebreus 12:25-29). Assim encontramos então, nesta obra-prima suprema, uma grande riqueza de doutrina, um refrescante manancial de encorajamento e uma fonte de advertências práticas e sãs contra a preguiça em nossa caminhada cristã. Entretanto, ainda há mais, pois em Hebreus encontramos um retrato magnificamente do nosso Senhor Jesus Cristo, o Autor e consumador da nossa grande salvação (Hebreus 12:2).
Estudo Textual
Introdução ao Livro de Hebreus
Quem trocaria um lustroso carro novo por outro velho e enferrujado, ou um refulgente anel de diamante por uma peça de bijuteria pretejada? Somente uma pessoa insensata faria negócios como esses! O livro de Hebreus foi escrito para pessoas que estavam em perigo de fazer exatamente uma tal troca assim. Eram cristãos pensando em deixar seu relacionamento com Cristo para voltar a viver sob a Lei de Moisés. O escritor de Hebreus estava determinado a mostrar aos seus leitores que escolha idiota seria essa!
Quem trocaria um lustroso carro novo por outro velho e enferrujado, ou um refulgente anel de diamante por uma peça de bijuteria pretejada? Somente uma pessoa insensata faria negócios como esses! O livro de Hebreus foi escrito para pessoas que estavam em perigo de fazer exatamente uma tal troca assim. Eram cristãos pensando em deixar seu relacionamento com Cristo para voltar a viver sob a Lei de Moisés. O escritor de Hebreus estava determinado a mostrar aos seus leitores que escolha idiota seria essa!
O autor de Hebreus não se identificou pelo nome, no
livro. Ele conhecia Timóteo (13:23) e possuía sólido entendimento do Velho
Testamento. Muitos estudantes da Bíblia acreditam que foi Paulo quem
escreveu Hebreus, mas outros argumentam que esse autor não era um dos apóstolos
(veja 2:3). Provavelmente, o máximo que podemos concluir com certeza é que o
autor era inspirado.
Em vista do tema do livro, é improvável que o autor tivesse
deixado de mencionar a destruição do templo, no ano 70 d.C., se esse evento
tivesse ocorrido ao tempo da escrita. Uma vez que ele não citou esse evento
para apoiar seus argumentos (veja 10:25 para uma possível referência), podemos
aceitar que ainda não tivesse acontecido, e uma data próxima de 65 d.C. pode
ser aceita para a escrita de Hebreus.
Hebreus foi escrito claramente para ouvintes
conhecedores das Escrituras do Velho Testamento e, especialmente dos rituais de
sacrifícios da Velha Lei. É evidente que os leitores pretendidos eram judeus
cristãos (por exemplo, 3:1; 4:14-16). Eles tinham sofrido alguma perseguição,
como resultado de sua fé e alguns, provavelmente desanimados por suas
tribulações ou em dúvida sobre seu compromisso com Cristo, estavam pensando em
voltar para o judaísmo. Outros já tinham deixado de reunir-se com seus irmãos
(10:19-39). Como no caso da identidade do autor, não podemos dizer com certeza
onde estas pessoas viviam, mas muitos estudantes da Bíblia favorecem Jerusalém
ou Roma como possíveis destinos para a epístola (veja 13:24).
Como foi sugerido no início deste artigo, o tema de Hebreus é
a superioridade de Jesus Cristo. O autor argumenta que Jesus é superior aos
anjos, Moisés, Josué e Arão (capítulos 1, 3, 4 e 7, respectivamente). Não
somente Jesus é um Legislador e Sumo Sacerdote superior, mas sua aliança é
superior à Aliança Mosaica (capítulos 8-10). De fato, “melhor” é a palavra
chave do livro (1:4; 7:22; 8:6, ).
Hebreus 1:1-14 - Jesus: Superior aos Anjos
No monte da transfiguração, a voz que vinha da nuvem
confirmou a Pedro, Tiago e João que Jesus é o Filho amado de Deus e que devemos
ouvir a ele, em vez de Moisés ou Elias (Mateus 17:1-8). O escritor
de Hebreus afirma o mesmo ponto, logo no começo de sua epístola. Ele
observa que, enquanto Deus usou vários métodos e indivíduos para levar sua
palavra à humanidade, no passado, seu porta-voz durante estes “últimos dias” é
seu Filho (Hebreus 1:2). O apóstolo Pedro afirmou que estamos vivendo nos
últimos dias, quando identificou os acontecimentos de Pentecostes (Atos
2:16-17) como o cumprimento da profecia de Joel a respeito desses dias. Esta
afirmação sobre a autoridade de Jesus tem importantes implicações para aqueles
que desejam justificar suas práticas religiosas dando ouvidos a Moisés, isto é,
apelando para a lei de Moisés em busca de autoridade.
O tema de Hebreus é a superioridade de Jesus
Cristo. Jesus não é só um outro porta-voz; Ele é muito superior em natureza aos
profetas que o precederam. Ele não é somente Criador e Redentor (Hebreus
1:2-3); Ele é também Divindade. Ele não é a mesma pessoa que o Pai, mas ele é a
“expressão exata” do Pai e, assim, participa da natureza eternal do Pai!
O restante do capítulo é dedicado a demonstrar que Jesus é
também superior aos anjos. Ele obteve um “mais excelente nome” do que eles
(1:4). “Nome” se refere mais ao caráter e à posição do que à palavra pela qual
alguém é chamado.
O autor de Hebreus usa o silêncio de Deus para
afirmar seu ponto. Ele cita afirmações divinas a respeito da posição de Jesus e
então pergunta se Deus jamais disse tal coisa de qualquer dos anjos (1:5). A
questão é obviamente retórica; Deus nunca se dirigiu a nenhum dos anjos como
seu Filho. Pode então, qualquer dos anjos assumir a posição de Filho de Deus,
uma vez que Deus não os proibiu de fazê-lo? Certamente que não! O argumento do
escritor de Hebreus depende da premissa de que o silêncio de Deus é
proibitivo, não permissivo: um princípio importante para todos nós que
procuramos a aprovação de Deus em nossas vidas. O escritor usa o mesmo tipo de
argumento (do silêncio de Deus) nos versículos 13-14.
A comparação entre Jesus e os anjos continua quando o
escritor de Hebreus observa que os anjos são espíritos servidores,
que adoraram o Filho durante sua encarnação (1:6-7,14). Jesus, contudo, é um
Monarca cujos anos não findarão, isto é, ele é um ser eterno.
Hebreus 2:1-18 - Jesus: Feito como seus Irmãos
O primeiro capítulo de Hebreus afirma, claramente, a
superioridade de Jesus sobre profetas e anjos. Em vista deste fato, o autor
ressalta a necessidade de prestar atenção à mensagem dada pelo Senhor (2:1) e
confirmada por Deus através de milagres (2:4). Ele defende esta ideia usando
uma forma de argumento que aparecerá várias vezes, em seu livro. Aqueles que
desobedeceram à lei entregue pelos anjos (a Lei de Moisés) foram justamente
punidos. Desde que Jesus é superior aos anjos, é ainda mais certo que a
desobediência de sua lei será punida (2:2-4). Esta forma de argumento é, às
vezes, chamada “do secundário para o principal”, isto é, o ponto é apresentado
do caso menos importante para o caso mais importante.
Os primeiros quatro versículos também introduzem um outro
padrão encontrado neste livro. Enquanto o autor argumenta de um modo muito
lógico, ele interrompe periodicamente seu raciocínio com advertências aos seus
leitores. Ele escrevia aos cristãos que estavam pensando em voltar ao judaísmo.
Há cinco advertências, como estas, espalhadas através de todo o livro (2:1-4;
3:7-4:13; 5:11-6:20; 10:19-39; 12:25-29). Estas advertências são duras e
mostram que é possível para os cristãos serem condenados eternamente se
abandonarem o Senhor (veja especialmente 6:4-6 e 10:26-29).
O escritor cita Salmo 8 (2:6-8), uma passagem que observa que
o homem foi criado um pouco mais baixo do que os anjos. Este fato,
provavelmente, levantou uma questão na mente de seus leitores. Se Jesus é
superior aos anjos, por que ele tomou a forma de um homem, que foi feito
inferior aos anjos?
A resposta a esta pergunta é encontrada no papel redentor que
Jesus desempenha. O homem precisa de um mediador entre Deus e si mesmo. Porque
Jesus sofreu e foi tentado como são os homens neste mundo, ele pode, portanto,
ajudar os homens como um misericordioso e fiel Sumo Sacerdote (2:17-18).
O autor de Hebreus voltará ao assunto do sumo sacerdócio de
Jesus para uma extensa discussão, mais tarde neste livro. Neste capítulo,
contudo, ele afirma que Jesus tinha que se tornar como seus irmãos, de modo a
servir como Sumo Sacerdote. Ele tinha que tomar um corpo humano para
experimentar a morte por todos os homens. Através de sua morte e ressurreição,
ele derrotou Satanás, que tem o poder da morte (2:14). Ele tinha que se tornar
como os homens, isto é, partilhar da carne e do sangue (2:14), porque dá ajuda
aos homens, e não aos anjos (2:16).
Hebreus 3:1-4:16 - Um Descanso Permanece
No capítulo 1 de Hebreus, o autor afirmou que Jesus é
superior tanto aos outros profetas de Deus como aos anjos. Ele continua sua
afirmação no capítulo três, observando que Jesus é superior até mesmo a Moisés!
Os judeus tinham muito respeito por Moisés, porque ele recebeu a velha lei de
Deus e o escritor de Hebreus reconhece sua fidelidade. Mas Jesus é superior até
mesmo a Moisés, do mesmo modo que o construtor de uma casa tem mais honra do
que a casa que ele constrói (3:3), assim como o filho do dono da casa é
superior a um servo daquela casa (3:1-6). De fato, é sua casa! O escritor fala
da igreja (3:6- “qual casa somos nós”; veja também 1 Timóteo 3:15). Mais
tarde, no livro, o escritor estenderá este argumento da superioridade de Jesus,
observando que sua aliança é também superior àquela dada através de Moisés
(capítulos 9 e 10).
Os cristãos, contudo, precisam guardar “firme até ao
fim” (3:6). É este comentário do autor que introduz o segundo trecho de
advertência do livro (veja também 2:1-4; 5:11-6:20; 10:19-39; 12:25-29). Ele
cita o Salmo 95:7-11 para introduzir a descrença e o fracasso de Israel, o povo
escolhido por Deus, no passado. O restante do capítulo 4 é dedicado a advertir
seus leitores a não repetirem o erro de Israel, em se afastar de Deus (4:11).
A Israel foi prometido um descanso, mas a nação não herdou
esse descanso. O autor afirma que eles não poderiam entrar no descanso
prometido por causa da descrença (3:19), por causa da desobediência (3:18). Por
que Israel foi forçado a peregrinar no deserto? Descrença ou desobediência?
Ambos: sua descrença resultou em sua desobediência (4:6)! É possível para o
povo escolhido por Deus, nestes dias, afastar-se do Deus vivo, ao endurecer-se
através do engano do pecado (3:12-14).
O autor observa que o descanso prometido ainda permanece
(4:1, 9)! Aqueles a quem ele foi prometido inicialmente não o herdaram; eles
morreram nas peregrinações no deserto. Mesmo quando a nação de Israel entrou
finalmente na terra de Canaã, o descanso ainda permaneceu (4:8); de outro modo
o salmista não teria escrito muitos anos depois da conquista de Canaã como se o
descanso permanecesse (Salmos 95:7; Hebreus 4:6-9). O descanso que agora
permanece não é a terra física de Canaã, nem mesmo o dia do sábado; é o próprio
céu!
O capítulo três começa chamando nossa atenção para os papéis
de Jesus como Apóstolo e Sumo Sacerdote. O capítulo 4 termina encorajando o
cristão a conservar-se firme na sua confissão e apelar para seu Sumo Sacerdote,
por auxílio no tempo da necessidade (4:14-16).
Hebreus 5:1 - 6:20 - Diligente até o Fim
Jó clamou em seu desespero: “Não há entre nós árbitro
que ponha a mão sobre nós ambos?” (Jó 9:33). Jó percebeu que não era capaz
de falar diretamente com Deus, por causa de sua majestade, e sentiu agudamente
a falta de um mediador ou árbitro. O autor de Hebreus, contudo, observa que
temos um mediador entre nós e Deus. Ele é nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo.
Jesus foi indicado pelo Pai para ser sacerdote segundo a
ordem de Melquisedeque (veja Gênesis 14); ele não se deu essa honra (Hebreus
5:5-10). Há um grande contraste, contudo, entre os sacerdotes levíticos e Jesus
Cristo. Todo sumo sacerdote levítico poderia verdadeiramente simpatizar com a
situação difícil dos homens pecadores, porque todo sacerdote era, ele mesmo,
culpado de pecado (Hebreus 5:1-3). Assim sendo, ele tinha que primeiro oferecer
sacrifício por seus próprios pecados e então podia fazer intercessão pelo
restante do povo (veja Levítico 16). Jesus foi tentado, como nós somos, mas sem
pecar. Ele foi obediente ao Pai e assim se tornou o autor da salvação eterna de
todos aqueles que o obedecem.
Quando o autor se prepara para continuar sua discussão do
sacerdócio de Melquisedeque mais adiante, ele percebe que seus leitores não
estão preparados para entender tais assuntos. Eles têm sido cristãos por tempo
suficiente para que sejam espiritualmente maduros, isto é, sejam capazes de
ensinar outros, mas, em vez disso, deixaram de crescer em conhecimento e
experiência (5:11-14). Assim, eles são capazes de entender somente as coisas
simples do evangelho, o “leite” da palavra.
Todos os cristãos começam suas vidas espirituais como “bebês”
em Cristo, mas precisam crescer para amadurecer (6:1). Permanecer um infante
espiritual pode resultar em afastar-se de Cristo (6:4-6). O cristão que rejeita
Jesus está na realidade agindo justamente como aqueles que realmente
crucificaram Jesus! Ele crucifica Jesus de novo e o envergonha abertamente. Se
um cristão rejeita Cristo, que mais o evangelho oferece para levá-lo ao
arrependimento?
O Escritor de Hebreus, contudo, estimula seus leitores,
observando que ele não pensa que eles estejam em tal estado. Mas espera que
eles continuem nos trabalhos que tinham iniciado (6:9-12). Mas que garantia têm
os cristãos de que, depois que tiverem trabalhado diligentemente e suportado as
tribulações pacientemente serão, de fato, salvos da eterna destruição? O autor
cita o exemplo de Abraão, a quem Deus fez uma promessa (6:13-17). Quando Abraão
pacientemente suportou, obteve o cumprimento da promessa, porque a palavra de
Deus é imutável. O exemplo de Abraão é um forte encorajamento para aqueles que
estão agora confiantes em que Deus lhes dará a vida eterna, como ele prometeu
àqueles que o obedecem (Hebreus 5:9).
Hebreus 7:1-28 - Jesus: Um Sumo Sacerdote Superior
O autor de Hebreus identificou Jesus como sumo sacerdote de
acordo com a ordem de Melquisedeque, tanto no capítulo 5 como no 6. Mas quem é
Melquisedeque? Por que Jesus é um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque,
em vez da ordem levítica?
No capítulo 7, o autor responde a ambas as questões.
Melquisedeque aparece na história bíblica durante apenas um curto período (veja
Gênesis 14:18-20). Porque a Bíblia não registra seu nascimento, morte nem mesmo
sua genealogia, Melquisedeque parece ser de natureza eterna, como o
Filho de Deus. Ele é identificado como sendo tanto o rei de Salém como
sacerdote do Deus Altíssimo.
O autor deseja demonstrar a superioridade do sacerdócio de
Jesus sobre o de Arão e, assim, ele afirma a superioridade de Melquisedeque
sobre Levi. Ele o faz, em parte, observando que Melquisedeque abençoou Abraão
(o menor é abençoado pelo maior) e que Abraão, que tinha as promessas, pagou
dízimo a Melquisedeque. Num sentido figurado, Levi, descendente de Abraão,
também pagou dízimo a Melquisedeque, através de Abraão.
Mas por que uma outra ordem de sacerdócio, segundo
Melquisedeque era necessária? A resposta é que o sacerdócio levítico não era
adequado (7:11,27). Nem a Jesus era permitido ser sacerdote segundo a ordem de
Levi. Os sacerdotes vinham da tribo de Levi, mas Jesus era da tribo de Judá
(7:13-14). A lei de Moisés nada dizia sobre homens de Judá se tornarem
sacerdotes e, assim, isso era proibido. O homem não deve ir além do que Deus
autorizou.
Para que Jesus fosse um sacerdote, o sacerdócio tinha que ser
mudado. Desde que o sacerdócio e a lei de Moisés estavam intimamente ligados,
se o sacerdócio for mudado, então a lei também precisa ser mudada (7:12,18-19).
Aqueles que querem viver sob a lei de Moisés, hoje em dia, desligam-se do
sacerdócio de Jesus porque ele não pode ser sacerdote sob essa lei! O
sacerdócio de Jesus é, então, uma garantia de que uma lei (ou aliança) melhor
foi estabelecida (7:20-22).
Por que alguém haveria de querer voltar à Velha Lei e ao
sacerdócio levítico? Jesus é um Sumo Sacerdote superior. Ele foi feito
sacerdote pelo poder de uma vida infindável, e não através de um mandamento
carnal (a Lei de Moisés). Diferente dos sacerdotes levíticos, que eram
incapazes de continuar a servir por causa da morte, Jesus vive sempre para
fazer intercessão por nós. Jesus foi feito sacerdote através do imutável
juramento de Deus.
Os sacerdotes levíticos eram fracos porque pecavam assim como
os homens pelos quais eles faziam intercessão. Jesus, contudo, é santo,
imaculado e separado dos pecadores. Ele não tem que fazer oferenda por si
mesmo, como os sacerdotes levíticos tinham que fazer. De muitas maneiras, Jesus
é verdadeiramente o sumo sacerdote superior!
Hebreus 8:1-13 - Uma Aliança Melhor
O trabalho do sacerdote é fazer as oferendas e sacrifícios no
santuário (Hebreus 8:3). Como nosso Sumo Sacerdote celestial, Jesus também
serve num santuário, mas este é um santuário que não foi feito por mãos
humanas, como o foi o tabernáculo. Jesus é, não somente superior aos profetas
do Velho Testamento, aos anjos, a Moisés e a Aarão, mas é também um melhor sumo
sacerdote, que ministra num santuário melhor. Ele é o mediador de uma aliança
melhor estabelecido sobre melhores promessas (8:2, 6).
Alguns dos destinatários originais de Hebreus estavam
pensando em retornar ao judaísmo. O autor de Hebreus quer que eles entendam
como seria tolo deixar uma aliança melhor para retornar a uma imperfeita. Se o
primeiro pacto tivesse sido infalível, não teria havido necessidade de outro
(8:7). Até mesmo o santuário associado com a Lei de Moisés, o tabernáculo
construído no Monte Sinai, era apenas uma cópia e uma sombra do santuário
celestial.
O que estava errado com a aliança feita com Israel no Monte
Sinai? Realmente, nada havia de errado com o pacto em si; ele cumpria as
funções que Deus pretendia. Ele identificava o pecado, encorajava a santidade
entre o povo escolhido de Deus e apontava aos homens em direção a Cristo e à
graça de Deus. O escritor de Hebreus nota que a falha estava realmente no povo
de Deus, e não na aliança (8:8-9). Um homem poderia ser declarado justo sob a
Velha Lei se a guardasse perfeitamente, nunca violando um único preceito
(Levítico 18:4-5). Mas o povo de Israel não guardava a lei de Deus e assim ela
se tornou um instrumento de morte espiritual para ele (Romanos 7:10-13). Mas
Deus deu ao homem a esperança, prometendo através do profeta Jeremias que ele
faria um novo pacto com seu povo.
Um indivíduo se tornava parte do povo de Israel pelo
nascimento físico e era circuncidado no oitavo dia como sinal da aliança. Mais
tarde, quando o menino tinha idade bastante para entender, era-lhe ensinada a
lei com a esperança de que ele decidisse obedecê-la. A lei de Moisés foi
escrita em tábuas de pedra, mas muitos israelitas não escreveram a lei de Deus
em seus corações.
O novo pacto, contudo, é diferente, como Jeremias profetizou.
É ensinado às pessoas primeiro e elas se tornam parte da nação escolhida de
Deus somente depois de aceitarem as condições para se tornarem parte dessa
nação (Hebreus 8:11). Elas serão verdadeiramente o povo de Deus porque sua lei
estará escrita em seus corações. Todos na casa espiritual de Israel (a igreja)
conhecem o Senhor porque ninguém pode se tornar parte da nação eleita sem
primeiro conhecer o Senhor!
Mas a nova aliança é diferente, é de outra maneira. O perdão
estaria disponível através do sacrifício de Jesus Cristo (8:12). Não haveria
mais necessidade de sacrifícios anuais no Dia da Expiação como a lei de Moisés
exigia (veja Levítico 16). Jesus, o sacrifício perfeito, precisou oferecer a si
mesmo somente uma vez. Por que haveríamos de querer voltar ao velho e
imperfeito, quando Deus providenciou um pacto novo e melhor, com um melhor Sumo
Sacerdote?
Hebreus 9:1-28 - Um Ministério Mais Excelente
Sob a Lei de Moisés, o povo de Israel tinha um santuário (o
tabernáculo) e um sumo sacerdote que servia como um intercessor pelo povo
diante de Deus. O autor de Hebreus já identificou Jesus Cristo como nosso Sumo
Sacerdote, um ministro do tabernáculo verdadeiro (4:14; 8:1-2). No capítulo
nove, o escritor discute o serviço de Jesus no tabernáculo verdadeiro.
O livro de Êxodo registra a construção do tabernáculo
(capítulos 25-30). Era basicamente uma tenda elaborada e dividida em duas salas
por um véu. A sala maior era chamada o Santo Lugar e a menor era chamada Santo
dos Santos. Cada sala tinha seus próprios móveis e o escritor de Hebreus
menciona brevemente essas peças (9:1-5).
Os sacerdotes do Velho Testamento entravam diariamente no
Santo Lugar, executando o seu serviço. Mas somente o sumo sacerdote podia
entrar no Santo dos Santos. Uma vez por ano, no Dia da Expiação, o sumo
sacerdote entrava no Santo dos Santos com o sangue de um touro, por seus
próprios pecados e, novamente, com o sangue de um bode, pelos pecados do povo
(9:6-7). Ele pegava este sangue e o aspergia sobre o propiciatório, a cobertura
da arca da aliança, oferecendo-o a Deus. Era no Santo dos Santos que um homem
podia chegar à presença de Deus, mas somente o sumo sacerdote era capaz de
entrar e era exigido que se defumasse a sala com incenso, antes de entrar! Leia
Levítico 16 para ver uma descrição completa do ritual que o sumo sacerdote
seguia no Dia da Expiação.
O véu que separava o Santo Lugar do Santo dos Santos
simbolizava o fato que o caminho à presença de Deus ainda não estava aberto
para a humanidade. Quando Jesus morreu na cruz, o véu entre o Santo Lugar e o
Santo dos Santos foi rasgado (Mateus 27:51). Este foi o modo de Deus mostrar
que o acesso a sua presença era agora disponível a todos, através do sacrifício
de Jesus (veja Hebreus 6:19-20; 10:19-22)!
Como os sumos sacerdotes do Velho Testamento, Jesus ofereceu
sangue na presença de Deus, porém Jesus ofereceu seu próprio sangue, derramado
na cruz, e ofereceu-o no verdadeiro tabernáculo, o próprio céu (9:12, 24-26).
O autor de Hebreus já identificou Jesus como Mediador de uma
aliança melhor (8:6). Agora ele explica que o sangue de Jesus alcança até os
pecados sob a primeira aliança, a Lei de Moisés (9:15). As coisas do
tabernáculo do Velho Testamento eram purificadas com o sangue de animais, mas
Jesus ofereceu um sacrifício melhor, que pode verdadeiramente obter a redenção
do pecado. Ainda que os sumos sacerdotes do Velho Testamento oferecessem sangue
todos os anos pelos pecados do ano anterior, Jesus entrou no céu, na presença
de Deus, uma vez por todas (9:12, 27-28).
Hebreus 10:1-39 - Entremos Ousadamente no Santo dos Santos
Do que precisa o pecador? Ele precisa ser perdoado e
purificado da culpa por seus pecados. Mas o perdão requer um sacrifício que
seja capaz de satisfazer as exigências da justiça. A lei de Moisés não podia
prover um sacrifício como esse. Sob aquela lei, o sangue dos animais era
oferecido a Deus, mas o autor de Hebreus observa que tal sangue “não podia
tirar meus pecados” (10:4,11). A repetição constante desses sacrifícios
era uma lembrança contínua de que não eram adequados à remissão de pecados
(10:1-3). Contudo, esses sacrifícios de animais eram “sombras” do sacrifício
perfeito que seria oferecido por Jesus (10:1).
Deus não se alegrava com os sacrifícios oferecidos sob a lei
de Moisés, no sentido em que eles eram inadequados para pagar a pena pelos
pecados cometidos. Jesus, contudo, veio a este mundo e foi totalmente obediente
ao Pai (10:9). Como resultado, ele foi capaz de oferecer a si mesmo, isto é,
uma vida imaculada pelo pecado, como um sacrifício perfeito. Diferente dos
sacrifícios do Velho Testamento, Jesus ofereceu a si mesmo uma única vez,
porque seu sacrifício garantia a remissão dos pecados (10:10-12,14,18).
Sob a lei de Moisés, somente ao sumo sacerdote era permitido
entrar na parte do tabernáculo conhecida como o Santo dos Santos, e ele tinha
que ser cerimonialmente purificado antes que pudesse entrar na presença de Deus
ali. O sacrifício de Jesus tornou possível para nós nos aproximarmos de Deus, e
finalmente entrar ousadamente no próprio céu, purificados pelo sangue de Jesus
Cristo de todos os nossos pecados (10:19-22; veja 9:24-26).
É importante que nos encorajemos uns aos outros para
permanecermos firmes em nossa esperança de entrar na presença de Deus no céu. O
Senhor deseja que os cristãos se reúnam regularmente de modo a encorajar uns
aos outros ao amor e às boas obras. O escritor de Hebreus observa que alguns
cristãos tinham parado de se reunir com os outros santos (10:23-25).
Se nós, que fomos santificados pelo sangue de Jesus através
de nossa obediência ao evangelho, mais tarde rejeitarmos seu sacrifício e
retornarmos ao mundo ou mesmo à lei de Moisés, o que mais ficará como
sacrifício pelo pecado? Absolutamente nada! Quando os israelitas rejeitavam a
lei de Moisés, o castigo era certo (10:28). O que fará Deus com aqueles que
rejeitam o sacrifício perfeito de Jesus, seu Filho unigênito? O castigo será
ainda mais certo e horrível (10:26-31).
Temos que permanecer fiéis até o fim, apesar da perseguição e
tribulação. Os cristãos que receberam primeiro esta epístola tinham sofrido no
passado; o escritor inspirado encoraja-os a não desistir para que possam
receber a promessa (10:32-36). Mais uma vez ele afirma não somente que é
possível afastar-se de Cristo, mas também que essa pessoa estará perdida para
sempre se não haver arrependimento (10:39).
Hebreus 11:1-40 - Fé Obediente
Palavras de encorajamento podem ajudar uma pessoa a se
comportar bem, mas um bom exemplo é ainda mais poderoso. O autor de Hebreus
concluiu o capítulo 10 observando que ele só viverá pela fé (Habacuque 2:4), o
tipo de fé que leva uma pessoa a perseverar na obediência ao Senhor até o fim.
Somente então se receberá a recompensa prometida (Hebreus 10:35-39). No
capítulo 11 ele ilustra esse tipo de fé observando os exemplos de homens e
mulheres do Velho Testamento.
A fé nos permite esperar aquelas coisas que não podemos ver
(11:1; veja Romanos 8:24). Se não podemos ver aquilo em que temos esperança,
como saber que isso existe ou que o receberemos? A função da fé é que ela
substitui a prova objetiva da coisa na qual temos esperança. O autor ilustra o
papel da fé quando ele observa que cremos que o universo foi criado pela
palavra de Deus porque os Escrituras revelam esse fato e temos confiança na
veracidade tanto de Deus como de sua palavra.
Começando com Abel, o escritor cita exemplos específicos de
fé. Mas o autor não está escrevendo sobre fé “morta” (Tiago 2:26); em cada caso
ele observa que foi a obediência a Deus que resultou da fé (11:4-31). Por
exemplo:
- Abel... ofereceu... mais excelente sacrifício (11:4)
- Enoque...agradou a Deus (11:5)
- Noé...aparelhou uma arca (11:7)
- Abraão... obedeceu, peregrinou, ofereceu (11:8,9,17)
- Moises...celebrou a Páscoa (11:28)
- Os israelitas... capturaram Jericó (11:30)
Os exemplos de fé obediente são muito numerosos para serem
todos listados e, assim, o autor conclui mencionando em geral alguns dos modos
pelos quais os indivíduos tinham obedecido a Deus, apesar das provações
envolvidas (11:32-38).
Cada uma destas pessoas não somente creu que Deus existia,
mas creu nas promessas que ele fez (11:6). Algumas delas perceberam que não
receberiam essas promessas durante sua vida, mas assim mesmo confiaram em Deus
e agiram de acordo (11:13-16,22,35).
O autor conclui o capítulo afirmando que, apesar da sua fé
impressionante, todas essas pessoas esperaram o cumprimento da promessa, isto
é, a vinda do Messias e de seu reino (11:39). Seus leitores, que já estavam
gozando das bênçãos espirituais em Cristo, precisavam imitar a fé daquelas
pessoas do Velho Testamento!
Hebreus 12:1-29 - Corramos a Corrida
O escritor de Hebreus completou seu argumento principal no
capítulo dez. Nos capítulos anteriores ele demonstrou a superioridade de Jesus
sobre os profetas do Velho Testamento, os anjos, Moisés e Arão. Ele demonstrou
a natureza do sacerdócio de Jesus e a eficácia do seu sacrifício. Ele também
apresentou argumentos para mostrar que a lei de Moisés tinha sido removida.
Tendo reassegurado os hebreus de que eles estavam certos em abraçar Jesus, ele
agora usa a figura de uma corrida para exortá-los a perseverar em sua vocação
(12:1-4).
No capítulo onze ele citou os muitos exemplos de fé
obediente, ou perseverança. Todas aquelas pessoas são testemunhas do fato de
que a corrida pode ser vencida (12:1). O autor também encoraja seus leitores a
“correr a corrida” com seus olhos fixos em Jesus, estimulando sua paciência no
sofrimento (12:2-3a). Os hebreus estavam em perigo de ficarem cansados e
desencorajados, ainda que não tivessem sofrido tanto como Jesus (12:3-4).
Os hebreus são advertidos a não serem desencorajados pela
disciplina do Senhor, mas antes se lembrarem do propósito dela (12:5, 10b-11).
O autor observa a relação da punição com a condição de filho. A punição é um
sinal de filiação; sua ausência indica que não se é filho (12:7-8). A punição
não é agradável, mas desde que o castigo é geralmente aceito quando vem de pais
carnais que cometem enganos, ele argumenta para chegar à mais certa conclusão
de que os cristãos devem aceitar a punição de seu Pai celestial, que não comete
tais enganos (12:9-11). Em vez de abandonar a corrida, isto é, voltar ao
judaísmo, os hebreus precisam fazer esforços renovados para terminar a corrida
(12:12-13).
O autor manda que os hebreus estejam em guarda para que
nenhum deles acredite que possa gozar das bênçãos de Deus pela simples associação
com o povo de Deus, em vez de ser por uma vida de fé e obediência (12:15;
Deuteronômio 29:14-29). Estes cristãos precisavam também ter o adequado
respeito pelas vantagens espirituais oferecidas pela nova aliança, em vez de
seguirem o exemplo de Esaú que não teve nenhum cuidado com os privilégios
espirituais (12:16-17; 10:29; Gênesis 25:29-34; 27:1-40).
Na verdade, os hebreus “não tinham que chegar” a um pacto
entregue com impressionantes manifestações físicas (12:18-21; Êxodo 19:20),
isto é, a lei de Moisés, mas antes a um pacto com superiores privilégios
espirituais (12:22-24).
O autor completa o capítulo doze com a última das maiores
advertências do seu livro (12:25-29). Não há escapatória para aqueles que
desafiam Deus, rejeitando sua palavra.
Hebreus 13:1-25 - Com Jesus Fora do Acampamento
Nos primeiros doze capítulos de Hebreus, o raciocínio do
autor é muito lógico e bem encadeado, cada ponto levando ao próximo. Contudo,
no capítulo treze, seu argumento é completado e parece que ele junta num só
grupo uma série de exortações sem relação.
Em 13:1 e 3, os hebreus são exortados a continuar a mostrar
seu amor fraternal, especialmente na forma de benevolência com os prisioneiros,
que frequentemente eram forçados a depender de amigos para satisfazer suas
necessidades. O autor também encoraja o costume da hospitalidade, afirmando que
nem sempre se sabe as bênçãos que podem resultar (13:2; veja Gênesis 18:1-8,
22; 19:1). Ele adverte contra a imoralidade sexual e a ganância, observando que
o Senhor prometeu nunca abandonar os cristãos (13:4-6).
Alguns dos seus leitores estavam pensando em retornar ao
judaísmo, mas o escritor encoraja-os a considerar o resultado da fé daqueles
que lhes ensinaram a Palavra de Deus. Ele garante aos seus leitores que eles
podem esperar o mesmo prêmio por uma fidelidade semelhante, porque Jesus é
imutável (13:7-8).
Em 13:10-14, o escritor faz uma breve exortação baseada no
sistema sacrificial do Velho Testamento. A expressão “comer do altar” (13:10)
se refere ao fato que os sacerdotes levíticos era permitido comer partes de
alguns dos sacrifícios oferecidos. Contudo, os sacerdotes não comiam da
oferenda pelo pecado (Levítico 16:27); os corpos dos animais oferecidos no Dia
da Expiação eram queimados fora do acampamento. O autor identifica Jesus como
uma oferenda pelo pecado, observando que ele sofreu fora do acampamento (Jesus
foi crucificado fora da cidade de Jerusalém). Para comer (gozar das bênçãos)
desta oferenda perfeita pelo pecado deve-se sair do acampamento (deixar o
judaísmo), um ato que envolveria alguma censura (13:12-13). Tal censura poderia
significar pouco para aquela mente que está posta num lar celestial afinal
(13:14). O ponto do autor é, claramente, que aqueles que desejam viver sob a
Lei de Moisés não gozam as bênçãos do sacrifício de Cristo!
O serviço de um sacerdote é oferecer sacrifícios (5:1). Desde
que os cristãos são sacerdotes espirituais (1 Pedro 2:5, 10) com Jesus como seu
sumo sacerdote, eles precisam oferecer sacrifícios espirituais a Deus. O escritor
identifica alguns destes sacrifícios (13:15-16; veja também Romanos 12:1).
Tendo recordado a seus leitores seus mestres do passado
(13:7) e advertido sobre as “doutrinas estranhas,” o autor ordena-lhes que
obedeçam aqueles que presentemente olham por suas almas, isto é, os presbíteros
(13:17).
Ele conclui pedindo-lhes suas orações (13:18-19) e oferecendo
uma oração por eles (13:20-21).